- Audrey Tautou -
- 32 -
CÉU E INFERNO
Na segunda-feira tinha aula de religião. Antônio dos Santos. O ponto da discórdia entre os outros colegas alunos. Tinha sido removido para outra classe. Por isso a aula devia transcorrer normalmente. A professora de Religião era uma Freira, Irmã Dulce dessa vez. A classe estava quieta para ouvir tudo o que era para dizer sobre religião e, possivelmente, nenhum dos alunos faria perguntas. A aula seguiu tranquila até o ponto em que Joel Calassa teve a audácia de indagar:
Joel:
--- Professora! Dá licença? – perguntou Joel a Irmã Dulce.
Irmã:
--- Pois não querido aluno. – respondeu a Irmã.
De lado, a garota Elizabete cutucou Joel e advertiu ser ela uma Freira. O menino voltou a fazer a pergunta:
--- Tão me cutucando aqui pra dizer Freira. – respondeu o garoto.
Elizabete:
--- É Irmã, seu cavalo! – respondeu baixinho a sua colega.
Joel:
--- Deixa eu perguntar sinhá cavala! – respondeu Joel para Elizabete.
Irma:
--- Deixem de arengas. Vamos a questão do aluno! – falou a Freira de forma branda a sorrir.
Joel:
--- Existe Céu? – indagou Joel a Irmã.
A Irmã Dulce muito tranquila enfim respondeu:
Irmã:
--- Claro que existe. É onde está o mestre e para onde nós iremos. – sorriu a Irmã ao responder a questão levantada pelo garoto.
Elizabete:
--- Claro que existe seu Macarrão de uma figa! – se intrometeu a mocinha Elizabete.
A classe toda entrou em delírio, a gargalhar com a pergunta feita por Joel. Isso demorou a acalmar. Mas por fim, o negocio voltou ao normal.
Joel:
--- E o inferno? – perguntou o aluno a Irmã Dulce.
A classe toda gargalhou por longo espaço de tempo. Assobios, bolinha de papel e tudo o que podia voar os alunos arremessaram na cabeça de Joel. Por fim a classe acalmou.
Irmã:
--- Também existe. É o lugar do Demônio e dos seus amigos. – fez ver a Irmã Dulce olhando direto para garoto Joel.
Joel:
--- É danado! Mas o Céu fica em cima ou do lado? – apontou Joel com o dedo para cima e para o lado a querer posicionar na verdade o Céu.
A classe inteira gargalhou. Os assobios não faltaram. E um dos alunos aperreado gritou:
Aluno:
--- Silêncio bocado de bosta! – disse um aluno aos demais.
Aí foi que a gargalhada se espalhou pela classe toda de alunos. Era uma batucada infernal sobre as carteiras da Escola. Enfim, o silêncio com o apelo feito pela Irmã Dulce apenas com as mãos.
Irmã.
--- Meu dileto filho. O Céu fica sobre nós e o Inferno está ardendo em chamas abaixo de nós. – ressaltou a Irmã Dulce.
Joel:
--- Mas se nós formos considerar a posição geográfica do Universo, o Céu está acima de nós. Se eu hoje estou sentado aqui, eu não estou com base para o Céu. Se levarmos em conta o nosso planeta e o Sol, nós estamos em uma vertical. E sendo assim, não estamos para cima ou para baixo do Céu ou do Inferno. A se levar em conta o Inferno ser para os maus elementos, então se pode notar ser o lugar abaixo dos meus pés. Esse é o inferno. E o Céu não está acima das nossas cabeças. Mas ao lado. Para cima. Além do mais, se for considerar que acima tem o polo norte, é claro, vê-se ter o Céu um lugar indefinido. Por isso, não é acima e nem do lado. Considere-se que o Universo é todo plano, uma teia de aranha por assim dizer. E então não há espaço para se navegar nem para cima nem para baixo. – reclamou o garoto com todo o seu palavreado.
A classe toda reclamou das alusões feitas pelo garoto Joel sem entender de nada. Assobios e bolinhas de papel foram a maior parte da questão. E a Irmã pedia tão somente:
Irmã:
--- Calma meus diletos filhos! Calma! A você, meu caro aluno (Joel) tem a te dizer ser o Céu e o Inferno enigmas da criação. Deus criou o Céu. Na verdade, Ele criou o Céu que nós vemos, como as estrelas e tudo mais. Porem, Ele criou também o Céu dos anjos. Arcanjos e Santos. Não é obrigado se posicionar em que lugar esteja esse Céu. Ele não é tratado como físico. E nem químico. É para que nós possamos crer em um lugar, um paradigma a que se possa ter após estarmos vivos e conscientes na Terra. – sorriu a Irmã Dulce completamente consciente do que falava.
Joel:
--- Em outros termos bem simples: Céu e Inferno não existem como nós queremos que eles existam. – refletiu o aluno Joel.
Irmã:
--- Bem. Isso fica ao livre arbítrio. – falou seria a Irmã Dulce na sua aula de religião.
Após a conclusão da aula, o aluno Joel Calassa foi chamado a Diretoria para ouvir conselhos da diretora Maria da Penha. E perguntou a professora de onde ele tinha rebuscado tanto saber para uma aula simples de religião E o garoto respondeu:
Joel:
--- Dos livros minha boa diretora. Se nós formos estudar com maior precisão, veremos duas coisas, no mínimo, importantes: a Religião e a Ciência. As duas jamais conseguem bater uma na outra. Se eu estudo ciência na classe, então eu deixo a religião para outro embate. Não se pode confundir o estudante a dizer o que a Ciência diz e o que a Religião prega. Ciência é Ciência. Religião é Religião. O Inferno é a causa do temor da morte. Ele prega as doutrinas. Ou seja: princípios que servem de base. É isso. – relatou sem temor o aluno.
Penha:
--- Você é católico, Joel? – perguntou com cisma a diretora.
Joel:
--- Sou. Mas não aceito a mistura da ciência com a Religião. – respondeu o garoto.
A diretora da Escola, Maria da Penha, ficou a pensar, olhando muito bem para o garoto Joel ser aquele rapazinho quieto ser um raro escolar de um Grupo que a mestra dirigia. Ou de um ser superior capaz de decifrar o enigma do Céu e do Universo. A professora batia com seu lápis em cima do birô. E logo após com as mãos sobrepostas cruzadas para trás, se levantou de sua cadeira e foi até a janela que dava para a rua. Ali pode ver o rapaz grande a procurar algo em sua casa. Talvez uma borracha. Talvez um lápis. Ou qualquer coisa dessa espécie. Alguém o chamou de dentro do casebre e ele se voltou para responder o que era preciso. Os seus braços abanavam para cima e para baixo como se sentindo desaforado. De imediato, uma mulher magra o advertiu seriamente. A professora viu a mulher, mas não podia decifrar o dizer que eles faziam. Maria da Penha apenas pensou em brigas.
Nenhum comentário:
Postar um comentário