- Laetitia Casta -
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FILME
Após um longo período de conversas
e apresentação da esposa Maria, das irmãs (três), cunhados, filhos e netos, os
dois senhores iniciaram um diálogo parecendo ser demorado, especulando sobre o
movimento nazista do Brasil. Notava-se bem o conhecer de Renan Herzog sobre o
partido político, de seu nascimento na Alemanha em 1933 até os dias atuais. No
início de 1919 surgiu o Comitê livre para uma paz dos trabalhadores alemães.
Bremen, na Alemanha, foi o seu berço. Em 1919 o nome foi mudado para Partido
Alemão dos Trabalhadores. Esse partido tornou-se um dos diversos movimentos
populistas que existiram na Alemanha. Adolf Hitler foi um dos seus observadores.
E nesse tempo, Hitler levantou a idéia de trocar o nome de Partido Nacional
Socialista dos Trabalhadores Alemães em 20 de fevereiro de 1920. Ao nascer, o
Nacional Socialismo não pretendia ser um movimento filosófico. Foi a pedidos
dos seus membros pensadores que o Nacional Socialismo começou a realizar uma
interpretação da realidade, da história, da religião e da moral, entre outros.
O fundador do partido nazista foi Anton Drexler. Bem posterior foi substituído
por Adolf Hitler quando ele entrou para o partido em 1919. Em julho de 1921 o
partido adotou o princípio da liderança que constituiria a primeira lei do
partido nazista. A partir de então, Hitler seria chamado de Fuhrer – Líder -.
Com esse paradigma muito bem
conhecido por Rahner a conversa se pôs ao longo da madrugada e nos outros dias
seguintes. A cada pessoa a entrar no sítio de Renan, o visitante sempre estava
atento. Não havia sinal algum a identificar a expressão nazista por parte da
mocidade visitante. Eles apenas colhiam as frutas e legumes e voltavam para a
cidade. A buscar algum livro da estante da casa, Rahner, já há uma semana no
local, notou a presença de um projetou de cinema e diversos filmes, dentre os
quais, os do tempo do nazismo muito bem guardados. Nesse tempo, o homem Renan
notou o interesse de Rahner em poder rever a história contida naqueles filmes.
E pôs a arrumar o projetor e expor os filmes já antigos.
Renan:
--- Gostaria de rever a pátria? –
perguntou.
Rahner:
--- Certamente. Há certo tempo
que não vou à Alemanha. – declarou quase sem fala.
Renan:
--- Eu vejo a cidade com muito
langor. Destruiu tudo enfim. Comunistas e Ingleses, americanos. Como deixaram a
capital em escombros. – lamentou o homem.
Rahner:
--- É a guerra. A América tinha
sede em destruir tudo aquilo. América e Inglaterra. – comentou entristecido.
Renan:
--- Por que a Rússia? – indagou o
homem
Rahner:
--- A Rússia estava um caos. Nós
pedimos ao chefe da URSS uma quantia de combustível, pois era a mola mestra para
tudo. O Kremlin prometeu e nós fomos buscar. Mas os americanos foram na frente
e puseram oferta maior. Foi isso o ocorrido. – declarou o general.
Renan:
--- Tudo interesse monetário. –
relembrou o homem.
Rahner:
--- O que é a guerra se não
interesse monetário? Veja o Brasil. Interesse monetário. Em troca de uma bola
de chiclete o Brasil cedeu às portas. Os americanos se aventuraram em
prosseguir na prospecção de petróleo e nada mais. O dinheiro brasileiro era
cunhado da Inglaterra e Estados Unidos. O Brasil sempre foi o primo pobre dessa
história. – declarou sem rancor.
Renan:
--- Eu não entendo bem a trama.
Qual o recurso emprestado ao Brasil? – indagou preocupado
Rahner:
--- Foram vinte milhões de
dólares para a construção da Usina de Volta Redonda. O governo de Getúlio
Vargas já estava de acordo com nós outros. Mas, então cedeu aos vinte milhões
de dólares. Só isso. Assim veio a guerra! – destacou o general
Renan:
--- Que história é essa da Força
Expedicionária? – indagou por momento
Rahner:
--- Aviões! O Brasil buscava ter
aviões. Então os Estados Unidos patrocinaram para se ter esses aviões. A Força
Aérea. Apenas isso. E nós tínhamos condições dedar tudo que o Governo
precisasse. Mas, não. Eles perderam 943 homens no campo de batalha italiano. Os
americanos perderam 50 mil soldados da Alemanha. Note a diferença! - questionou
o General
Renan:
--- Então a questão do Brasil foi
por questões comerciais e econômicas? – indagou.
Rahner:
--- Existiam fortes relações
comerciais entre Brasil e Alemanha no final da década de 30. Em pouco tempo, a
Alemanha passou a ser mais importante na economia nacional que os Estados
Unidos. Em termos de importações e exportações, isso ameaçava profundamente o
poderio norte-americano e a idéia de pan-americanismo, o que levaria os Estados
Unidos a cederam à várias exigências do Brasil para que o país abandonasse suas relações com a nação germânica. Com a
guerra, o Brasil conseguiu modernizar seu parque industrial e ganhou
efetivamente todos os benefícios pedidos aos Estados Unidos. – enfatizou.
Renan:
--- Incrível. Incrível. – fez ver
o homem.
Rahner:
--- Veja bem. A Alemanha havia se
oferecido para financiar a siderurgia brasileira. E os primeiros navios
brasileiros foram afundados por
submarinos americanos. A culpa foi jogada em cima da Alemanha para levantar o
ódio do público brasileiro contra o eixo nazista. O Brasil corria o risco de
uma invasão americana para o estabelecimento de bases em Natal e Belém. A
questão é que o Brasil saiu dessa guerra muito endividada com os Estados Unidos.
Os americanos cobravam até as trincheiras
utilizadas pelos soldados brasileiros. Isso é dinheiro, meu caro jovem. Tudo é
dinheiro. Não se faz nada de graça na guerra. Dinheiro! O Brasil nada ganhou.
Só pagou. Os Estados Unidos com isso marcam o início de sua ingerência nos
assuntos internos do Brasil. – concluiu com ênfase.
Renan:
--- Verdade. Mas vamos ver o
filme? – indagou o homem. Um estremecimento lhe sacudiu o corpo.
Fazia mais de um mês. Wagner
Rahner já estava pronto para a cirurgia plástica facial. O medico dedicado e
eficiente, olhava a face do homem para saber por onde começar. O semblante de
Rahner tomaria nova forma. Na cadeira de espera pelo lado de fora da sala de
cirurgia estava apenas o seu amigo Renan Herzog. O frio intenso era causado
pelo sistema de ar condicionado do Hospital. Aquele frio deixava o homem
amofinado. Acostumado com a temperatura quente de alto do Paraguai, Renan se
desabituava com uma espécie de gelo a correr o seu corpo. Três horas foram
passadas até as enfermeiras saírem do local da cirurgia facial com o homem
ainda plenamente adormecido em sua cama. Dois maqueiros movimentavam o carro em
busca do quarto onde Rahner seria posto. Em seguida o homem Renan o acompanhava
com sobriedade e mutismo. O deslocar da equipe de Rahner parecia até um cortejo
fúnebre pelo modo do seu caminhar. Enfermeiras passavam para o outro lado do
Hospital sem cumprimentar ninguém. Apenas seguiam com seus materiais de
serviço, seguindo depressa como a correr. As enfermeiras a acompanha o General Rahner
faziam o seu serviço como de rotina. Na sala de cirurgia o medico terminara o
seu asseio e subiu depressa para outro compartimento. O rosto do General Rahner
estava todo coberto por uma máscara de proteção. E assim ficaria ainda por um
bom tempo até quando o médico ditasse as normas para retirar de todo. A tarde
esquisita e fria daquele dia estava chegando ao fim.
Maqueiro:
--- Entro? – perguntou à
enfermeira.
Enfermeira:
--- Devagar. – disse a
enfermeira.
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