- Carola Saavedra -
- 13 -
O velho ainda começou a caminhar quando Silas, de repente, teve a idéia de chamá-lo para uma conversa mais aprofundada, seguindo por todos os caminhos que o velho traçou até a sua última vez. Por ter perdido um amor, não era o suficiente para se transformar uma estória de acordo com a necessidade de um pleno documentário. Além do mais teria Silas de argumentar todos os conceitos dessa estória e fazer da mesma uma eloqüente marca capaz de suscitar o apogeu da pela consciência humana. Silas teria que ver os pormenores da fase do homem até o ponto em que chegou ao descrédito da sociedade. Alí estava uma lenda viva para todos os efeitos. Tinha-se que se buscar algo de maior valor para sagrar a confirmação de Molambo. O velho não precisaria a aparecer na tela. Era bastante contar a sua estória e um ator fazer a vez do velho. Então, era preciso desencantar o seu verdadeiro sentido heróico. E era necessário se conversar por mais tempo com o velho e ver quem ele era em suma na verdade. Vera Muniz ficou impressionada com a estória do velho Molambo e fez questão de seguir a todo custo sua empreitada.
--- Eu nasci aqui. Mais à frente. Do outro lado do rio. - explicou o velho Diomedes.
Os amantes prestaram mais a atenção no que Diomedes tinha a falar. E assim ele disse. Quando nasceu, todos os moradores do lugar, chamado Coqueiros, tomaram conhecimento de Diomedes. Ele ali nasceu e cresceu até nove anos de idade quando saiu para a capital em companhia de sua mãe, lavadeira de roupa de gente rica. E Diomedes se matriculou em uma escola de dona Ritinha para aprender as primeiras letras. Quase todo o final de semana, ele e sua mãe voltavam a Coqueiros para fazer serviços domésticos em sua própria casa. O seu pai era pescador e, nas horas vagas, bebia cachaça. Isso, quando estava em terra. Ele, Diomedes, vivia uma vida simples e desde cedo conheceu Otacília, apelidada por Cila. Quando ele estava na vila, sempre conversava com Cila. Porém, nesse entretempo surgiu outro amigo conhecido de Diomedes que mantinha interesse em Cila. O seu nome era José Macedo, filho também de pescador. Mesmo assim não havia arega entre os dois apesar de, com o passar do tempo Diomedes sentir certa atração de Macedo por Cila. Mesmo assim, Diomedes não ligava para o caso. Quando estava na capital, além de estudar, mantinha a função de carregador de frutas nos caminhões que faziam viagens de outros municípios do Estado. No final de semana sempre costumava a voltar a Vila de Coqueiros. Em certa ocasião havia um baile na Vila e Diomedes dançou com Cila. Dessa dança surgiu o namoro. Isso despertou o ciúme em Macedo. Certa vez, Macedo disse a Diomedes que era melhor ele acabar o namoro, pois Cila seria dele. Diomedes sorriu e não levou nada a serio. Com o carregar dos caminhos, Diomedes aprendeu a dirigir os carros. E com o tempo passou a fazer viagem para o interior dirigindo caminhão. O namoro com Cila continuava firme a despeito do ciúme de Macedo. Certa vez, Diomedes comprou um caminhão. Então ele fazia as próprias cargas, não mais trabalhando para alguém. Namoro firme com Cila e fazendo carrego de frutas nos dias de semana. Com isso houve o progresso. Marcou-se o casamento. Bebidas, comidas, roupas para um rapaz e vestido de noiva para Cila. No dia do casamento, quando a moça caminhava para o altar, veio Macedo e fez o disparo com uma garrucha. Foi morte certa para a virgem. O pessoal, revoltado, agarrou na hora José Macedo e o estrangulou. Era o fim do malsinado vingador. Houve o sepultamento de Cila e desde aquela data Diomedes caiu em depressão. Foi internado no Hospício e depois daquele tempo nunca mais foi um homem para qualquer negócio.
--- Eu fiquei meio varrido da bola. – explicou Molambo de forma triste.
--- Porém, quando conheci o senhor, não vi nada que me dissesse que então o senhor fosse desequilibrado. Apenas o senhor se vestia em trajes desiguais. – falou Silas sem alegria.
--- É. Tem razão. Mas a minha cabeça não coordenava o corpo. – sorriu o velho entristecido.
--- O senhor vivia tempos naquele barraco! – soletrou Vera ao homem.
--- É. Vivi ali, em outros cantos. E só de uns tempos para cá eu vim para viver com a minha família. A minha mãe ainda vive. Meu pai morreu há muito tempo. – falou o velho entristecido.
--- Mas, por que o senhor não veste traje mais em conta? – indagou Vera querendo forçar novas respostas.
--- Estou bem com esses. – sorriu Molambo um pouco mais alegre.
--- Sei que está. Sei que está. Mas se o senhor recebesse roupas novas não vestiria? – indagou Vera ao velho.
--- Não paga a pena. Eu, antigamente, depois que minha noiva foi morta, tive muito tempo no Hospital. Depois sai e fui morar na casa do pessoal que a minha mãe lavava roupa. E ali me deram roupas. Muitas roupas. Porém então me veio à tristeza. Eu rejeite tudo. – argumentou o velho Molambo.
--- É danado! Mas o traje de noiva ainda está guardado? – perguntou o rapaz Silas.
--- De Cila? Ah esse nunca esqueço. Vai comigo para dar a ela onde estiver. – chorou Molambo.
--- Vamos fazer um acordo! Eu lhe dou roupa e comida e o senhor me conta toda a sua historia da vida. – falou Silas com obstinação.
--- Não paga a pena. Eu volto depois a ficar do mesmo jeito. É porque já fizeram isso comigo. E não valeu a pena. – ressaltou Molambo.
--- Tente de novo. Talvez a sua noiva esteja querendo isso dessa forma: mudar de roupa! – sorriu o rapaz para o velho.
O velho chorou mais uma vez. As lágrimas desceram no seu temido rosto cheio de barbas. A face suja do velho encobria o que lhe restava de se ver. Afinal, depois de um longo tempo, o velho falou resistente.
--- Eu vejo a minha amada Cila. Ela sempre volta. Faz dias que não vem. Mas sempre volta. Ela não quer que eu mude de traje. Ela só pede que eu vá pra junto dela. – falou o velho a chorar.
O tempo passou e os amantes retornaram ao Ap de Vera Muniz. Ela dirigia o veículo. E chorava muito por toda aquela aflição de Diomedes. O rapaz, Silas Albuquerque, enternecia a jovem para sufocar seu desassossego. Não valeria a pena se chorar por causa de uma desavença de amor de outras pessoas. Afinal, ele não era o único na vida. Casos como o de Diomedes havia em muitos lugares, por certo.
Os dias passaram sem novidade. Certa ocasião Vera Muniz saiu do banheiro do seu Ap alegre por demais. Ela havia vomitado bastante quando por lá esteve. E na volta, só havia alegria para repor ao seu amante. Vera temia em dizer por que não sabia bem o que ele responderia afinal. Porém, a moça indagou do rapaz:
--- Tenho duas notícias! Uma boa e outra ruim! Qual eu digo em primeiro lugar? – relatou a moça ao rapaz.
--- Qualquer uma! – sorriu o rapaz.
--- Bem. Vai à primeira. A boa. Você foi promovido ao cargo de Diretor da organização. – sorriu Vera ao dizer tal noticia.
--- Viva! Mas logo eu? Agora que me formei em jornalismo? Essa é demais! – sorriu em altas gargalhadas o jovem Silas Albuquerque.
--- Não quer saber nem mais a outra? – sorriu Vera se recostando no divã onde estava o seu amante.
--- Quero. Mas não me diga que eu vou viajar! – sorriu Silas.
--- Não. Não é isso. A questão é que você vai ser pai. – sorriu a moça em deleite.
--- Arra merda! Você? Grávida? Não é possível!!! Agora tudo se modifica!!! Eu não quero mais você trabalhando!!! Nem viajando!!! – ressaltou o rapaz de forma impetuosa.
--- Besteira! Quem vai ter o filho sou eu! – sorriu Vera ao dizer tal proeza.
--- Eu sei. Mas precisa tomar tôo o cuidado. Não viajar. Deixa de lado esse negócio de Turquia. – relutou o rapaz vendo sua amada de forma divinal.
--- Não é Turquia, querido. É Capadócia. Fica na Turquia. Mas é aqui que vamos filmar a nossa Capadócia. E é apenas a região da Chapada Diamantina. Rio das Contas. – sorriu a moça.
--- Seja lá como for. Mas você não deve ir para esse tal rio. Aliás, em meu notebook estou digitando a estória de Molambo. Você acredita? – indagou o rapaz.
--- Jura? – perguntou alegremente a amante.
--- Estou começando agora. Talvez demore um pouco mais. E eu preciso voltar à Vila Coqueiros para ter novas conversas com Molambo. – sorriu envergonhado o moço.
--- Eu preciso ver o que você já escreveu. Depois. Agora vou dormir. Amanhã tenho o que fazer. Espere!. – sorriu Verinha para o seu amado se levantado do divã e saindo em busca do quarto de casal.
O rapaz também disse o mesmo. Era hora de dormir para acordar bem cedo. Afinal ele tinha que passar na casa de sua mãe e dizer da novidade.
Nenhum comentário:
Postar um comentário