- Audrey Tatou -
- 03 -
CÃES
A moça não se surpreendeu com o
dizer de seu colega. Olhava-o de forma tranquila. A mão na boca em forma de
cunha. O olhar sereno para Otto. Até instantes de forma distante. O rapaz
Enoque olhava para e outro e nada dizia. A jovem moça Vanesca olhava serena a
figura de Alda Paiva. Porém nada falava. Ela era apenas quem escutava a
delirante conversa entre o seu noivo e a jovem Alda. O salão se enchia cada vez
mais de pessoas de média classe. Alguns a conversar de seus assuntos
corriqueiros. Outros preocupados em se
encontrar uma mesa mais distante onde pudessem confabular seus nervosos temas.
A porta de entrada já mostrada o sinal de mais gente a querer entrar. Outras a
sair e buscar distinto restaurante menos lotado e onde se pudesse conversar
mais à vontade. Esse era o inicio da noite, coisa de nove horas e trinta
minutos ou coisa mais. Alda Paiva voltou a conversar sobre novos assuntos até então não expostos.
Alda:
--- Tinha, no porto um volume de
cães. Todos empacotados para embarcar. – relatou a moça de forma alheia ao
assunto.
Otto:
--- Cães? Que cães? Adultos? –
indagou curioso o rapaz.
Alda:
--- Sim. De certo modo. Cães
magros, Pequenos e grandes. Vivos. Eles estavam em gaiolas de arame. Uns
latiam. Outros tremiam de medo ou frio. E o Delegado disse ainda ter gatos. Eu
não vi. Parece estar em outro setor no porto. – relatou com suavidade a
jornalista a fitar Otto de forma disfarçada.
Otto:
--- Cães e gatos? Pra que esses
animais? – indagou estupefato o jornalista.
Alda:
--- Exportação. Países da Ásia.
Todos tão raquíticos. Cães vadios, desses pegos na rua. Tinha uns maiores. Raça
até certo ponto de pura linhagem. – relatou sem emoção a jornalista.
Otto:
--- Ô meu Deus! Cães mesmo? Isso
não pode ser! Gatos? – relatou nervoso o homem.
Vanesca:
--- Para onde se leva esses
animais? – indagou por sua vez a outra jornalista.
Alda:
--- Pode. Ora se pode. Por aqui
pode tudo. Os cães foram pegos em cidades do interior. E eram despachados para
países da Ásia. Por lá é consumo franco. Vende-se no mercado. – relatou a moça
sem um pingo de emotividade.
Vanesca:
--- Mercado? E vão matar os
bichinhos? – relatou apressada a outra jornalista.
Alda:
--- Ora se matam! Os que
aguentarem chegar com vida, são mortos sem dó nem piedade. E depois vendidos.
Carne de cães, gatos. Até mesmo de cobra e minhocas. O povo come tudo o que se
meche. Às vezes, também os que não se mechem. – fez ver sem sentimento a
jornalista
Nesse momento, Vanesca se
levantou apressada, procurando sair de qualquer forma de onde estava a sentar.
Mão na boca. A procura de um lenço. E partiu para o toalete com o maior
corre-corre do mundo. Empurrava um. Passava entre os garçons com as suas
bandejas. Seguiu entre outros presentes. E alcançou o toalete onde foi fazer o
que lhe competia: vomitar. Na mesa, onde ficaram os três jovens, houve até
certo ponto um alarme. Alda Paiva indagou de tudo o que dissera o que fizera
Vanesca sair com pressa.
Alda:
--- Mas o que foi que eu disse? –
indagou curiosa a jornalista.
Otto:
--- Nada. Ela foi vomitar. Não
aguentou ter de saber ser naqueles países o consumo de carne de cães serem tão
normal. – fez ver o jornalista. E tornou
a olhar o toalete onde Vanesca entrou apressada.
Alda:
--- Nossa! Imagine se eu disser comer
formigas e gafanhotos. – sorriu como a sacudir seu corpo a jornalista.
O garçom voltou até a mesa de
Otto vendo se o homem tinha mais pedidos a ser feito. Otto consultou os três
presentes e comentou ter ele já feito o pedido de uma pizza mais um pouco de
vinho do Porto e nada mais. Alda consultou seu amigo e findou por definir ser o
mesmo prato para os dois. O garçom agradeceu e se voltou a sair. Nesse ponto
chegava à mesa a impressionada Vanesca ainda entediada com a conversa de início
mantida com a jornalista Alda Paiva. E foi logo advertido aos presentes:
Vanesca:
--- Nada de cães e gatos! Está
bem? – advertiu a moça com as suas mãos a fazer silêncio.
Otto sorriu e Alda também a
advertir ter sido um assunto passado. O amigo de Alda salientou ter visto um
artigo onde índios consumiam suas vítimas pelas partes nobres. Coxa e glúteo
por exemplo. Eram esses os antropófagos. Vanesca tapou as orelhas para não
ouvir mais o homem falar. E se levantou de sua cadeira, tento saído para a
porta de entrada onde gente muita entrava no restaurante àquela hora da noite.
Na porta de entrada a moça ouviu uma conversa entre dois frequentadores de fim
de semana. Na conversa um deles contava da morte de um motociclista na rodovia
federal.
Frequentador:
--- O homem no automóvel estava
embriagado. – disse um dos dois. E eles entraram no restaurante com a conversa
sobre o incidente fatal.
A moça rejeitou o assunto e logo
em seguida foi dizendo:
Vanesca:
--- Até aqui, Brutus? – e rangeu
os dentes para os inomináveis elementos.
A passear pela calçada do
restaurante a admirar o espetáculo deslumbrante dos cartazes luminosos e as
lojas de artigos femininos a ocupar largo espaço da avenida, Vanesca olhava
atentos os tais componentes ofertados para a próxima semana como de artigo de
requinte e luxo. O brilho das vitrines trazia à moça o enigma de um futuro onde
nada mais podia haver de surpresa. A vitrine de moda trazia o requinte da
coleção das melhores estampas tropicais. Sapatos mostravam atualização para a
estação mais quente do ano. As novelas das TVs trouxeram inspiração aos
figurinistas para mostrar o mais deslumbrante dos artigos modernos da plena
primavera. Vanesca ficou extasiado com tanto brilho em forma de renda, cetim,
couro e algodão. As cores neutras e claras trouxeram o branco e os tons a
representar a limpeza da Terra. A reedição da famosa calça boca-de-sino
torna-se a modelagem essencial dessa temporada.
Dava bem para entender ter os anos de 1970 ficado fortemente gravados nessa atual estação. A jovem sentiu a presença de três casais a
olhar as vitrines e a conversar com sorrisos o doce encanto da eterna
juventude. E Vanesca sorriu para si ao ver não está só diante daquela maravilha.
Os mostruários eram decorados de forma totalmente bem criativa apresentando os
modelos em brilhantes formas. Um suspiro enlevou a moça diante de tanta
inquietante mostra. Ela se conservava com as mãos para trás e o olhar
perscrutador a melhor verificar as formas geométricas apresentadas. Nesse momento, um pingo de chuva descartou o
olhar de Vanesca. Ela olhou para o céu e notou ter chuva em poucos momentos.
Enfim, atravessou a rua e correu para o interior do restaurante. Ao chegar ao
local já havia chuva muita a cair sem trégua. Outras pessoas procuravam se
abrigar sob o esmerado teto do restaurante.
Alguém:
--- Chuva grossa essa. – disse
alguém a olhar o firmamento.
Outro:
--- Agora deu. Só faltava essa! –
fez ver de forma estranha a outra personagem.
Velho:
--- É chuva, moça! – relatou um
ancião ao passar rente a parede.