- COSMOS -
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COSMOS
Após o café da manhã os Monges, todos, vagaram para os seus
locais de trabalho ou de leitura onde podiam ver mesmo de longe o que de mais
lhe aprouvesse. O dia estava nublado com a perspectiva de chuva no correr das
horas. Do alto da Serra se podia com certeza observar os campos úmidos do vale
a percorrer todo o nostálgico ambiente. Ao longe, bem distante daquele encanto,
via-se correr as águas do rio em busca da direção do oceano Atlântico bem ao
longe o qual era impossível se compreender de fato, pois a Serra era imensa
para tais incertezas da natureza. Com pura confiança, uns pontos miúdos do
vale, era gado a pastar, pois muito deles eram da propriedade do Mosteiro.
Vendedores ambulantes seguiam a trilha buscando a dúvida da venda de uma cidade
a outra. Com a vista apurada alguém podia notar uns minúsculos pontos a
caminhar indecisos. Era evidente ter os tropeiros a ânsia de abordar tão logo à
feira de alguma cidade distante. Isso era o que notava o Abade Euclides de
Astúrias do alto da sua janela ao divisar o abatido e distante nublado campo.
Com a saída do restaurante da abadia, o Monge tão depressa se enfurnou em seu
escritório na alcova de despachos e com rapidez como se fosse um rato ele se
deteve por algum tempo na janela assobradada para sentir o vento frio da manhã
mesmo as grades estando fechadas. Certamente o Abade torceu as mãos e as passou
sobre o manto clássico de sua vestimenta e se voltou para a sua escrivaninha.
Em cima da mesa havia uns cadernos e folhas de papeis que o Monge devia
assina-los com presteza, mas que depressa, pois assim teria ele sossego e paz
no restante do dia. A sua avidez era livros. E já estava com o novo velho por
sobre a sua bancada. Um dos mais celebre livros por que já passara. E dessa vez
O Monge teria o descansar de lê-lo: COSMO.
– Céu e Inferno. O monge se gabou de ter esse opúsculo e,
estirando as pernas por baixo da escrevinha postou se a ler. A leitura era agradável
para se divertir. Então: ao Cosmo.
--- Esta é a idade da exploração planetária quando as naves
da Terra começaram a percorrer os Céus. Nesses céus há alguns mundos que
parecem inferno. O planeta Terra é comparável como um Céu. Mas os portões de
Céu e do Inferno são adjacentes e não tem identificação. A Terra é um lugar
lindo, mais ou menos plácido. As coisas mudam, mas devagar. A pessoa pode viver
uma vida toda e jamais encontrar como uma catástrofe natural mais violenta do
que uma tempestade. Então se fica complacente, relaxados, despreocupados. Mas,
na história do sistema solar e mesmo na história humana há indícios claros de
catástrofes extraordinárias e devastadoras. Nas paisagens de outros planetas
onde os registros do passado estão mais preservados há uma abundancia evidente
de grandes catástrofes. É tudo uma questão de escala de tempo. Um evento que
improvável em cem anos, pode ser inevitável em cem milhões. Mas mesmo na Terra,
no século passado ou mesmo neste século houve eventos naturais bizarros.
Na remota Sibéria Central houve uma época em que o povo
contava histórias estranhas de uma bola de fogo gigante que dividiu o Céu e
sacudiu a Terra. Eles falaram de uma rajada de vento abrasadores que derrubavam
as pessoas e florestas inteiras. Isso aconteceu, como se soube, numa manhã de
verão do ano de 1908. No fim dos anos 20 uma expedição foi organizada com a
intenção de resolver o mistério. Barcos foram construídos para penetrar nessa
terra sem trilhas. Bloqueada pela neve no inverno e pântano no verão.
Testemunhas oculares falaram de uma bola de chamas maior do que o Sol que ardeu
através dos Céus vinte anos antes. Presume-se que um meteorito gigante tenha
caído na Terra. E se esperava encontrar uma enorme cratera do impacto e
fragmentos raros de um meteorito que se chocara de algum asteroide distante.
Porém, no ponto ZERO encontraram-se
árvores na vertical sem seus galhos. Mas nenhum vestígio do meteorito e de sua
cratera de impacto. A situação deixou confusas as testemunhas. Mas talvez tivesse
fragmentos do meteorito enterrados no solo pantanoso. E foram cavadas
trincheiras e a água foi bombeada. Mas os esperados ferros e rochas do
meteorito não foram encontrados em lugar algum. Mesmo assim algo sobrenatural
foi visto: por mais de vinte quilômetros em cada direção do ponto ZERO, as árvores foram achatadas
radialmente para fora como palitos de fósforos quebrados. Deve ter havido uma
poderosa explosão vários quilômetros acima do solo. A onda de pressão se
espalhando à velocidade do som foi reconstruída por meio de registros
barométricos em estações climáticas através da Sibéria, Rússia a fora e até na
Europa Ocidental. A poeira da explosão refletiu tanto a luz do Sol de volta à
Terra que as pessoas podiam ver à noite em Londres, dez mil quilômetros
distantes. Esta ocorrência realmente notável é chamada de Evento Tungusca.
Cientistas disseram que, talvez tenha sido um pedaço de antimatéria do espaço
aniquilado em contato com a matéria comum da Terra desaparecendo em um clarão
de raios gama. Mas a radioatividade que se esperava da aniquilação de matéria e
antimatéria não foi encontrada em lugar algum do ponto de impacto. Ou, talvez,
sugeriram outros cientistas foi um miniburaco negro do espaço que impactou a
terra na Sibéria, abriu caminho através do corpo sólido do planeta Terra e saiu
do outro lado. Mas o registro de ondas de choque atmosférico não deu pista de
alguma coisa estrondosa vinda do Atlântico norte mais tarde, naquele dia. Ou,
talvez, especularam outras pessoas, tenha sido uma nave espacial de alguma
inimaginável civilização extraterrestre avançada com problemas mecânicos
desesperadores colidindo em uma região remota do planeta obscuro.
O ponto chave do Evento Tungucas é que houve uma tremenda
explosão. Uma grande onda de choque, muitas árvores queimadas, um incêndio na
floresta e mesmo assim não há cratera no chão. Parece que há apenas uma única
explicação consistente com todos esses fatos. E a explicação é esta: em 1908 o
pedaço de um cometa atingiu a Terra. Ninguém ouviu se aproximar. Um pequeno
ponto de luz perdido no clarão do Sol matinal. Ele vagava há séculos pelo
sistema solar interno como um iceberg no espaço interplanetário. Mas desta vez,
por acidente, havia um planeta no caminho. Pela hora e direção de sua aproximação o objeto que atingiu a Terra
parece ter sido um fragmento de um cometa chamado Enki colidindo a mais de cem
mil quilômetros por hora. Era uma montanha de gelo do tamanho de um campo de
futebol e pesando mais de um milhão de toneladas. Não houve aviso até ele
mergulhar na atmosfera. Se tal explosão acontecesse hoje se pensaria
principalmente no pânico do momento que era produzido por uma arma nuclear. Tal
impacto planetário e a bola de fogo simulam todos os efeitos de uma explosão
nuclear de 15 megatons, incluindo o cogumelo nuclear com uma exceção: não houve
radiação. Um cometa é feito em sua maior parte de gelo, com água, talvez amônia
e um pouco de gelo de metano. Então, ao atingir a atmosfera da Terra um modesto
fragmento planetário vai produzir uma bola de fogo grande, irradiante e uma
poderosa. Onda de choque a queimar árvores, derrubar florestas e cruzeiros são ouvidos
no mundo afora. Mas o fragmento não precisa fazer uma cratera no chão porque
todo o gelo no cometa se derrete no impacto e vai haver muito poucos pedaços
reconhecíveis desse cometa.
Terminada essa leitura o Abade coçou a cabeça a pensar em um
parente distante de sua família, talvez um bisavô ou um velho tio um tanto
falante. Dizia essa pessoa ter ouvido falar de uma bomba no deserto da Sibéria
quando ainda era um jovem.
Tio-Avô
--- Foi um caso estrondoso aquela bomba. Devastou tudo.
Imagina-se ter causado mortes de centenas de pessoas. Ou talvez milhares.
Ninguém quis ir ver o acontecido por um longo tempo. Logo, em 1917 a Rússia
entrou em guerra. E se chegar à Sibéria era um caso muitíssimo complicado. Com
uns tempos organizou-se uma expedição. Mas quem foi não encontrou coisa alguma.
– comentava o seu tio avô.
E O Abade ficou a pensar nesse caso muito preocupado, pois
por varias vezes o seu parente contava a mesma história. A chuva começava a
cair devagar. Logo após mais forte. Em poucos instantes um temporal com raladas
de vento fazendo tudo estremecer. Coma ventania incessantes o sino na Igreja
bateu forte, As portas enormes do Santuário batiam a todo instante como folhas
de papel. O uivar do temporal era o de uma besta feroz a procura de comida. O
Monge fazia a cobertura das portas com o máximo de entusiasmo a procura de
evitar um maior estrago. O Órgão do Tempo rugiu como uma onça ferina. A ventania
açoitava as copas altas dos ciprestes entre muitas outras. Um Monge ancião
entrou apressado em sua Cela como estivesse com terrível pavor. Um cão grunhia
com seu aparente frio e se entocava nos locais onde não havia temporal. Em
baixo, bem no resto do caminho, uma vaca mugia a chamar seu garrote. O vento
frio era terrível a aumentar a todo instante. O campanário soou sem ninguém
tocar. As águas torrenciais desciam pelas biqueiras dos telhados do Mosteiro:
Monge:
--- Vento! – refletiu um dos monges ao passar todo encolhido
para a sua Cela.
A manhã se tornou igual a uma noite intempestiva tão de
repente com o bradar dos trovões no açoitar dos intermitentes relâmpagos. Esfregando-se
todo com os braços mesmo cobertos por seu manto clássico o Abade soergueu os
ombros no momento de se levantar e balbuciou breve oração de piedade. Um sustou
atroz se acercou do Abade com o bater da porta do seu escritório. O vento forte
abriu e tão logo fechou o grande portal. Por um rápido instante o Prior
voltou-se para ver o estrondar da porta. Fora de Mosteiro, um grupo de noviços
caminhava como uns aturdidos a seguir a estrada a levar para o velho casarão.
Eram quatro noviços. Todos agarrados entre si. O temporal desbancava um caudal
de lama arrastando morro abaixo galhos e troncos de arvores. Era um vomitar torrente
do aguaceiro mais parecendo uma voraz fera assassina. Os noviços caminhavam
lentos agarrados entre si com as suas mantas a cobrir todo o corpo. O vendaval
açoitava mais ainda para o norte onde os pobres noviços tiveram inicio sua
marcha. Um cão passou em debandada levado pelo lamaçal e ao mesmo grunhir como
a pedir socorro aos noviços. Um deles
ainda olhou o desesperado cão. O noviço fez esforço de resgatar o cão, mas o
aguaceiro o impedia totalmente.
Logo a chegar ao Mosteiro, outro Monge lhes abriu o velho e
grosso portão para que o grupo de noviços tivesse acesso. O monge fez isso sem
nada dizer de bem vindo. Ele estava com seus trapos a cobrir todo o corpo e com
força tentou fechar o portão pesado sob o intermitente aguaceiro. O carrilhão
soou às onze horas da manhã escura como a noite invernal. O Abade viu a chagada dos noviços quando se
aproximava da sua biblioteca particular onde guardava muito bem guardado o
livro que ele mantinha o maior sigilo. Tratava-se apenas da “Bíblia do Diabo”. Esse livro o Abade
tinha em sua guarda há algum tempo e nunca se atrevera a ler. Naquela manhã
invernosa, já perto do meio dia ele retirou a estante secreta o saltério e se
pôs a folhear o escrito. Como teólogo o
Abade conseguiu tal volume em um sebo bem pouco procurado na parte baixa da
aldeia. Esse exemplar talvez nem mais existisse em livraria alguma das grandes
metrópoles, como era bastante como os livros tidos sob a guarda nos Mosteiros
em todo o mundo. Havia uma verdadeira “guerra” entre Abades de mosteiros a
conseguir um exemplar de um livro muito velho onde ninguém podia mais adquirir.
Aquele “Grande Livro” era um desses
prêmios ter o Abade Euclides de Astúrias conquistado. Então, para logo mais após o almoço tão
somente frugal ele estaria a estudar esses ensaios. Ensaios onde podia o Abade ter o conhecimento
de um pacto com o Diabo feito à meia-noite. Exorcismos. Algo de sinistro e tão
bizarro. Fatos inexplicáveis até então. O Abade sorriu e a porta gigante de seu
escritório bateu com toda força novamente. O Abade não se conteve e foi até o
local onde escorou com uma trave a grossa porta. Em seguida deixou o local e
voltou a sua estante secreta onde depositou o volume. Após lacrar muito bem
lacrado, o Abade Euclides sorriu com um ar de zombaria.
Abade:
--- Fica-te aí. Guardado e bem guardado! – sorriu o Prior
ponde a chave no bolso do manto clássico
Fora, a chuva. Ao meio dia, o sol desaparecera por completo.
O dia parecia noite. Podia-se ouvir o piar das gralhas e nada mais.
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