- Elizabeth Taylor -
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ESQUELETO
Nesse
mesmo dia, manhã cedo quando o sol nem brilhava no horizonte, um bando de aves
de rapina fazia vôs circulares como em roda acima do morro onde só havia
árvores, algumas enegrecidas pelo arrebol das nuvens quando também nasciam. Era um bando de aves
negras, aves tão somente urubus como se costumava chamar. Na sequidão parada
nas folhas do arvoredo eram as aves a lógica presença de alimento para saciar a
sua fome. Que olhasse bem longe, do infinito, podia vislumbrar as eternas aves
da soturna festa. Porém nenhum ser vivente estaria preocupado com essas aves.
Nívea Maria da Conceição, - conhecida por “Matuta” - filha da cozinheira da casa grande, dona Josefa Maria da Conceição –
dona Josefa – foi a pessoa a notar os abutres a voar em circulo a pesquisa de
algum cavalo morto, por assim dizer. A jovem moça olhou para o céu e viu ao
longe o avoar das eternas aves de rapina. Nívea colocou a mão na testa para ver
melhor. E aves temerosas estavam a voar em circulo, como já foi dito. Após
alguns segundos a moça se voltou para a entrada da casa com seu dito:
Nívea:
---
Urubus! Bichos imundos! Chega dá nojo! Arre égua! – disse a moça a entrar na
cozinha.
Josefa:
---
Quem foi mulher? – indagou a paciente mãe.
Nívea:
---
Urubus! Lá pras bandas do quinhão. Local amaldiçoado. Só tem tatu e onça. Às
vezes, um cavalo morto! Ora mais! – responde a sua filha.
Josefa:
---
São aves de Deus. Eles limpam o que se deixa sujo. Tem muitos. Na roça. No
cercado! Em tudo que é canto! São aves do Criador. – enfim falou a mulher.
Nívea:
---
O Criador que fique com aquela peste. Não eu! – decifrou a moça um tanto de
zanga.
Josefa:
---
Deixa disso menina! Deixa disso! O Criador não vai gostar! – falou zangada a
mulher enquanto lavava os pratos de comida.
Nívia:
---
Eu! Que me importa! Não estou nem aí! – reclamou atarantada a moça.
Um
bando de arribaçãs passou raspando o telado da casa e foi se enfurnar para as
bandas do além. Patos e marrecos também faziam a festa. Uma juriti contou ao
longe. E um pintassilgo também era ouvido. Dona Josefa olhou para fora e viu um
Corrupião do papo amarelo. A mulher fez um sorriso e a ave bateu asas.
Josefa:
---
As aves da natureza. – fez ver a mulher a sorrir.
De
repente um cavalo freou na porta de trás da casa grande. Era um dos tais dos
açougueiros. Esse matava para ver a queda. Arroto Choco era como se conhecia
Miguel Mal Assombro, um dos tais do bando de pau mandado do deputado. Ele
estava no largo da fazenda à procura de algum sinal do morto Mão Branca. E
voltou às pressas para contar o que vira. Arroto Choco entra na casa sem ao
menos cumprimentar dona Josefa. Foi de uma tirada só no pé e no outro. Ele
chegou para avisar aos pistoleiros de
aluguel ter visto na mata um bando de aves de rapina. O coração do bandido
batia forte e Arroto Choco estava com o chapéu preso ao peito. Ao dizer tal
descoberta o quadrilheiro foi cercado pelos outros cangaceiros.
Bandido
Um:
---
Como o senhor disse seu bandido? – perguntou um dos tais.
Arroto
Choco:
---
Foi isso mesmo. Eu vi os urubus! – relatou com pavor o cangaceiro.
Outro
bandido:
---
É mentira desse corno! Eu enterrei e bem enterrado. Pronto! – declarou com
severidade um dos bandoleiros.
Lindolfo:
---
O senhor tem certeza no que diz que viu? – gritou arrogante com os punhos
presos a garganta do pistoleiro.
Arroto
Choco:
---
Tira as patas da minha cara! Eu disse que vi, e tá dito! – sacudiu o bandido
para cima do bandoleiro Lindolfo as suas mãos.
E
foi se sentar em uma arca posta ao lado do quarto.
Bandido
Dois:
---
É mentira Chefe. Eu já disse que enterrei o esqueleto do imundo. – disse outra
vez o bandido que foi enterrar o corpo de Mão Branca.
Lindolfo:
---
Olha cachorro! Se o defunto aparecer eu nem sei que vou fazer com o senhor.
Deixa o deputado chegar. Você não presta mesmo! – reportou com raiva o
pistoleiro chefe.
Nessa
mesma hora ou um pouco menos quando o sol ainda não aparecia no céu, Joventino
Caçador estava a chegar a vila do Sossego onde poucos moradores havia e desse
pouco quase ninguém estava acordado, o homem caminhou pela rua e encontrou uns
três ou quatro moradores a quem disse ter visto uns urubus a voar sobre a mata
a procura de algum cavalo morto ou coisa assim. Joventino então passou por uma
vereda e encontrou um boi morto. Nesse ponto ele se viu livre da surpresa.
Entretanto, não fora a risada de um grupo de hienas ele não teria observado o
corpo de um homem de aparecia jovem aa ser arrastado de mato adentro pelas
hienas após ter desencavado o defunto.
Joventino;
---
Era um homem nem magro nem gordo. Um tipo forte. Morto matado com três tiros na
barriga e na cara. O defunto ainda era fresco. Coisa de algumas horas. A
bicharada levou o corpo de mata adentro lá pras bandas da capoeira. E se não
fosse eu com minha espingarda ele tinha comido ali mesmo. – falou o homem a
gesticular com os braços.
Senhor
Um.
---
E quem era o defunto? – indagou sem pressa o homem um.
Joventino:
---
Sei lá. Nunca nem vi a peste. Mas é gente da vizinhança. Estou pra ver. –
relatou Joventino com seu jeito de caçador.
Rapaz:
---
Estou vendo o bando de urubus! – disse por vez um rapaz a estará espera de a
padaria abrir.
Joventino:
---
Estão lá aos montes. Tem boi morto. E tem o homem que ao falei. – falou
Joventino cuspindo grosso uma mescla de fumo.
E
o rapaz saiu para observar mais de perto o bando de urubus. Se não fosse apenas
o boi, tinha o corpo de um homem morto jogado no chão entre as árvores de bom
tamanho. A caminhar sorrateiro o rapaz foi a bem próximo do morro do Estrondo à
procura do corpo do morto. Procurou como pode até ouvir um chiado de pé. Ele se
acocorou por entre a mata intrincada e pode ver passar um grupo de homem.
O rapaz ficou escondido a espera de algo
a acontecer por um instante. E esperou demais. Com precaução se aproximou mais
próximo do grupo onde pode ouvir o conversar devagar dos dois ou três
cavaleiros. Cada um dissesse:
Bandido
UM
---
Mas estava aqui. Eu enterrei o corno. Veja a cova? – fez ver um dos mercenários.
Bandido
Dois:
---
Com certeza ele foi puxado por hienas ou outras feras. – relatou um segundo
mercenário
Lindolfo:
---
É bom procurar o defunto. Ele não pode desaparecer assim tão depressa. Os
urubus estão a cata da carniça do jagunço. – resolveu por fim o chefe do bando.
E
o grupo caminhou morro adentro a procura do resto do corpo do facínora Mão Branca.
O rapaz seguiu com vagar por entre a mata, escondido como pode entre atalhos a
sentir o odor já forte da carcaça do mau elemento enquanto a turma continuava a
catar pedaços de trapos das roupas do traste. No fim de tudo se encontrou
pedaços do jagunço espalhados ao derredor tento sido abocanhado pelas feras da
noite o homem matador de gente. Com o
rapaz abaixado entre a mata e a sentir o mau cheiro do jagunço, se pode ouvir o
ditar de Lindolfo, líder a turma:
Lindolfo:
---
Junte tudo! Vamos enterra-los novamente. Agora é definitivo! – destacou o homem
mau.
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