- Eva Mendes -
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DOMINGO
No domingo
pela manhã, bem cedo do dia, quando ainda pouca gente havia no Mercado Público
da cidade, alguns curiosos estavam a falar sobre o acidente da noite de
sexta-feira na Praia de Areia Preta e de outras praias de Natal. Alguns
chegaram a falar da praia de Ponta Negra onde moravam pescadores e vendedores
de frutas, como mangada, caju, araçá além de peixe da pesca os habitantes da
vila ou coisa a menos. Um homem chegou a dizer ter uma casa ao largo da praia
onde ele pretendia passar o fim de semana. Esse homem, Antônio Justino, era um
senhor rico, porém só andava de camisa e calças a calçar, às vezes, uma
sandália em um pé e o sapato no outro (pé).
Mesmo assim, era um senhor de largas posses. Homem criador de gado em
uma cidade interiorana, longe mesmo da cidade. Falava truncado como se
estivesse começando a discorrer naquele momento. De porte alto, cabelos grisalhos,
cor da pele branca, mesmo assim de tanto sol esse homem tinha a cor escurecida.
Ele não só falava como também gesticulava com os braços para em seguida
cruzá-los e ficar em silencio a mastigar a língua. E quando começava a discorrer era de uma
forma singular. Com os braços a jogar para cima, a gaguejar e logo após se
recolher. Era assim a falar seu Justino. Tinha dias ele passava na capital. Em
outros, na fazenda. E nesse dia falava apenas de Ponta Negra praia segundo
dizia o mesmo:
Justino:
--- Ali está o
futuro da capital. Pode apostar no que digo. Quando os americanos estiveram por
essas bandas, eles gozavam as delicias do mar de Ponta Negra. – falava o velho
e silenciava após.
Os mais
céticos nada falavam e apenas ouviam o “velho” a falar. E o homem prosseguia
após um momento de silencio com o negocio da residência da praia. Uma casa mais
parecida com um casarão toda alpendrada onde se podia olhar o mar e suas
preguiçosas jangadas. Ele falou de um desembarque havido em séculos passados
por um histórico alemão Jacob Rabi e duzentos holandeses mais os índios
Janduís.
Justino:
--- Foi
mortandade de colonos no martírio de Cunhaú. Setenta fieis e o Padre André de
Soveral. Foram todos trucidados na capela. Coisa triste. – cuspiu o homem para
um lado.
O homem
recolheu seus braços sobre os peitos. E começou a roçar o chão bruto. Se alguém
duvidasse da chacina ele coçava a cabeça para depois falar alto da tragédia.
Justino
--- Meus avós
contaram! É.... É...- (falava o bravo homem para em seguida calar). – Agora se
ninguém acredita nisso eu nem me importo. – batia com suas mãos uma na outra.
Uma pessoa
perguntava ao “velho” que era esse tal Jacob Rabi. E ele apenas respondia sem
nenhum remorso.
Justino:
--- Hein? Um ‘cabra’
safado! Pronto! – respondia o velho a cutucar o chão pondo os braços encruzados
nos seus peitos.
Nesse meio
tempo chegou ao Mercado o senhor Sisenando a procura de carne verde quando levaria
um cerca porção. A passar pelo Café do Mercado se topou com o velho Justino. E
foi aquele abraço forte demais, uma vez ser Justino um antigo maçom apesar de
estar ausente das sessões. As conversas giraram em torno da Loja e pouco depois
Sisenando indagou como estava a casa grande de Ponta Negra. O velho abaixou a
cabeça para em seguida levantar com o sorriso afável a declarar:
Justino;
--- Irmão! Vai
tudo bem! Ainda ontem, com as notícias preocupantes eu andei por lá. Eu vi o
desastre sofrido por aquela gente pobre. Mas a nossa casa estava na régua. –
falou contente.
Sisenando.
--- E no
compasso? – indagou a gargalhar o homem.
Justino.
--- Pois sim.
Na régua e no compasso. A nossa casinha fica mais para longe da maré. Eu fico a
pensar: será que o mar vai subir mais? – perguntou o homem com certa
preocupação.
Sisenando:
--- Eu não
sei. Francamente não sei! Os engenheiros estão empenhados desde agora com essa
súbita tempestade onde várias pessoas perderam a inevitável vida. Quando não
foi assim, os que sobreviveram, perderam tudo ou o resto da sobra. – falou o
homem quase a chorar.
Justino:
--- Quem
perdeu se não perdeu a vida, ele perdeu tudo. Um pescador da vila perdeu a
mulher e três filhos. Teve outro que foi a mesma sina. E muitos outros mais. Os
jangadeiros escaparam por estarem no mar. Foi uma coisa horrenda. – relatou
enervado o velho.
Sisenando:
---
Interessante! O mar secou e subiu de repente? Como se deu essa devastadora
tormenta? – indagou preocupado o homem.
Eurípedes
chegou à residência de Nara por volta das 08,30 horas da manhã do domingo. A
moça estava a dedilhar o violão com o seu precioso filho a dormir no berço
amado. A mãe de Nara estava na cozinha a preparar o almoço. Ao chegar à porta
Eurípedes temeu bater palmas para não quebrar o tranquilo sono da criança. Ele
apenas deu um alô vagaroso e entrou na sala de visitas. A moça fez sinal de que
o infante estava a dormir. E sorriu até. Eurípedes compreendeu perfeitamente o
sinal por Nara feito. A moça abaixou o violão e perguntou ao rapaz se já tomara
café. Ele fez que sim, como era de hábito. No mesmo instante dona Ceci veio de
dentro da cozinha a enxugar as mãos em um pano e falou baixinho para o rapaz a
indagar se ele trabalhou na noite passada. O médico fez que sim. E logo após,
muito bem a sorrir, a mulher disse ter de entrar pois a galinha estava sendo
preparada. E sorriu. O rapaz não fez questão. Ao se sentar na almofada de
veludo do piano, o rapaz nem ao menos tocou em uma tecla e quis apenas jogar conversa
fora com Nara. A manhã era clara de sol a queimar horas depois, uma vez não
haver presença de nuvens. O verdureiro passou à porta da casa e de um modo
tranquilo ele apresentou as tradicionais verduras, frutas entre coisas simples
de se oferecer. Dona Ceci veio depressa e foi marcando o necessário. Esse tempo
demorou um pouco. O garoto da gazeta veio depressa e entregou o jorna matinal.
Uma vizinha também veio às compras ela aproveitando a estada do verdureiro a
despachar em plena calçada. De dentro da sala Nara estava a conversar com
Eurípedes sobre coisas triviais. E esse, a um tempo teve de declarar ser
importante aquilo a declarar. E foi em frente.
Eurípedes:
--- É que eu
tenho um caso muito serio para ajustar. - falou o rapaz sem ao menos sorrir.
Nara não
entendeu e esperou Eurípedes continuar. O rapaz olhava para a moça batendo os
dedos uns nos outros e continuou sem conversa. A moça ficou inquieta e
perguntou de pronto o tanto a afligir o rapaz. Ele deu um leve sorriso e foi a
pergunta:
Eurípedes:
--- Você quer
casar comigo? – perguntou de imediato o mancebo.
A moça fez uma
cara de não ter entendido muito bem a pergunta feita de modo suave e indagou
por sua vez:
--- Que? –
perguntou a donzela com uma cara de estúpida.
Eurípedes:
--- Case
comigo! – relatou o rapaz de forma bem tranquila.
Nessas alturas
a donzela não sabia se sorria ou se chorava. E pôs um lenço na boca, abriu os
olhos e se derreteu na gargalhada chorosa. Deu um passo pra trás e ao mesmo
tempo sorria e chorava. Aconteceu de ter levado um tombo em uma cadeira onde a
moça abaixou a sua cabeça no braço do assento a sorrir e a chorar. E era um
choro distante e longo por ter o rapaz indagado ter sido o pedido feito de modo
informal ou não. A moça delirou até o ponto de indagar ao rapaz;
Nara:
--- Você é
louco? Isso é coisa que se faça? – indagou a moça num ímpeto de coragem.
Eurípedes:
--- Eu
perguntei. Você diz sim ou não! – proclamou o rapaz pensando um “não”.
A moça se
levantou e pegou o seu pimpolho e se largou para o seu quarto rogando a Deus
que passasse esse pesadelo, pois não queria dizer ao rapaz um “sim” tão
tempestuoso. E foi chorando a todo custo até a sua mãe chegar de fora e indagar
a Eurípedes se o menino estava sujo. O rapaz não sabia o que dizer. A moça foi
embora e não lhe respondeu a proposta.
Eurípedes:
--- Eu
perguntei se ela queria ser a minha esposa! – disse o homem com gesto de
aflito.
Ceci:
--- Ora já se
viu! E ela não quer? Ela está a namorar outro? Espera! Espera! – disse a mulher
com sua carga de temperos e frutas adiantando casa adentro.
Dona Ceci
chegou ao quarto de Nara onde encontrou a filha a chorar de forma desregrada e
foi logo à pergunta.
Cecí.
--- Como é? O
que disse ao rapaz. – indagou a mulher de forma brava.
Nara olhou
para a sua mãe e tornou a chorar com a cabeça no travesseiro para ninguém a ver
como em um conto de fadas.
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