- Maitê Coelho -
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Na sexta-feira à noite estavam reunidos Paredão, o Pescador, Racilva, o casal Vera e Silas e além desses, presente estava também Molambo ou Diomedes. Era a sessão que os médiuns faziam no apartamento de Silas e Vera. Após a leitura do “Evangelho Segundo o Espiritismo” teve início a sessão costumeira. As lâmpadas do apartamento foram desligadas, o televisor também havia sido desligado, não havia rádio na sala. Para completar a sessão, só havia uma vela e um copo com água além do Evangelho. Os trabalhos foram iniciados com Racilva na ponta da mesa que dava para ver o exterior do prédio, E não outra ponta estava Molambo. De um lado ficavam Vera e Silas e do outros Paredão e Pescador. Para o início dos trabalhos o homem “Paredão” fez uma prece conclamando espíritos de luz para protegerem os trabalhos e retirar os espíritos intrusos. E assim começou a segunda parte da sessão espírita com os trabalhos no maior silêncio apenas quebrado por uma buzina de algum carro que passava na avenida que era na verdade uma rodovia federal. Porém, para esse caso ninguém dava a menor atenção àquela hora ainda cedo da noite, caso de oito horas ou mais um pouco. As preces em silêncio todos os participantes da reunião faziam. E se notava os seis participantes de cabeças abaixadas como se estivesse a dormir ou quase isso. De um determinado momento um espírito “desencarnado” “baixo” no corpo de Racilva. Nesse ponto Racilva deixava de ser a mesma, pois com o segundo espírito no seu corpo ela não era mais a própria. E o “espírito”, de imediato, acudiu para outro “espírito” que estava a possuir o corpo do velho Molambo. E esse espírito “vingativo” apenas queria se vingar da “matéria” de Molambo. Ele estava ali há vários séculos querendo se “vingar” de Molambo. E não sabia nem mesmo o nome de Diomedes. Ele só queria mesmo era “vingança”.
Então, o espírito de luz que incorporou em Racilva perguntou ao espírito das trevas o que ele queria naquele corpo estranho. E o espírito das trevas respondeu:
--- Vingança a esse sujeito! – rosnou o espírito das trevas com a maior ira possível.
--- Escute irmão. .... – começou a falar o espírito que estava em Racilva e foi atrapalhado pelo espírito da escuridão.
--- Não seu o teu “irmão”! – esbravejou o segundo espírito que estava no corpo de Molambo.
De olhos esbugalhados o espírito do mal se levantou da mesa e bateu forte com o punho querendo medir forças com o espírito de luz que estava em Racilva. E esse respondeu de imediato.
--- Sente-se espírito mal!!! Esse homem que tu persegues não é o homem verdadeiro. Hoje ele é outro homem. Tu vens de incontáveis gerações a atormentar um ser que não é mais o seu ser! – falou o espírito de luz com altivez.
--- É ele sim!!! A roupa não muda o homem! Ele está assim para me iludir!! Mas não fará mais! – rosnou o malfazejo espírito.
--- Larga esse corpo que não é teu e nem de quem procuras! Tu estas condenado a viver na escuridão! Larga imediatamente esse corpo e vai para outra esfera. Eu te acompanho! – gritou o espírito de luz.
Verdadeira gargalhada assolou o recinto fazendo estremecer todos os lustres dependurados. O espírito relatou por fim que aquele “guerreiro” era o comandante de aldeia onde os seus também “guerreiros” foram dizimados. E todos eles estavam ali com o líder das tropas, que era ele, presentes. E queriam tão somente vingança. Em resposta o anjo da luz acoitou uma chama queimante em cima de todos os outros espíritos para amortecer a sua força e dizendo em seguida com toda raiva possível:
--- Saia desse corpo espírito obsesso! Procura o teu caminho! Eu sou Emmanuel e te ordeno! – declarou o espírito de Emmanuel.
Depois de finda a sessão noturna o médium “Paredão” explicou que ninguém se perturbasse, pois no mundo encarnado e desencarnado havia inúmeros seres e que a subjugação era uma influencia tão forte sobre a mente de um médium que este não mais raciocinava nem agia por si mesmo, passando a influência dos espíritos obsessores.
Depois desse caso de desobsessão de Molambo o mediu “Paredão” reconheceu nele um forte mediu e precisaria ter mais conhecimento da doutrina espírita para ser um verdadeiro médium. O homem, que não sabia o que tinha ocorrido com ele, perguntou a “Paredão” como faria para conhecer a doutrina. E “Paredão” disse-lhe.
--- Lendo, irmão! Lendo! Tem muitos Livros que você pode ler nos dias atuais a começar pelo Livro dos Espíritos. Não se importe por não saber o que lhe aconteceu nessa noite. Todos os médiuns têm ou não clarividência. – respondeu “Paredão” a sorrir.
Muito embora inconsciente para o que houve com ela de encarnar Emmanuel, Racilva relatou que nos atuais tempos modernos o espiritismo considera a Obsessão o mau do século. As suas seguidas manifestações fogem ao conhecimento do enfermo se tratar corretamente. E citou o caso da Anneliese Michel que foi transformado em filme. A moça teria tido um sonho a Maria, mãe de Jesus onde a Santa Mãe de Deus lhe teria oferecido duas opções: a de se ver livre que a atormentavam ou a de continuar sendo atormentada por eles – os espíritos - para que as pessoas soubessem a ação do mal. A moça, de dezesseis anos, preferiu a segunda alternativa. Desse modo a obsessão consentida foi uma missão de vida.
Nos dias seguintes, para onde caminhava Molambo sempre estava com um livro de publicação espírita. AE não deixava passar a pergunta que lhe faltava de quem era esse ou aquele. Ele continuou a estudar profundamente o espiritismo como um exemplar médium. Não raro, em reunião no apartamento de Vera estava Molambo a ler um trecho do Evangelho Segundo o Espiritismo ou mesmo de outra obra que ele acabara de “descobrir”. E dessa forma Molambo conseguiu ler autores antigos e modernos que escreveram sobre o espiritismo, como Chico Xavier ou Geazi Amais, esse, autor do livro “Apometria”. Após esse tumultuoso caso de tal enigma podia-se dizer que o médium Molambo já estava pleno da doutrina espírita, capaz de falar em publico sobre o espiritismo. Até mesmo o nome Molambo ele adotou com sendo próprio, pois já se falava que no magnetismo do homem todos tinham mais vocação em ouvi-lo dizer ou falar.
Durante o dia, Molambo estava a dirigir o automóvel de Silas Albuquerque, tendo sempre um livro espírita à mão coisa que com o tempo o perseguia vorazmente, e a noite, ou estava na sessão do Centro Espírita, ou em alguma casa onde se fazia costumeira reunião ou mesmo no apartamento de sua chefa Vera Muniz a debruçar em uma mesa redonda com um pacote de livros emprestados, doados ou mesmo comprada por ele. Vera Muniz estava no seu quinto mês de gravidez e foi quando chamou ao seu escritório o marido Silas Albuquerque tendo como companhia o velho Molambo. Ela teve a dizer nessa conversa que eles estariam em viagem dentro de quinze dias para a Itália. O esposo de Vera já sabia dessa viagem. Porém Molambo foi pego de surpresa:
--- Mas eu minha senhora? – indagou espantado o velho.
--- É. Você mesmo. Os documentos já estão em cima da minha mesa. – sorriu Vera Muniz.
--- Eu não sei nem onde fica esse Estado. – clamou inquieto o velho Molambo.
--- Não é Estado. É um País. E você. Estamos conversados. – sorriu a mulher.
--- Ô com os seiscentos. Itália? – reclamou Molambo.
--- Bem. Se não quiser ir, não vai. E perderá a oportunidade de ver uma exposição de livros espíritas. Vai ou não? – indagou Vera Muniz.
O velho ficou a meditar, meditar. E, pela exposição de livros espíritas ele então se decidiu e de repente declarou.
--- Onde fica esse Estado? – sorriu Molambo para vera consentindo em ir.
--- País. Fica próximo. ...É em Roma, terra do Papa! – sorriu a moça a dizer o local.
--- Terra do Papa!!! Caramba! – relatou por sua vez Silas Albuquerque cheio de orgulho.
O velho sorriu e depois de afirmar positivamente ainda perguntou de sobressalto.
--- E o patrão vai também?- indagou Molambo cheio de surpresa e graça.
--- Vai. Ele vai. E você vai ser o cicerone dele! – sorriu Vera ao dizer tal expressão.
--- Vou o que? – indagou abalado o velho.
--- Deixa pra lá. Arrume-se!!! – respondeu a mulher para o velho Molambo.
--- Sim senhora. Sim senhora. Já estou arrumado. – sorriu o velho tirando e pondo seu chapéu.
--- Calça, camisa, paletó, meias, sapatos e cachecol. – sorriu a esposa de Silas.
--- Cache o que? – indagou espantado o velho.
--- Deixa como está. Silas diz o que você deve levar. Hoje, no apartamento. Certo? – perguntou a mulher com a barriga bem proeminente à Molambo.
--- Tá certo. Tá certo. É pena porque eu vou perder as reuniões do Centro. – reclamou, contudo o velho Molambo.
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