- Sophie Marceau -
- 30 -
NOVAMENTE
Na tarde do sábado Joel caminhou para a Igreja ao lado de Elizabete, sua companheira e, às vezes, também namorada infanto-juvenil. Os dois trocavam ideias sobre assuntos de interesse comum. A infanta-jovem Elizabete falava sem parar do tempo havido para fazer o catecismo de modo a que todos entendessem os mandamentos da lei. E o garoto, distraído, olhava apenas as nuvens, cujos desenhos pareciam um animal. A mocinha a falar, falar e ele apenas a olhas as nuvens. Em dado instante, a jovem falou sobre os Mandamentos da Lei ditas por Nosso Senhor:
--- Isso muda tudo. – falou a ingênua garota.
Distraído que estava Joel pôs fé em uma silhueta das nuvens:
Joel:
--- Um cachorrão. – fez ver o menino jovem.
Tal termo aqueceu os ânimos da jovenzinha Elizabete que, de repente se voltou para Joel.
Elizabete.
--- Que? Cachorrão? Cachorrão é você. Bruto! Estupido! Ignorante! Macarrão! – fez ver a inocente jovem tudo aquilo de uma só vez.
Joel:
--- Hei! Espere! Estou falando das nuvens. E esse nome é você, sinhá bosta fedorenta! – reclamou o garoto com toda ênfase.
Elizabete:
--- É bosta fedorenta, é? É bosta fedorenta, é? É bosta fedorenta, é? – Elizabete indagou nervosa e cheia de ira e aproveitando jogou os cacos de telhas, bandas de tijolos, pau e pedra sobre o garoto que, de qualquer forma procurou se defender.
Joel:
--- Espera sua burra coiceira. Espera! – gritava o jovem rapazinho à menina moça que não parava de jogar sobre o seu algoz tudo que encontrava pelo chão.
A mocinha saiu em debandada para a Igreja e a correr atrás também estava o garoto Joel. Do outro lado da rua tinham uns casebres de taipa. Em um deles um homem olhava toda a cena com o seu cachimbo na boca sentado sobre um toco posto deitado. Entre uma cusparada e outra o homem olhava as duas criaturas e se punha a sorrir. A casa de taipa era locada em um terreno cheio de plantas, como jaqueira, bananeiras, mangueiras, coqueiros, pitombeiras e outras mais ou menos saborosas. Todos os dias. Logo cedo da manhã, o homem saía de casa com um balaio na cabeça a oferecer as frutas colhidas na hora. De tarde, o homem chamado seu Balaio nada mais tinha a fazer. E no sábado, principalmente. Balaio já vendera tudo o que tinha e o que sobrava ficaria para o dia seguinte. Mas quase nada sobrava. Balaio era apelido e o seu nome era Manoel Nogueira. Mesmo assim, todos os que compravam frutas ao vendedor o conheciam apenas por Balaio. E naquela hora, sem nada mais para o que fazer, Balaio sorria por demais com as arteirices do casal de garotos.
E Joel teve a sorte de escapar do jogar de uma banda de tijolo feito pela garota Elizabete. Foi nessa ocasião que os dois se atracaram. De certo tempo, a menina ficou pela frente de Joel, e esse a agarrou por trás em uma luta desigual para a mocinha. E ela gritava:
Elizabete:
--- Me solta! Me solta! Me solta seu ladrão de cocadas! Me solta! Me solta! Se não eu grito! – dizia a garota com um verdadeiro alarme por conta a reação do garoto.
Joel:
--- Não solto! Não solto! Não solto! Você não é quem dizer ser braba? Agora é que eu não solto! – gritava o garoto atracado com Elizabete,
Quando tudo estava enroscado entre a mocinha e o garoto, eis que surge para desatracar o homem forte conhecido por Balaio. Sem mais conversa o homem suspendeu do chão o garoto Joel e logo disse com severidade:
Balaio:
--- Vocês brigando? Não tem vergonha? Já para a Igreja. Ou eu chamo o padre para casar os dois. Ora! – disse Balaio largando o menino no chão.
Joel:
--- Ta vendo? Ta vendo? Ta vendo? Sinhá zaraolha! - e se largou a correr para entrar na Igreja.
A mocinha fez o mesmo. Aturdida com a grandeza do homem, meteu o pé a correr num verdadeiro pega não pega e entrou na Igreja completamente assustada. A calma da Igreja tranquilizou os dois brigões do meio da rua. Eles entraram no templo e se toparam com João Clemente, sacristão da Igreja e auxiliar do padre e de dona Mumbé, a professora de catecismo de crianças que estão para receber a hóstia da primeira Comunhão. Ao notarem a presença do homem bastante forte e grande, os dois malcriados alunos do catecismo ficaram mais tranquilos. Joel e Elizabete seguiram até o banco da frente e depois de algum tempo, eles sorriram um para o outro.
À noite, Joel dormia. Noite silente de nadas se ouvir a não ser o vou do besouro ou os pássaros da noite toda. Alguns gritinhos de corujas. Mas isso era comum. A casa estava quase que escura. Apenas uma lâmpada no corredor era acesa. Ratos buliçosos a procurar o seu ninho nos cantos de parede. Da rua se ouvia os apitos estridentes dos guardas-noturnos e nada mais a não ser o latido de um cão ou um miado de gato. O sinal era que todos os habitantes estavam a dormir àquela hora da noite. Talvez madrugada. E naquele instante, Isabel se aproximou do leito de Joel. Calma e tranquila a mocinha puxou o dedo mindinho do pé do garoto como a querer acordá-lo. Em meio à penumbra da luz do seu quarto, em um abajur lilás para fazer sua competição com a luz do corredor, o garoto de momento acordou um pouco a dormir como um ébrio naquela quietude do lar. E falou inconsciente pelo que se passava.
Joel:
--- Vai pra onde? – perguntou sonolento o garoto.
A mocinha sorriu e disse apenas:
Isabel:
--- Vamos passear? – disse o espirito de Isabel a sorrir.
Joel:
--- Para onde? – indagou o garoto com todo o sono da vida.
Isabel:
--- Por aí. Ver de perto os Buracos Negros! – sorriu Isabel ao comentar um assunto que ele levantara na escola junto a professora Maria Eugenia.
Joel:
--- Mas eu vou lá ao Buraco? – perguntou a desconfiar o garoto da proposta feita por Isabel.
Isabel:
--- É. Se você quiser. Sendo não, vamos passear pelas estrelas. – respondeu delicadamente a jovem Isabel.
Joel:
---Pera! Deixa eu me vestir. – relatou o garoto sonolento.
Isabel:
--- Você já está vestido. – sorriu a jovem Isabel.
Joel:
--- Mas faz frio lá fora! – argumentou o garoto com medo de sair de casa sem um roupão.
Isabel:
--- Besteira. Faz nada. É só uma volta. – sorriu Isabel a persuadir o garoto
E os dois duendes seguiram para o universo infinito onde tudo não passava de um sonho. Ele e a mocinha percorreram o espaço e entraram no buraco negro. E viram de tudo que os homens não podiam ver. Sois a brilhar, planetas, satélites e tudo o mais que não se nota mais no espaço. Era verdadeiramente um encanto aquilo que os duendes podiam ver e quase a tocar com as próprias mãos.
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