- Elisa Sedaoui -
- QUATRO
- SUICIDIO -
Bartolo contou essa história na
maior tranquilidade possível como se estivesse tomando um suco de graviola. Com
os seus espirros constantes, ele limpava o nariz e procurava outro guardanapo a
lhe acudir daquela coceira infernal a lhe comichar as narinas. Os demais amigos
nem sabiam ou sentiam a veracidade do declarado pelo o jornalista. Na verdade,
Bartolo tinha seguido até a ponte do Forte, ligando a cidade à praia da Redinha
com a séria resolução de cometer suicídio, ou seja, pular da ponde para a
morte. Porém, desistiu por conta da sujeira em baixo das águas do rio. E ele
ainda argumentou o tal motivo:
Bartolo:
--- Sujeira incrível. Em sentia
até o cheiro vindo do riacho da lagoa do Jacó. Coisa horrorosa! Então desisti
de morrer daquela vez. – disse o homem a passear na sala.
Fernando:
--- Espere! Voce não está dizendo
isso por brincadeira! – indagou assustado.
Bartolo:
--- Eu? Imagine! Queria pular de
cima da ponte mesmo! Não deu certo! Agora vou procurar outro meio de suicídio.
– espirros e assuados.
Caio:
--- Que? Suicídio? Nem pensar
aqui. – correu o homem para fechar a janela do apartamento.
Bartolo:
--- Não. Não. Nem se importe.
Será em outro lugar. Ah Dafne, Dafne, Dafne! – dizia com angustia o homem.
Caio:
--- Dafne? Sua esposa? Que ela
tem a ver com isso? – indagou perplexo.
Bartolo:
--- Ela me deixou. Pediu
divórcio. Tudo acabado. Disse que já não aguentava mais. Eu saía cedo de casa.
Voltava tarde da noite. Não vinha almoçar. E não limpava o banheiro! Tem mais
essa! Agora entrou com a questão na Justiça. Quer o Divórcio e pronto. –
declarou chorando.
Dalva:
--- Bem feito! Vocês são uns
imundos! – declarou com ênfase.
Fernando:
--- Eu não sou casado e não tenho
esse costume de sujar banheiro. – relatou sem pressa.
Caio:
--- Mas isso não é questão para o
suicídio! – reclamou.
Bartolo:
--- Não é para você que não é
casado há dez anos. Eu? Quem vai lavar as minhas cuecas? Onde eu vou dormir
agora? Se bem que tem o jornal! – disse o homem meio confuso.
Dalva:
--- Tem um quarto aqui! – apontou
com o dedo para o seu apartamento.
Bartolo:
--- De quem é o quarto? – indagou
meio confuso.
Dalva:
--- É meu. Mas está desocupado. E
eu não durmo no apartamento. Está limpo mesmo. – relatou.
Fernando:
--- Pronto. Caso resolvido! –
falou com garbo.
Bartolo:
--- E as cuecas? – perguntou sem
saber o que fazer.
Dalva:
--- Tem a máquina de lavar. Só
não venha pedir para eu mexer na máquina! – disse a mulher fazendo com as mãos
o modo de se lavar roupa.
Caio:
--- Um momento! A senhora pensa
em dormir aqui? – perguntou assustado.
Dalva:
--- É a parte melhor da questão.
Voce dorme no seu e eu no meu quarto! – falou sem maior conversa.
Bartolo:
--- Mas a senhora não é irmã
dele? – apontou para Caio.
Caio:
--- Não é minha irmã, nem minha
cunhada, e muito menos minha sogra. Somos apenas vizinhos. Se bem que agora ela
está vivendo comigo! – reclamou
Dalva:
--- Epa! Vivendo, não! Apenas eu
pedi para dormir em um dos seus cômodos! – reclamou.
Caio:
--- Se bem que foi isso. –
declarou em murmúrio.
Fernando:
--- E nas horas vagas? –
perguntou o bancário.
Caio:
--- Não tem “horas vagas”. Ela lá
e eu cá! – respondeu com malcriação.
Bartolo:
--- Está bem! É melhor do que
nada! “Se é para o bem da Nação diga ao povo que eu fico”. – declarou sem
cismas.
Caio:
--- Agora vai pagar o aluguel, a
faxineira, a água, a luz e o condômino. – relatou.
Dalva:
--- Espere! E eu vou pagar o
daqui também? - perguntou assustada.
Caio:
--- Que é que voce acha? –
indagou sem meias palavras.
Dalva:
--- Isso é um abuso! – declarou
irritada.
Fernando:
--- A não ser que tenha as horas
vagas! – sorriu o bancário.
Caio:
--- Não tem horas vagas. É olho
por olho e dente por dente. – declarou o homem retirando nova cerveja da
geladeira.
Dalva:
--- Estou quase desistindo. –
reclamou a mulher.
Bartolo:
--- É bom me avisar primeiro. –
disse o homem olhando a rua em baixo do apartamento
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