- Patrícia Pillar -
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AVIÃO
Com
um espaço tremendo no céu, o avião passava raspando as coberturas das humildes
casas alí existentes fora a de Isabel. Esta era uma casa de melhor porte,
apenas na feitura. A garagem era ao lado. Contudo toda a armação era de grande
porte. Ao contrario, as outras casas eram pobres e, algumas, feita de barro ou
de palha. No caso da aeronave, essa passou tão baixa a dar para ver a
tripulação a querer saltar do aparelho
logo esse caísse no mar. Eram três tripulantes. Um avião cargueiro
pertencente à Força Aérea. Na rua, as mulheres corriam em zig-zag a procura dos
seus filhos menores a temer pelo barulho vindo do espaço de meu Deus. As
crianças alarmadas gritavam com o temor de aquele ser fantástico vir a cair
ainda em terra. O gigante do ar era monstruosamente algo sem par. Todos em
terra a tremer viram o seu tamanho descomunal a olhar bem de perto o bojo do
inominável avião. O aparelho, com uma alucinante terrível zoada dava para
rastrear a sua sombra no chão árido da larga praia cobrindo um espaço imenso. O
menino de Maria José correu para se atracar com a sua mãe sob o temor
alucinante de um monstro assombrador. O roncar do assombroso sagrado foi
estender logo à frente no mar aberto a estraçalhar partes de sua cauda nos
arrecifes do mar. O aparelho mergulhou de vez a sua frente enquanto os
tripulantes saltavam nas águas quentes do Atlântico Sul. Com pouco tempo o
aparelho mergulhou se encobrindo das águas calmas do Oceano e a tripulação teve
tempo de se afastar e chegar a salvo nas pedras protetoras do avanço das águas
quando o mar era violento. O pessoal a gritar de medo já começava a chegar às
pedras e alguns ofereceram ajuda aos tripulantes para se soerguerem das águas
do oceano naquela hora ainda calmo. Os pescadores que estavam nas pedras também
vieram em socorro dos tripulantes. A pequena porção de gente foi aumentando a
medida de o tempo avançar. Isabel ficou ao longe e o seu marido, Gonzaga, se
aproximou dos tripulantes para dar apoio aos náufragos daquela tarde clara e
com sol aberto. Maria José e os outros amigos – Valdivino, Maria Clementina, a
filha do casal, senhorita Suzana e a sua recente amiga, Racilva – também
ficaram ao largo a comentar a tragédia. Elas não puderam avaliar como o avião
caiu ao mar sem bater em nenhuma casa por onde a tripulação navegou com
destreza.
Com
o tempo de meia hora começaram a chegar ao local da tragédia às viaturas da
FAB, inclusive três ambulâncias. Os oficiais ordenaram de imediato o isolamento
da área enquanto os soldados já faziam o cerco na parte da praia acidentada. O
aparelho não mostrou sinal de ser tirado de momento. Os tripulantes continuavam
nas pedras a tremer de frio. Repórteres e fotógrafos vieram logo após da
ocorrência da tragédia daquela tarde. Mesmo assim, nenhum repórter teve
permissão de se aproximar do local do acidente. Dessa forma eles procuravam
ouvir a declaração das pessoas, todas ainda assustadas com o forte acidente. Enquanto isso, algumas pessoas já comentavam
a boca miúda.
Pessoa
Um
---
Vou me mudar daqui! – dizia uma mulher.
Outra:
---
Deus me livre! Escapei por pouco! –
Outra:
---
Tenho é medo! –
Outra:
---
Lá em casa os pratos ainda estão tremendos! –
Bêbado:
---
É o fim do mundo! – declarava um bêbado a tomar de lado com voz descompassada.
Por
toda parte da tarde e um pouco da noite o povo se admirava com a tragédia. As
emissoras de rádio colocaram no ar as opiniões dos moradores. Alguns nem
queriam falar:
Popular:
---
Eu? Tenho medo desses “bichos”. – sorria a mulher e saía de perto.
Outro:
---
Besteira! Bota aqui que eu falo! O que é pra dizer? – dizia outra empolgada em
falar no rádio.
E
assim, com as informações do local, a pequena quantidade de gente aumentou de
forma circunstancial com pessoas vindas de toda parte da capital. Uns traziam
suas bebidas. Outros apenas eram para namorar agarrados uns e outros. E nem
sequer verificaram as ambulâncias a sair com os três tripulantes da aeronave. Isabel e seus amigos, depois de muito tempo,
voltaram para casa a indagarem como foi
o acidente tão inoportuno daquela tarde. Valdivino se lembrou de um trágico
acidente havido há um bom tempo em uma cidade do interior do seu Estado. Nessa
ocasião, houve várias mortes e muita gente ferida. O avião comercial foi de
encontro a uma serra em uma noite de chuva.
Valdivino:
---
Foi luta para se achar os corpos! Eu estive no local do acidente. Durante
vários dias ainda tinha ossada de pessoas acidentadas! Nossa Senhora! – falou o
velho com a cabeça abaixada como se pensasse no desastre e muitos anos.
Com
certo tempo Gonzaga voltou para não falar demais. Apenas dizia:
Gonzaga:
---
É fogo! – dizia o homem a lembrar do acidente do avião.
Logo
após Maria José e seu filho Paulo foram para dentro da casa onde a mulher com
certeza daria banho no filho. Isabel procurou conversar com a sua mãe e essa
dizia apenas estar a rezar pelos mortos do acidente. Isabel sorriu e deixou a mulher
a rezar. Apenas se lembrava não haver mortos a lamentar, com certeza. A festa
acabara com o acidente aeronáutico. Apenas a filha de Valdivino ainda perguntou
a Racilva se esta voltaria com pouco mais e essa respondeu:
Racilva:
---
Depois da janta! – respondeu a garota preocupada com sua mãe a tempo a procurar
pela moça.
Suzana
se decepcionou e voltou amargurada para o interior da casa de Isabel.
Suzana:
---
Merda! Por que ninguém me atende? – falou a miúde a moça.
Em
meio a toda confusão a reinar na praia as altas horas da tarde quase noite, em
sua casa Isabel procurava por as coisas em ordem. De imediato foi resolver
pequenas questões e viu Maria José a dar banho no filho Paulo. Os dois homens,
Gonzaga e Valdivino comentavam o trágico acidente com o aparelho da FAB e Maria
Clementina ajudava com os pratos e garrafas a por no deposito onde deveriam
estar. Isabel perguntou a Maria Clementina o que esta fazia no sertão antes de
vir para a Capital. E ela respondeu:
Clementina:
---
Eu estava ajudando nas vendagens de Maricola, uma aposentada. – respondeu a
mulher.
Indecisa,
Isabel ficou a pensar no nome. E após alguns momentos ela falou:
---
Maricola! Maricola! Era uma que servia almoço no Mercado? – indagou Isabel a
andar para cima e para baixo com uma bandeja de pratos sujos.
Clementina:
---
Não. Aquela é a irmã (dela). Maria Lola! Todos a chamam assim! – relatou a
mulher.
Isabel:
---
E quem é Maricola? – estranhou Isabel sem saber ao carto.
Clementina:
---
É a que vende grude, tapioca e bolo preto para os lados da Estação de Trem! –
respondeu Clementina.
Isabel:
---
Maricola? É uma mulher bem gorda? – indagou ainda a estranhar a mulher.
Clementina:
---
Ela é forte. Ela era casada com o
soldado Clemente. – falou a mulher a meia voz.
Isabel:
---
Parece que já sei quem é. – respondeu Isabel arrumando a louca com toda a
pressa.
Nesse
momento surgiu de fora à moça Suzana a indagar se Isabel queria cuscuz. Esta
sem meias palavras respondeu.
Suzana:
---
Dona Isabel. A senhora vai querer cuscuz? O cuscuzeiro está lá fora. – disse
Suzana,
Isabel:
---
Você quer cuscuz? – perguntou Isabel a moça.
Essa
sorriu com um aceno de então querer cuscuz. O homem estava adiante da casa a
despachar cuscuz para outros fregueses. Era um vai e vem de troca-troca de
miúdos a levar o mundo inteiro. O garoto ainda perguntou se o cuscuzeiro tinha
visto o acidente do avião. E esse disse que não, concluindo a conversa.
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