- KIKO PEGORARO -
- 22 -
VIOLINO
Naquele
momento Nara se lembrou de qualquer coisa. Uma: foi a de perguntar se a irmã de
Eurípedes sabia tocar algum outro instrumento, fora o piano. O rapaz estava
entretido por mais uma vez em rebuscar a ideia a procura de uma melodia mais ou
menos antiga e ouviu o acerto de Nara, porém não entendeu muito bem. E a moça
perguntou por mais uma vez se Rócia tinha algum outro órgão que lhe fizesse
tanto afeto. Nesse instante Eurípedes atentou para a questão e relatou:
Eurípedes:
--- Violino.
Ela sempre toca violino. – respondeu o rapaz enquanto percorria o teclado.
Nara:
--- Violino?!
Você tem ciência que toca violino? – indagou perplexa a moça.
Entre uma
resposta e outra da conversa ele sempre a dedilhar o piano e sem tirar a vista
do teclado respondeu;
Eurípedes:
--- Sim. Na
escola ensinam toda sorte de instrumento. O aluno é quem escolhe o que dá certo
com ele. Ela escolheu o piano, mas toca violino. – argumentou o rapaz
pesquisando as notas.
Nara;
--- Você não
está percebendo o que eu falo. Droga! – respondeu a moça com a boca trombuda.
Em dado
instante um rapaz bateu à porta da casa de Nara e ela se deslocou até o ponto.
O rapaz era uma espécie de enfermeiro ou ajudante de enfermeiro. Ele estava com
pressa. E foi somente Nara chegar à porta e o rapaz indagar com o máximo
vexame:
Moço:
--- O doutor
Eurípedes está? – perguntou o moço muito vexado.
Nara:
--- Sim. Um
momento. Eu vou chamá-lo. - responde Nara.
E caminhou
para encontrar Eurípedes quando esse estava entretido ao piano. Mesmo assim de
qualquer modo, Nara chamou Eurípedes e logo foi dizendo ter um moço aparentemente
do hospital a chamá-lo. Eurípedes reclamou qualquer coisa e voltou para Nara. E
perguntou;
Eurípedes.
--- Que ele
quer? – indagou o médico sem saber mais que notas faltavam.
Nara:
--- Não
perguntei. Vi apenas que era alguém da enfermaria do hospital. – relatou sem
mais conversa.
Euripedes:
--- Droga! – e
se levantou da cadeira de veludo e rumou sem presa para a porta da casa.
Ao chegar à
porta percebeu Eurípedes se tratar de um auxiliar de enfermagem do Hospital
“Miguel Couto”. Por isso, já admitindo ser um caso grave, o médico indagou qual
seria o fato. O auxiliar, vindo em uma ambulância disse apenas ter o mar
avançado na praia e atingindo várias casas de pescadores e gente nobre. A
direção do hospital estava chamando todos os médicos com a máxima urgência para
prestar auxilio às vitimas do mar revolto. Foi algo de impressionar. O oceano
atingiu uma altura de cinco metros arrastando todas as casas em sua margem. Foi
o que pode dizer o auxiliar já estando a morrer de pavor.
Eurípedes:
--- Como você
adivinhou que eu estava aqui? - indagou
abusado o médico.
Moço;
--- Eu estive
na casa do senhor e uma moça me informou. – disse o rapaz com toda pressa.
Eurípedes:
--- Espere um
pouco! Ou melhor! Pode ir que eu sigo em meu veículo! – respondeu meio sem
graça o médico.
Não foi nem
preciso dizer a Nara e dona Ceci, pois essas estavam próximo à entrada da casa
e ouviram muito bem o estado de calamidade pública a qual se abatia na parte da
orla marítima da cidade. E Eurípedes observou a moça e fez um gesto de apenas
suspender os ombros. Ele se despediu das pessoas e foi a dizer ter naquele
momento o sacrifício de sua semana.
Eurípedes:
--- Se houve o
que estou a imaginar, vai ser osso duro de roer! – relatou o rapaz e de
imediato se despediu de todos.
Quando o
veículo de Euripedes se deslocava para o hospital, o seu motorista ouviu a
sirene de um carro de bombeiro a passar com toda urgência percorrendo a Avenida
Rio Branco e ingressando na Rua João Pessoa com a máxima pressa. E Eurípedes
percorreu o caminho no mesmo sentido do carro de bombeiros. Na sua mente ele recitava ter sido um volume de
água sem precedentes, pois assim era chamado com a máxima urgência o Pronto
Socorro. Para o médico era melhor se destinar ao hospital. Então em seu serviço
tomaria instruções de o que poderia ser feito. Com muita urgência Eurípedes nem
chegou a notar a falta de luz elétrica na posteação da Rua Nilo Peçanha por
onde ele prosseguia até o ponto de estacionar em frente ao Hospital. Gente
muita em frente aquela casa de saúde, umas chorando, outras em desmaio sem
contar com o número de gente vinda das encostas do morro da Rua do Motor, logo
abaixo do Hospital, pelo lado esquerdo de quem vem. Parecia um mercado público
o movimento de pessoas àquela hora ainda cedo da noite. Outro de Bombeiros
seguia as pressas a entrar da Avenida Atlântica formando uma zoada infernal com
outros veículos vindo ou indo e as misteriosas ambulâncias a chegar à entrada
da casa de saúde com seu contingente de gente ferida ou em desmaio. Tudo isso o
médico percebeu no instante em que estacionou o seu carro e entrar no Hospital
“Miguel Couto”.
No local onde
houve o estrondoso maremoto o pessoal era uma verdadeira confusão para se
entender com certa dificuldade. O terrível holocausto aconteceu em um
verdadeiro instante de maneira surpreendente. Um repórter estava presente
aquele cenário de angustia e dor. Choros e lamentos eram ouvidos por todos os
lados. O Padre do lugarejo conseguiu chegar de forma apressada em meio aos
homens da saúde e as equipes de socorro. Veículos do Exercito e da Aeronáutica
se fazia presente em derradeiro instante com o auxilio da Polícia Militar.
Homens desses efetivos corriam para todos os lados a movimentar os restos de
casebres tragados pela onda imensa do mar. Após muitas perguntas, o repórter
conseguiu apurar de uma garota dos seus 15 anos o que na verdade ocorreu. Com
muito vexame, a garota fez saber ao repórter ter o mar secado cerca de cem
metros e de poder se locomover somente a pé. Ela acrescentou ter visto tudo do
alto da colina onde estava. De repente, o mar encheu e uma onda gigantesca veio
como se fosse um espanto e tragou as casas simples ao redor da praia de Areia
Preta.
Garota:
--- Era um
monstro! Era um monstro meu senhor! Um monstro! – dizia a pequena moça de forma
alarmante.
Repórter:
--- E o
pessoal? Como escapou? – indagou o repórter quase alarmado.
Garota;
--- Ninguém
escapou! Ninguém! Todos foram tragados pela imensa e infernal onda de mais de
cinco metros de tamanho! Ninguém! Mas ninguém mesmo! – relatou a moça a chorar
e a clamar a Deus pelas almas das pobres criaturas.
O pessoal da
Aeronáutica procurava informações de um avião transporte caído naquela praia há
algum tempo. Com a queda da aeronave se salvou a tripulação e nada mais. Nesse
instante o avião de carga pode ser visto caído há alguns metros da beira mar. O
Exército fazia apenas o bloqueio da faixa onde ainda moravam poucas pessoas. A
praia de Areia Preta era um sossegado recanto onde havia pescaria por jangadas.
Tais jangadas foram tragadas pelo mar mesmo estando em uma encosta do morro
ainda existente após a estrada de areia por onde transitavam os burros de carga
com areia e barro. A praia tinha outra subida bem ampla de cerca de trinta
metros. O mar revolto tragou as moradias em baixo onde havia o comércio de
bebidas e de alimentos para os pescadores e suas famílias. Poucas casas de
alvenaria havia ao longo da Rua Sem Nome e quem morava nessas casas diziam
apenas residir de Areia Preta. O desastre sem precedentes tomou conta da noite
e madrugada inteiras com os técnicos de engenharia e operários a rebuscar os
escombros dos casebres vendo se existia alguma vítima. O mar carrancudo avançou
cerca de cinco metros por ampla imensidão, atingindo casas da Rua do Motor,
Redinha e por extensão o rio Potengi destruindo moradias de palafitas armadas à
beira do rio. Nesse trecho, a onda foi menor, mas conseguiu atrair o Canto do
Mangue e parte de arrabalde das Rocas em sua parte mais baixa. Os moradores das
Rocas tiveram tempo de sair de suas habitações e busca de lugares mais seguros no alto da
cercania. O mesmo não ocorreu com a Redinha onde os moradores tiveram tempo apenas
de recolher a roupa do couro. A notícia do maremoto se espalhou de repente por
toda a cidade com muito temor. Ninguém sabia ao certo a informar o acontecido.
Alguém:
--- Foi uma
avalanche? – indagou a mulher sem saber ao certo.
Outro:
--- Parece que
derrubaram o mar. – respondia outro com bastante cisma.
Terceiro:
--- Onde foi
essa coisa? –
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