- Maria Valverde -
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Passara-se do meio dia quando o médico Dimas chegou até Silas e acalmando o rapaz que estava quase a dormir no ombro de Racilva. O médico declarou que a sua esposa, dona Vera Muniz estava indo muito bem. Houve uma hemorragia, era certo. Mas, toda mulher em gestação pode sofrer desses males. O homem chamou Silas até o seu consultório para explicar o caso que houvera com a dona Vera Muniz e de vez tranqüilizar o seu marido, Silas. O homem foi com o médico e atrás levou a vice-presidente da Agencia Pomar com o cuidado de dizer ao médico que ali estava à moça que também era sua vice-presidente na organização. O medicou a cumprimentou e disse:
--- Boa tarde. Pode entrar à senhora. – sorriu o medico Dimas.
E o obstetra fez ampla exposição sobre sangramento durante a gravidez. Sempre são casos anormais. Apesar de tudo isso, o sangramento ocorre com freqüência. Isso pode ocorrer devido à pequena perda e que se resolve sozinha sem comprometer a gestação. Mas, não raro pode ser preocupante e o inicio de um sério problema. O médico disse com muita calma para Silas. E o homem estava deveras preocupado.
--- Perda de sangue jamais deve ser ignorada. Pode ser o rompimento de um vaso sanguíneo no útero, um pólipo no canal serviçal ou até mesmo do período da menstruação pelo útero. Além do mais pode ser reposição da placenta. Peço ao que espere um pouco mais. Ela fica internada no hospital para ser avaliado o problema. – proferiu o médico.
--- Quanto tempo? Quanto tempo? – indagou Silas atarantado.
--- Não mais que dois dias. Ela está em repouso e vamos ver como reage. Está bem? – sorriu o medico para Silas.
--- E a visita? Já pode ser agora? A visita? – indagou assustado o marido.
--- Tenha calma. Vamos esperar um pouco. Pelo menos até as cinco horas da tarde. – sorriu o médico.
--- Cinco horas? Estou morto! – rezou Silas com lágrimas nos olhos e plenamente envolvido pela saúde da mulher.
--- Não está não. E nem ela. – sorriu o médico aconselhando Silas à vista de Racilva.
Após o par de amigos saírem do consultório do médico Dimas Lemos, Racilva deixou o homem no assento do setor de espera, pois Silas declarou que era tempo de aguardar até as cinco horas para poder ir estar até onde Vera Muniz se encontrava em repouso. Com isso, a moça falou ter de ir até “lá fora” com seu Diomedes, o velho, e não discorreu mais nada e nem Silas indagou o que Racilva teria que ir buscar ou ver. Com o passo ligeiro, Racilva chamou o velho para que ele fosse também com a jovem. O homem acedeu sem perguntar o que teria que ser feito. Ao chegar à porta elétrica da frente do Edifício do Hospital foi que Racilva indagou do velho.
--- Por onde vende pizza aqui? – indagou a moça Racilva olhando para um lado e para outro.
O velho Diomedes procurou ver as casas que estavam ao redor e identificou uma que dizia na placa “Pizzaria da Itália” e com pouco de tempo respondeu a jovem Racilva.
--- Creio que ali na esquina tem uma casa de pizza. – respondeu o velho.
--- Ah bom. Vamos lá. – respondeu Racilva de modo casual.
E os dois seguiram para a pizzaria onde o salão estava cheio de gente àquela hora. Todos conversavam a um só tempo e um rapaz que servia passava rápido para um lado e para outro trajando um avental como a indicação da Pizzaria da Itália por cima de uma camisa branca de mangas compridas e uma calça de cor preta. Racilva passou por entre o pessoal seguida do velho Diomedes e chegou ao balcão. A jovem pediu uma pizza e dois copos de suco de fruta para servir ali mesmo em uma mesa e mais uma pizza e um copo de suco para viagem. O rapaz que estava no balcão atendeu prontamente e Racilva se sentou em uma cadeira de mesa acompanhada do velho Diomedes. Ela então falou para o velho:
--- Agora vamos comer. Tirar a barriga da miséria. – falou Racilva sorrindo.
O velho contemplou o que estava sendo servido em outras bancas. Tinha uma cara de quem não quer coisa alguma. Mesmo assim, ficou quieto até a chegada da pizza à mesa. Os dois dividiram a pizza pela metade e Racilva guardou com segurança a segunda pizza de viagem em outro saco plástico oferecido pela pizzaria. Após degustar o referido almoço e Racilva pagar a conta, os dois saíram em direção do Hospital. O velho vinha um pouco atrás, Racilva, com um saco na mão chegou até onde estava Silas e deu o pacote dizendo.
--- É para você. – disse isso sem sorrir.
O homem Silas que estava quase dormir com a cabeça pendida para trás, perguntou a moça:
--- O que é isso? – indagou Silas com a cara de mal sucedido.
--- Isso é comer. E coma o que é servido. – respondeu Racilva de voz agressiva.
--- Não quero. Não vou comer coisa alguma. – respondeu Silas de mal grado.
--- Ah vai. Coma! – disse a moça sem contemplação.
--- Coma o que se não estou com fome? – perguntou Silas a bela moça.
--- Ah vai estar. Coma ou eu faço cócega nas costelas. – respondeu Racilva, pois era nas costelas que o rapaz tinha a maior cócega do mundo.
O rapaz olhou a moça e já tivera a surpresa de que Racilva fazia cócegas de fato nas suas costelas. Com isso, o homem sorriu. E pediu que ela esperasse, pois teria que ir ao banheiro.
--- Vá e volte para comer. – falou a jovem de forma solene.
Cinco minutos depois Silas veio até onde estava a moça e disse que não queria comer tudo “aquilo”, pois estava com barriga cheia de gases.
--- Pois peide aqui e vá feder lá fora. – recomendou Racilva com o seu jeito de fazer o homem sorrir.
E foi o que Silas fez: sorriu de verter águas dos olhos e de repente soltou um flato. Ele saiu correndo para a moça na sentir o cheiro fétido do que saíra do seu organismo. E a moça ficou a olhar com seu modo desprezível de fitar o homem. E sem sorrir.
Passado o tempo, Silas sacolejando a calça e voltou para a cadeira em que estivera a sentar boa parte da manhã. Ele teve tempo de sair quando foi para ouvir os conselhos do médico. Ao se sentar de novo, o homem sorriu para Racilva. A moça com o rosto bravo se largou para longe do homem ao dizer apenas:
--- Coma tudo! Não quero ver um fiapo! – concluiu Racilva malcriada.
O homem Silas Albuquerque, olhou para Racilva que se afastava bem depressa e apenas sorriu por tudo o que fizera naquele período de tempo.
O tempo passava devagar, com o pessoal saindo para que outros viessem e tomassem o lugar que deixavam. Os maqueiros iam e vinham com pacientes. Uma mulher a tempo de dar à luz era trazida na maca. Uma auxiliar de enfermagem acompanhava a parturiente a segurar um recipiente de soro. Gente que passava. Outras a conversar baixinho. No salão já havia gente demais para ser consultada por algum médico. Outras faziam apenas à companhia as outras que estavam para parir em breves dias. Era um mundo em um só hospital. Racilva se acercou de Silas e ainda perguntou.
--- E a podridão? – indagou Racilva que procurava se sentar na cadeira de ambulatório.
Silas não se conteve e caiu na gargalhada com a moça lhe cutucando para que parasse de tanto sorrir, pois estava em um hospital. A cara da moça era séria e cínica por demais.
Às cinco horas da tarde Racilva indagou da atendente se era possível a paciente Vera Muniz receber visita àquela hora e a mova pediu que esperasse um pouco. De volta do telefone a moça indagou a Racilva se a paciente era pensionista. E essa respondeu:
--- Primeira classe! – respondeu Racilva de cara bem séria.
--- Momento. Sala 213. Pode subir. Segundo andar. – respondeu a atendente.
--- Vamos peidão. – disse a moça a Silas de forma sem graça.
E Silas não se conteve. Caiu na gargalhada apesar de estar no Hospital Pró-Matre. O velho Diomedes também sorriu e os três rumaram para o segundo andar em busca da sala 213 onde estava internada a paciente Vera Muniz. Ao chegar à sala, os três visitantes da tarde notaram o luxo em que era depositada toda a aparelhagem. Era como se fosse o Céu. Não se via ou ouvia um único suspiro ali dentro. Uma auxiliar de enfermagem estava no interior do quarto tomando a temperatura da mulher convalescente e estava a dormir ou quase a dormir em seu leito. Mais parecia um leito nupcial. Pé ante pé os três entraram no recinto.
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