- Letícia Sabatella -
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VINGANÇA
Ao
passo de alguns minutos o quadrilheiro Lindolfo falou sério ao novato Sertanejo
se ele estivesse enganando o seu grupo, o tal seria morto sem dó nem piedade.
Era bom saber, disse Lindolfo aquele a mandar nos demais quadrilheiros era
apenas ele. E não admitia vingança seja lá de quem fosse. Sertanejo disse
apenas estar no local a mando do capitão Florêncio. E se ninguém precisasse
mais de suas armas era bom Sertanejo ter conhecimento, pois desse modo se
mandaria do local. E o deputado podia decidir entre uma parte e outra. Era esse
o negócio.
Lindolfo:
---
O senhor sabe usar armas? – indagou o homem quadrilheiro.
Sertanejo:
---
Vez por outa. Quando é para me defender ou matar cobra. É sim! Pois é! – falou
com calma o senhor Sertanejo.
Lindolfo:
---
Como é o vosso nome? – indagou Lindolfo para pesquisa mais o pistoleiro.
Sertanejo:
---
Manoel. Porem pode me chamar de Sertanejo. Eu já cumpri mortes em seus
municípios a mando de um político. E tenho mais para fazer, se não ficar aqui.
Tenho minhas armas para matar quem o senhor falar. – respondeu Sertanejo nem um
pouco destemido. Conversa e pronto.
Lindolfo:
---
Se eu mandar o senhor faz o serviço? – indagou Lindolfo a sorrir sarcástico.
Sertanejo:
---
Isso eu faço em cima da hora! – ressaltou o pistoleiro.
Uma
voz:
---
Espera um instante seu carniceiro. Eu mandei chamar um bom matador. – falou a
voz a estar escondido na casa grande.
Lindolfo
sorriu e apenas disse.
Lindolfo:
---
Eu queria apenas experimentar o homem, seu deputado! – relatou Lindolfo por
falar.
Quaresma:
---
Entra prá cá companheiro! Vamos deixar de mão essas conversas. Ele só tem papo
furado! – informou o parlamentar a seguir com Sertanejo para o interior da casa
grande.
E
o deputado Quaresma adentrou no salão verde da casa grande da Casa Grande
deixando sozinho a mastigar capim o seu confiante pistoleiro Lindolfo. Esse
ficou apenas a olhar os dois homens a seguir para a sala do Reservado onde
ninguém podia entrar, a não ser um convidado muito particular. Lindolfo cuspiu
para um lado e se pôs a sentar no batente da entrada por onde o deputado seguiu
com rival Sertanejo, pois Lindolfo se sentia francamente diminuído por sua
presença entre todos os demais. Um dos capangas ainda veio até Lindolfo e
colocou a mão em seu ombro como quem dizia:
Capanga:
---
Coragem! Amigo! Nós estamos do teu lado!
O
tempo passou por cerca de duas horas. Conversas e conversas. No terreiro, os
bandoleiros apenas sacudiam pedras no ar. Por três vezes viu-se a doméstica
Nívea Maria da Conceição, conhecida por Matuta, entrar na sala reservada com
uma bandeja com xicaras de café e o açucareiro. Também estava ali o açúcar
bruto para os homens, se preferissem usá-lo. Após uma longa espera o deputado
Quaresma saiu do seu Gabinete reservado em companhia do pistoleiro Sertanejo a
conversar amenidades.
Quaresma:
---
Mando minhas lembranças ao capitão. – e deu com a mão nas costas do bandoleiro.
Na
saída da casa grande, o pistoleiro Lindolfo ainda fez uma graça para Sertanejo
como quem tencionava duelar. Esse responde ser Lindolfo muito mais do que ele.
E sorriu. Com a sua montaria, ele puxou as rédeas de modo ao cavalo andar para
trás até certo ponto e seguiu viagem a todo galope. Lindolfo ficou rezando para
haver um duelo. Mas houve, portanto essa oportunidade. Foi um tempo perdido,
enfim. Lindolfo ficou a olhar o homem Sertanejo a escapar das suas mãos, pois
algo dizia ser ele um facínora do outro lado e não do mesmo do deputado
Quaresma. A moça Nívea Maria, a Matuta, passou por Lindolfo com um sorriso leve
no rosto como quem dizia:
Nívea:
---
Perdestes o tempo! – e sorria.
De
momento, o deputado chamou sem pistoleiro Lindolfo para uma conversa a sós. Ela
– o deputado – desconfiou de certa forma do pistoleiro Sertanejo por dito ser o
capanga de confiança de tal capitão Florêncio. O deputado ficou cismado quando
o homem declarou ser o capitão morador de um rancho perto do Rio das Antas,
lugar por demais distante da fazenda do deputado. Mesmo assim, o homem –
Sertanejo – falou em um nome de um senador. Esse Senador já morreu há bastante
tempo. Mas, tinha outro senador com o mesmo nome do citado. Apenas era filho do
velho senador. E o deputado não sabia do interesse desse senador em querer
extinguir homens do nordeste. Mesmo sendo pistoleiros. Portanto, Lindolfo
estava despachado a seguir o trajeto do tal Sertanejo.
Lindolfo:
---
Eu também pensei nisso deputado. E estranhei o motivo pelo qual o senhor o
mandou entrar e conversar em local separado. – relatou o pistoleiro.
O
deputado Sandoval Quaresma ficou pensativo por alguns minutos. Levantou-se de
seu acolchoado e olhou o tempo com toda a mansidão a qual lhe sobrava; voltou
para o acolchoado e, mesmo ficando de pé ordenou ao seu pistoleiro ele mandar
outro em procura do desalmado suspeito. Viajar em quando pudesse. Dia e noite.
Noite e dia. Era missão para ser cumprida por mais tempo que fizesse. Não
importava em quantos dias. Ele queria saber o pormenor do pistoleiro Sertanejo.
E se possível, um mês ou mais. Era serviço para todo o tempo da vida.
Quaresma:
---
Mande um dos seus e com toda a recomendação possível. Não importa quando ele
deve voltar. Siga as instruções. É o que quero. – relatou o deputado qualquer
coisa de inquieto.
E
um dos jagunços pistoleiro, Zé Rufino, foi despachado, montando o seu cavalo tendo a
missão de procurar o rastro do cavalo do atirador Sertanejo era de fato um real
facínora aprumado como deixou claro em sua conversa reservada com o deputado
antes da sua partida. Lindolfo não fez por menos e ordenou a outro celerado
procurar em toda parte o dito cujo. Feito isso, o homem atirador saiu sozinho a
cata de Sertanejo por todos os cantos e vilas existentes naquela região. Ele
teria que mandar um aviso ser o tal Sertanejo um elemento bom ou não. Andando
sem remorso foi o bandido a procura do homem mau. Passaram-se alguns dias e
certa manhã o cavalo do homem perseguidor voltou só. Quem viu a montaria ficou
abismado. E gritou com voz firme o
acontecido.
Pistoleiro
Um
---
Tem cavalo na entrada. É de Zé Rufino! – alarmou o homem aos quatro ventos.
Todos
os demais pistoleiros vieram para ver o sucedido. O cavalo de Zé Rufino estava escoteiro
e o seu montador não aparecia nem de longe. Lindolfo veio só e examinou a
montaria. No cavalo não havia nada a denunciar. A não ser um bilhete escrito à
mão:
Bilhete:
---
“Está aqui seu presente. Não mande outro, pois terá o mesmo fim”. – dizia o
bilhete.
Lindolfo
leu o bilhete com certa dificuldade, pois o bandoleiro não sabia nem mesmo o
alfabeto corriqueiro e acertou mandar para o chefe do bando, o deputado Sandoval
Quaresma para ver o sucedido. E logo fez uma carta – quem fez foi à moça Nívea
Maria – a dizer ao deputado ser o pistoleiro por demais perigoso. Lindolfo
sentia na carne a força e a vontade de poder matar o elemento por causa do
desatino sofrido por Zé Rufino.
Lindolfo:
---
Ele era um bom sujeito. – relatou o criminoso ao se referir a Zé Rufino.
E
disse mais o bandoleiro ser aquele apenas o início de uma trágica marca no
caminho dos dois inimigos no então posto. Lindolfo esperava Sertanejo de homem
para homem. A qualquer dia e a qualquer hora. Não importava o lugar. Era a
sanha criminosa de dois quadrilheiros a tirar teima a qualquer preço.
Lindolfo:
---
Vai ser luta de feras. Luta de vida ou morte! – falou o homem a torcer as
rédeas do cavalo.
O
dia passou depressa e não havia presença de nuvens no céu. Apenas o sol
inclemente a assolar todo o campo. As aves de rapinas rondavam a mata virgem.
Quatis e raposas eram os mais presentes. Um bando de carcarás estava a vir e a
voltar. Era o sertão brabo aquele do meio dia na fazenda Guzerá, do deputado
Sandoval Quaresma. A moça Nívea passava de um canto a outro com seus afazeres
domésticos. Nada mais havia a relatar.
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