domingo, 5 de fevereiro de 2012

ACASO - 33 -

- Keira Knightley -
- 33 -
BANHO DE MAR
Um dia, à tarde, Joel e Elizabete rumaram para a descida da praia, onde poucas pessoas estavam a tomar banho de mar. Uma turma de pescadores fazia o arrastão em uma parte mais distante. Os homens e rapazes puxavam a rede de pesca para fora da água com os seus corpos pendidos para trás. Era uma turma de vários homens e rapazes. Enquanto isso, meninos e meninas ficavam de fora a olhar seus pais ou irmãos a improvisar aquele serviço noturno ou diurno. Era uma ocupação a se fazer diariamente pelos homens do mar. Eles aproveitavam a maré vazante para compor a rede de pesca. Coisa fácil para quem apenas olhava e difícil para quem executava. Não havia poesia e nem história a cantar e contar. Apenas os homens teciam o serviço mais que árduo. A dupla olhava para os pescadores, do alto do morro e nada falavam como se eles fossem dois observadores celestiais. Joel mirou o mar em toda sua extensão para ver o local de melhor recanto para ele ir tomar banho. Nesse momento, Joel perguntou a sua namorada do faz de conta:
Joel:
--- Acolá tem pedras. Mas é um local melhor para se tomar banho. – falou o garoto.
A mocinha viu a cara o garoto e respondeu:
Elizabete:
--- Tu tomas! Eu fico só a olhar. Estou sem roupa! – respondeu a garota como a se desculpar.
Joel:
--- Besteira! Não tem ninguém lá. E as pedras encobrem a gente. – respondeu Joel.
Elizabete:
--- Tu tomas! Vai nu? – indagou a garota ao seu namorado de faz de conta.
Joel:
--- Tô de calção! E você? – perguntou Joel sem ter menor intenção.
Elizabete:
--- Eu não vou! Fico só a olhar você. E pronto! – respondeu a garota ao  ser indagada mais uma vez com sua voz de quem não vai mesmo.
E a dupla saiu na carreira ladeira abaixo, pisando em pedras, chutando a areia, arrastando o mato em um corre-corre sem fim. Ninguém se metesse a besta porque os dois – Joel e Elizabete – não se apanhavam tao cedo. Quatro burros que pastavam em um local remoto não se assustaram, apesar de um deles, ao ver a peripécia do casal, passou a relinchar como quem dizia: “Pega ele mulher!”. Na metade da ladeira o bonde trocava a posição da lança e os passageiros embarcavam todos de uma só vez. A conversa dos passageiros era a mesma de sempre: o governo e os políticos. Mesmo assim, os dois infantes nem ligavam para tal, pois o seu pego não pega era o que dava a maior emoção.
Em pouco instante Joel, quase nu, estava tomando banho de mar em uma lagoa por entre as pedras dos arrecifes os quais protegiam o avanço da maré quando cheia. Mesmo assim, havia um lado sem proteção onde a água do mar avançava até as encostas do paredão e dali descia novamente para o oceano. O paredão tinha uma altura de cinco metros e para descer se tinha que procurar lugares de mais acesso. E foi por um desses locais que Joel pulou para a praia. A mocinha Elizabete ficou a observar o seu amado a se embrulhar nas águas mansas da lagoa entre pedras e sargaços enquanto a jovem ficava a sorrir das peripécias do garoto a brincar dentro de um mar de um verde claro e quase sempre embranquecido. Uma jangada voltava a praia mais distante do local onde Joel estava. A jovem Elizabete olhou muito bem para a jangada ainda longe de encostar. Mais outras três jangadas rumavam de muito longe onde a mocinha apenas divisava a cor das velas. E essas jangadas também deviam aportar em um mesmo lugar que a mais perto estava. O vento morno soprava a face da donzela e um zunido tomava conta dos seus ouvidos fagueiros. O cheiro forte da brisa marinha era o que mais acalentava a jovem infante no seu prazer de descansar sozinha naquela furtiva beira-mar. A relva plana encima do paredão dava abrigo as borboletas de asas douradas a enfeitiçar o tenro mato entre tantas outras borboletas azuis, amarelas, brancas e de variadas cores. O vento cálido desdenhava ao derredor as brumas verdes do sereno acaso. No oceano distante a mocinha abismada procurava ver mais longe de aonde vinha à caravela navegante em certo tempo onda havia apenas a água cálida e turbulenta. E o ar e a brisa morna sopravam mais forte ainda a acoitar o cabelo crespo e loiro da mocinha amada. De repente, um susto: Um homem maltrapilho vinha a cada passo de um local distante, talvez do ancoradouro das jangadas pescadoras. A mocinha se levantou da relva e correu por entre matos em busca de proteção do garoto Joel. O seu coração batia forte e temeroso. Ela disse apenas:
Elizabete
--- Um homem! – falou assustada Elizabete ao chegar mais próxima do garoto.
O garoto se levantou do meio da lagoa e olhou para fora e para longe. Nada ele pode ver. E respondeu enfim:
Joel:
--- Pescador, sinhá boba! - respondeu Joel a sorrir mergulhando logo após nas aguas cálidas do mar sereno.
Elizabete:
--- Ele vem pegar a gente? – indagou assustada a mocinha temendo o efeito da emoção.
O menino sorriu de onde estava dentro do lago. E então respondeu:
Joel:
--- Talvez! Principalmente as meninas gordas como você! – disse o garoto a sorrir.
Elizabete verificou seu corpo e bateu com o pé. E disse:
Elizabete:
--- Gorda é a sua mãe! Bruto! Cavalo! Cheira sovaco! – sacudiu a mocinha o verbo para cima de Joel com ampla brutalidade.
O garoto não teve outra e então sorriu. Logo após mergulhou na água morna do mar.
Com o passar do tempo Elizabete se despiu em parte, ficando apenas de roupa de baixo e de corpete relatando de vez para o garoto.
Elizabete:
--- Não olhe para trás. Vou entrar na água. – disse Elizabete ao tempo em que mergulhou no banho de uma só vez.
O dia já estava a acabar com o Sol a desaparecer por detrás dos verdes matos na altura da colina. Era tempo de se ir para casa. A mocinha, ao entrar na sala não avistou a sua mãe. Com certeza dona Eliza havia saído para fazer as compras da noite. Elizabete entrou bem devagar e se trancou no banheiro para tomar seu banho de água fria e ao tempo de lavar o seu cabelo, retirando a sujeira que ficara deixada pelas águas do mar bravio. Uma delícia de banho. E em seguida ela ouviu a tranca da porta de saída da sua casa e se lembrou de sua mãe. Elizabete logo clamou:
Elizabete:
--- Mae? – falou bem alto a mocinha.
Uma voz:
--- Sou eu. Onde está sua mãe? – perguntou a voz como se estivesse preocupado.
Elizabete:
--- Deve ter saído meu pai! – respondeu a mocinha ao senhor Paulo Rebouça.
O senhor Paulo Rebouça Lemos se aquietou e foi ouvir o rádio enquanto tirava os sapatos e coçava os pés com uma régua. Já estava quase noite quando a mulher Eliza chegou da mercearia com os pacotes nas mãos. A essa altura Elizabete já estava trancada no seu quarto de dormir a enxugar o cabelo loiro e encaracolado. A mãe, Eliza, apenas perguntou onde a moça esteve a tarde toda.
Elizabete:
--- Em casa de Magali. – respondeu a filha a sua mãe.
Eliza:
--- Magali? Estranho! Ela esteve aqui à procura de você! – respondeu Eliza com cisma.

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