- Bianca Rinaldi -
- 82 -
APARIÇÃO
Naquele mesmo
dia, pela manhã, caminhava pela Avenida Dois o sapateiro Hortêncio, vindo
apressado, cheio de compras para a sua oficina e atravessou a Avenida Onze sem
prestar nem atenção ao movimento no Bar Quitandinha onde pessoas tomavam café e
jogavam conversa fora. A pressa de Hortêncio era a de encontrar uma condução qualquer
que o levasse a Mangabeira, caminho de Macaíba. A rua era de grande movimento e
o Mercado do Alecrim dominava tudo. Cases de residências pregadas com pequenas
lojas era tudo a se notar. Quando o homem atravessou a praça notou a presença
de um antigo conhecido a matutar não sabia a razão. Era o homem José Rodrigues
a estar sentado em um banco plantado no
lugar e viajante costumeiro a passar quase sempre pela oficina de Hortêncio.
Foi então que o homem parou e falou:
Hortêncio:
--- José?
Estas esperando um carro? – indagou o homem com bastante pressa.
José Rodrigues
voltou o olhar para o alto e perguntou:
José:
--- Meus
burros? Onde estão? – indagou confuso o homem.
Hortêncio
ficou atônito. Por que o homem estava a procurar por seus burros? Logo no meio
de tanta gente? E indagou:
Hortêncio:
--- Burros?
Que burros? Você os trouxe para cá? – indagou com duvidas.
E o rapaz não
soube dizer ao certo lamentando apenas ter perdido os jericos. Entre uma coisa
e outra como a cozer a roupa ele por vezes olhava desatento para o homem.
José:
--- Estavam
aqui comigo. Sumiram! – disse o rapaz com voz fraca.
O homem cheio
de embrulhos nada pode comentar. Hortêncio nem coçar a cabeça ele podia. Mas,
na certa admitiu:
Hortêncio:
--- Tá doido!
Burros no Alecrim? Imagine só! – questionou o sapateiro.
E após alguns
instantes o homem se despediu de vez quando alguém ao lado comentou:
Alguém:
--- Ele está
assim desde que chegou aqui. Faz uns três dias. Parece. – foi o comentário.
Esse foi o
comentário de um mendigo já idoso.
Mendigo:
--- Vosmicê
conhece o homem? – indagou o mendigo a Hortêncio.
Hortêncio
parou, mas de olho da condução se havia de passar e ouviu a pergunta do
mendigo. E respondeu:
Hortêncio:
--- Eu o
conheço sim. Ele segue sempre para Macaíba e, por vezes, passa em minha
oficina. Faz alguns dias que eu não o avistava. Com certeza ele estava viajando
ou mesmo em Natal. O que mais admira é José está procurando os burros.
Estranho! – falou o homem com preocupação.
Mendigo:
--- Vosmicê
sabe onde ele mora? O coitado não soube informar. – relatou o mendigo.
Hortêncio
parou por alguns instantes e logo respondeu:
Hortêncio:
--- Sei. Ele
mora na Curva. Quando se vai para Mangabeira. Curva da Morte. – falou o homem
procurando observar se havia condução na parada.
Mendigo;
--- Por que o
senhor não leva o pobre? – indagou o coitado sem ambição.
Hortêncio:
--- Eu? Ele
sabe o lugar. – disse o sapateiro sem ver condução.
Mendigo:
--- Pra mim,
eu acho que não. Eu já perguntei e ele não me deu noticia. – falou o mendigo.
Hortêncio:
--- Foi? Foi?
Ele não sabe? Endoidou! – fez questão de dizer o sapateiro.
Em seguida,
Hortêncio notou o caminhão a chegar à parada do Mercado e o povo a correr para
pegar um lugar melhor. Ele sentiu vontade em ir, mas o José não lhe saía da
lembrança. Nesse momento, Hortêncio agarrou o homem pelo braço e disse com
bastante pressa:
Hortêncio:
--- Vamos!
Vamos! Chega! Tá na hora! – relatou o homem cheio de pressa.
José Rodrigues
seguiu o homem a procura de suas vacas,
pois era tudo o que lhe faziam falta. Logo em seguida os dois subiram na
carroceria do caminhão e se largaram na viagem com o buzinar do carro e muita
gente ao derredor. Era o intrincado de
desordenadas pessoas, umas quase a cair sobre outras e o carro de um feitio
ridículo a correr e correr mais. Gado na rua sem calçamento, cães vadios a
atrapalhar, menino a somente olhar e dar adeus, homens com cargas nas costas e
tudo isso o carro via passar. O lugar era longe para Hortêncio e José chegarem
com tanta pressa. O caminho era por demais acidentado. A lama na estrada
encobria os buracos em baixo. Mulheres a lavar roupas no riacho das Quintas.
Ônibus a atravessar o lugar do caminhão. Era tudo a matar o sono. Quando o carro chegou ao capinzal o homem
Hortêncio pediu parada. E ambos desceram do carro. Hortêncio estava ofegante e
depressa chegou ao terreno a procura do dono, Manoel do Burro. Após se
comprometerem Hortêncio apresentou o ajudante José Rodrigue e ficou sabendo que
ele estava desaparecido há uns bons dias. Então Hortêncio teceu comentário:
Hortêncio:
--- Ele parece
estar meio maluco, pois não diz coisa com coisa. Apenas pergunta pelos burros.
– falou em sigilo o homem.
Manoel:
--- Pois não.
Pois não. Deixa que eu mesmo converso. – respondeu o homem.
E daí começou
a conversar com José Rodrigues e esse apenas dizia ter perdido os burros.
Manoel disse ter soltado os burros da prisão quando foi a Mangabeira e quis
saber mais alguma coisa acontecida por esses dias. O rapaz de nada entendia,
pois apenas falava de recordações de sua vida infantil. Manoel entendeu ter ele
estado numa maluquice terrível e não adiantava de nada a perguntar. O que se
podia fazer era mandar o rapaz deitar e dormir para sossegar um pouco a mente. José Rodrigues obedeceu ao mandado e Hortêncio
ficou a conversar com Manoel. Nessa ocasião Hortêncio ter encontrado o rapaz na
praça do Alecrim com o ar de total acabamento. Para Hortêncio, a primeira
vista, o rapaz nada sabia falar e nem ao menos o reconheceu, apesar de ser um
jovem frequentador da oficina do remendão. Isso, quando o rapaz estava seguindo
ou voltando do município de Macaíba.
Hortêncio:
--- Confesso
ao senhor ter eu não compreendido de nada do que José falava. – disse o homem
Manoel:
--- Era-me
estranho o desaparecimento do rapaz a tantos dias. No início eu pensava que
José Rodrigues tivesse algum caso pela cidade. Depois de dois dias, eu então
duvidei. Eu pensei que ele tivesse sido preso por alguma arruaça ou mesmo por
questão de cachaça. Mas José pouco bebia. Só em festas. E assim, era muito
pouco. Quando eu vi o senhor chegar com o rapaz eu tive um susto tremendo chega
eu fiquei com as minhas pernas bambas. - frisou Manoel ainda desencorajado.
A conversa
prosseguiu até a chegada de outro caminhão de feira quando Hortêncio embarcou
de vez após se despedir de Manoel do Burro. O dia estava quente e o mormaço
subiu da terra. Arapuás zurravam a todo instante por conta do mel tirado das
flores ou de coisa assim. Os viajantes se protegiam como podiam das ferroadas
das abelhas negras. Com certeza, alguém
destruiu os ninhos das abelhas e essas voaram em busca do mel. Arapuá é
abelha causadora de grandes perdas das flores ainda fechadas. Elas cortam as
pontas das folhas novinhas para construir seu ninho. Além do mais os arapuás
agem como predadores de outras abelhas, invadindo colmeias alheias para roubar
mel. O caminhão corria como podia até avistar o local de desembarque de parte
dos passageiros. Alguns ficavam em Mangabeira enquanto outros seguiam para mais
longe até chegar ao seu destino final. Em um dia qualquer logo após a chegada
de José, no capinzal de Manoel algo por demais surpreendeu o cortador de capim.
O jovem rapaz apareceu saindo do seu rude quarto e disse então:
José:
--- Eu sou o
Deus do Céu, do trovão, do temporal e do relâmpago. Não toque em mim porque eu não
estou preparado e desapareço em um instante. – e levantou um cajado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário