sexta-feira, 14 de setembro de 2012

ISABEL - 53 -

- Penelope Cruz -
- 53 -
DOMINGO
Em um domingo, de manhã logo cedo, quando o pessoal ainda estava na Missa, a família de Toré se preparou para viajar com destino a uma lagoa existente na parte sul do litoral do Estado. Otília cuidou de tudo e a doméstica pôs em seguida na mala do carro com a ajuda da própria patroa. A menina Silvia olhava todos os ingredientes a se levar e em alguns a menina deu a sua mãozinha para compensar o trabalho. Toré estava a examinar o óleo do motor, a bateria, a água do radiador e, por fim, o combustível. Ele demorou um pouco nesse afazer como quem era mecânico de antigo labor. Sempre Toré enxugava as mãos com uma flanela e não deixava de olhar a casa onde a família habitava. De momento ele pensou em chamar o seu compadre, Gonzaga, bem como os demais componentes da família: Isabel, o menino Francisco além de Maria José e o seu filho Paulo. Ao dizer tal coisa ele recebeu a resposta de Otília.
Otília:
--- Eu chamei todos. Vamos passar em casa deles. – falou a mulher de Toré.
Toré:
--- E o pub? Não é assim que ele está chamando aquele bar? – sorriu o homem a olhar para um lado e para outro vendo se todas as lojas estavam fechadas.
Otília:
--- Pub! Agora, ali é local de gente rica. No meu tempo era bar mesmo! E olhe lá! – sorriu a mulher enquanto juntava tudo na mala do carro.
Toré:
--- O velho fica? – indagou Toré a sua esposa.
Otília:
--- Ele deve ficar. O  casal vive no pub. A mocinha mora na casa de Isabel. Eu acho que ela vai com a gente. – falou Otília enquanto juntava os sacos na traseira de carro.
Toré:
--- Ah! Tem a moça! Eu nem prestei atenção. – respondeu o homem a examinar o motor do carro.
Otília:
--- Tem Suzana e a outra moça, Racilva. Aquelas não se despregam. – sorriu a mulher.
Silvia:
--- E Francisco. Vocês nem se lembrar dele. – fez ver a garota Silvia repreendendo os pais. 
Doméstica:
--- E Paulo! A senhora nem se lembra do pobre? Coitado! O menino de dona Maria José! – considerou a doméstica a lembrar de Paulo, o menino.
Otília:
--- É mesmo! Paulo! O garoto! Eu nem me lembrava. – respondeu Otilia a sorrir.
Toré:
--- Pelo visto, Gonzaga vai ter que comprar um ônibus. – vez ver o rapa a sorrir.
Otília:
--- Isabel falou ter Gonzaga feito negócio com uma Besta. Ou ia fazer. Tenho impressão ter ele feito negócio. A Besta cabe mais de 16 pessoas. A Van é um carro de porte. Bem melhor que esse Chevrolet. – respondeu a mulher se espreguiçando pelo motivo de estar cansada da espinha por estar encurvada a ajeitar as mercadorias, refrigerantes e outras bebidas.
Toré:
--- Espero que tenha feito. A Van é um carro bom. E Gonzaga vai ficar com dois carros? - indagou Toré a estranhar a aquisição de outro carro.
Otília:
--- Creio. Agora ele está bem de vida. Casas, fazenda. E tem a casa onde mora! – relatou a mulher pegando Silvia para ir dentro do seu carro. A doméstica veio em seguida a sentar no banco de trás.
O veículo começou a trafegar em direção ao ponto onde estava a morar Gonzaga, Isabel e as demais pessoas da residência. Ao chegar à frente da casa de Gonzaga o rapaz Toré se impressionou pelo carro visto. Um veículo modelo Besta, novo em folha capaz de transportar dezesseis pessoas além do motorista. Era uma viatura por demais possante, mesmo em estrada carroçáveis onde um jegue enfrentava certa dificuldade para seguir caminho. Pelo visto, Toré observou ser a Besta um carro zero quilometro. Logo atrás desse veículo estava estacionado outro: Um Morgan 4/4. Esse era um modelo inglês. Sua data tinha mais de setenta anos. Era um carro de dois assentos, moderno, todo prateado, faróis de milha, motos de quase dois metros de comprimento e espelhos laterais. A Morgan foi fundada em 1909, na Inglaterra e os primeiros carros de quatro rodas surgiram em 1936. Porém o modelo mais dinâmico veio apenas em 1953. Apesar de todas as inovações apresentadas nos atuais modelos, o Morgan ainda é o veículo mais potente nos recentes anos. Enquanto olhava com muito acerto aquele modelo Morgan, eis vindo o homem Gonzaga a sorrir. E relatou ao companheiro Toré.
Gonzaga:
--- O revendedor quer me passar esse carro. Eu penso muito em adquirir um carro dessa marca. Mas, mesmo tendo posses, eu vejo o futuro. Eu pretendo adquirir um veículo. Mesmo assim, ainda tenho muito a pensar. Ontem, um vendedor me trouxe esse Van. Na verdade, é um veículo robusto. O Morgan é um tipo mais de passeio. A não ser Isabel querer ficar com esse novo modelo, eu fico. Se não. ...Tudo bem. O meu sonho é adquirir carros velhos para transformá-los em novos. - sorriu o homem satisfeito pela aquisição da Besta.
Os dois veículos trafegavam para a região sul das praias em meio a grande movimento de automóveis a circular também em igual sentido. O sol era de nove horas. Carros a estacionar nas praias logo após a saída da cidade e mais a frente, cerca de duas léguas o mais. Na Van e no automóvel a viagem era mais tranquila, pois em ambos os veículos os passageiros gozavam do ar condicionado. Dona Salete ficara em casa, aos cuidados de Maria Clementina. O Pub ficou aos cuidados do senhor Valdivino. De nove horas da manhã o movimento ainda era fraco na taverna. Alguns carros transitavam em frente enquanto outros estacionavam logo próximo para os seus ocupantes poderem ir a Santa Missa na Igreja do bairro.
Na rodovia a qual circundava as praias, pelo contrario, era intensa a agitação dos carros. Algumas vezes o transito parava por vários minutos ou trafegava muito lento. Depois de passar a Mata Atlântica, os motoristas tinham de rodar mais vagaroso por causa de uma blitz feita no meio do autopista. Os guardas de transito, naquela hora, nada pesquisavam. Eles deixavam o fluxo de carros a escorrer. De um lado e do outro da estrada havia quitandas para vender frutas aos passageiros. Mesmo assim, não havia parada para tal. As casas de comercio estavam fechadas no dia de domingo. O existir apenas era de muitos carros estacionados. Os seus ocupantes deixavam ali os seus veículos e rumavam para a praia logo abaixo. Mas na frente havia um comércio maior e flanelinhas a querer limpar os vidros da frente dos automóveis ou a vender frutas.  Gonzaga se aborrecia com tanta conversa dos vendedores de frutas. E atrás, Toré, era da mesma conversa. Após esse transito vagaroso, os dois amigos rumaram com os seus carros para pegar uma estrada carroçável de mais de três quilômetros. Os buracos atrapalhavam por demais os motoristas. Na Van, as crianças brincavam com o sacolejo do veículo, pondo a turma em indo e voltando nos seus assentos. Já passava das dez horas quando os dois companheiros avistaram a lagoa Das Contas. No local, o movimento dos banhistas já era intenso. Além do mais havia intenso movimento de motociclo a levar os banhistas para longos percursos. Os automóveis novos e velhos também eram presentes. A Lagoa fazia um arco por todo o seu percurso. Havia inclusive, uma estrada feita pela descida das águas da lagoa mais ou menos no meio do lagamar. Barracas eram armadas por um vendedor de camarões, caranguejos, peixe frito e muita cerveja. Os garçons caminhavam para cima e para baixo, levando os pratos de comidas e voltando para buscar mais. No interior da lagoa vaia lanchas para os fregueses mais afoitos e desejosos  de ver a baía como um todo. Os amigos Toré e Gonzaga tomaram de imediato uma cadeira onde havia a sombra posta por um guarda-sol armado para cada uma das cinquenta cadeiras espalhadas a beira da água da lagoa. As crianças mais afoitas se atiravam na água cálida do lago a brincar de sacudir água um nos outros. As mães das crianças ficavam de fora a observar a traquinagem dos seus filhos queridos. Todo cuidado era pouco, pois na Lagoa das Contas havia por demais crianças filhas das outras famílias. Os bêbados era outro perigo. Os homens corriam pelo aceiro da lagoa e cada qual fizesse mais acrobacia que o outro. E se ouvia o grito das mães corujas.
Mães:
--- Cuidado! Olha quem vem de fora! – gritavam as mães advertindo seus filhos queridos.
E assim prosseguia o tempo sem nenhuma travessura. Os dois amigos começaram a conversar sobre assuntos de rotina. E mais e menos veio à tona o fato ouvido no final de semana de uma decisão do Governo Federal em levantar a hipótese de intervenção no Estado por causa dos contratempos havidos nos últimos meses.   
Toré:
--- Os jornais têm dito que o Governador está metido nessa enrascada. – falou Toré.
Gonzaga:
--- Eu não sei muito. Mas no Teatro o pessoal comenta em uma intervenção no Estado. – disse por sua vez o outro homem.
Toré:
--- Eu acredito. Principalmente pelos casos de mortes praticados dos homens da polícia. - arrematou o rapaz.

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