- Salma Hayak -
- 13 -
NA SALA
Nara ficou a
olhar toda a sala como se tivesse uma grande ideia. O bebê estava a dormir
naquela manhã de sol ameno. O rapaz estava em pé, como solitário, a procura do
que fazer para animar a sua distração. Notou o piano e perguntou a Nara se ele
estava coberto por causa da chuva da noite passada. Ela, com o olhar pleno e
distante, respondeu sim por não ter outra adequada resposta. E Nara perambulou
pela sala a procura do que falar. Eurípedes descobriu o piano e começou a
dedilhar uma nostálgica canção de tempos idos. Ele queria experimentar o piano
para ver a garantia dada pela firma fornecedora. E desse modo Eurípedes
continuou a tocar com muita rapidez saindo de uma canção e entrando em um blue
talvez nostálgico. Ate parece ser o costume de todos os blues. Enquanto Nara
olhava as paredes da casa Eurípedes martelava o piano indo e voltando no romper
de maravilhosas melodias. Com o seu dedilhar Eurípedes sentia estar o piano
afinado. O rapaz era provido de bom ouvido e sempre ajustava o teclado para ter
um melhor som. Para o deleite de Eurípedes, as 88 teclas do piano estavam
afinadas tanto nas de cores brancas como nas de cores negras. As naturais, com
as brancas, e as acidentais com as de cores negras. O rapaz aprendeu tudo o que
sabia apenas de ouvido. E sempre declarava não ser preciso ir para uma escola
onde se aprende a tocar piano. Nara, a
estar olhando as paredes da sala disse de vez:
Nara:
--- Eu vou
pintar essa sala toda de azul. – disse a moça sem nada perguntar.
E Eurípedes
dedilhava então uma música de acordes muito baixos. Era o Bolero, de Maurice Ravel, algo surpreendente mesmo para conhecia a
música erudita. E Nara, observado tão bem o refinado toque de Eurípedes teve a
intenção de declarar.
Nara:
--- Quem te
ensinou a tocar tão bem o piano? – indagou com surpresa a moça.
Eurípedes:
--- Eu aprendi
apenas ouvindo. Não foi preciso um professor. – declarou o jovem rapaz.
Nara ficou a
pensar por ter aprendido bem mais se o seu avô a incentivasse a procurar uma
escola de música. No mesmo instante entendeu ter um piano em sua casa e ser
melhor que ir à uma escola. Mas na escola de música haveria a melhor
possibilidade de se ter diploma. Então Nara poderia ser uma pessoa capaz de
ensinar aos outros. Eram tantos pensamentos de uma só vez. E com esse pensar resolveu consertar sua
desarmonia com o piano e procurou ver se era possível ambos tocarem a um tempo.
E foi assim o feito.
Nara:
--- Deixa-me
tocar com você. Eu vou à parte grave e você na parte menos grave. Essa melodia
tem bom tempo. – acertou a moça.
Eurípedes:
--- Ótimo.
Vamos combinar. – sorriu o rapaz.
E a moça se
preparava para começar a tocar uma parte no seu piano quando, de imediato, o
seu filho começou a impar e logo a moça ouviu. Ela era ciente de não ocorrer um
berreiro. Mesmo assim, pediu desculpas ao rapaz e cuidou de levar a criança para
a sala de jantar onde pode fazer a limpeza da frauda do bebê. Do lado da sala
de visitas, onde estava o piano, Eurípedes indagou, mesmo a tocar o BOLERO se a amiga não precisaria de
ajuda. Nara respondeu não, pois estava concluindo o trocar de fraudas. E o
rapaz continuou a tocar a peça musical como se nada houve para tirar-lhe a
tranquilidade. A peça é de um único movimento escrita para orquestra. O
trabalho se repetia cento e sessenta e nove vezes num ritmo uniforme e
invariável. Sua duração é de 14 minutos
e 10 segundos. A origem do BOLERO
provém de um pedido da dançarina Ida Rubinstein. A sua estreia se deu em Paris
em 1928. Quando Eurípedes terminou de tocar apareceu de vagar à porta do
corredor a moça Nara se orgulhando de ter podido ouvir aquele magistral toque
por seu amigo.
Eurípedes:
--- Você quer
tocar agora? Eu seguro a criança. – sorriu o rapaz.
Nara:
--- Eu nem sei
mais. – falou acanhada a moça.
Eurípedes.
--- O Noturno
número 2 de Chopin. Toque. – insistiu o rapaz.
E ele se
levantou do banco oferecendo o seu braço a criança então ficando somente a
escutar os primeiros acordes do piano. Nara olhou para Eurípedes e nada falou.
Apenas com vagar sorriu. Demorado um pouco ela iniciou a tocar Chopin. E se
concentrou de modo especial na peça apesar de sua curta duração. E tocou Chopin até o seu final. Ao terminar, o
amigo disse:
Eurípedes:
--- Bravo!
Bravo! – com muita ênfase.
Nem mesmo a
criança se inquietou, pois o piano a tocar a tranquilizava muito bem. Nara
então quis sair, contudo Eurípedes lhe pediu Brahms, Mozart e outros mais.
Então a moça se refez e para si o tempo volteou aos tempos de menina quando era
apenas uma menina. E ouvia naquele momento o seu avô a dizer-lhe como dedilhar
o piano e ela não se esquecia de cada ponto nem de cada peça. A emoção
aflorou-lhe a pele e nem mesmo Nara sabia o quanto chorava por todos os
sentimentos vividos. Ela apenas queria tocar e nada mais. Os acordes soavam
como o tom divino a percorrer os seus sentidos. A vida em festa cheia de
perfumes e de rosas como era a primavera. Nara conseguia encontrar acordes os mais
vibrantes como nunca houvera de sentir. Tchaikovsky, Beethoven, Vivaldi era
ternos e eternos senhores do tempo não passado. E Nara chorava e então se
lembrava da vida bucólica do passado. Os timbres dos pratos ou címbalos eram os
vitais instrumentos da arte e da marca de seu virtuoso compasso. Nara ouvia os
címbalos e recitava o quanto eles falavam. Eles eram meigos e suaves a um só
momento para depois mostrar a sua impetuosidade magistral. Por isso Nara os
ouvia. Ao concluir toda a sua fantasia, Nara marcou de vez buscando no presente
as ilustres emoções de um tumultuar do passado. Ao terminar o seu majestoso
desempenho Nara se levantou e agradeceu a seu verdadeiro mestre ali posto.
Nara:
--- Obrigada
meu divino mestre! – sorriu e chorou a um só tempo a moça.
O rapaz fez
uma de contente e respondeu a seguir estar com ele uma nobre maestrina capaz de
reger as maiores orquestras do mundo. Nara sorriu e pediu o seu filho, pois o
rapaz já estava, segundo Nara, cansado até demais. Eurípedes não se negou em
entregar o rebento, mas disse a Nara não ter sido incomodo algum. O rapaz deu
um beijo na testa da moça e lhe entregou a criança. Nara teve um susto com o
beijo recebido. Mesmo assim, se deixou feliz pois o rapaz, alegre, ainda teve a
oportunidade de fechar o piano e dizer;
Eurípedes:
--- Vou ter
que sair, pois o dever me chama. Vejo você amanhã. – disse contente o rapaz.
Nara:
--- Espere.
Minha mãe está chegando. E hoje temos galinha no almoço. – falou delicada a
moça
Eurípedes
sorriu, pois galinha era seu prato favorito. Podia ser galinha de qualquer
forma. O negócio era ser galinha. Então o rapaz se aquietou e procurou o
banheiro da casa para fazer seus asseios. Nesse ponto chegava da rua dona Ceci
e o seu marido Sisenando, o homem com um embrulho nas mãos, com certeza era um
par de sapatos. Nesse instante Nara avisou
à sua mãe da presença de Eurípedes enquanto o pai foi dizendo.
Sisenando:
--- Ih! Esse
negócio vai findar em casamento. – falou o velho a sorrir.
A sua mulher
reprovou o gesto do senhor e a filha logo falou:
Nara:
--- Ora meu
pai. Isso não tem nada a ver. Fui eu quem o convidou para o almoço. E para o
seu bem, ele até que é um bom partido. – disse a moça e saiu com pressa para o
seu quarto.
Na hora do almoço
estavam todos os presentes. Ceci de um lado; Sisenando do outro e mais
Eurípedes e Nara. Ele indagou pelo neném e Nara respondeu:
Nara:
--- Dormindo.
Ela já tomou seu leite. – sorriu a moça.
Sisenando com
a boca cheia de carne e outras coisas foi dizendo ter o Bonde da Cidade sido
permitido de entrar na oficina da Companhia. Mas o do Alecrim ficou de fora
junto com o de Lagoa Seca.
Sisenando:
--- A ponte
deve levar uns dias para ser feito o conserto. – informou o velho com a boca
cheia.
Euripedes:
--- Se não
chover mais. – relatou o rapaz sem sorrir.
A propósito,
Sisenando mudou o tom da conversa e mesmo estando de boca cheia de galinha e de
farofa ele não se deteve e foi a pergunta quase levando um susto a Nara:
Sisenando:
--- Sua noiva
não aparece? – indagou Sisenando a comer mais galinha.
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