- Emma Watson -
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COMOÇÃO
Às nove horas
do sábado chegou à residência de Nara o médico Eurípedes junto com o professor
França numa brutal coincidência. O rapaz ainda estava “tonto” de sono, pois não
dormira hora alguma na noite/madrugada da sexta e sábado. Eurípedes
cumprimentou o professor dizendo ainda estar “morrendo” de sono. E falou sobre
o acidente com a população de Areia Preta e Praia do Meio e não falando sobre
os casos havidos de Redinha e Ponta Negra pois eram fatos do mesmo gênero e ele
nem sabia de tudo.
Eurípedes;
--- Foi uma
comoção terrível o sucedido. Ainda hoje estão chegando vítimas do desastre. –
comento o médico sobre o desastre de Areia Preta.
França:
--- Na verdade
foi coisa muito triste. Eu não quis nem ir ao local. Aqui mesmo no rio tem
fatos semelhantes. – ressaltou o professor.
O homem médico
ficou surpreso com o informe e quis saber de qual rio o professor falava e
apontou com seu dedo polegar a franzir a testa.
Eurípedes:
--- Rio? –
indagou o médico franzindo a testa.
França:
--- Sim. Nesse
rio Potengi. As Palafitas foram tragadas pela maré e até mesmo os batelões
foram atirados do rio sobre os trilhos do trem. Por isso não há passagem alguma
de trem. E tem mais: houve maré alta na Redinha, Aldeia Velha e se fala também
de onda gigante em Ponta Negra. Eu não sei. ....Mas isso é o fim....- falou o
professor de modo angustiado.
Eurípedes:
--- Na
verdade, é uma angustiante comoção. Eu fiquei a noite toda no Hospital e não
tive a oportunidade de saber quem era qual. Eu só fazia era atender. Apenas
gente moradora da rua de baixo é que eu soube. – falou com leve amargura o
médico ao se referir a Rua do Motor.
Ao chegar a
porta da residência de Nara, o médico já a encontrou com o leve sorriso na face
e a tensão de estar muito preocupada com o acontecido na noite passada. Após cumprimentar o
professor França e dar um beijo no rosto do rapaz Eurípedes, a moça foi logo a
afirmar ter um dia triste para quem teria de saber algo tão peculiar como era a
música. Afinal, todos estavam comovidos com a triste situação conflitante a
afetar a cidade naquela manhã de sol tão forte. Ao ser a moça indagada pela
presença do homem da casa, o senhor Sisenando, o professor ficou sabendo ter o
mesmo saído, com certeza para ver de perto o havido na Praia de Areia Preta, o
ponto de maior alcance do maremoto.
Nara:
--- Eu acho
que meu pai foi ver de perto o que houve em Areia Preta. – relatou a moça um
pouco recolhida em suas emoções.
Nesse momento,
o médico procurou ver o restante da casa como quem desejava saber da presença
de dona Ceci e a moça percebeu. Em seguida relatou a seu amigo ter dona Ceci
saído para a Igreja para assistir a
Santa Missa. . E o rapaz agradeceu a dizer ter a necessidade de ir ao banheiro.
A moça ofereceu o local e indagou se o jovem queria trocar de roupa. Eurípedes
sorriu e disse já ter passado em sua casa e fez o apropriado. De passagem o
médico apenas olhou para o berço e lá estava a brincar com ele mesmo o menino
Neto a fazer gestos no rosto já demonstrando traquinagem de infância. Euripedes
retribuiu a afeição fazendo o mesmo em troca.
De volta do
banheiro, onde Eurípedes foi passar água no rosto para ver se retirava um pouco
do sono da noite. Ele encontrou o professor França já a verificar Nara com o
seu violão. Ela argumentava já saber tocar de muito tempo e, com certeza, lia
os acordes com maestria, pois nas revistas de música estavam as notas em cifras.
E Nara podia entender muito bem. Com relação ao piano, Nara reportou por fim ter
sido ensinada de há muito pelo seu avô, o também professor Melquíades, o qual
mantinha um piano em sua casa de residência.
Então de vez o professor França falou ter sido aluno do professor
Melquíades já há muito tempo. E sorrio.
França:
--- A senhora
é neta do professor Melquíades? Pois o professor foi meu Mestre. – sorriu
França
Nara:
--- Ele
lecionou há muita gente. Eu não sei a quem porque eu era ainda pequenina. –
sorriu com certo temor.
Eurípedes:
--- Nara havia
me falado do seu avô. Ela é quem merece estudar o piano, pois saber, ela já
sabe e não custa nada em saber mais. – destacou o médico
França:
--- É preciso
saber o seu estilo de música também. – falou o professor se dirigindo ao médico
Eurípedes:
--- Eu não
venho ao caso. Nove anos. Eu já teria quase quarenta anos para me diplomar.
Agora, ela merece aprender. Mesmo que não seja em uma escola. – sorriu o rapaz
a enxugar a face com um lenço. E espirrou em seguida.
França:
--- Sim. Mas
como vocês (dois) pretendem tocarem juntos eu preciso saber o seu grau de
aprendizado. – sorriu o professor.
Eurípedes:
--- Eu toco de
“ouvido”. Qualquer música. Em tenho agora. .... Há algum tempo. ... Algo
composto por George Gershwin: Rapsódia
em Blue. ...São dezesseis minutos. Gostaria de ouvi-la? – indagou o médico.
França:
--- Seria bom.
Comece. – sorriu o professor.
Na verdade, a
composição musical datava de 1924, escrita para piano por George Gershwin com
adaptação para jazz. Era uma combinação de música clássica com influencia do
jazz. E com precisão o músico de “ouvido” começou a tocar ao piano a Rapsódia
em Blue, música divinal para todos os seus expectadores no tempo não muito raro
onde o piano era verdadeira magia de esmero. E começou Eurípedes a desempenhar
a melodia em um tom virtuoso sem meios para por orquestras e outros mecanismos
de influencia. O jazz era um momento de retoque quando tudo silenciava então.
Mas o exímio mestre não precisava de algo mais, nem mesmo uma habilidosa orquestra
sinfônica. O mundo passava lento pela mente do eminente poeta do teclado a cada
passo a se incidir. Tudo soava como pássaros canoros gorjeando com virtuosa
majestade. Não raro o toque ao piano se assemelhava a dileta combinação de um maravilhoso
senhor de uma filarmônica. Em seu local de ouvinte, o professor França nada
fazia deixando o rapaz a executar com precisão a melodia imortal até soar o seu
final. E quanto o executor concluiu a sua excelente e virtuosa melodia Nara
chorou de todo o contentamento. França apenas disse:
França:
--- Ótimo meu
senhor. Ótimo. – profetizou o professor
Nara:
--- Dê-me um
abraço forte –(de enfeitiçar minh’alma) – relatou a moça com os braços abertos.
Esse termo ela
pensou, mas não falou de veras. O rapaz ficou acabrunhado com tal pedido e o
admirar do ilustre professor. Eurípedes sabia com esmero tocar piano. No
entanto nunca ele teceu comentário a esse respeito. Apenas, ele se recolhia em
seu piano quando podia e tinha tempo e experimentava os acordes delirantes de
melodias antigas ou não, clássicas talvez. Quase sempre a família o ouvia tocar
com momento de maestria. Euripedes se escondia desse mundo a ouvir certa canção
e sempre mantinha com salutar ensejo o melhor do seu empenho. Rapsódia em Blue
o médico escutou a tal melodia e decorou
seus sublimes acordes. Em seguida começou Eurípedes a ensaiar esses momentos de
muita ternura. A Rapsódia era fusão da música afro-americana com música
clássica. Disso o médico bem sabia até demais. Mesmo assim, para Eurípedes não
se importava nos estudos da música nem ao menos se envolvia em saber ler a
grafia sonora da caligrafia musical. Nesse
momento, ainda aturdido por ter feito uma bela melodia ele nem mesmo observou o
pedido da sua amiga e foi até ela e se abraçou como se nada acontecesse. Apenas
a música soava em seus ouvidos. O homem abraçou a moça como fazia a qualquer um
e nem mesmo sentiu a esperança de algo mais. Por sua vez, o professor França
veio também a se abraçar com o médico afirmando ter o mesmo o ensino musical
dentro do seu espirito. Aquilo que lhe faltava era um simples diploma e nada
mais. Foi o que disse o mestre França.
França:
--- Meu amigo
você é um exímio instrumentista ao piano. Na verdade um diploma é um simples
documento do que alguém faz ou aprende. Seria importante você ter em mente as
notas musicais, pois assim seria mais fácil de recitar as peças. Eu lembro
demais de tantos alunos que eu tive e ensinei. Mesmo assim, hoje eu vejo
largados pela rua a declamar poesia sem saber o que fazem. Meus parabéns meu
amigo. Parabéns e um forte abraço. - confessou o mestre Carlos França.
Nara ainda
estava agarrada à mão do rapaz a olhar o professor e a sorrir sobremaneira para
Eurípedes sem saber ao certo a razão de seus sorrisos. Nara apenas sorria cheia
de comoção.
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