- Alicia Vikander -
- NOVE -
- NOVO LAR -
No decorrer da noite, Bartolo foi
arrumar seus pertences em um novo lar tendo a companhia de Dalva a orientá-lo
onde por uma coisa e outra. Seguia de perto o amigo Caio, levando com vexame
tudo que o homem trouxera até mesmo as gravatas, meias e smoking, coisa
estranha para Caio nos tempos modernos e atuais. A pegar um smoking o homem se
intrigou com tal peça e observou como se nunca o tinha visto. De qualquer modo
o homem levou dependurado em um cabide quase a arrastar no chão, suspenso um
pouco com o braço de Caio em forma de um quarto de lua. No apartamento, Bartolo
cuidava de arranjar todos os seus pertences. Em alguns instantes Dalva indagou
se não faltava nada e ele respondeu:
Bartolo:
--- Apenas Ulisses. James Joyce.
Edição antiga. Eu comprei para dar a Dafne. Ela nunca o leu! – declarou quase
chorando.
Dalva:
--- É um livro? – perguntou.
Bartolo:
--- Sim. Romance. Joyce era
Irlandês. Ele compôs a obra entre 1914 e 1921, na Itália, Suíça e França. E a
publicou em 1922. O livro foi censurado em diversos países. Estados Unidos e
Inglaterra. Espécie de adaptação de Odisseia, de Homero. A primeira publicação
no Brasil foi em 1966. – relatou enquanto arrumava a roupa no armário.
Dalva, com o braço na tipoia,
apenas o ajudava de qualquer modo a dizer o que ele devia fazer com as suas
roupas para cá ou para lá e assim por diante enquanto Caio ficava rodando a
procura de algo mais a executar de momento. Um gato miou ao entrar no
apartamento. Um miado simples e sem nenhum motivo. Apenas um miado. De cores
brancas e pretas esse gato veio devagar a verificar tudo o que era guardado no
armário e logo após se deitou em um sofá como se o sono tivesse chegado de
repente. Sem maior preocupação, lambeu o pelo e deitou a cabeça ao lado entre
meias e gravatas. Bartolo perguntou a Dalva:
Bartolo:
--- Seu? – e apontou para o gato.
Dalva:
--- Não. Mas sempre aparece. E
depois some. Eu não sei de quem é o bichano! – respondeu e logo agarrou o gato
e fez suave afeto com o pelo em seu rosto.
Caio:
--- Gatos. Interessante! Não são
de ninguém. São deles mesmo. Chegam e somem! Não raro passam a vida de um burro.
Depois somem sem se saber para onde seguem. No necrotério tem um gato desse
tipo. De dia está dormindo. À noite, ele some. – disse o homem a fazer um gesto
com as mãos.
Bartolo:
--- Eu tive um gato que o chamava
“Pidão”. Era um gato de rua como todos os gatos. Ele aparecia quando sentia
necessidade de alguma coisa para degustar. Comia ou bebia um pouco de leite e
depois sumia de vez. – sorriu o homem.
Dalva:
--- “Pidão”! Que coisa! E ele
atende ao chamado apenas se tem fome. Esse aqui, eu chamo de “Gato” mesmo.
Apenas quando ele aparece. Tem tempos que o ouço miar pela cobertura do prédio.
Às vezes some de repente. Mas não deixa de ser o meu “gato” – e deu o acocho no
bichano para depois o deixar deitado no sofá.
Caio:
--- O gato é um animal predador.
Ratos são os principais alimentos. Mas comem também lagartixas e alguns
insetos. O gato vive em média vinte anos de idade. A sua presença da Terra é de
40 milhões de anos. Hoje, existe uma população de 250 raças de gatos
domésticos. E é de uma personalidade independente. – revelou o homem ao passar
de um lado para outro arranjando as roupas de Bartolo.
Dalva:
--- Hum! História antiga!
Quarenta milhões de anos! – inquietou a mulher.
A manhã nasceu e Dalva pegou
carona no carro de Caio indo até o seu trabalho. O braço esquerdo enrolado até
a altura do busto com a mulher há ajeitar o tempo todo. Há essa hora ela sentia
uma fisgada como se houvesse algo dolorido em certos pontos. Ela de vez falou
em ter que ir ao médico para saber ao certo o que se passava e apanhar uma
licença até poder soltar toda a atadura postada. Caio lembrou-se de ter de ir
ao Seguro de Veículos novos e à Revendedora para tomar as devidas providências.
A mulher de quase trinta anos olhou para Caio e consentiu. Ela queria saber se
seria necessário ter de ir também ao revendedor. O homem achou prudente Dalva
ter de ir. E a jovem mulher concordou.
Porém teve de ir até ao escritório e avisar de estar impossibilitada para o
trabalho naquele dia. Com o passar do tempo à mulher voltou para pegar o carro
e sair para até a Concessionária onde relataria todo o ocorrido. Caio seguiu
também como a principal testemunha e o homem que fez o apanhado para a
Polícia. Logo após, apesar de ter tomado
toda a manhã, Dalva teve de ir para um ortopedista a ver o trauma sofrido em
seu braço. Essa parte foi à tarde, por volta das 14 horas ou mais.
O jovem Bartolo se enveredou nos
assuntos de redação. Naquele dia o Governo estaria a entregar, oficialmente, a
parte rodoviária a passar pelo Parque onde estava construído um autódromo. Aquele
era um assunto de campanha política, ele sabia muito bem. E em lugar de ir para
a cerimonia Bartolo resolveu tomar outro melhor seguimento: o do mangue. Alí os
apanhadores de caranguejos se atolavam na maré até o ombro para apanhar os
crustáceos. Era uma matéria e tanto. Para Bartolo, era seguir o caminho o qual
ninguém dava a menor importância. O caranguejo auçá era de um tipo de outra
paragem do rio. O seu corpo é totalmente protegido por uma carapaça. O
crustáceo tem quatro patas terminadas em unhas pontudas. As fêmeas usam para
proteção dos ovos. Eles habitam as regiões litorâneas do mundo todo, sendo que
algumas espécies preferem os mangues. Seus alimentos são peixes mortos e
possuem a capacidade enorme de adaptação em qualquer tipo de água, até mesmo em
águas sujas e poluídas. Foi dessa espécie que o homem resolveu buscar a
matéria. Conhecedor da estrada, Bartolo
seguiu no seu veículo em busca do local para promissor da cata do caranguejo
auçá ou uçá. Esse era o tipo comum de se encontrar nos mercados da cidade e nas
feiras livres. O pescador tinha o temor de enfiar o braço por completo até
topar com o caranguejo dentro da lama escura e asquerosa com um cheiro total de
mangue azedo. Era uma faina diária de vários pegadores do crustáceo. Homens
sujos até o topo. Quem não o conhecia, ficava ao destemor. Todos os apanhadores
de caranguejos eram completamente imundos de lama amargosa.
Quando chegou à nascente do rio
Potengi, a 176 quilômetros de Natal no município de Cerro Corra o homem
Bartolo, todo preparado, com botas até o joelho e roupas de caçador, olhou e
viu o nascedouro onde a água fluía. Não havia mais o que se esperava. As matas
destroçadas, viveiros ilegais, manguezais destroçados e muito lixo até mesmo
urbano. Um apanhador de caranguejo estava já pronto para pegar o crustáceo sem
proteção qualquer. Apenas vestia uma espécie de bermuda, já toda suja como se
fosse de óleo. Mas nada lhe impressionava. Negro da maré do rio, apenas os
olhos eram brancos. Entre carcaças de animais mortos jogados por matadouros, o
homem estava já de braço todo sujo pela luta em apanhar a todo custo o
caranguejo. Caranguejo Uçá, como se chamava no interior do Estado. As plantas
do mangue se assemelhavam a árvores de natal. Naquele trecho tinha de tudo. A
pneus velhos até tênis e latas. Ostras
eram de monta. Aquele, sem dúvidas, era um rio morto, mesmo produzindo a
riqueza do povo pobre e arredio. Peixes, caranguejo e ostras era o cardápio de
cada família a viver a margem do rio Potengi apesar da morte de galinhas e
cachorros pela poluição vivente. Era uma mortandade em massa provocada
principalmente pelas indústrias a despejar em águas do Potengi o que já não lhe
servia. Entre homens sujos de lama havia também as catadoras a viver há vários
anos a extrair os moluscos no mangue. A pesca de camarões era outra imagem. Os
apanhadores dos camarões usavam o método ilegal por colocar carrapaticida para matar os mariscos.
Bartolo:
--- É o fim de tudo. Aqui tem de
tudo. Até gasolina além de curtumes. – disse acabrunhado.
Apanhador:
--- Tem de tudo o que não presta.
E o que presta é muito pouco. Eu levo um dia para recolher um pouco de
caranguejo. A minha “muié” é a quem mais sofre. Coitada! Os meninos pegam os
seus peixinhos para não dizer que não pegou coisa alguma. – falou amortecido o
apanhador.
O dia acabou para Bartolo
Revoreto. Na viagem de volta ele pensava em quantos caranguejos o apanhador
fisgou de fato.
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