- Bella Swan -
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O trabalho das casas de Silas e Diomedes seguia a todo vapor. A obra de construção da casa do velho era mais rápida por ser uma construção menor. A construção de Silas demorava mais um pouco. Devia acabar quando Vera tivesse o filho, dentro de mais dois meses, uma vez que Vera estava entrando para o oitavo mês de gestação. Após aquela pavorosa hemorragia, nada mais aconteceu com Vera. Para suavizar mais o seu pré-parto, a mulher resolveu apenas ter que ir a um expediente na Agencia da qual ela era a presidente e não fazer nenhum esforço físico. Entrementes, a vida seguia normal no apartamento de Vera e Silas Albuquerque. Houve reuniões mediúnicas na residência, todas as sextas feiras. Casos estranhos foram relatados pelos médiuns receptores, como o de uma garota de seus dezessete anos que aparecia em um sítio remoto. Era freqüente essa aparição no sentir do médio Diomedes conhecido nas sessões espíritas como sendo Molambo. Certa vez, a jovem donzela surgiu ao velho e não disse nada. Apenas ela estava ao seu lado, pela observação de Racilva que era médium vidente e dotada de percepção e de falar com os entes desencarnados. Ela – Racilva – viu a jovem donzela como se estivesse em um sítio naquele instante, apesar de estar sob o apoio do velho Molambo. Então Racilva falou com a donzela naquela hora;
--- Seja bem vinda irmã. O que procuras? – perguntou o espírito de Annie incorporado em Racilva.
--- Ande a procura de meu pai e minha mãe. – respondeu o espírito desencarnado ali no corpo do velho Molambo.
--- Quem são seus pais? – indagou Annie bastante compreensiva.
--- Um casal que morava aqui. – respondeu o espírito desencarnado.
--- Onde você reside? – indagou por vez o espírito de Annie.
--- Eu moro aqui mesmo. Eles parecem que viajaram. – reclamou o espírito da donzela.
--- Aqui não mora mais ninguém. Vê se me diz o nome do local que estava a residir. – falou Annie contemplativa.
--- É aqui mesmo. Sitio do Meio. – respondeu o espírito da jovem.
--- Você sabe que estas em outro plano? – indagou Annie ao espírito.
--- Não. Eu estava dormindo e acordei há poucos momentos. – respondeu o espírito da donzela
--- Mas você não está mais no mundo dos seres viventes. Você está desencarnada. E hoje o seu lar não é mais esse. – ajuntou o espírito de Annie.
--- O que é isso? Desencarnado? – perguntou a donzela a sua interlocutora.
--- Vamos dizer que você “morreu”. E hoje está em outro plano. – respondeu Annie.
--- Morreu? Mas eu estou viva. Meus pais saíram daqui e me deixaram! – falou assombrado o espírito da donzela.
--- Na verdade você, irmã, não “morreu” como acreditou. Apenas você desencarnou. Você está em outro plano de vida. Por isso estás a vagar pelo terreno que pensas ser Sítio do Meio. Convido você para seguir com outros espíritos de luz para onde estão teus pais. Eles estão bem atrás de você. Por isso, eu rogo que saibas andar pelo caminho do bem. – declarou Annie, o espírito que estava em Racilva.
E nesse ponto o espírito da jovem donzela se apartou do médio Molambo. Annie também se apartou de Racilva. E o grupo de médiuns então pediu para rezar a oração do Pai que eles sempre faziam quando um espírito necessitado era encaminhado para outro plano. Outro espírito de luz incorporou em Racilva e disse logo ao saudar a todos:
---“O caráter essencial de qualquer revelação deve ser a verdade”, revelou esse espírito de luz citando como conceito de Allan Kardec.
Outros eventos se seguiram em outras reuniões no apartamento de Vera e Silas demonstrando o valor sublime do poder espírita. O problema mais sério das mesas circulares era o poder da desobsessão. A obsessão é a ação persistente de um mau Espírito sobre uma pessoa. O Espírito do mal age sobre diversas influencias. Com o tempo, o médium fica isento de qualquer obsessão por saber de imediato o que um espírito de luz.
Certa noite de sexta-feira se fez presente no apartamento de Vera a senhora Dulce Prata em busca de auxílio dos médiuns espíritas. Dulce era uma senhora dos seus quarenta e cinco anos, uma vez divorciada, em busca de seu filho Fernando que morrera em acidente de transito há alguns anos. Dulce fora convidada pelo médium “Paredão” para fazer passes especiais e assistir a uma sessão no apartamento de Vera Muniz. A mulher nunca tinha freqüentado uma sessão espírita, nem mesmo nos Centros existentes na cidade. Com efeito, Dulce vivia atormentada por alguma coisa que a não deixava tranqüila. Era como uma espécie de visagem que as noites lhe aparecia em sonhos. A mulher já perdera seus dez quilos e estava cada vez atormentada com seus pesadelos. De gorda Dulce passou para uma mulher definhada. Em sua casa morava uma serviçal que não era peixe nem carne. Vivia na casa apenas para ajeitar o que precisava fazer. E Dulce não a despedia por compaixão. Na reunião do apartamento de Vera a mulher – dona Bela – foi também acompanhando a sua patroa, pois Dulce tinha medo de andar sozinha principalmente durante à noite. O rapaz Fernando, filho de Dulce, igualmente morrera durante uma noite de sexta feira ao voltar de uma festa em um clube social. Eram ele e mais três rapazes. O carro em que Fernando viajava seguia em alta velocidade. Todos os que estavam no veiculo tinha bebido, menos Fernando, pois no dia seguinte teria que ser submetido a uma operação de vesícula. A operação seria no sábado. Ao entrar em uma rua, na contra-mao, o motorista do carro nem deu por sentido. Alí mesmo perdeu a direção do veiculo e foi de encontro a uma parede de uma moradia. Do confronto do carro com o muro da residência apenas teve morte o jovem Fernando que viajava no assento da frente. A pancada foi forte e atingiu o lado do passageiro. Os outros rapazes saíram com leves ferimentos e o motorista foi lançado fora do carro. Houve prestação socorro por parte de outros veículos que transitavam na rua àquela hora da madrugada. Apesar de ter sido atendido com pressa, Fernando já chegara morto ao Hospital. E desde essa época que Dulce Prata não teve mais sossego. O seu casamento desandou e, por fim, veio o divórcio. A mulher vivia em pratos pelo interior de sua residência. Por vezes nem comia aquilo que ela pedia. A comida amargava em sua boca.
E foi nesse estado de coisa que Dulce Prata foi, certa vez, a casa de “Paredão” pedir ajuda dessa rodada de amigos, pois era a única coisa que faltava fazer. “Paredão” se comprometeu em lhe dar ajuda e, finalmente, em uma sexta-feira ele a levou junto com a sua serviçal para ter uma verdadeira acolhida por parte de Vera, Silas, “Pescador”, Racilva e também Molambo. A sessão teve início como de sempre. As orações eram feitas por “Paredão”. Em seguida o homem discorreu sobre o acidente do qual foi vítima o rapaz Fernando e rogou aos guias espirituais de lhe prestarem ajuda para sentir se, na verdade, Fernando estava a necessitar de tal ajuda. Houve um enxame de espírito vindo para Molambo e nenhum era na verdade o de Fernando. Ao fim da reunião, veio para Molambo um espírito de um desencarnado advertindo que Fernando estava a “dormir”, ou seja, inconsciente até àquela hora, pois a pancada que sofrera o rapaz lhe tornara desacordado e “morto”. A entidade de luz teria que despertar o espírito e trazê-lo a mesa para ele falar o que sentia na outra parte da vida. Quem estava fazendo “visitas” a Dulce Prata era o seu avô para tentar que ela despertasse o “morto” que ainda não tinha conhecimento da vida que passara. Foi uma verdadeira tensão que a mulher passara naqueles momentos. Em seguida, após algum tempo, um espírito se incorporou em Dona Bela fazendo com que a mulher caísse ao solo quase que desacordada. E o espírito do suposto Fernando indagou a alguns poucos instantes.
--- Olha a parede Ferreira! – disse isso e desacordou.
Um espírito de luz veio na voz de Racilva, dizer ao espírito que estava desacordado, indo até o local do “morto”.
--- Levanta irmão. Não estás a dormir. Levanta, pois estás em outro estágio da vida. – disse o espírito de Annie falando por Racilva.
Dona Bela foi soerguida do chão com ajuda rápida de “Paredão” e “Pescador” e posta na mesa como devia ficar, atormentada pelo espírito de Fernando. Em seguida, o espírito de luz de Annie disse a Fernando:
--- Vê tua mão com estranha agonia por tua causa. Vens agora para o lar dos aflitos e por lá encontraras a pás que o teu avo tanto almeja. Os espíritos de luz se encarregaram de ti. – falou a angelical Annie.
A mãe do rapaz não se contentava em chorar de tanta emoção de ver seu filho tão perto e ela nada poder fazer por ele. Num verdadeiro e momentoso instante o espírito desencarnado de Fernando deixou o corpo de Dona Bela e subiu para o Hospital dos aflitos. E a sessão chegou ao seu final com a recomendação para a mulher Dulce Prata por flores no local onde houve o desenlace do seu filho e levar flores ao tumulo do seu avo e de Fernando como forma de agradecer aqueles momentos de desencarnação. A sessão terminou às onze horas da noite quando tudo se acalmou de verdade.
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