quinta-feira, 13 de setembro de 2012

ISABEL - 52 -

- Nancy Kovack -
- 52 -
ALIANÇAS
Por fim, um mês depois, chegou o dia do casamento de Maria Clementina e Valdivino. Ele, um homem bastante sério e ela, uma mulher de província, acanhada até, e cheia de fricotes por causa do vestido bem ornamentado escolhido por um modelo de renome da praça e aos custos de Gonzaga e Isabel. A filha dos noivos estava em companhia de sua amiga Racilva. Ela a sorrir de felicidade por ter seus pais se casado afinal. Tudo isso aconteceu da Igreja com o aval do Juiz de Paz para dar sentido oficial a cerimonia. O casal estava com as testemunhas devidas: ele a contar com Toré e sua esposa Otília. A noiva: Gonzaga e sua esposa Isabel eram testemunhas. A festa seria no Bar de Isabel, muito bem arrumado para essa ocasião. Os noivos trocaram alianças tão logo a cerimonia alcançou o seu ápice. Na festa de casamento havia de tudo, até um fole para alegrar a quem estava presente. Tinham diversas pessoas, não mesmo convidadas. O Bar, um local público, era um ambiente de todos. O negócio funcionou até mesmo como um pub inglês, inspiração das tavernas medievais.  No período normal de funcionamento, o Bar de Isabel era um local onde pessoas se juntavam para beber, comer e apenas repousar. Havia de tudo no Bar. Inclusive espaço para se lançar livros e deixá-los no local para se ler ou comprar. Nesse Pub Inglês, por assim chamar, tinha espaço para fregueses fumantes e não fumantes. Chopes, cervejas, whiskies dentre outras bebidas para todos os gostos. Quando era dia normal, havia mesas com cadeiras e no fundo do salão era pregado um relógio com a hora certa e logo acima bem ao lado, na parte esquerda do pub ao alto, um televisor. Petiscos e sanduiches tinham espaço especial. O cardápio de bebidas era oferta dos mais refinados fornecedores do país. O ambiente era amplo com quadros pregados nas paredes. A iluminação era opaca, apesar de oferecer luz em todo o ambiente. A decoração era semelhante aos famosos pubs de Londres. Por certo o local era ponto de encontro dos admiradores da cultura. Nos finais de semana havia música ao vivo com todo charme de um autentico pub inglês. Sua cozinha oferecia um variado cardápio de filés e petiscos entre outras variações. Na linha de bebidas, cervejas importadas, drinques, carta de vinhos e champanhes. Enfim, o Bar de Isabel era um ambiente informal e descontraído onde os frequentadores pudessem se sentir à vontade como se estivesse em sua casa. Não raro, os consumidores do bom aperitivo passavam admirar tal requinte e costumavam dizer está ali em um verdadeiro pub inglês. O ambiente típico de um pub instigava a exploração dos diferentes tipos da bebida, das tradicionais claras às escuras, da mais alcoólica até as doces e frutadas. Gonzaga costumava dizer aos frequentadores do bar ter o seu como contava à história que foi a partir das estradas pelo império romano, na Europa,  que possibilitaram viagens de longas distancias é que surgiu a necessidade de estabelecimentos que oferecessem comida, bebida e hospedagem às margens das rotas de viagem. Nessa época não era considerado um evento social se comer e beber.  E foi nesse ambiente de pura aristocracia que se festejou o casamento de Maria Clementina e Valdivino. Os anciãos na sabia de nada daquilo a lhes oferecer. Porém, Gonzaga, traduzindo a sua origem portuguesa bem lembrava nas suas quimeras o efeito do evento. Ele bem sabia ter a aristocracia definição como grupo constituído por integrantes de camadas com grande poder político e econômico. E esse era um evento nobre: o casamento de Valdivino e Clementina. A festa em ambiente a luz neon foi a longas horas da noite e madrugada. Os taxis fizeram viagens e mais viagens levando alguns divertidos folgazões já um pouco ébrios para longe ou perto do bar. Os jornalistas, fotógrafos e câmeras estivem presentes fazendo matérias do evento: IDOSOS SE CASAM ou TARDE NEM TANTO. Esses eram os títulos mais procurados para o enlace matrimonial. Após altas horas o casal se retirou para os seus aposentos no próprio pub, o Bar de Isabel.
No dia seguinte, Toré estava ainda indisposto. Náuseas, apesar de não ter bebido em excesso. A sua mulher Otília, dormia às sete horas da manhã. Na oficina o barulho começava com os gritos de alguns lanterneiros falando de um crime havido na noite passada. Outros procuravam saber maiores detalhes. Mesmo assim, o negócio era vago. Esperavam-se as notícias melhores. O caso tomou cunho em todo o Estado, pois o local era há vários quilômetros da capital. Alguns temiam a volta de Mão Branca. Outros diziam ter ele sido morto. Entre todo o tumulto a fazer, Toré se levantou da cama e caminhou em direção à oficina, ainda com seu braço na tipoia vez ter se submetido a várias intervenções no ombro. Toré estava um pouco zonzo talvez da noite curta. E apenas ouvia a conversa dos mecânicos com respeito ao horrendo crime havido em uma Fazenda no interior.
Lanterneiro:
--- Só deu isso no rádio. – relatou o homem como está com raiva.
Mecânico:
--- E o revolver? – indagou o outro.
Lanterneiro:
--- Não sei! Com certeza ele estava armado! Atirou bem na testa da mulher! – informou o primeiro com raiva.
Borracheiro:
--- Isso é coisa de Mãe Branca! – falou com receio o borracheiro.
Mecânico:
--- Que Mão Branca? Esse está morto da silva! – respondeu o homem meio abusado.
Motorista:
--- Homem! É melhor a gente cuidar no serviço. Tá morta e pronto! – fez ver o motorista.
E a turma da oficina passou a cuidar das suas obrigações sem maiores problemas. Toré desceu o batente e foi ao local onde pode examinar os afazeres do dia. Uma tabuleta marcava para aquela data a entrega de um automóvel. Em outra, marcava a entrada de outro veículo para concerto. Ele olhou todos os afazeres e foi até ao balcão ver se estava tudo em ordem. Como nada havia a reclamar, Toré voltou ao apartamento onde encontrou a empregada preparando a refeição de Sílvia, a sua filha dileta. O homem olhou o seu relógio e balançou o pulso para dar corda no “bobo”. E voltou a olhar novamente. Conferiu ser já bastante tarde para a menina sair para o Colégio. Mesmo assim, ele indagou da menina:
Toré:
--- Vai ao colégio? – indagou à menina.
Essa, de imediato se voltou e viu o seu pai. Respondeu:
Silvia:
--- Hoje é sábado. Não tem aula. E o senhor vai me deixar? – indagou Silvia ao se voltar para a mesa de refeição.
O homem estava tão descompassado e ainda assim indagou da filha:
Toré:
--- Deixar? Onde? – falou Toré com uma cara de outro mundo.
Sílvia sorri e disse apenas:
Silvia:
--- Ballet. Hoje tem a final. Amanhã dia da primeira apresentação. Quatro da tarde. Mas eu tenho que chegar antes. – explicou a garota.
Toré pareceu cair do céu e respondeu:
Toré:
--- Ah! Nem me lembrava! Eu vou! – sorriu sem querer o seu pai.
Sílvia:
--- Minha mãe também vai. Duas e meia. – falou com a boca cheia de pão e queijo.
Toré sorriu e disse apenas:
Toré:
--- Se a mocinha falar sem a boca cheia então eu entenderei melhor. – sorriu o homem.
E a menina, envergonhada, também sorriu pondo a mão direita da boca. Porém, isso foi bobagem. Em seguida, o pai foi ao encontro da garota e a abraçou com todo carinho possível deixando de lado a boca cheia de pão e queijo da menor. Foi um abraço delicado e cheio de candura. Nesse ponto Otília, mulher de Toré, já estava ouvindo a conversa dos dois e se encostou à porta do quarto. Alí mesmo, a mulher sorriu com satisfação. Era momento fugaz o qual jamais a mulher esqueceria.
Em dado instante chegou ao apartamento de Toré a sua irmã Luiza. Ela também sorriu ao sentir tal agarrado de pai e filha. Contudo, passado o momento, a moça falou de algo ocorrido àquela madrugada no interior do Estado: a morte de uma dona de casa. A Polícia nada sabia para informar. Contudo, um homem viajante chegou a capital há poucas horas e veio com a notícia quase completa. A mulher tinha sido morta por seu marido. O homem falou com tranquilidade do fato. O marido teve a oportunidade de roubar cerca de dois mil reais, quantia perdida do jogo de cartas. Nizete era o nome da mulher. João era o nome do assassino. Os dois tinham duas filhas. E João prevenia às garotas a não dizer coisa alguma sobre tal crime. Mesmo assim, a garota mais velha não se calou e disse as autoridades. João de tal fugiu e a Polícia estava no seu encalço.
Luiza:
--- É essa a história. As rádios desconhecem tal ocorrência. – falou a mulher um tanto magoada
Toré:
--- Eu ouvi logo cedo os mecânicos conversarem sobre esse caso. Mas, conforme eles haviam dito não tinha a Polícia algo a acrescentar.  Era essa a verdade. Você conhece o viajante? – indagou com certa curiosidade o rapaz.
Luiza:
--- Ele mora para os lados dos Coqueiros. – falou a mulher.
 

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