- Rosemary -
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Com essa resposta, Silas ficou preocupado de não poder ser nada, então. Era a visão de Molambo a querer dizer que a sua noiva estava com ele. Porém, teve a questão de uns seus conhecidos, talvez o seu pai ou o avô, com certeza, de estarem presentes. Com isso, Silas ficou tenso e preocupado. Em um instante, ele perguntou de ímpeto a Molambo quais eram os seus conhecidos que estavam presentes, conforme adianto a sua noiva.
--- E está aqui que eu conheci? – indagou Silas abruptamente.
O homem olhou para cima na estatura de que por certo estaria a falar e em seguida respondeu
--- Ela falou em seu pai, seus avôs e o homem da carroça. – respondeu Molambo.
Com isso o sangue de Silas parecia ter congelado. Não pelo seu avô e avó. Porém o homem da carroça. Com certa era o que ele chamava de Zé das Carroças. De um jeito ou de outro, Silas se fez duro e indagou por mais uma vez.
--- Que homem é esse? Não me lembro de nenhum homem das carroças. – sentenciou Silas.
Molambo tornou a olhar para cima e se voltou para responder.
--- Zé das Carroças. E tem Damião também. – sorriu Molambo.
O rapaz de enregelou. Damião. Ela não sabia se o homem havia morrido. E incluía o caso de Zé das Carroças, mais recente. O rapaz entrou em conflito e se pôs a indagar como tal caso a noiva do homem podia dizer como certo. Contudo, Silas voltou, a saber, o nome do seu avô. Molambo voltou a olhar para cima e depois veio a resposta.
--- Adamastor. Pai do seu pai. – sorriu Molambo.
Nesse ponto, Silas se desencantou. Adamastor, homem que morrera pelos idos de 1935. Ou mais ou menos. Silas estremeceu de pavor.
--- A sua avó era Doninha, disse a minha noiva. – sorriu Molambo – Ela morreu depois do seu avô. – sorriu mais Molambo. – Estão todos aqui. – contemplou o velho.
Sem apoio para tal, Silas só teve mesmo era que se render. Pai, avô, avó, carroceiro. Tanta gente assim. E ele não tinha nada mais, a saber. Contudo, para ter certeza da verdade da estória, Silas perguntou sobre avós de sua esposa. Molambo voltou a cabeça para cima e depois proferiu.
--- Eles estão vivos, minha noiva disse. Mas um deles já morreu. O seu avô paterno. Quer dizer: se passou de um lado para outro, pois ninguém morre nesse mundo. Apenas passa de um lado para o outro. – confessou Molambo olhando firme para Vera. E a mulher não teve outro meio e pôs-se a chorar com aquela pronuncia.
Quando Molambo disse que a pessoa não morre e passa de um lado para outro, fez o gesto com as mãos, como a dizer de um lado para o outro.
O frio da noite chegou mais forte naquele dia. Vera continuava em seu Ap assombrada com tudo que o homem lhe dissera. E indagava a si mesmo: louco ou são? . O homem havia “falado” com a sua “noiva” e essa lhe disse tudo o que lhe foi perguntado. Vera Muniz estava com uma espécie de frio toda enrijecida olhando para o mar do alto do seu apartamento. Silas, o seu marido apenas a confortava. O homem queria tirar a idéia da cabeça da mulher. Essa então se recostou ao seu ombro e largamente chorou. Um pranto sofrido e lânguido. Triste como o badalar de um sino à distância. Esse negócio de “espiritismo” sempre lhe fraquejou. Se o homem não tivesse falado em seu parente distante ela nem se importaria. Porém, Vera foi atingida por uma flecha em cima do peito ao relembrar a sua família. Avô paterno era certo. Os demais estariam vivos, com certeza.
No dia seguinte, Vera e Silas rumaram para o trabalho no alto do edifício POMAR, sede do grande empreendimento multinacional, do qual ela era a Presidente. No alto do edifício ela tomou rumo do lugar da Presidente e Silas rumou para o seu escritório de Diretor Geral. Ambos tinham trabalhos a fazer. Instantes após apareceu no gabinete da Presidente a jovem senhorita Racilva Pontes. Foi apresentar seus cumprimentos matinais e saber de alguma coisa para ser feita. Nesse instante, Racilva notou uma figura por trás de Vera Muniz. A figura lhe deu um calafrio apesar de estar acostumada a esses momentos. Racilva sabia o que falar com a figura, porem aproveitou a ocasião para tecer comentário com a presidente da Organização Pomar sem tirar a vista da figura. Era uma mulher ou moça e de forma transparente e fria como um vulto que já havia transposto esse terreno. Por vezes, Racilva esteve em um Centro Espírita e vira por ñ vezes siluetas de personagens que traspuseram esse mundo.
--- Alguma coisa Racilva? – indagou Vera Muniz olhando por cima dos óculos.
--- Não. Tudo bem. Só quero saber o que devo fazer. – recitou a moça sem tirar a vista da silhueta que se postava por trás de Vera.
--- O que você está olhando? – indagou Vera ao pressentir que a moça olhava em outra direção
--- Não é nada. Mas, a senhora sentiu alguma coisa? – perguntou a moça a vislumbrar a aparição.
--- Sentir o que? – indagou Vera já pressentindo algo.
--- Um arrepio ou coisa assim. – averiguou Racilva a Vera.
--- Não. Por quê? Algo estranho? – perguntou alarmada a senhora Vera Muniz.
--- Tenha calma. Reze. Eu também rezo. Eu quero saber o que esse “irmão” ou “irmã” está a necessitar. Oremos. – disse a jovem Racilva pondo a mão na testa.
Vera quis se levantar e sair correndo, porém se deteve. Era à hora de ver e saber o que um espírito estava a precisar de Vera Muniz. E se era espírito de luz ou não. Racilva sem levantar os olhos, rezou e indagou do “espírito” o que ele estava a necessitar.
--- “Orações e paz” – disse o espírito apenas a Racilva.
--- Por que procurastes essa “irmã” há essa hora? – indagou Racilva compenetrada na mesa.
Racilva estava a sentar no birô em frente à Vera Muniz que tremia de medo procurando uma saída a qualquer custo para evitar a presença daquela alma ou espírito. Vera não podia acreditar que estivesse sendo seguida até mesmo no trabalho. Aquela “alma” do outro mundo estava com ela por alguma razão. Não fora a presença de Racilva, ela não saberia o que fazer afinal. E ter de ficar ali acomodada, com a mão na testa, era por demais enervantes. A moça continuava com o diálogo com o espírito e Vera não ouvia o que o além de dizia. Chegava a hora de mandar para os diabos toda aquela tragédia. Após dez minutos de conversa Racilva chegou ao fim concluindo que dona Vera Muniz devia ir naquela noite ao Centro Espírita Victor Hugo onde teria melhor explicação sobre aquela pessoa desencarnada e que precisava de auxilio.
--- Eu? Ir? Está louca? – reclamou a mulher devidamente apavorada.
--- É melhor. Ela já “saiu”. –respondeu Racilva.
--- Já saiu? E o que ela quer? – perguntou Vera Muniz do jeito alarmada.
--- “Ajuda”. Foi o que ela me disse. – tranqüilizou a moça.
--- Ajuda? Mas em dinheiro? – indagou Vera assombrada.
--- Ajuda em preces. Oração. Só isso. – recitou a moça.
--- Não é assim. A senhora tem que ir ao Centro. – falou Racilva.
--- Mas não é reza que ela quer? – perguntou alarmada a mulher.
--- Isso é. Mas no Centro a senhora terá mais orientação e o “espírito” terá doutrina. A senhora vai ter que seguir esses preceitos. – ressalvou Racilva.
À noite, quando Vera Muniz e Silas Albuquerque chegaram temerosos ao Centro Espírita, ali estava à vice-presidente da corporação POMAR, Racilva Pontes. Essa pediu a outra amiga que conduzisse Vera Muniz até a mesa de trabalho. A mesa era longa, com seis metros de comprimento e por dois metros de largura. O salão da Casa já estava repleto de adeptos do espiritismo. Uns alquebrados. Outros meditando. E alguns parecia se estrebuchar na cadeira do meio da sala. Eram esses os mais “doentes” do espírito, como Vera veio a entender depois, pois a primeira vista o que sobrava para a senhora Muniz era apenas pânico. A sessão estava prestes a começar, pois já eram sete horas. Vera Muniz e seu marido Silas Albuquerque foram levados a sentar em cadeiras postas junto à mesa. Eles ficaram postos de costa para os que já estavam sentados nos bancos no meio do salão. A casa era de seus dez metros de largura por trinta de fundo. Após a sala de reuniões tinha outra saleta onde se dava passe. Após a saleta havia um quarto com uma cama de primeiros socorros e mais instrumentos para medir pressão. Uns dois armários eram postos com medicamentos para eventuais desmaios. Depois dessa saleta havia outro quarto sempre fechado. No quintal da casa havia jardins e pés de frutas, como pinhas e mangas. De noite era tudo escuro do quintal da casa, exceto por uma lâmpada que era acesa, talvez a sessão acabar. A casa tinha um corredor pelo lado de fora onde pessoas se aglomeravam para ver os trabalhos dos médiuns.
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