- Debora Secco -
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ASSEMBLÉIA
Durante
a tarde daquele dia o assunto do Governador e da sua renúncia foi o ponto
quente dos parlamentares da Oposição. A Casa se encheu de gente para ouvir os
ataques feitos pelos deputados estaduais com respeito ao Governo e os seus
auxiliares diretos. Não havia chão para caber tanta gente, mesmo pessoas
indiferentes ao caso da renúncia. A sessão
começou na hora aprazada logo após o novo Governo assumir. De qualquer forma o
novo governante era um cidadão que entrou na chapa como um cão entra na Igreja.
Ele nem era carne e nem peixe, ou melhor: nem fedia e nem cheirava. Porém,
quando ele era um simples funcionário da Prefeitura, armava-se de pau e
bandeira a gritar pelas ruas contra o Governo Municipal por não coletar o lixo
da cidade e nem dar aumento aos seus servidores – do lixo -. Era esse o rapaz
inquieto a comandar a turma de servidores municipais catadores de lixo. Levava
a vida desse jeito até um dia ser convidado para participar da chapa do Governo
e, daí então, ele se aquietou de vez e nunca mais falou em lixou ou coisa
podre. Apenas seguia os princípios do Governo. Sempre como Vice e nada mais.
Naquele momento ele não era mais Vice, e sim Governador de direito e de fato, pois lhe coube a função como um ex-Vice. E sendo um Governador, ele teria que fazer as
pazes com os deputados da oposição ou seguir como sempre caminhou. O certo é
que naquela tarde os deputados oposicionistas – era a maioria na Assembleia –
desceram o malho no ex-governador e, por consequência no Vice, então já
governador do Estado. Um dos tais descrevia a celeuma imposta pelo Governo e a
mortandade feita pelos peitos-largos custeados por pela administração estadual.
Deputado:
---
Esse Governador que saiu do poder – e já saiu tarde – era quem mandava trucidar
homens, mulheres e até crianças de colo. Vejamos agora o que esse novo
Governador vai fazer em defesa dos justos. Não se pode mais suportar tamanha atrocidade
onde homem e mulheres são sacrificados a mando de seus administradores. Não é
justiça o que se fazia de noite ou de dia. O Poder Judiciário tem que se
pronunciar a respeitos dessa vil corja de assassinos contumazes e sem respeito.
- - dizia o parlamentar em um discurso mais longo da história do poder
legislativo.
Na
Casa lotada de gente, ouvia-se murmúrios de pessoas tecendo comentários sobre a
ação de a Polícia Federal ter pretendido naquele dia um grande número de
policiais estaduais e outros parlamentares
da situação envolvidos a matança de homens ditos malfeitores no Estado.
Enquanto outros argumentavam não ser oportuno à oposição fazer discurso de
rancor e ressentimento.
Ouvinte:
---
Ele só sabe fazer discurso raivoso e vingativo. – comentava um deles.
Outro:
---
Isso é peça de teatro. Quaro ver se ele for eleito governador. – falou outra
pessoa de forma sem ouvir o discurso da oposição.
Mais
um:
---
Só quero saber é se alguém vai defender as prostitutas. – sorriu o homem ao
sair da sala.
Outro
mais:
---
Olha que tem uma alí. – apontou um assistente para uma das moças a cuidar dos
afazeres da sessão. –
O
seguinte:
---
Qual? Qual? – perguntou o seguinte querendo olhar melhor para a moça.
Ouvinte:
---
Eu acho que essa oposição está perdida em seu mandato – argumentou o ouvinte.
O
caso teria maior prosseguimento na sede da Polícia Federal. O Quartel General
foi solicitado pela Polícia Federal para enviar uma parte dos presos. E houve
um verdadeiro tumulto por parte dos advogados por não saber para onde eles
deviam seguir daquela hora em diante. A impressa corria as tontas para ver se
conseguia qualquer tido de informação. No Comando Militar não houve acesso. E
no setor da Polícia era do mesmo jeito. O dia findou sem grandes novidades, a
não ser a prisão efetuada do Governador, Secretários, deputados, bandidos e
vereadores. A Impressa fez plantão junto a sede da Polícia para cobrir qualquer
caso surgido nas caladas da noite. Mesmo assim, o sono bateu e muita gente da
reportagem resolveu dormir no interior dos carros ou coisa assim. Pela
madrugada, três horas mais ou menos, ouviu-se um grito. E desse grito um
tumulto. Os repórteres acordaram de sua vigília. Todos procuraram saber o
havido. A entrada da Polícia estava trancada. Mas um repórter registrou a saída
de um carro com a sua câmera.
Repórter:
---
Tem coisa. E grossa. Esse carro saiu pela hora da madrugada.... – revelou o
cinegrafista.
Houve
um tumulto de repórter a querer saber se tinha algo a se declarar. Um policial
veio até o portão e disse apenas a informação:
Policial:
---
O Governador morreu. – disse o policial.
Repórteres:
---
Morreu? Mas morreu como? De que modo? Onde ele está? Quem notou essa morte? –
era tudo a conversa dos repórteres.
O
policial saiu sem mais dizer nada. As câmeras foram acionadas, os repórteres a
chamar a redação – no caso das emissoras de rádio – os fotógrafos acionaram
suas baterias de fleches. A agonia foi terrível. Com um pouco de tempo o
veículo retornava. E a seguir, outro veículo. E, por fim, um rabecão, carro
para transportes de mortos. O caso tomou novo rumo. Era coisa grave o
acontecido. As moças das equipes de reportagem ficaram sem ação para falar de
algo não sabido. Os rapazes ficaram em igual situação. Uns cinegrafistas
subiram em umas mangueiras existentes em um terreno baldio para ver se tiravam
algo de dentro do setor da Polícia Federal. Novos carros chegaram e entraram no
setor da PF. Houve um tempo enorme e o dia já estava clareando. Para não dizer
não se fazer nada, os fotógrafos fizeram fotos dos seus relógios há marcar as
horas. As moças tremiam de medo como se não quisessem dizer mais coisa alguma.
Nenhum movimento de dentro da prisão da Policia. A não ser uns agentes a passar
de um lado para o outro. Com o passar das horas, o diretor da Polícia Federal
se pôs a disposição da Imprensa. Eram 8 horas da manhã. O delegado falou pouco,
mais o suficiente para se entender. Em seguida distribuiu uma nota explicativa.
Ao seu lado estava o médico legista e o Governador do Estado. Não se sabe por onde o Governador entrara.
Mas a nota explicava ter o ex-governador
sido morto por enforcamento. Usando de um cinturão o homem subiu em uns degraus
existentes no presidio e ali pôs a amarra e se jogou ao chão. Foi um baque
surdo e abafado notado apenas por outro detento. Esse homem deu o alarme e a PF
foi mobilizada. A nota era lacônica e
fria. Nada dizia ter sido o ex-governador uma pessoa má ou boa. Apenas dava a
nota. O Delegado da PF, logo após, sem responder questão, saiu da Sala na
companhia do Governador eleito como vice e do médico legista. De qualquer modo,
para sustentar a matéria a impressa faz a sua versão. O ex-governador foi
levado para o interior do Estado onde se fez as exéquias. O novo governo do Estado demorou horas para
decidir se punha luto ou não. Em algumas
escolas a bandeira foi hasteada a meio pau, tão logo a direção da escola ficou
sabendo da morte súbita. Alguns repórteres foram destacados para o interior
para dar cobertura jornalística à cerimônia fúnebre. O novo Governador não se
aventurou em ir. No seu Gabinete procurou escolher o seu secretariado.
Passante:
---
Que merda! Agora que se descobriu quem matava ou mandava matar. – disse um homem
ao passar à frente do Palácio.
Outro:
---
Homem! Isso é a vida! Quem morre, acaba! – falou outro.
E
na Taverna de Isabel a conversa tomava maior sentido com os frequentadores a
comentar a morte e a falar de quem assumiu o pode, assim, de imediato. Os mais
afoitos bem disse ser um lixeiro o Governador do Estado, Outros foram a fora ao
dirimir tal dúvida a salientar ter lixeiro capaz de tudo no interior do Estado.
Um:
---
Eu vi coisa recente, um concurso para coveiro. Imagine! – relatou o homem de
boca aberta.
Dois:
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É. Coveiro é coveiro. Não são aquelas tuias. – sorriu o magnata de mesa.
Três:
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E Isabel? Vai pôr luto na taverna? – indagou um terceiro homem.
Isabel:
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Quem? Eu? Só se for! – resmungou a mulher a fazer comida em seus pratos.
Gonzaga:
---
Eu temo por Silva. Onde ele anda? – indagou o homem a Isabel.
Isabel:
---
Não vi mais. Deve estar na luta. – respondeu a mulher.
Gonzaga:
---
Luta? Que luta? – indagou mais uma vez o homem
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