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AS BRUXAS - PARTE II
A chuva encharcava o solo do Mosteiro com pedras de granizo
toldando todo o espaço de pura lama envolvida de barro e folhas mortas. A precipitação
era constante no período invernal. Em um catre de Cela um monge ancião estava
todo enrolado àquela hora da manhã com certeza para salvar de uma bronquite
asmática sempre acometida nos tempos de maior frieza. O Observatório estava
inoperante por causa das torrentes de água caídas dia e noite. Na nave da
Igreja, vários pontos estavam corroídos e as goteiras se faziam presentes. Em
alguns locais, cobria-se com lonas para sustentar principalmente os altares
onde o lamaçal escorria pelos cantos das paredes. Os noviços trabalhavam com
afinco sob a ordem de um Monge de cavanhaque a ordenar a subir nos andaimes e
levantar as lonas de modo a cobrir todos os altares, mesmo os já protegidos
contra o temporal. Para os noviços aquela era uma tarefa agradável ao contrario
dos mais idosos onde apenas pressentiam haver um acidente fatal. Na sua sala de
despachos estava o Abade Euclides de Astúrias sempre a provar um pouco do vinho
já com um gosto azedo e amargo como fel. Ele cuspia após tragar de um pouco do
venho rosê. Desse modo, o Abade se voltou a sua poltrona e estico as pernas o
quanto pode para observar com estava a leitura das bruxas.
--- Para compreender o impacto causado pelo livro, estudiosos
examinam a forma com era o mundo e as bruxas antes e depois do Martelo. Relatos
isolados de caças as bruxas remontam à idade das trevas. A primeira generalizada
a elas ocorreu em meados do século XIV, um século antes do Martelo. Com a
popularização a caças às bruxas mudou onde começou com uma tentativa de acabar
com a feitiçaria pagã, a invocação do curandeirismo e o pragmatismo. Tal fato
se transformou num poderoso ódio. As bruxas deixaram de ser pagãs e se tornaram
heréticas e satânicas. Quando Martelo foi publicado em 1486 ainda se debatia
exatamente como as bruxas conseguiam seus poderes demoníacos. O Martelo dá as
respostas:
A pergunta de como Satã corrompe os humanos: a resposta do
livro é assustadora. Ele os torna seus
cúmplices e as mulheres desvirtuadas são as mais prováveis cúmplices. “A luxúria
carnal é insaciável”. “E por esse motivo elas brincam com o Demônio” reza o
livro. E essas cúmplices são quase sempre mulheres. O senhor Kraemer se referem
a elas como “bruxas”. A pergunta:
por que bruxas devem ser temidas e exterminadas. A sua resposta ainda é mais
assustadora: “Bruxas são o sinal do Apocalipse. Antes de dia do julgamento
todas serão todas serão queimadas vivas”. Kraemer anuncia esse mau, essa
adoração ao Diabo a um novo
Apocalipse antes do fim dos dias. Deus está tão zangado com a heresia da
bruxaria que, em primeiro lugar, permite a Satã
ajude as bruxas a fazerem coisas terríveis. E segundo, ele vai dar um fim ao
mundo. Não um dia qualquer. Mas antes do que se imagina.
Região do Tirol, dezembro de 1486. Oferecendo novas respostas
a antigos Demônios e superstições a obra prima de Kraemer está quase pronta
para ser publicada. Mas, para garantir o
sucesso do livro falta um último documento: uma análise crítica chamada de: aprovação. Da mesma forma como ocorre
com o endosso de uma celebridade moderna, sem aprovação o trabalho estaria
condenado ao fracasso. Heinrich Kraemer
quer a aprovação de uma das mais importantes escolas religiosas da época: A
Universidade de Colônia. De forma conveniente, o coautor James Sprenger, um dos
professores mais respeitados de Colônia. Os estudiosos do Malleus divergem
quanto o que ocorre em seguida. Alguns afirmam que Sprenger e Kraemer tentaram
obter o endosso da Universidade. A autoridade de Sprenger dá credibilidade ao
livro e diversos acadêmicos assinam a aprovação. Outros dizem que Kraemer está
sozinho. Impaciente, autoritário, ele não consegue o que quer. Kraemer
falsifica as assinaturas de mais outros acadêmicos. E a indagação é a de se
Kraemer seria capaz de uma mentira tão descarada?
Séculos depois duas equipes dos maiores mestres e
investigadores do Malleus - o Martelo - trabalham em conjunto
examinando cuidadosamente a aprovação. Berlim.
- A poucas horas da Universidade de Colônia, no Museu Histórico Alemão a equipe
procura sinais de falsificação. Enquanto isso, em Washington outra parte da equipe procura inspecionar a aprovação em
uma das únicas edições do Martelo
existentes nos Estados Unidos. Guardada na Biblioteca do Congresso sobe à
rígida segurança a edição foi reencadernada séculos depois. Mas no interior
está intacta e data de 1487. A aprovação contém duas partes. A primeira é uma
avaliação específica do livro assinada por quatro acadêmicos de Colônia com o
testemunho de um notário. A segunda parte é meramente uma aprovação superficial
da “Caça a Bruxa” em geral assinada
por oito acadêmicos. E no caso dessas assinaturas o notário estava ausente. O
notário responsável admite que não estivesse presente para testemunhar o
segundo grupo de assinaturas. E isso é estranho. Esse é o trabalho dele.
E outra evidência põe em dúvida a validade das assinaturas. Os
acadêmicos autores de, pelo menos, duas assinaturas, mais tarde alegaram que
não tinham assinado. E isso indica que é, em parte, uma falsificação. Mas,
mesmo que essas assinaturas sejam autênticas, talvez elas não sejam o que
parecem ser. Um dos acadêmicos disse endossado o livro após apenas olhar. Ele
diz não ter lido o documento com atenção. No geral a implicação é alarmante. O
único acadêmico religioso que afirma ter lido o livro atentamente é um
professor da Universidade de Colônia. E ele considera perturbador. Ele afirma que o tal livro nem todos devem ler. É um
livro para especialistas. Um livro problemático.
Talvez até perigoso.
A aprovação é incluída é prática dentre todos os exemplares
do “Malleus Maleficarum”. Para quem
tem o livro não há motivos para acreditar de um endosso tão poderoso. A
aprovação ajuda a provar o Martelo das
Bruxas em livro. Em maio de 1487, com aprovação completa o Malleus está
pronto para o público. Impresso pela primeira vez na cidade de Speyer, na Alemanha, a Bíblia do
Caçador de Bruxas está pronta para ser lançada. Um dos livros sobre bruxaria
mais famosos da historia poderia ter caído da obscuridade. Mas o Martelo das
Bruxas coincidiu com uma invenção que mudou o Mundo. Após a criação da prensa
de Gutenberg, na Alemanha, em 1454, os escritores puderam disseminar amplamente
o conhecimento. Pela primeira vez, na história, qualquer um, com recursos podia
imprimir vender e distribuir livros influenciando a opinião pública em larga
escala.
Com 150 exemplares lançados da primeira impressão e seguidos
de centenas mais, promovidos e vendidos a autoridades seculares e religiosas,
cleros locais, Universidades e Bibliotecas o Martelo das Bruxas espalha feito
chamas. Estimas que mais algum tempo mais de trinta mil exemplares tinham sido
vendidos. O Martelo chega ao público no início do século XVI, uma época volátil
de choques entre nações e de guerras épicas. Na mesma época a Igreja enfrenta
uma de suas maiores disputas interna. E a Reforma Protestante está começando a
surgir. Neste caos as descrições do livro de bruxarias apocalípticas ajudam a
criar uma cultura de medo e desconfiança:
Opiniões:
--- Estava convencido, na época, de que o número de bruxas
estava aumentando. E a influencia de Satã crescia da Europa e, ao menos que se
fizesse alguma coisa, a Europa seria destruída.
As praticas descritas no Malleus se tornaram comuns. A
colocação de cartazes nas portas das casas incitando moradores a delatarem
pessoas, interrogatórios evasivos, como usar a tortura e quando instituir a
pena de morte. No entanto, desde a primeira edição nem todos aprovam as ideias
do Martelo. Ao longo das décadas alguns críticos fazem fortes objeções.
Opiniões:
--- Não faz sentido essa questão
Mas isso não basta. Caçadas violentas às bruxas prosseguem no
norte da Europa levando o caos à Suíça, França, Alemanha e a outros países. Amplamente
divulgado o Malleus ajuda a fomentar uma nova onda de perseguições, torturas e
mortes. 1563. Wiesensteig, Alemanha. Menos de um século se passou desde um dos
mais notórios julgamentos de bruxas. A chamada tempestade de granizos em uma
cidade a mesma acusação se repete. Dessa vez, um conceito nobre acusa um grupo
de mulheres de um crime idêntico: conjurar o Diabo para criar uma tempestade de
granizo e destruir plantações. Incitado pelo nobre proprietário rural o caso
possui dois dos elementos mais importantes e invoca a caçada à bruxas: pânico e
patrocínio. O caso tem um sentido sinistro
Opinião:
--- Desde o inicio dos tempos pessoas em contextos
claustrofóbicos tem problemas de relacionamentos. Em consequência disso em
muitas sociedades põem ideias de que pessoas tinham o poder de fazer mal a
outras
Em uma caçada às bruxas a histeria cresce sozinha. Um senhor
fica ansioso para se apresentar e apontar um malfeitor. Ele é bruxa, Ela é
bruxa. E as pessoas sempre acreditam nessa ideia de feitiçaria diabólica. Uma
cidade pequena pode facilmente ser tomada pelo pânico. Com efeito, as suspeitas
de bruxarias frequentemente são mulheres camponesas. Algumas praticam medicina
com ervas. Outras conjuram o sobrenatural. Algumas são mentalmente doentes. Muitas
são apenas pedintes. E seu único crime é a pobreza. Segundo o Martelo, as mais
fracas são as mais perigosas. Em algumas cidades alemãs as mulheres são
torturadas. Os Inquisidores que consultaram o Malleus Maleficarum sabem da
forma mais rápida de uma bruxa confessar: a
tortura. Entre os piores instrumentos de tortura estão o capacete de ferro
que perfura a cabeça; chamado “esmagador de crâneos”; o pêndulo e o esmagador
de dentes. O julgamento dura meses. No total: mais de sessenta mulheres
confessam e são queimadas na fogueira. E elas não estão sós.
Novembro de 2009. O ódio não é apenas a imaginação do autor.
Algo mais significativo está entre panos como a sexualidade fútil do livro. No
Martelo a sexualidade de mulheres corre solta. As mulheres fazem do que seduzir
e fornicar com o Demônio. Ao logo do livro, à luxuria feminina é o portal para
Satanás.
Opiniões:
--- As mulheres chamam os seus parceiros para um ato sujo.
--- Elas também são muito mais emotivas que os homens. O que
se deve, em parte, a sua sexualidade.
A crítica do livro a sexualidade feminina ajuda a justificar
uma nova onda de crimes e perseguições. Para compreender a fixação do livro na
sexualidade. Uma série de cartas, documentos mais notórios de crimes sexuais
envolvendo o Martelo das Bruxas. Cartas escritas durante o fracasso de Kraemer
nos julgamentos. Há cartas trocadas entre o Bispo, autoridades locais e o
próprio Kraemer formam uma imagem reveladora de Heinrich onde ele se mostra
completamente perturbador. Ele violava os procedimentos. Violava as acusadas.
Após o julgamento das bruxas o comportamento de Kraemer ainda é mais
perturbador. Ele permanece terrível perturbando as mulheres acusadas. O Bispo o
acusou de insano. E este é o homem responsável pelo Martelo das Bruxas. Um homem incapaz de ser capaz. Ele foi julgado
e condenado pela própria Inquisição. Porem o seu livro continuou sendo
publicado e usado também por segmentos protestantes em alguns dos seus
julgamentos contra as bruxas. Em 1976 o livro também foi publicado do Brasil. E
o Prior ficou silente a meditar nessa longa historia ouvida contar ao longo dos
tempos. A Inquisição, e fato, existia, punindo aqueles que a Igreja negava o
seu apoio. Mortes e torturas. Nada mais.
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