- Nastassja Kinski -
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ÁGUA
Na manhã de
segunda-feira, ainda cedo, os vaqueiros tangiam o pouco restante da boiada para
deixar passar o caminhão da água e despejar o seu salvador conteúdo no tanque
de armazenamento feito já de há muito pelos parentes já mortos do criador Amaro
Borba Castro. O motorista, cujo nome era Salvador, já bastante suado, sem
camisa e tão somente com os mosquitos lhe atormentar, buzinava sem parar para
espantar o resto da manada. Salvador viajara a madrugada toda para garantir a
água como sustento das reses ainda resistentes à seca braba que assolava o
interior do Estado. Salvador era um jovem homem baixo, porém atravancado e
forte. Não falava muito. Mas dizia o que pensava. Talvez por isso, o motorista
se deu bem com o criador, homem justo e de há muito a viver e conviver naquele insólito
recanto interiorano. Naquele momento então Salvador, já tendo recebido o
pagamento pelo caminhão com água não vira o seu Amaro Borba e tendeu a indagar
ao vaqueiro:
Salvador:
--- O chefe? –
indagou o motorista para saber se o dono da fazenda estava..
O vaqueiro, de
imediato, falou se virando então para o motorista enquanto tangia o gado.
Tomaz:
--- Cidade! –
respondeu o vaqueiro levantando o braço para dizer ter seu patrão saído.
Salvador não
entendeu direito e quis saber se o patrão teria ido para Santa Cruz e o
vaqueiro responde que não.
Salvador:
--- Lá? -
apontando a cidade de Santa Cruz.
Tomaz:
--- Não!
Cidade! Capital! – respondeu o vaqueiro com o braço comprido para o alto e a
tanger as vacas.
O motorista
então coçou o pescoço e não se podia saber se era por questão das moscas ou um
problema outro surgido da noite para o dia. O certo foi o motorista bater as
pernas no chão para então descansar da labuta ou não. E uma mulher veio de
dentro da casa querendo saber se o motorista queria tomar alguma coisa. E foi a
perguntar:
Mulher:
--- Moço?
Água? – indagou a mulher já com a quarta na mão.
Salvador:
--- Aceito! –
respondeu o rapaz a espantar as moscas de cima dele.
E a mulher
entornou na caneca uma porção de água não deixando de olhar com a sua cabeça
abaixada para o homem. E perguntou:
--- Bom? –
quis saber a mulher vendo a caneca quase cheia.
O rapaz, então
responde tangendo as avarentas moscas.
Salvador:
--- Checa. Tá
bom. – respondeu.
Mulher:
--- Café? –
perguntou a mulher.
O motorista
ainda estava a beber água e não pode falar respondendo com um balançar de
cabeça. E, depois de algum tempo a mulher retornou com o bule de café dando
novamente a caneca e pondo o café dentro da mesma. No momento a mulher indagou
se ele queria comer algo. O rapaz disse sim. A mulher de meio porte deu a ele
uns biscoitos. Tendo feito tudo isso, ela voltou ao interior da casa grande.
Após tomar o café o homem ficou a passear pela roça enquanto o caminhão
despejava seu conteúdo no interior de um tanque enorme. Esse tanque quando
cheio dava muito bem para quatro meses ou mais, se houvesse irreversível seca.
Andando pelo meio de cercado Salvador chegou a dizer ao vaqueiro Tomaz.
Salvador;
--- Um mundão
de terra,. – falou de olhos fixos o motorista.
Tomaz.
---Sim. Bem ao
longe tem a serra. – falou o vaqueiro a observar o gado.
Salvador:
--- Serra! –
falou o rapaz pensado na imensidão de terras.
De vez uma
jovem moça surgiu à porta da casa grande e olhou depressa para rapaz mesmo
estando distante para qualquer conversa. Salvador sem querer, escorado em uma
cerca com os dois cotovelos. Ele olhava o caminhão e, de repente notou a figura
da mocinha. A moça sorriu leve e entrou correndo mais para dentro da casa
grande. O rapaz não se preocupou com o caso e se voltou para o vaqueiro e falou
das noticias da capital.
Salvador.
--- O senhor
conhece a cidade? – indagou o motorista ao vaqueiro.
Tomaz:
--- Já estive
lá. Terra muito vasta. Não tem açude. Eu não ambiento num lugar como aquele. –
reportou o vaqueiro.
O motorista
passou a mão no pescoço e levou um tempo sem falar. Outro vaqueiro chegou a
cavalo quase depressa e pulou fora deixando a montaria a sair sem nada mais.
Salvador ficou apenas a observá-lo enquanto Tomaz, o outro vaqueiro ficou
calado esperando as novidades. O novo vaqueiro, por nome Anselmo virou a cabeça
para o lado da serra e, por fim, disse o que tinha a dizer. Ele estirou seu
braço e declarou apenas:
Anselmo:
--- Três. Um é
garrote. Perto da entrada da serra. - e se amoitou com a cabeça abaixada.
Tomaz ficou a
pensar e se virou para o lado do penhasco e se apoiando na cerca com seu braço
esquerdo, ficando a matutar. Após um pedaço de tempo Tomaz resolveu falar e
indagou de Anselmo se ele conferiu os ferros. E o rapaz se levantou do seu
acocorado respondendo após.
Anselmo:
--- Eu conheço
o gado do doutor. – isso foi o que disse com voz abusada.
Tomaz calou.
Ele sabia de gado perdido por aqueles lados do penhasco. E ficou um bom tempo a
matutar. Não seria conveniente chamar seu Amaro Borba. Bem melhor ir à Capital.
Mesmo assim Tomaz procurou conversa para afirmar como as vacas morreram. E se o
outro vaqueiro teria outra conversa.
Tomaz cuspiu de lado deixando a mescla de fumo presa na banda da cara
por entre os dentes carcomidos de tabaco. E Tomaz se acocorou por seu lado com um
cavaco de pau na mão direita a fuçar o chão. Em alguns segundos ele olhou para
os fins da terra onde a madrugada despertava. Um tempo e ele olhou para Salvador, o
motorista. Ele olhou e pensou a seguir não dizer coisa alguma. Nesse momento o
vaqueiro Tomaz pegou as rédeas do seu cavalo, montou e saiu em disparada a
buscar o gado morto nos confins da terra árida e endurecida. O segundo vaqueiro
ficou a olhar e logo em seguida tomou as rédeas de sua montaria e largou atrás
em busca do companheiro de lutas. Salvador, o motorista, ficou para trás
escorado na cerca a olhar os dois vaqueiros. Em instantes a moça nova se acercou
com um bule de refresco na mão e disse ser para ele aquela garapa feita de
umbu. O homem por pouco não rejeitou,
pois estava satisfeitos com o café e os biscoitos oferta da mulher da
casa grande. Mesmo assim fez de conta que nada tinha de ser satisfeito e aceito
uma caneca. Ele olhou para a pequena donzela e sorriu falado após:
Salvador:
--- Obrigado.
Nem era preciso. A sua mãe me trouxe café. – sorriu o motorista.
A mocinha
também sorriu e declarou logo após:
Moça:
--- A mulher
não é minha mãe. Ela é viúva. Eu sou das bandas de baixo. – e fez com a mão um
pouco estendida de onde ela era.
Salvador
sorriu e tomou uma caneca de umbu. A moça ficou parada a sua frente e sorria
por tudo e por nada. O homem foi quem perguntou a seguir.
Salvador:
--- Mas a
senhorita mora na casa? – indagou sem esperteza o motorista.
Moça:
--- Eu me
chamo Margarida. E moro na casa grande. - sorriu a pena com os braços cruzados
para trás.
Salvador:
--- Faz tempo?
– indagou o motorista.
Margarida:
--- Desde
pequena. Eu sou filha do homem. Seu Amaro. Mas ele mantém segredo. – relatou a
moça.
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