domingo, 31 de março de 2013

"NARA" - 30 -

- Nastassja Kinski -
- 30 -
ÁGUA
Na manhã de segunda-feira, ainda cedo, os vaqueiros tangiam o pouco restante da boiada para deixar passar o caminhão da água e despejar o seu salvador conteúdo no tanque de armazenamento feito já de há muito pelos parentes já mortos do criador Amaro Borba Castro. O motorista, cujo nome era Salvador, já bastante suado, sem camisa e tão somente com os mosquitos lhe atormentar, buzinava sem parar para espantar o resto da manada. Salvador viajara a madrugada toda para garantir a água como sustento das reses ainda resistentes à seca braba que assolava o interior do Estado. Salvador era um jovem homem baixo, porém atravancado e forte. Não falava muito. Mas dizia o que pensava. Talvez por isso, o motorista se deu bem com o criador, homem justo e de há muito a viver e conviver naquele insólito recanto interiorano. Naquele momento então Salvador, já tendo recebido o pagamento pelo caminhão com água não vira o seu Amaro Borba e tendeu a indagar ao vaqueiro:
Salvador:
--- O chefe? – indagou o motorista para saber se o dono da fazenda estava..
O vaqueiro, de imediato, falou se virando então para o motorista enquanto tangia o gado.
Tomaz:
--- Cidade! – respondeu o vaqueiro levantando o braço para dizer ter seu patrão saído.
Salvador não entendeu direito e quis saber se o patrão teria ido para Santa Cruz e o vaqueiro responde que não.
Salvador:
--- Lá? - apontando a cidade de Santa Cruz.
Tomaz:
--- Não! Cidade! Capital! – respondeu o vaqueiro com o braço comprido para o alto e a tanger as vacas.
O motorista então coçou o pescoço e não se podia saber se era por questão das moscas ou um problema outro surgido da noite para o dia. O certo foi o motorista bater as pernas no chão para então descansar da labuta ou não. E uma mulher veio de dentro da casa querendo saber se o motorista queria tomar alguma coisa. E foi a perguntar:
Mulher:
--- Moço? Água? – indagou a mulher já com a quarta na mão.
Salvador:
--- Aceito! – respondeu o rapaz a espantar as moscas de cima dele.
E a mulher entornou na caneca uma porção de água não deixando de olhar com a sua cabeça abaixada para o homem. E perguntou:
--- Bom? – quis saber a mulher vendo a caneca quase cheia.
O rapaz, então responde tangendo as avarentas moscas.
Salvador:
--- Checa. Tá bom. – respondeu.
Mulher:
--- Café? – perguntou a mulher.
O motorista ainda estava a beber água e não pode falar respondendo com um balançar de cabeça. E, depois de algum tempo a mulher retornou com o bule de café dando novamente a caneca e pondo o café dentro da mesma. No momento a mulher indagou se ele queria comer algo. O rapaz disse sim. A mulher de meio porte deu a ele uns biscoitos. Tendo feito tudo isso, ela voltou ao interior da casa grande. Após tomar o café o homem ficou a passear pela roça enquanto o caminhão despejava seu conteúdo no interior de um tanque enorme. Esse tanque quando cheio dava muito bem para quatro meses ou mais, se houvesse irreversível seca. Andando pelo meio de cercado Salvador chegou a dizer ao vaqueiro Tomaz.
Salvador;
--- Um mundão de terra,. – falou de olhos fixos o motorista.
Tomaz.
---Sim. Bem ao longe tem a serra. – falou o vaqueiro a observar o gado.
Salvador:
--- Serra! – falou o rapaz pensado na imensidão de terras.
De vez uma jovem moça surgiu à porta da casa grande e olhou depressa para rapaz mesmo estando distante para qualquer conversa. Salvador sem querer, escorado em uma cerca com os dois cotovelos. Ele olhava o caminhão e, de repente notou a figura da mocinha. A moça sorriu leve e entrou correndo mais para dentro da casa grande. O rapaz não se preocupou com o caso e se voltou para o vaqueiro e falou das noticias da capital.
Salvador.
--- O senhor conhece a cidade? – indagou o motorista ao vaqueiro.
Tomaz:
--- Já estive lá. Terra muito vasta. Não tem açude. Eu não ambiento num lugar como aquele. – reportou o vaqueiro.
O motorista passou a mão no pescoço e levou um tempo sem falar. Outro vaqueiro chegou a cavalo quase depressa e pulou fora deixando a montaria a sair sem nada mais. Salvador ficou apenas a observá-lo enquanto Tomaz, o outro vaqueiro ficou calado esperando as novidades. O novo vaqueiro, por nome Anselmo virou a cabeça para o lado da serra e, por fim, disse o que tinha a dizer. Ele estirou seu braço e declarou apenas:
Anselmo:
--- Três. Um é garrote. Perto da entrada da serra. - e se amoitou com a cabeça abaixada.
Tomaz ficou a pensar e se virou para o lado do penhasco e se apoiando na cerca com seu braço esquerdo, ficando a matutar. Após um pedaço de tempo Tomaz resolveu falar e indagou de Anselmo se ele conferiu os ferros. E o rapaz se levantou do seu acocorado respondendo após.
Anselmo:
--- Eu conheço o gado do doutor. – isso foi o que disse com voz abusada.
Tomaz calou. Ele sabia de gado perdido por aqueles lados do penhasco. E ficou um bom tempo a matutar. Não seria conveniente chamar seu Amaro Borba. Bem melhor ir à Capital. Mesmo assim Tomaz procurou conversa para afirmar como as vacas morreram. E se o outro vaqueiro teria outra conversa.  Tomaz cuspiu de lado deixando a mescla de fumo presa na banda da cara por entre os dentes carcomidos de tabaco. E Tomaz se acocorou por seu lado com um cavaco de pau na mão direita a fuçar o chão. Em alguns segundos ele olhou para os fins da terra onde a madrugada despertava.  Um tempo e ele olhou para Salvador, o motorista. Ele olhou e pensou a seguir não dizer coisa alguma. Nesse momento o vaqueiro Tomaz pegou as rédeas do seu cavalo, montou e saiu em disparada a buscar o gado morto nos confins da terra árida e endurecida. O segundo vaqueiro ficou a olhar e logo em seguida tomou as rédeas de sua montaria e largou atrás em busca do companheiro de lutas. Salvador, o motorista, ficou para trás escorado na cerca a olhar os dois vaqueiros. Em instantes a moça nova se acercou com um bule de refresco na mão e disse ser para ele aquela garapa feita de umbu. O homem por pouco não rejeitou,  pois estava satisfeitos com o café e os biscoitos oferta da mulher da casa grande. Mesmo assim fez de conta que nada tinha de ser satisfeito e aceito uma caneca. Ele olhou para a pequena donzela e sorriu falado após:
Salvador:
--- Obrigado. Nem era preciso. A sua mãe me trouxe café. – sorriu o motorista.
A mocinha também sorriu e declarou logo após:
Moça:
--- A mulher não é minha mãe. Ela é viúva. Eu sou das bandas de baixo. – e fez com a mão um pouco estendida de onde ela era.
Salvador sorriu e tomou uma caneca de umbu. A moça ficou parada a sua frente e sorria por tudo e por nada. O homem foi quem perguntou a seguir.
Salvador:
--- Mas a senhorita mora na casa? – indagou sem esperteza o motorista.
Moça:
--- Eu me chamo Margarida. E moro na casa grande. - sorriu a pena com os braços cruzados para trás.
Salvador:
--- Faz tempo? – indagou o motorista.
Margarida:
--- Desde pequena. Eu sou filha do homem. Seu Amaro. Mas ele mantém segredo. – relatou a moça.

sexta-feira, 29 de março de 2013

"NARA" - 29 -

- Halle Berry -
- 29 -
PEDIDO
Então o rapaz ficou sem jeito do que dizer naquele instante. O homem da “prestação” bateu à porta e dona Ceci de imediato foi atender. Era uma prestação quinzenal e a senhora pediu ao mancebo que esperasse um pouco.
Ceci:
--- Espere! Volto já. – disse a mulher e retornou ao seu quarto onde foi buscar o dinheiro, como era o seu costume de fazer.
O transitar da senhora era coisa engraçada. Mulher de porte baixo, corpo – quem diria? – um pouco forte. E quando a senhora Ceci passava pra lá e pra cá, recitava uns versos e ninguém sabia o que. Foi de essa forma ter dona Ceci feita naquela manhã ensolarada de domingo. Com a cabeça abaixada e o seu cantar de forma gutural a senhora foi e voltou com a espécie na mão de forma trancada e quem olhasse não  saberia dizer por qual motivo.  Ouvia-se às vezes a senhora  pronunciar entre seus “lá lá lá” uma palavra de quem teria a dizer de “voltar já”. Enquanto isso e de repente Nara questionou seu pai para trocar palavras com Eurípedes.
Nara:
--- Vai lá ! Pergunte a ele o que tem a dizer ! – falou a moça meio abusada.
E o velho, de qualquer modo, respondeu a sua filha.
Sisenando:
--- Que? Eu tenho que dizer? É ele quem vai falar! – respondeu o velho um tanto inquieto.
E a moça não custou nada e já estava ao lado do seu namorado com a corrida mansa feita naquela hora. E ao chegar ao lado do namorado, apenas cutucou o rapaz para ele dialogar com seu pai.
Nara:
--- Pergunta! Vai.! – declarou a moça de forma sussurrante ao namorado.
Nesse instante Nara estava intranquila e abusada se apoiando ao braço de Eurípedes. Fez um sorrir então para o seu pai.
Eurípedes:
--- Quem? Eu? E o que vou dizer? – indagou o rapaz a sua bela dama.
Nesse ponto a virgem perdeu as estribeiras e meteu o chute na perna do seu namorado. O rapaz soltou um leve grito e se baixou para passar à mão à perna, justo no ponto onde levou o coice. No momento voltava da porta da rua onde estava a pagar ao prestamista a senhora Ceci e se incomodou com as travessuras da filha quando indagou:
Ceci:
--- Que diabo é isso menina? Eles querem casar! Ora já se viu! – responde depressa a mulher ao seu marido tecendo a mão para o alto.
E dona Ceci saiu cambaleante para o interior da cozinha O esposo de Ceci ficou extasiado. E por fim foi sua vez de espanto:
Sisenando:
--- Casar? Essa moleca? E querem noivar? Ora, pois tá certo! Vamos beber o vinho! – gargalhou o velho correndo a se abraçar com o noivo de sua filha.
À tarde, depois do almoço regado a vinhos e outras coisas a mais, muita conversa, Eurípedes um pouco tonto, o velho Sisenando a gargalhar ao fim de cada assunto, prova de que o homem estava pra lá de “quente”, todas as coisas tiradas da mesa, o bebê a choramingar, Nara preocupada com as fraudas e assim foi sendo levada a vida com os parceiros a combinar um acerto de Eurípedes ser convidado maçom. Esse era o presente de casamento gargalhou o velho Sisenando a cada assunto dado. Eurípedes já estava com a perna doendo, a princípio do coice de sua noiva e então das tapas levadas do velho. Quando estava um pouco meio zonzo Sisenando tinha hábitos de dar tabefe na perna com quem conversava. Quem não tivesse cuidado ficava com a perna dolorosa. E nesse dia foi assim. Até o momento onde todos foram repousar e conversar leves tolices na sala de entrada. O sono chegou há pouco tempo. O velho Sisenando adormeceu com a cabeça pendida para um lado em uma das outras cadeiras almofadas. O rapaz aproveitou o ensejo e tocou ao piano uma melodia dolente, valsa por sinal, e Nara ficou a escutar tão doce melodia. Foram várias melodias, todas em ritmos de valsa. Os colibris entoavam o seu cantar parecendo jogar com as emoções dos amantes. Uma chuva fina caiu sobre a parte da cidade e logo se desfez. Em toda rua era silencio sepulcral onde as aves voavam de canto a canto inseguras do seu destino. Pombos se ajeitavam nos seus poleiros com um cantar bem leve e tímido em seus acanhados pombais. Eles faziam esse gesto no cortejo do macho à fêmea. O penhor fruto dos amantes em acasalamento.
Na manhã seguinte, segunda-feira, Sisenando saíra para a repartição buscando à rua de trás onde havia um portão quase sempre fechado nas horas do dia. A sua mulher ficou lavando os pratos e sua filha Nara, cuidava do rebento fazendo os asseios cabíveis. Ao sair de casa, o homem se encontrou com um barnabé vindo de baixo da artéria e já bastante cansado. Era um caminhar antigo, mas dessa vez o barnabé mostrava-se exausto. Ao se encontrar com o homem Sisenando foi logo a indagar:
Sisenando:
--- Que andas fazendo por esses lados? – indagou Sisenando ao velho companheiro.
Barnabé.
--- Andanças. Eu trabalho no Palácio. E ainda não consertaram o trecho levado pela chuva, no Baldo. – reclamou o barnabé.
Sisenando:
--- É verdade. E o que se sabe é a falta de cimento! Estou pra ver! – respondeu o sexagenário.
Barnabé:
--- Todo santo dia é a mesma lengalenga. Já estou morto. – disse o outro suspirando a mais.
Sisenando:
--- Mas não fizeram nada? – perguntou estranhando o seu companheiro.
Barnabé:
--- Pouca coisa. Só para o Bonde transitar. Os caminhões entram pela pista lá no fim do mundo. – declarou plenamente suado o homem.
Sisenando:
--- Eu não posso fazer coisa alguma. Porém tem  quem possa. Eu vou denunciar a um homem e ele põe a boca no mundo. – disse por vez o amigo.
Barnabé:
--- É isso. Alguém me falou em ir para a imprensa. Mas uma andorinha só não faz verão. Eu acredito que vou morrer antes que se termine aquele reparo. – disse o barnabé todo cansado.
E ambos saíram a conversar até o ponto do desencontro na Praça Padre João Maria. Chegando à praça os dois homens se despediram e cada um foi para o seu lado. Ao chegar ao Grande Ponto bem próximo do Café desse nome, Sisenando se encontrou com um Irmão maçom e, depois dos cumprimentos, veio à história de fantasia ou veraz a ter o amigo lhe contado com bastante temor. Era hora de quase meia-noite onde os pássaros noturnos se escondiam para tão logo ressurgir na escuridão das tétricas sombras. No seu caminhar, o homem nem avistava a lua, pois a selênica luz se apagara por completo. O rijo de um tufão sacudia então todas as trevas do terror cruel e mortal.  As garras atrozes da maldição lhe feriam intensa e vomitavam o âmago do ser soturno. A noite de espanto horror crescia em um instante porfiado e cruel da maldição. Era então o instante das bárbaras mediadoras a pronunciar com os entes cruciais e já mortos. No espaço distante os vampiros dançavam em uma guerra sepulcral entre anjos e demônios. Tudo era sombra. E o vento frio enregelava as trevas da morte. E nesse conflito de ideias o homem caminhava por uma rua deserta e mais escura ainda quando, de repente, surgiu à sua frente uma figura sepulcral em forma de esqueleto a pertencer a uma dama noturna e vaga. Aquela monstruosa aparição penetrou no interior profundo da alma do Irmão da Opa. E ele nada podia fazer para o maléfico e assustador espectro. A sua pulsação interior ele a sentia, porém nada podia ser feito. E por um instante ele escancarou os olhos para o esqueleto de mulher e a viu ressoar um amargo fim na crueza do lado escuro do seu ser. Era um sentido mesquinho, cruel e ilógico diante do peso implacável de sua realidade. A noite terrível envolvia ambos os sentidos daquela mortal perplexidade de sua noção. Era por fim o dilema profano de uma brutal realidade.
Irmão:
--- Eu nunca acreditei em fantasmas. Mas desde aquele instante eu sei bem mais do que o imaginário diz. – falou assombrado o estranho Irmão da Opa.
O Irmão Sisenando, todo enrijecido ouviu deveras aquele depoimento do curioso amigo e nada respondia, pois em nada podia falar no instante de terror e asco. Para o velho maçom apenas corria o além onde cada criatura pode ser um instrumento do mal e do assombro. O vento frio da manhã cedinho enregelou o encanecido Sisenando e ele, por um instante se viu no soturno véu da escuridão da morte onde todos terão de ir um dia.
Sisenando:
--- E de quem era a tal esqueleto? – indagou o irmão da Opa.
Irmão;
--- Eu não sei. Eu não sei! – foi o que respondeu o outro Irmão.

terça-feira, 26 de março de 2013

"NARA" - 28 -

- Kristen Stewart -
- 28 -
NOS TRILHOS
E  o rapaz ficou sozinho na sala de vistas a contemplar o passado como a indagar o que ele teria feito de errado. O sol encandecia na rua em frente da moradia e meninos a saltitar, a brincar de um tema corriqueiro como sempre acontecia. O apito de trem se fez presente anunciando ter o comboio a passar. Duas moças alegres e de esmerado traje de domingo  seguiam por onde transitavam e sorriam sem tréguas como se fosse aquele recanto a maior maravilha do mundo. O homem do arroz doce passava a oferecer a sua bem feita mercadoria para qualquer um. Uma mulher em casa próxima gritava para o garoto:
Mulher:
--- Menino!!! – foi o grito ouvido.
E na sala continuava em silencio de pé e de forma patética o doutor Euripedes a fazer com as suas mãos um toque comum com os seus dedos. E dona Cecí falava com altivez em direção à sua filha e se introduziu no recinto alegando;
Cecí:
--- Levanta dessa cama e vai lá fora conversar com o rapaz! E deixa o menino aqui! Eu levo! – agarrou o menino a sair do quarto
A moça ficou mais uns segundos e com pouco tempo tentou sair do quarto quando ouviu sua mãe colérica a falar.
Cecí:
--- Chega! Vai embora! Ora! Não digo mesmo! – falou embrutecida a mulher.
E a moça deu os seus primeiros e inseguros passos de cabeça abaixada a olhar acanhada com seus meigos olhos de azul celeste e vendo o médico a se postar como se nada acontecesse. A face de Euripedes era tão engraça de fazer medo a qualquer mortal. E em um ímpeto Nara saiu a correr e se agarrar segura ao seu indeciso noivo ou namorada coisa que ninguém sabia ao certo a declarar. A virgem pôs sua face como a estar embebida no busto do rapaz e alí mesmo encheu-se de lágrimas. Com ternura e todo afeto Eurípedes acolheu em seus braços a sua eterna amada. E o tempo se foi para os longos caminhos da incerteza finda. As plenas nuvens do acaso vibravam com toda carícia e seguro afago. Os afetuosos e coloquiais pássaros da juventude gorjeavam um acenar diverso dos habituais. Tudo era afeto e verdadeiro amor.
Nara;
--- Por que você fez diferente? –  a virgem indagou magoada e falado em sussurro.
Eurípedes;
--- Eu? Mas eu só perguntei se você me aceitaria casar! – respondeu com ternura o rapaz.
Nara:
--- Mas não era para perguntar daquele jeito! – falou a virgem ainda em choro.
Eurípedes:
--- E tem jeito diferente de pedir a tua mão? – sorriu calmo o rapaz.
Nara:
--- Tem. Não sei como. Mas tem. – falou chorosa a virgem.
Ao meio dia já em sua casa o senhor Sisenando contou tudo ao reportar quando colheu de modo primordial no Mercado da Cidade. Retrocedendo um pouco: ao retornar de sua viagem ao Mercado, Sisenando trouxe uma bolsa com frutas, verduras e uma perna de vaca. Essa questão gerou uma bruta discussão com a sua mulher. Isso porque dona Cecí tinha preparado o almoço e abatido galinhas para todos, inclusive o médico Eurípedes. Quando Sisenando retornou da caminhada vinha todo sorridente com sua perna de vaca. Ele entrou pela porta da frente e deu um bom dia ao medico e passou à frente cheio de graças mostrando a perna tirada da sacola. A mulher do cidadão ao ver todo aquele pacote foi de encontro a Sisenando:
Ceci:
--- Você pensa que tem criada nessa casa?! – falou embrutecida a mulher, com as mãos nas ancas e os olhos esbugalhados.
O homem a sorrir foi dizendo à sua mulher:
Sisenando:
--- Perna de vaca! –mostrando a mulher com a porção na mão e os seus olhos brilhando mais riso na face.
Cecí.
--- Pois não trato! Matei duas frangas e tem bastante comer até demais! – discutiu bastante brava a mulher.
Sisenando:
--- Ora! O que eu faço com a minha perninha? – indagou o homem sem saber mais de nada com sua perna desembrulhada.
Cecí;
--- Jogue no lixo! – esbravejou a mulher.
E o homem ficou sem qualquer ação apenas conduzindo a perna de vaca em sua mão em direção à sua patroa. Dona Cecí, falando crueldade aos montes seguiu para a cozinha da casa nem se importando com perna ou outra coisa qualquer a estar naquele instante jogada na mesa ou mesmo a segurar o esposo. O coitado do velho senhor nada sabia o que fazer e se virou em um instante para um lado e estava naquele local o berço com a criança. Então, o velho prosseguiu em sua missão a levantar ainda a perna de vaca e ficou a olhar para o início do corredor da casa onde estavam Nara e o seu então namorado, o médico Eurípedes. Com uma cara de bobo, Sisenando, com a mão estendida para o alto e nela a perna de vaca olhou para ambos sem nada falar. Apenas e ficar como um bobo. E Nara, no seu lugar a estar com o seu pretendente noivo olhava para o seu pai com um riso declarado na face. Aquele quadro patético e lastimoso estava a continuar por alguns meros segundos e ninguém nada oferecia a dizer. Apenas Nara, seu noivo Eurípedes e velho ficaram a escutar coisa alguma. Foi nesse total instante, a sorrir do nada ter Nara se ajeitado toda e a sair na carreira para se encontrar com o seu pai, ele apenas confuso com sua cara estranha. A sorrir delirante a virgem chegou ao destino e pediu a mão de vaca para tratar.
Nara;
--- Me dê a mão, meu pai! É para tratar? Então pronto! – falou a moça a sorrir.
Dona Cecí se voltou depressa e logo estava com as partes das galinhas em suas mãos tendo de imediato falado ter ela mesmo a cuidar da perna e puxou depressa aquela parte tão desejada de comer deixando as partes das galinhas em cima da mesa. E reprovou então a sua filha.
Cecí:
--- Ora! Me dá isso pra cá! Vai cuidar do seu namorado! Tu tens mais o que fazer! – falou abusada a mulher com seu andar como quem cambaleia.
E a moça, sem noção, declarou em instante como se tudo ou nada ocorresse. Nara se mostrou disposta a tratar mesmo da mão ou perna da vaca. E segurou firme aquela parte do animal abatido e querer ela mesmo de tratar. Por sua vez a sua mãe se dispôs em não deixar, pois a moça tinha algo mais importante a declarar naquela hora. E dona Cecí falou seria:
Ceci:
--- Vai cuidar do teu namorado! E você, velho! Tens de declarar se aceita ou não o namoro dos dois! – falou brava a mulher.
Sisenando com as mãos bastante sujas de tanto pegar nas patas da vaca passou a se limpar nele mesmo, enxugando-se nas calças. E nesse ponto indagou mais preocupado:
Sisenando:
--- Quem? Eu? E Eurípedes está ai? – perguntou preocupado o velho.
E se virou para ver ao longe na sala de entrada a figura de Eurípedes. O rapaz parecia tranquilo e nada falou a espera de alguma questão. Ele apenas olhou para o piano a estar encostado à parede da sala. Sorriu um pouco e acenou com a mão levada a testa mostrando a seu Sisenando estar naquele local. O velho viu Eurípedes e não compreendeu do rapaz estar naquele lugar, pois quando Sisenando entrou em sua casa, ele não notou presença de alguém. No momento, o velho olhou para a sua filha como a perguntar se os dois estavam na sala quando ele adentrou a casa, mas não formulou pergunta. O velho apenas se dirigiu à sala com seus braços abertos para saudar o doutor e saber das novidades. Nara, sua filha, veio logo atrás. A mãe de Nara ficou na porta do corredor a dar para a sala de jantar, com suas mãos nas ancas e a vista perdida no horizonte da casa, À chegada de seu Sisenando à sala de visitas foi a perguntar  sem nada mais:
Sisenando:
--- Olá meu caro jovem. Como vai você? Nunca mais tinha te visto! – falou o velho ao moço.
Nara:
--- Meu pai. Tem algo de Euripedes que ele quer saber! – falou pouco assustada a moça.

segunda-feira, 25 de março de 2013

"NARA" - 27 -

- Eva Mendes -
- 27 -
DOMINGO
No domingo pela manhã, bem cedo do dia, quando ainda pouca gente havia no Mercado Público da cidade, alguns curiosos estavam a falar sobre o acidente da noite de sexta-feira na Praia de Areia Preta e de outras praias de Natal. Alguns chegaram a falar da praia de Ponta Negra onde moravam pescadores e vendedores de frutas, como mangada, caju, araçá além de peixe da pesca os habitantes da vila ou coisa a menos. Um homem chegou a dizer ter uma casa ao largo da praia onde ele pretendia passar o fim de semana. Esse homem, Antônio Justino, era um senhor rico, porém só andava de camisa e calças a calçar, às vezes, uma sandália em um pé e o sapato no outro (pé).  Mesmo assim, era um senhor de largas posses. Homem criador de gado em uma cidade interiorana, longe mesmo da cidade. Falava truncado como se estivesse começando a discorrer naquele momento. De porte alto, cabelos grisalhos, cor da pele branca, mesmo assim de tanto sol esse homem tinha a cor escurecida. Ele não só falava como também gesticulava com os braços para em seguida cruzá-los e ficar em silencio a mastigar a língua.  E quando começava a discorrer era de uma forma singular. Com os braços a jogar para cima, a gaguejar e logo após se recolher. Era assim a falar seu Justino. Tinha dias ele passava na capital. Em outros, na fazenda. E nesse dia falava apenas de Ponta Negra praia segundo dizia o mesmo:
Justino:
--- Ali está o futuro da capital. Pode apostar no que digo. Quando os americanos estiveram por essas bandas, eles gozavam as delicias do mar de Ponta Negra. – falava o velho e silenciava após.
Os mais céticos nada falavam e apenas ouviam o “velho” a falar. E o homem prosseguia após um momento de silencio com o negocio da residência da praia. Uma casa mais parecida com um casarão toda alpendrada onde se podia olhar o mar e suas preguiçosas jangadas. Ele falou de um desembarque havido em séculos passados por um histórico alemão Jacob Rabi e duzentos holandeses mais os índios Janduís.
Justino:
--- Foi mortandade de colonos no martírio de Cunhaú. Setenta fieis e o Padre André de Soveral. Foram todos trucidados na capela. Coisa triste. – cuspiu o homem para um lado.
O homem recolheu seus braços sobre os peitos. E começou a roçar o chão bruto. Se alguém duvidasse da chacina ele coçava a cabeça para depois falar alto da tragédia.
Justino
--- Meus avós contaram! É.... É...- (falava o bravo homem para em seguida calar). – Agora se ninguém acredita nisso eu nem me importo. – batia com suas mãos uma na outra.  
Uma pessoa perguntava ao “velho” que era esse tal Jacob Rabi. E ele apenas respondia sem nenhum remorso.
Justino:
--- Hein? Um ‘cabra’ safado! Pronto! – respondia o velho a cutucar o chão pondo os braços encruzados nos seus peitos.
Nesse meio tempo chegou ao Mercado o senhor Sisenando a procura de carne verde quando levaria um cerca porção. A passar pelo Café do Mercado se topou com o velho Justino. E foi aquele abraço forte demais, uma vez ser Justino um antigo maçom apesar de estar ausente das sessões. As conversas giraram em torno da Loja e pouco depois Sisenando indagou como estava a casa grande de Ponta Negra. O velho abaixou a cabeça para em seguida levantar com o sorriso afável a declarar:
Justino;
--- Irmão! Vai tudo bem! Ainda ontem, com as notícias preocupantes eu andei por lá. Eu vi o desastre sofrido por aquela gente pobre. Mas a nossa casa estava na régua. – falou contente.
Sisenando.
--- E no compasso? – indagou a gargalhar o homem.
Justino.
--- Pois sim. Na régua e no compasso. A nossa casinha fica mais para longe da maré. Eu fico a pensar: será que o mar vai subir mais? – perguntou o homem com certa preocupação.
Sisenando:
--- Eu não sei. Francamente não sei! Os engenheiros estão empenhados desde agora com essa súbita tempestade onde várias pessoas perderam a inevitável vida. Quando não foi assim, os que sobreviveram, perderam tudo ou o resto da sobra. – falou o homem quase a chorar.
Justino:
--- Quem perdeu se não perdeu a vida, ele perdeu tudo. Um pescador da vila perdeu a mulher e três filhos. Teve outro que foi a mesma sina. E muitos outros mais. Os jangadeiros escaparam por estarem no mar. Foi uma coisa horrenda. – relatou enervado o velho.
Sisenando:
--- Interessante! O mar secou e subiu de repente? Como se deu essa devastadora tormenta? – indagou preocupado o homem.
Eurípedes chegou à residência de Nara por volta das 08,30 horas da manhã do domingo. A moça estava a dedilhar o violão com o seu precioso filho a dormir no berço amado. A mãe de Nara estava na cozinha a preparar o almoço. Ao chegar à porta Eurípedes temeu bater palmas para não quebrar o tranquilo sono da criança. Ele apenas deu um alô vagaroso e entrou na sala de visitas. A moça fez sinal de que o infante estava a dormir. E sorriu até. Eurípedes compreendeu perfeitamente o sinal por Nara feito. A moça abaixou o violão e perguntou ao rapaz se já tomara café. Ele fez que sim, como era de hábito. No mesmo instante dona Ceci veio de dentro da cozinha a enxugar as mãos em um pano e falou baixinho para o rapaz a indagar se ele trabalhou na noite passada. O médico fez que sim. E logo após, muito bem a sorrir, a mulher disse ter de entrar pois a galinha estava sendo preparada. E sorriu. O rapaz não fez questão. Ao se sentar na almofada de veludo do piano, o rapaz nem ao menos tocou em uma tecla e quis apenas jogar conversa fora com Nara. A manhã era clara de sol a queimar horas depois, uma vez não haver presença de nuvens. O verdureiro passou à porta da casa e de um modo tranquilo ele apresentou as tradicionais verduras, frutas entre coisas simples de se oferecer. Dona Ceci veio depressa e foi marcando o necessário. Esse tempo demorou um pouco. O garoto da gazeta veio depressa e entregou o jorna matinal. Uma vizinha também veio às compras ela aproveitando a estada do verdureiro a despachar em plena calçada. De dentro da sala Nara estava a conversar com Eurípedes sobre coisas triviais. E esse, a um tempo teve de declarar ser importante aquilo a declarar. E foi em frente.
Eurípedes:
--- É que eu tenho um caso muito serio para ajustar. - falou o rapaz sem ao menos sorrir.
Nara não entendeu e esperou Eurípedes continuar. O rapaz olhava para a moça batendo os dedos uns nos outros e continuou sem conversa. A moça ficou inquieta e perguntou de pronto o tanto a afligir o rapaz. Ele deu um leve sorriso e foi a pergunta:
Eurípedes:
--- Você quer casar comigo? – perguntou de imediato o mancebo.
A moça fez uma cara de não ter entendido muito bem a pergunta feita de modo suave e indagou por sua vez:
--- Que? – perguntou a donzela com uma cara de estúpida.
Eurípedes:
--- Case comigo! – relatou o rapaz de forma bem tranquila.
Nessas alturas a donzela não sabia se sorria ou se chorava. E pôs um lenço na boca, abriu os olhos e se derreteu na gargalhada chorosa. Deu um passo pra trás e ao mesmo tempo sorria e chorava. Aconteceu de ter levado um tombo em uma cadeira onde a moça abaixou a sua cabeça no braço do assento a sorrir e a chorar. E era um choro distante e longo por ter o rapaz indagado ter sido o pedido feito de modo informal ou não. A moça delirou até o ponto de indagar ao rapaz;
Nara:
--- Você é louco? Isso é coisa que se faça? – indagou a moça num ímpeto de coragem.
Eurípedes:
--- Eu perguntei. Você diz sim ou não! – proclamou o rapaz pensando um “não”.
A moça se levantou e pegou o seu pimpolho e se largou para o seu quarto rogando a Deus que passasse esse pesadelo, pois não queria dizer ao rapaz um “sim” tão tempestuoso. E foi chorando a todo custo até a sua mãe chegar de fora e indagar a Eurípedes se o menino estava sujo. O rapaz não sabia o que dizer. A moça foi embora e não lhe respondeu a proposta.
Eurípedes:
--- Eu perguntei se ela queria ser a minha esposa! – disse o homem com gesto de aflito.
Ceci:
--- Ora já se viu! E ela não quer? Ela está a namorar outro? Espera! Espera! – disse a mulher com sua carga de temperos e frutas adiantando casa adentro.
Dona Ceci chegou ao quarto de Nara onde encontrou a filha a chorar de forma desregrada e foi logo à pergunta.
Cecí.
--- Como é? O que disse ao rapaz. – indagou a mulher de forma brava.
Nara olhou para a sua mãe e tornou a chorar com a cabeça no travesseiro para ninguém a ver como em um conto de fadas.

domingo, 24 de março de 2013

"NARA" - 26 -

- Victoria Justice -
- 26 -
CONVERSA
Com o passar dos minutos com Nara sempre presa a seu braço, Eurípedes ouviu do professor certas recomendações e chegou o mestre a indagar de quantos outros amigos continha Euripedes que soubesse de musica. E Nara puxou em seu braço para ele ouvir baixinho.
Nara:
--- Tua irmã! – falou a moça com brandura.
O rapaz não entendeu muito bem, mas logo a seguir ele complementou o assunto em sua memoria e foi dizer ao mestre ter uma irmã.
Euripedes:
--- Na verdade eu tenho uma irmã que está concluindo os estudos na Escola onde o senhor ensina. – falou o rapaz.
O homem ficou preocupado em saber o caso e mesmo assim procurou o nome da moça.
França:
--- Aluna? Como se chama? – indagou o mestre.
Eurípedes:
--- Rócia. Ela está no último grau de ensino no manejo do piano. Mas Rócia toca também violino. É uma eximia estudante. – reportou o rapaz.
O professor sorriu e se alarmou de repente.
França:
--- O senhor é irmão de Rócia? Não precisa dizer mais nada. Tem uma família de eruditos. – falou ele com entusiasmo.
Nara sorriu de contente e abraçou bem forte o rapaz por toda a sua cintura. O professor Carlos França teve um instante de preocupação. Ele sabia de um festival da Juventude e por isso mesmo o rapaz estava interessado em alguém para ministrar aulas para os seus componentes, com certeza sobre música. Todavia o professor não se introduziu de imediato no assunto. Ele queria ir mais distante aproveitando o colóquio com respeito ao código musical. A bem saber, para o mestre do ensino a linguagem musical em verdade era seu meio de expressão  de um mundo interior, não o exterior que rege seu mundo de ideias e imagens. Então com muito vagar o mestre salientou:
França:
--- Meu rapaz. Eu tive uma ideia que pode ser muito bem aproveitada. Para o final do ano vai haver em Natal um concerto onde várias orquestras vivenciarão aqui suas metamorfoses musicais a representarem seus Estados de origem. Seria oportuna a presença de vocês. E eu aceito dizer:  Nara, ao violão, Rócia ao violino e, naturalmente o nobre cavalheiro. E digo mais: com certeza a poesia a encantar terá o primo de suas mãos a verter em som com orquestra a bela melodia de Rapsódia em Blue. – falou o mestre ao ouvir tal suspense.
Após alguns minutos de absoluto silencio, o médico voltou a falar com maestria e alegou ter ele algumas composições de George Gershwin, como “Canção de Ninar” – Lullaby – feita apenas para piano, O médico Eurípedes disse ter tocado essa melodia por varias vezes e a sua irmã Rócia sempre o elogiava uma vez ser uma canção bastante triste e acalentadora para se por à dormir as criancinhas em seus berços dispostos em almofadas. E logo após sorriu.  
Eurípedes;
--- Tem várias melodias desse autor falecido há poucos anos. Uma delas é a “Canção de Ninar” conhecida por Lullaby feita apenas para piano, O senhor deve conhecê-la. A minha irmã fica exultante quando a ouve. - sorrio o médico pra não ficar acabrunhado.
França:
--- Sim. Eu a conheço. É uma bela melodia, porém tristonha. – refletiu meio confuso o mestre.
Nara:
--- Toca um pouco essa melodia. Eu mesma não a conheço. – pediu a moça com sentimento.
Eurípedes esteve em dúvidas. Porém, com uns instantes resolveu assumir o comando da festa a dizer ser aquela canção para ninar o pequeno garoto a dormir sono profundo. Nara sorriu demais e o professor se pôs de pé de forma solene, um cachimbo na boca como se estivesse a fumar, a mão direita a pegar o cachimbo, a cabeça ligeiramente abaixada e fez-se quieto rindo apenas. E a continuação o jovem médico entoou sua majestosa canção com acordes delicados e cadenciosos a envolver o ambiente de pura e embriagadora  sisudez nostálgica. A chuva fina e passageira caiu sobre parte da cidade colhendo mágoas eternas e ilusórias dos entes vivos a se mostrar a correr depressa para se ambientar em um acolhedor ponto de comércio por alí existente. Dois militares a andar depressa e a conversar algum motivo. Mocinhas abriam as abas das janelas de suas casas e, sorrindo sempre olhavam o movimento da rua onde as donzelas moravam. Um cão gritou como se tivesse sido atropelado. Galos a cantar em tons altaneiros advertindo como a bradar a chegada da chuva. Gente na Rua Ocidental de cima a erguer as paredes de suas casas passadas em recente destruição. Um touro mugia. Era o sinal da forca a qual era submetido. A máquina do trem fazia movimento reverso para voltar à tração. Um homem trabalhava em um capinzal na parte baixa do lugar a limpar o lixo posto em seu terreno pela maré alta da sexta feira. Um bêbado dormia o seu sono sepulcral em estado de embriaguez posto na Feira do Paço. Enfim, tudo era nostálgico e sombrio. Ao solo de um piano vertical o jovem médico fazia-se presente a entoar em um compasso sutil os acordes da melodia sentimental. Tudo era finito e calmo para o homem a delirar os seus anseios de quando criança fora. Anseios mil afogavam a mente da jovem moça como também estivesse a dedilhar aquele tema de lembrança esquecida pela voracidade do tempo. Após tudo se voltou ao momento exato da lembrança.
Nara:
--- Belo. Belo. Muito belo mesmo. – falou com suavidade a moça.
França:
--- Sim. Uma melodia terna entoada por um requintado mestre. – disse por sua vez o ilustre professor.
Eurípedes sorriu a seu modo e pôs as mãos nas suas pernas a olhar indiferente para o piano por não ter nada a dizer. Passado um tempo ele então falou com voz terna e meiga.
Eurípedes:
---  Lullaby! – e sorriu sem maestria.
Dona Ceci voltou de dentro da sala de jantar a trazer xicaras de um quente café. A mulher coou o café logo após chegar da Missa na Catedral. O pessoal se sentiu agradecido com a tal ação da senhora Cecília. Nesse ponto, um garoto do jornal do dia chegou apressado e deixou um exemplar quase à porta. E logo saiu com bastante pressa. Nara apanhou o matutino e viu a notícia do acidente da Praia de Areia Preta. Tão breve leu a nota com imensa rapidez, a moça discorreu a todos os presentes.
Nara:
--- Vejam! Coisa triste! – se tomou por um arrepio ao relatar tal fato.
O som de uma porta a se fechar voltava tudo ao habitual silêncio. Um cão ladrou. Dona Ceci viu a trágica noticia e lamentou sentida. O professor França também olhou com pressa o dizer do acontecido. A foto foi tirada já mesmo do sábado pela manhã para por mais veracidade à história. Nem tudo a matéria relatava. Talvez por falta de tempo para o repórter descrever o ocorrido na noite/madrugada daquele mesmo sábado. O médico também olhou a matéria e com pouco tempo se esforçou em relaxar os músculos. Com certeza ele ainda se sentia dorido pela tensão de ter passado a noite toda a cuidar dos pacientes da maré gigante.    
À hora do almoço o professor Carlos França já havia saído da casa de Nara e nem ao menos esperou o retorno do seu amigo e “Irmão”, o senhor Sisenando. Apenas o professor França se explicou ter outros assuntos a tratar e marcou o próximo encontro de Nara e Eurípedes para a próxima semana. Com minutos de atraso, seu Sisenando voltou à sua moradia e chegou cheio de assuntos para contar. A notícia da praia foi o tema principal. Ele se lembrou de ter a gente enferma sido encaminhada ao Hospital onde Eurípedes trabalhava. E indagou ao médico:
Sisenando:
--- O senhor estava no Hospital? – indagou meio vexado a Eurípedes.
Eurípedes.
--- Sim. Eu estava. Muita gente machucada. E tinha também de outras artérias. Eu mesmo não me ative ao processo. Não havia tempo para tal. – respondeu o medico enquanto almoçava.
Sisenando.
--- Pois foi isso. Na rua é só no que se fala. Eu estive no local da tragédia! Coisa sem explicação!  - relatou o homem enquanto traçava um pedaço de galinha.
Nara:
--- Ponche? – indagou a moça ao rapaz a oferecer ponche para descer ao estômago a comida.
Eurípedes:
--- Pouco. – salientou o rapaz fazendo gesto com a mão esquerda.
Dona Ceci cuidava de trazer a comida a colocar em pratos fundos e deixando os pratos rasos para se por o restante a sobrar. Era como se fosse o lixo com certeza. A moça Nara, por fim se sentou, com o menino no berço posto ao lado. O rádio ligado dava novas informações sobre o trágico acidente da noite de sexta-feira.