- Paola Oliveira -
- 16 -
ALGUÉM
De arma em punho, Caio Teixeira
procurou por vários pontos do seu apartamento e nada encontrou de estranhos,
apesar do reboliço feito em todo o setor. A porta do seu quarto estava fechada
onde ninguém pode entrar se desejou. Ele notou o forçar da fechadura, porem
nada se conseguiu fazer. Os aparelhos de escutas postados no dia anterior,
esses ninguém os encontrou, apesar de se ter revirado todos os moveis da sala,
cozinha e coisas mais. Também não houve furto mesmo estando tudo em
estardalhaço. O que mais o homem lamentou foi de ver seus móveis revirados,
inclusive à mesa de refeição. Pratos foram jogados no chão, os colchoes foram
rasgados a todo custo, cortinas arrancadas, cozinha em estardalhaço, vidros da
janela espatifados, lama por todo o canto da cozinha a misturar com copos e
recipientes de vidros espatifados. Equipamentos de som destroçados e jogados em
cima de um resto de cama acentuavam o cenário caótico. Roupas rebolidas e atiradas
ao chão. Até as chaves foram destroçadas. Uma arma de fogo não se sabe de quem
havia sido jogada entre os destroços. Um celular estava caído ao chão. No
pensar de Caio Teixeira veio um só pensamento:
Caio:
--- O alemão! Desgraçado! Eram
vários a fazer esses estragos! – resmungou enervado.
Nesse instante chegou à sala a
senhorita Dalva Tavares com o seu acompanhante, Bartolo. Ela, mancando por uma
perna por força das ataduras dos bandidos. Ao sentir tudo aquilo de pode
observar, um aperto em seu coração ocorreu.
Dalva:
--- Desgraçados! Miseráveis! Pestes! – disse a moça a olhar os estragos o
apartamento.
Caio:
--- Quantos? - perguntou o dono do apartamento.
Dalva:
--- Três. Talvez quatro. Não sei
bem. Alguém tocou na sineta e eu fui observar. Surgiu um carteiro com uma
encomenda ou algo assim. Eu fui de imediato abrir a porta. E logo os bandidos
me amordaçaram. Eles prenderam-me no meu
quarto onde você me encontrou! Parece que eles sabiam de tudo em seus mínimos
detalhes! – relatou a bela moça a chorar.
Caio:
--- Eles falaram algo? –
perguntou sem temor.
Dalva:
--- Um deles falava em um idioma
que eu não compreendi. – declarou a chorar.
Caio:
--- O alemão! O alemão!
Desgraçado! Vou descer! Vou lá! Ele sabia de tudo! – vociferou o policial civil
cheio de ira.
E Caio, sem meias palavras,
desceu o elevador em busca do alemão Klaus Renner ou Wagner Rahner, o seu nome
próprio. Esse alemão já residia há um tempo e tanto no edifício onde Caio
morava. Talvez ele tenha chegado naquele aprazível local bem antes do próprio
Caio Teixeira. No entanto, Caio ou ninguém desconfiava da sua procedência até
porque nem mesmo às reuniões convocadas pelo síndico o alemão costumava
aparecer de verdade. Envolto em um misterioso negociante de produtos domésticos
o germânico nada adiantava de suas vendas ou coisa assim tão trivial. Seu porte
robusto de um atleta das eras da sua mocidade, Klaus Renner vivia isolado do
universo de sua simples vida. Poucas pessoas ou nenhuma sabiam quem ele era ou
o que desenvolvia em sua parca existência. Nunca recebia visitas, ao que se
supunha. Era enfim um homem a viver em isolamento social e misterioso. Mesmo
assim, na hora marcada, Caio Teixeira buscava saber da verdade do ancião. E
assim mesmo, ele desceu ao apartamento do misantropo humano onde vivia
enclausurado.
Em trinta segundo o policial
chegou ao apartamento do alemão onde esperava vê-lo de forma diferente da qual
imaginava. Ao chegar ao apartamento do ancião Caio Teixeira encontrou apenas
uma faxineira a varrer o chão e indagou então:
Caio:
--- O cidadão que aqui reside? –
perguntou um tanto desnorteado.
Faxineira:
--- Quem? Não sei! Mandaram-me
limpar esse aposento e não me disseram o porquê de tal. – respondeu a mulher a
varrer o chão.
Caio:
--- Quem a mandou? – perguntou
novamente com um estado de tensão elevado.
Faxineira.
--- Um senhor. Não de me disse
seu nome. – relatou a mulher já cansada da lida.
Caio:
--- Um senhor? Mas que senhor? –
indagou exaltado com a demora.
E Caio entrou no apartamento onde
tudo parecia em ordem, a não ser por não haver nada nas salas visitadas. Era um
apartamento vazio de qualquer coisa. Apenas o piso não havia sido alterado. Um
assoalho feito de moto disfarçado a mostrar uma cruz nazista. A faxineira ainda
estava varrendo o chão e de imediato lembrou perguntar:
Faxineira:
--- E o senhor quem é? –
perguntou a mulher completamente suada.
Caio:
--- Polícia! Qual o seu nome? –
perguntou indignado.
Faxineira:
--- Ave Maria! Mataram alguém? –
indagou a mulher plena de medo
Caio:
--- Eu faço perguntas! Quem é a
senhora! – vociferou o homem.
Faxineira:
--- Pelo amor de Deus. Eu não sei
de nada. Quem era ele? – voltou a indagar quase a chorar
Caio:
--- Minha senhora! Responda quem
é! – falou estridente o policial.
Faxineira.
--- Ave Maria! Meu nome é Joana! Quem
era o morto? – suplicou a mulher com as suas mãos postas em forma de oração.
As lágrimas desciam pelo rosto de
dona Joana a temer ser detida naquele momento. E assim, a mulher, repleta de
lágrimas então falou.
Joana:
--- Por favor, eu falo. É o
seguinte: (falou a chorar). O senhor Wagner Rahner, do Exército alemão durante
a II Guerra foi um carniceiro nazista. As Forças Armada de Hitler fecharam o
cerco durante 900 dias na cidade de Leningrado, na Rússia. Nesse tempo eu ainda
não era nascida. Ele também não estava na Rússia. Todavia os seus comandados
tiraram a grande massa do povo russo, inclusive a minha futura mãe, e removeram
para Essen, na Alemanha. Nesse tempo a minha mãe era uma garota de seus 15
anos. E foi durante a sua fuga com os demais povos russos que então a
estupraram. Foi um militar alemão. Então ficou grávida e eu nasci já em Essen
onde fui criada pelo senhor Rahner. Durante todo esse tempo, eu cresci, mas
nunca eu me esqueci da tragédia do povo russo contada por minha mãe. E tenho
seguido o senhor Rahner por todos esses caminhos. Hoje, teve mais uma tragédia.
E eu estou a limpar o chão do seu apartamento. Eu perdi a minha mãe há vários
anos. Se o senhor quiser me prender, pode me prender. Hoje eu prefiro viver em
uma prisão no Brasil do que seguir esse famigerado. – relatou com um choro
sombrio a mulher.
Caio:
--- E o que houve aqui? – indagou
com voz firme.
Joana:
--- O facínora fulminou o seu
companheiro com um tiro do peito. – disse dona Joana
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