- Rebecca Hall -
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CAPIM
No dia seguinte a turma estava enfileirada para entrar em classe sob o comando do senhor Josino, o homem da sineta. A professora Noêmia Melo não havia chegado ainda na classe. Josino comandou a turma e ele esperou todos se sentar em suas bancas. Com poucos minutos a professora Noêmia entrou na classe. Ela agradeceu ao homem Josino e esse se retirou. Ao sentar em sua cadeira em frente ao birô, a mulher abriu a gaveta larga e notou a presença de um molho de capim. Ela se conteve e mostrou aos estudantes que podia ter esquecido o seu lanche naquele birô:
Noêmia:
--- Quem foi que esqueceu o seu lanche? – indagou a professora toda enervada.
Ninguém respondeu. Afinal ninguém sabia dizer ao certo de quem era o molho de capim em exposição. A professora Noêmia foi até o cesto e deixou cair o monte de capim. E bateu com suas mãos uma na outra. Ela olhava a cada um na esperança de descobrir qual deles tinha sido o astuto e mal comportado estudante. Com seus óculos de graus olhou por cima das lentes a cada um dos alunos sem, contudo descobrir penas um aceno. Joel estava sentado em sua carteira com a cabeça abaixada e o queixo em cima de uma das mãos a olhar apenas para a professora Noêmia. A mulher andou no tablado para cima e para baixo pesquisando o arteiro que lhe fizera de burra. Olhou bem para Joel e esse nada mostrou de desconfiança. Apenas olhava a mestra com a cabeça derreada e escorando o queixo em uma das mãos:
Noêmia:
--- Ajeite-se! Você não está na casa de sua sogra! Menino feio! – esboçou o comentário para ver se ele faria algum gesto comprometedor.
Joel se recompôs e se pôs a sentar como todos ou quase todos estavam sentados em suas desconfortáveis carteiras. A professora Noêmia continuou a caminhar de passos lentos e sacudindo o corpo baixo e redondo de gordura na intenção de ver toda a classe de ponta a cabeça. Após um longo de período ela voltou a se sentar na cadeira do birô sempre a olhar os estudantes. Então a professora relatou ser aula de português. É claro que ninguém ou quase todos não gostaram.
Pecado:
--- Lá vem merda. – relatou bem baixo o aluno Pecado. Seu nome era na verdade Manoel Picado. Dado o fato os colegas chamavam-no de “Pecado”. E Pecado não se incomodava com o apelido.
Apesar de falar baixo, o garoto foi ouvido pela professora Noêmia. De imediato, Noêmia se levantou da cadeira e marchou até a carteira de Pecado no com o orgulho ofendido fez ver a sua força.
Noêmia:
--- Para fora! Imediatamente! Seu palerma! Quero ver quem manda nessa sala! – falou alto a professora Noêmia sem querer pensar duas vezes.
Pecado então arrumou a sua bolsa e partiu devagar por entre as carteiras e ao chegar à porta da sala ainda teve a coragem de dizer:
Pecado:
--- Vamos ver quem manda aqui, na verdade! – e cruzou pelo corredor até chegar à sala da diretora e pedir licença para falar.
A diretora Maria da Penha olhou atento o aluno e após alguns segundos deu autorização para o estudante se explicar. Outra mestra estava na sala batendo a maquina. E não prestou a atenção a que o estudante começava a relatar.
Pecado:
--- Professora, bom dia. Eu venho da minha sala porque a novata me expulsou. Isso não tem nada. Se eu não puder estudar aqui peço transferência de imediato. Agora, o que não pode ser é que tenhamos uma professora carrasca de modo pão duro a estar investigando todos os alunos da classe. Eu saí. Não tem problemas. Mas que fica vai ver onde o calo aperta. Muito obrigado. – e fez meia volta para sair da sala da diretora.
O rapaz já estava saindo da sala quando ouviu a diretora chama-lo de volta. Ele não tinha dito o motivo da expulsão. E a diretora perguntou:
Diretora:
--- O jovem sabe me dizer por qual motivo a professora Noêmia o expulsou da classe? – indagou a diretora Maria da Penha.
Pecado:
--- Pois não. Eu fiz um comentário para mim mesmo quando a professora disse ser a aula com a matéria de Português. E disse mesmo baixo, apenas comigo: posso dizer? – perguntou o aluno Pecado.
Diretora:
--- Pode. Faça o favor. - relatou a diretora Maria da Penha.
Pecado:
--- Bem. Com a sua licença o que eu disse foi: “Lá vem merda”. Mas isso foi só para mim. Pronto. Foi o que eu disse. – fez ver o aluno atrevido.
A diretora sorriu. E depois de alguns minutos relatou a Pecado:
Diretora:
--- Meu filho. Quem manda na classe é a professora. Se ela se sentiu ofendida, nada mais certo do que tirar você da sala de aula. Eu a não reprovo. Mas vou esperar a vinda da mestra e se o que você diz for à verdade, então, não se preocupe. Eu tenho poderes para justificar a sua ausência da aula. Esta bem assim? – perguntou a diretora ao aluno Pecado.
Pecado:
--- Sim senhora. Posso sair? – quis saber o aluno Pecado à diretora.
Diretora:
--- Pode. Pode. – e sorriu Maria da Penha.
Ao toque da sineta começou a debandada dos alunos para receber seu lanche. E as professoras do turno da manhã saíram de classe para a sala da diretoria. Cada uma que conversasse o ter que fazer no próximo final de semana. A professora Noêmia não entrou na conversa. E foi direto para falar a diretora da animosidade tida logo cedo do dia, com um molho de capim no seu birô e para completar a insolência de um aluno chamando “merda” na plena classe. A diretora ouviu e recebeu a nota do aluno expulso por sua atitude. Nesse ponto a diretora vez ver a senhora Noêmia que tal aluno era filho de um importante senhor do Departamento dos Correios e Telégrafos e tal atitude seria bancar uma deselegância para com o senhor seu pai.
A professora Noêmia ouviu tudo com legítima atenção e lego depois veio a sua defesa:
Noêmia:
--- Muito bem. Se for assim, eu peço que a senhora me dispense dessa obrigação. Eu já tenho idade para me aposentar e não vai ser um aluno qualquer que fará uma desfeita para comigo. De minha parte eu estou dispensada. Pode arranjar outra, pois eu não fico mais nem um minuto aqui nessa escola. Tenho dito. – relatou com estupidez a professora Noêmia.
E de imediato a senhora Noêmia Melo saiu da diretoria da Escola, pegou rumo da rua e saiu esbravejando tudo o que tinha ou não direito. Com uma bolsa enorme a tiracolo, com seu pote baixo, o andar miúdo e as banhas a cair à mestra tomou o rumo da cidade.
A aula recomeçou com a presença de uma novata mestra e foi até o final da manhã. Houve a explicação da saída de dona Noêmia Melo e a nova professora Sonia Andrade esperava ter a melhor compreensão dos alunos. Como não sabia muito bem o que seria dada na segunda metade da aula, ela resolveu conversar com os alunos sobre os temas preferidos o qual se dava em aula. E cada um que dissesse a sua preferencia, pois cada aluno tinha o seu estilo de gostar mais de uma matéria ou outra. Sentada no estrado e esboçando sempre um sorriso, a mestra Sonia foi alegre e bem quista por todos os escolares. O tempo foi passando e a hora de encerrar o turno já era vinda. Os alunos então perguntaram a mestra Sonia Andrade se ela estaria de volta na manhã seguinte.
Sonia:
--- Provavelmente. Provavelmente. – respondeu a mestra a sorrir.
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