sábado, 15 de setembro de 2012

ISABEL - 55 -

- Debora Secco -
- 55 -
ASSEMBLÉIA
 


Durante a tarde daquele dia o assunto do Governador e da sua renúncia foi o ponto quente dos parlamentares da Oposição. A Casa se encheu de gente para ouvir os ataques feitos pelos deputados estaduais com respeito ao Governo e os seus auxiliares diretos. Não havia chão para caber tanta gente, mesmo pessoas indiferentes ao caso da renúncia.  A sessão começou na hora aprazada logo após o novo Governo assumir. De qualquer forma o novo governante era um cidadão que entrou na chapa como um cão entra na Igreja. Ele nem era carne e nem peixe, ou melhor: nem fedia e nem cheirava. Porém, quando ele era um simples funcionário da Prefeitura, armava-se de pau e bandeira a gritar pelas ruas contra o Governo Municipal por não coletar o lixo da cidade e nem dar aumento aos seus servidores – do lixo -. Era esse o rapaz inquieto a comandar a turma de servidores municipais catadores de lixo. Levava a vida desse jeito até um dia ser convidado para participar da chapa do Governo e, daí então, ele se aquietou de vez e nunca mais falou em lixou ou coisa podre. Apenas seguia os princípios do Governo. Sempre como Vice e nada mais. Naquele momento ele não era mais Vice, e sim Governador de direito e de fato,  pois lhe coube a função como um ex-Vice.  E sendo um Governador, ele teria que fazer as pazes com os deputados da oposição ou seguir como sempre caminhou. O certo é que naquela tarde os deputados oposicionistas – era a maioria na Assembleia – desceram o malho no ex-governador e, por consequência no Vice, então já governador do Estado. Um dos tais descrevia a celeuma imposta pelo Governo e a mortandade feita pelos peitos-largos custeados por pela administração estadual.
Deputado:
--- Esse Governador que saiu do poder – e já saiu tarde – era quem mandava trucidar homens, mulheres e até crianças de colo. Vejamos agora o que esse novo Governador vai fazer em defesa dos justos. Não se pode mais suportar tamanha atrocidade onde homem e mulheres são sacrificados a mando de seus administradores. Não é justiça o que se fazia de noite ou de dia. O Poder Judiciário tem que se pronunciar a respeitos dessa vil corja de assassinos contumazes e sem respeito. - - dizia o parlamentar em um discurso mais longo da história do poder legislativo.
Na Casa lotada de gente, ouvia-se murmúrios de pessoas tecendo comentários sobre a ação de a Polícia Federal ter pretendido naquele dia um grande número de policiais estaduais e outros  parlamentares da situação envolvidos a matança de homens ditos malfeitores no Estado. Enquanto outros argumentavam não ser oportuno à oposição fazer discurso de rancor e ressentimento.
Ouvinte:
--- Ele só sabe fazer discurso raivoso e vingativo. – comentava um deles.
Outro:
--- Isso é peça de teatro. Quaro ver se ele for eleito governador. – falou outra pessoa de forma sem ouvir o discurso da oposição.
Mais um:
--- Só quero saber é se alguém vai defender as prostitutas. – sorriu o homem ao sair da sala.
Outro mais:
--- Olha que tem uma alí. – apontou um assistente para uma das moças a cuidar dos afazeres da sessão. –
O seguinte:
--- Qual? Qual? – perguntou o seguinte querendo olhar melhor para a moça.
Ouvinte:
--- Eu acho que essa oposição está perdida em seu mandato – argumentou o ouvinte.
O caso teria maior prosseguimento na sede da Polícia Federal. O Quartel General foi solicitado pela Polícia Federal para enviar uma parte dos presos. E houve um verdadeiro tumulto por parte dos advogados por não saber para onde eles deviam seguir daquela hora em diante. A impressa corria as tontas para ver se conseguia qualquer tido de informação. No Comando Militar não houve acesso. E no setor da Polícia era do mesmo jeito. O dia findou sem grandes novidades, a não ser a prisão efetuada do Governador, Secretários, deputados, bandidos e vereadores. A Impressa fez plantão junto a sede da Polícia para cobrir qualquer caso surgido nas caladas da noite. Mesmo assim, o sono bateu e muita gente da reportagem resolveu dormir no interior dos carros ou coisa assim. Pela madrugada, três horas mais ou menos, ouviu-se um grito. E desse grito um tumulto. Os repórteres acordaram de sua vigília. Todos procuraram saber o havido. A entrada da Polícia estava trancada. Mas um repórter registrou a saída de um carro com a sua câmera.
Repórter:
--- Tem coisa. E grossa. Esse carro saiu pela hora da madrugada.... – revelou o cinegrafista.
Houve um tumulto de repórter a querer saber se tinha algo a se declarar. Um policial veio até o portão e disse apenas a informação:
Policial:
--- O Governador morreu. – disse o policial.
Repórteres:
--- Morreu? Mas morreu como? De que modo? Onde ele está? Quem notou essa morte? – era tudo a conversa dos repórteres.
O policial saiu sem mais dizer nada. As câmeras foram acionadas, os repórteres a chamar a redação – no caso das emissoras de rádio – os fotógrafos acionaram suas baterias de fleches. A agonia foi terrível. Com um pouco de tempo o veículo retornava. E a seguir, outro veículo. E, por fim, um rabecão, carro para transportes de mortos. O caso tomou novo rumo. Era coisa grave o acontecido. As moças das equipes de reportagem ficaram sem ação para falar de algo não sabido. Os rapazes ficaram em igual situação. Uns cinegrafistas subiram em umas mangueiras existentes em um terreno baldio para ver se tiravam algo de dentro do setor da Polícia Federal. Novos carros chegaram e entraram no setor da PF. Houve um tempo enorme e o dia já estava clareando. Para não dizer não se fazer nada, os fotógrafos fizeram fotos dos seus relógios há marcar as horas. As moças tremiam de medo como se não quisessem dizer mais coisa alguma. Nenhum movimento de dentro da prisão da Policia. A não ser uns agentes a passar de um lado para o outro. Com o passar das horas, o diretor da Polícia Federal se pôs a disposição da Imprensa. Eram 8 horas da manhã. O delegado falou pouco, mais o suficiente para se entender. Em seguida distribuiu uma nota explicativa. Ao seu lado estava o médico legista e o Governador do Estado.  Não se sabe por onde o Governador entrara. Mas a nota  explicava ter o ex-governador sido morto por enforcamento. Usando de um cinturão o homem subiu em uns degraus existentes no presidio e ali pôs a amarra e se jogou ao chão. Foi um baque surdo e abafado notado apenas por outro detento. Esse homem deu o alarme e a PF foi mobilizada.  A nota era lacônica e fria. Nada dizia ter sido o ex-governador uma pessoa má ou boa. Apenas dava a nota. O Delegado da PF, logo após, sem responder questão, saiu da Sala na companhia do Governador eleito como vice e do médico legista. De qualquer modo, para sustentar a matéria a impressa faz a sua versão. O ex-governador foi levado para o interior do Estado onde se fez as exéquias.  O novo governo do Estado demorou horas para decidir se punha luto ou não.  Em algumas escolas a bandeira foi hasteada a meio pau, tão logo a direção da escola ficou sabendo da morte súbita. Alguns repórteres foram destacados para o interior para dar cobertura jornalística à cerimônia fúnebre. O novo Governador não se aventurou em ir. No seu Gabinete procurou escolher o seu secretariado.
Passante:
--- Que merda! Agora que se descobriu quem matava ou mandava matar. – disse um homem ao passar à frente do Palácio.
Outro:
--- Homem! Isso é a vida! Quem morre, acaba! – falou outro.
E na Taverna de Isabel a conversa tomava maior sentido com os frequentadores a comentar a morte e a falar de quem assumiu o pode, assim, de imediato. Os mais afoitos bem disse ser um lixeiro o Governador do Estado, Outros foram a fora ao dirimir tal dúvida a salientar ter lixeiro capaz de tudo no interior do Estado.
Um:
--- Eu vi coisa recente, um concurso para coveiro. Imagine! – relatou o homem de boca aberta.
Dois:
--- É. Coveiro é coveiro. Não são aquelas tuias. – sorriu o magnata de mesa.
Três:
--- E Isabel? Vai pôr luto na taverna? – indagou um terceiro homem.
Isabel:
--- Quem? Eu? Só se for! – resmungou a mulher a fazer comida em seus pratos.
Gonzaga:
--- Eu temo por Silva. Onde ele anda? – indagou o homem a Isabel.
Isabel:
--- Não vi mais. Deve estar na luta. – respondeu a mulher.
Gonzaga:
--- Luta? Que luta? – indagou mais uma vez o homem
 

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