domingo, 30 de setembro de 2012

O FIM DO MUNDO - 03 -

- Audrey Tatou -
- 03 -
CÃES
A moça não se surpreendeu com o dizer de seu colega. Olhava-o de forma tranquila. A mão na boca em forma de cunha. O olhar sereno para Otto. Até instantes de forma distante. O rapaz Enoque olhava para e outro e nada dizia. A jovem moça Vanesca olhava serena a figura de Alda Paiva. Porém nada falava. Ela era apenas quem escutava a delirante conversa entre o seu noivo e a jovem Alda. O salão se enchia cada vez mais de pessoas de média classe. Alguns a conversar de seus assuntos corriqueiros. Outros  preocupados em se encontrar uma mesa mais distante onde pudessem confabular seus nervosos temas. A porta de entrada já mostrada o sinal de mais gente a querer entrar. Outras a sair e buscar distinto restaurante menos lotado e onde se pudesse conversar mais à vontade. Esse era o inicio da noite, coisa de nove horas e trinta minutos ou coisa mais. Alda Paiva voltou a conversar  sobre novos assuntos até então não expostos.
Alda:
--- Tinha, no porto um volume de cães. Todos empacotados para embarcar. – relatou a moça de forma alheia ao assunto.
Otto:
--- Cães? Que cães? Adultos? – indagou curioso o rapaz.
Alda:
--- Sim. De certo modo. Cães magros, Pequenos e grandes. Vivos. Eles estavam em gaiolas de arame. Uns latiam. Outros tremiam de medo ou frio. E o Delegado disse ainda ter gatos. Eu não vi. Parece estar em outro setor no porto. – relatou com suavidade a jornalista a fitar Otto de forma disfarçada.
Otto:
--- Cães e gatos? Pra que esses animais? – indagou estupefato o jornalista.
Alda:
--- Exportação. Países da Ásia. Todos tão raquíticos. Cães vadios, desses pegos na rua. Tinha uns maiores. Raça até certo ponto de pura linhagem. – relatou sem emoção a jornalista.
Otto:
--- Ô meu Deus! Cães mesmo? Isso não pode ser! Gatos? – relatou nervoso o homem.
Vanesca:
--- Para onde se leva esses animais? – indagou por sua vez a outra jornalista.
Alda:
--- Pode. Ora se pode. Por aqui pode tudo. Os cães foram pegos em cidades do interior. E eram despachados para países da Ásia. Por lá é consumo franco. Vende-se no mercado. – relatou a moça sem um pingo de emotividade.
Vanesca:
--- Mercado? E vão matar os bichinhos? – relatou apressada a outra jornalista.
Alda:
--- Ora se matam! Os que aguentarem chegar com vida, são mortos sem dó nem piedade. E depois vendidos. Carne de cães, gatos. Até mesmo de cobra e minhocas. O povo come tudo o que se meche. Às vezes, também os que não se mechem. – fez ver sem sentimento a jornalista
Nesse momento, Vanesca se levantou apressada, procurando sair de qualquer forma de onde estava a sentar. Mão na boca. A procura de um lenço. E partiu para o toalete com o maior corre-corre do mundo. Empurrava um. Passava entre os garçons com as suas bandejas. Seguiu entre outros presentes. E alcançou o toalete onde foi fazer o que lhe competia: vomitar. Na mesa, onde ficaram os três jovens, houve até certo ponto um alarme. Alda Paiva indagou de tudo o que dissera o que fizera Vanesca sair com pressa.
Alda:
--- Mas o que foi que eu disse? – indagou curiosa a jornalista.
Otto:
--- Nada. Ela foi vomitar. Não aguentou ter de saber ser naqueles países o consumo de carne de cães serem tão normal.  – fez ver o jornalista. E tornou a olhar o toalete onde Vanesca entrou apressada.
Alda:
--- Nossa! Imagine se eu disser comer formigas e gafanhotos. – sorriu como a sacudir seu corpo a jornalista.
O garçom voltou até a mesa de Otto vendo se o homem tinha mais pedidos a ser feito. Otto consultou os três presentes e comentou ter ele já feito o pedido de uma pizza mais um pouco de vinho do Porto e nada mais. Alda consultou seu amigo e findou por definir ser o mesmo prato para os dois. O garçom agradeceu e se voltou a sair. Nesse ponto chegava à mesa a impressionada Vanesca ainda entediada com a conversa de início mantida com a jornalista Alda Paiva. E foi logo advertido aos presentes:
Vanesca:
--- Nada de cães e gatos! Está bem? – advertiu a moça com as suas mãos a fazer silêncio.
Otto sorriu e Alda também a advertir ter sido um assunto passado. O amigo de Alda salientou ter visto um artigo onde índios consumiam suas vítimas pelas partes nobres. Coxa e glúteo por exemplo. Eram esses os antropófagos. Vanesca tapou as orelhas para não ouvir mais o homem falar. E se levantou de sua cadeira, tento saído para a porta de entrada onde gente muita entrava no restaurante àquela hora da noite. Na porta de entrada a moça ouviu uma conversa entre dois frequentadores de fim de semana. Na conversa um deles contava da morte de um motociclista na rodovia federal.
Frequentador:
--- O homem no automóvel estava embriagado. – disse um dos dois. E eles entraram no restaurante com a conversa sobre o incidente fatal.  
A moça rejeitou o assunto e logo em seguida foi dizendo:
Vanesca:
--- Até aqui, Brutus? – e rangeu os dentes para os inomináveis elementos.
A passear pela calçada do restaurante a admirar o espetáculo deslumbrante dos cartazes luminosos e as lojas de artigos femininos a ocupar largo espaço da avenida, Vanesca olhava atentos os tais componentes ofertados para a próxima semana como de artigo de requinte e luxo. O brilho das vitrines trazia à moça o enigma de um futuro onde nada mais podia haver de surpresa. A vitrine de moda trazia o requinte da coleção das melhores estampas tropicais. Sapatos mostravam atualização para a estação mais quente do ano. As novelas das TVs trouxeram inspiração aos figurinistas para mostrar o mais deslumbrante dos artigos modernos da plena primavera. Vanesca ficou extasiado com tanto brilho em forma de renda, cetim, couro e algodão. As cores neutras e claras trouxeram o branco e os tons a representar a limpeza da Terra. A reedição da famosa calça boca-de-sino torna-se a modelagem essencial dessa temporada.  Dava bem para entender ter os anos de 1970 ficado fortemente gravados  nessa atual estação.  A jovem sentiu a presença de três casais a olhar as vitrines e a conversar com sorrisos o doce encanto da eterna juventude. E Vanesca sorriu para si ao ver não está só diante daquela maravilha. Os mostruários eram decorados de forma totalmente bem criativa apresentando os modelos em brilhantes formas. Um suspiro enlevou a moça diante de tanta inquietante mostra. Ela se conservava com as mãos para trás e o olhar perscrutador a melhor verificar as formas geométricas apresentadas.  Nesse momento, um pingo de chuva descartou o olhar de Vanesca. Ela olhou para o céu e notou ter chuva em poucos momentos. Enfim, atravessou a rua e correu para o interior do restaurante. Ao chegar ao local já havia chuva muita a cair sem trégua. Outras pessoas procuravam se abrigar sob o esmerado teto do restaurante.
Alguém:
--- Chuva grossa essa. – disse alguém a olhar o firmamento.
Outro:
--- Agora deu. Só faltava essa! – fez ver de forma estranha a outra personagem.
Velho:
--- É chuva, moça! – relatou um ancião ao passar rente a parede.

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