- Jennifer Hewitt -
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ALEMÃO
Em um daqueles
dias sombrios, o vaqueiro Tomaz foi até o aeroporto de Natal buscar uma
encomenda feita pela firma. No aeroporto era tudo calmo, apesar do contínuo
movimento de gente a embarcar para um lado e para outro. Tomaz se dirigiu ao
setor de cargas para buscar sua encomenda. Foi, então, com surpresa que ele
notou entre outros passageiros e empregados do aeroporto a figura do alemão Humberto
Paulo a transitar com pressa em busca de outros passageiros. Esses estavam a
desembarcar em um Boeing estacionado na pista de pouso. Era um avião
tremendamente gigante. Tomaz não identificou a sua procedência por falta de
atenção. Apenas notou o avião e viu muito bem o homem nazista de se encaminhar
para o ponto onde estavam três outros prováveis alemães com roupas comuns,
porém de esmerada qualidade. Entre os três homens que alí estavam outro
ligeiramente franzino fez um sinal de obediência. Esse levantou o braço em
sinal nazista batendo os seus calcanhares. O General fez um apelo com a mão
para que o homem abaixasse o braço e não disse palavra alguma. E se trocou
palavras foi mesmo em alemão, pois Tomaz não podia entender o que falavam entre
si. Um automóvel de cor preta estava estacionado no parque de aviação a espera
dos seus ocupantes. De imediato, os supostos alemães embarcaram no automóvel,
sendo que o General Humberto Paulo seguiu entre os dois ocupantes no banco de
trás ficando o rapaz menos forte no banco da frente ao lado do motorista. O
vaqueiro acompanhou o trajeto do automóvel. Esse seguiu pala parte posterior do
aeroporto e se perdeu no vento. O avião taxiou para um lado do campo onde ficou
estacionado. Um oficial do campo de pouso esteve há pronto o tempo todo até a
saída do automóvel. O vaqueiro Tomaz ficou impressionado com tal ação do
General Humberto – verdadeiro nome: Karl Hélder – e depois de receber a sua
encomenda se voltou e foi a seguir para o armazém, no bairro do Alecrim, em Natal.
Ao retornar à
loja, o vaqueiro ainda tremendo de pavor, contou a Rócia todo o ocorrido e de
tudo o que se lembrava. A moça sorriu e disse ao vaqueiro ter uma conhecida de
origem italiana, mas nascida em Natal ter os alemães frequentados uma
residência de um rico comerciante fascista e admirador do nazismo. Essa
residência ficava no bairro da Ribeira e a área era preservada com o piso da
suástica.
Rócia:
--- O sobrado
foi construído para ser residência do imigrante italiano Guglielmo Lettieri.
Ele era simpatizante de Hitler. Um trecho da casa tem piso formado por
ladrilhos representando a cruz suástica, o símbolo nazista. – relatou a moça.
Vaqueiro:
--- E quem é esse
homem? – indagou surpreso com a face franzida.
A moça sorriu
para logo informar.
--- Guglielmo
Lettieri é de origem italiana. Aqui
fundou a famosa Cantina Lettieri e a única fábrica de gelo de Natal. Em
1938 foi nomeado cônsul da Itália no nosso Estado. O consulado ficava na sua
própria casa. Em 1942 foi preso, acusado de espionagem. Depois da Guerra foi
anistiado. O senhor Luis da Câmara Cascudo foi agraciado com a Medalha do Rei
Vittório, alta condecoração fascista do Governo Benito Mussolini. A suástica
ainda está no local. – declarou a moça.
Vaqueiro:
--- E isso
tudo está aqui? – perguntou surpreso.
Rócia:
--- Está.
Tudo, tudo. Até as paredes. Essas e suas lajes são reforçadas por grandes vigas
de trilhos. – disse a moça a sorrir enquanto embrulhava uns pacotes.
Vaqueiro:
--- E a cruz?
– indagou com bastante temor.
Rócia:
--- E a
suástica. – sorriu a moça atando os pacotes.
Rócia sorriu
para poder voltar a falar.
Rócia;
--- Olha
vaqueiro! As imagens são notórias. O nazismo cresceu muito no mundo todo,
inclusive no Brasil. A publicação de um livro de Adolf Hitler, o líder, chamado
de “Minha Luta” foi uma vitória crucial do nazi. É o desolador cenário da
chamada democracia. No interior de São Paulo existe ainda uma fazenda onde se
inspira as teorias raciais, escravizam-se crianças, negras em sua maioria. A
propaganda é “O trabalho liberta”. – comentou a moça.
Vaqueiro:
--- Nossa Mãe!
– disse alarmado com a mão tapando a boca.
Rócia:
--- Pois é
vaqueiro. Persiste silêncio sobre a presença e atuação dos nazistas no Brasil.
Não se sabe nem o número de partidários de Hitler que vieram ao País depois da
Segunda Guerra. O Brasil se tornou uma espécie de seara livre para a circulação
de nazistas, fascistas e integralistas. – relatou a moça a sorrir.
Após alguns
dias Rócia continuava no seu labor de compra e venda de produtos para animais
de grande porte. Ela estava tão distraída, pois nem notou a entrada de um rapaz
elegante trajando roupas simples a procura de ração para o gado. Quem o atendeu
foi Alenka Calheiros, balconista da firma e ao mesmo tempo a moça do pagamento.
Entretida com as contas Rócia nem notou a aproximação do vaqueiro Tomaz. Ele
falou a murmurar sobre o belo rapaz.
Vaqueiro:
--- Veja quem
está ali! – e apontou para o rapaz de pele clara.
A moça,
distraída, ainda perguntou:
Rócia:
--- Quem? –
olhou depressa.
Vaqueiro:
--- O tal
alemão. Esse cumprimentou o seu chefe Humberto com uma saudação. – falou
discreto.
Rócia:
--- O alemão?
Não me diga? Foi esse? – perguntou a moça de queixo caído.
Vaqueiro:
--- Sim. Ele
mesmo. Parece não falar português! – murmurou Tomaz.
Rócia:
--- Deixa-me
ir lá. Espera! – falou a moça a se levantar da sua escrivaninha.
E foi Rócia
sem querer se intrometer. Mas ao chegar ao balcão Rócia falo ao rapaz em
alemão, do modo como sabia.
Rócia:
--- Guten Tag. Wie kann ich lhnen
dienen? (Boa tarde. Em que posso
servi-lo) – indagou a moça.
Alemão.
--- Ich bin
serviert. Vielen Dank (Eu estou sendo
atendido. Obrigado) – sorriu temeroso o alemão.
Nesse ponto o
alemão ficou desconfiado com a ação da moça. Ele não sabia a razão do porque a
pergunta em alemão. Mesmo assim, antes da Guerra havia alemão por todo o
recanto do Brasil, com voos regulares da companhia aérea germânica. O rapaz,
desconfiada apenas sorria. E Rócia voltou a indagar:
Rócia;
---Bitte. Wie ist dein Name? (Por favor. Qual é o seu nome?)– indagou
a moça.
O rapaz
intranquilo respondeu:
Alemão
--- Franz. –
respondeu o alemão com um sorriso amarelo.
Rócia:
--- Fuhlen Sie
sich frei (Fique a vontade) –
respondeu a moça em um bom alemão
Nesse ponto a
moça Alenka que o atendia mostrou estar tudo em ordem. O alemão Franz agradeceu
e se despediu com o tradicional “obrigado”. E saiu com pressa desaparecendo na
voragem da vida. Rócia levantou suspeita porque o homem podia ter dito outro
nome. Mesmo assim, como a indagação foi de surpresa ele nem teria tempo de
conseguir mentir. De qualquer forma a moça ficou com o seu nome guardado.
Rócia:
--- Franz.
Nada mal! – sorriu a moça ao voltar para a sua escrivaninha.
Rócia ficou
sem saber se havia dito tudo certo. Afinal, ela estudara muito pouco a língua
alemã para ter certeza do que falara. Com isso, a moça coçou a cabeça por não
se dar por satisfeita.
Rócia:
--- Eu vou
estudar alemão. Eu bem poderia ter feito às questões em inglês. Mesmo assim, eu
queria ouvir se na verdade ele era um germânico. Ora bolas! – resmungou cheia
de dúvidas a moça.
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