- Rita Pereira -
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O VISITANTE
Alguns após
Caio estava no seu fogão preparando o seu peixe. Era a sua janta. Joana estava
no seu quarto onde preparava a sua cama retirando os lençóis e repondo os
novos. Ela havia deixado a casa do agente da Polícia Federal, pois o tempo
passara e ela já nem mais se importava com a ausência do General Wagner Rahner.
Com certeza ele arrumara outro local, uma vez que a vítima passara despercebida
dos olhos da Polícia. Nesse momento a sineta tocou por breve instante na porta
de entrada. Joana ficou curiosa, porém não se mexeu do seu ponto de trabalho.
Quem foi atender, de fato, foi mesmo o dono do apartamento um pouco abusado
porque o peixe estava lhe queimando as mãos. Como de outras oportunidades, ele verificou
quem chamava, por puro cuidado. Um homem de estatura mediana, talvez um metro e
setenta ou um pouco mais. Do seu modo, Caio abriu a porta deixando a trancada
ainda por uma corrente a não dar acesso de um pouco mais de dez centímetros.
O homem se
identificou com brevidade, e Caio abriu a porta de entrada ficando entre o
homem e o corredor. Do outro lado, a senhora Dalva veio também a passa a vista,
pois ficou um costume de se ter de prestar atenção quando alguém tocava a
sineta de ou de outro apartamento. Dalva esperou alguns instantes e se trancou
fechado a sua porta. E o homem foi logo a conversa com o agente da polícia
civil do Estado. Após os cumprimentos veio a taxativa pergunta:
Visitante:
--- Meu nome é
Elmer Rainke. Eu sou natural da Alemanha. Mas o tempo me fez mudar para
brasileiro, pois já estou aqui há mais de dez anos. Bem. Eu estou procurando
uma senhora, cujo nome é Joana. E se não me falha a memoria, de sobrenome
“Vassina”, creio que esteja correto. Por idas e vindas eu vim parar aqui. Por
favor, o senhor a conhece? – perguntou curioso.
Caio verificou
os documentos do visitante e levou algum tempo para responder verificando com
bastante atenção os documentos mostrados. Tinha um passaporte, carteira de
Identidade, CPF entre demais documentos. Por fim, Caio convidou o homem para
entrar e de vez falou.
Caio:
--- Sim. Eu a
conheço. E o senhor é algum parente? – ele olhou fundo dos olhos de Elmer
Rainke.
O homem se
remexeu para um lado e para outro enquanto se sentava no divã. As lágrimas lhes
desciam dos olhos e ele falou com emoção.
Rainke:
--- Mas o
senhor conhece mesmo? – e estava a lagrimar.
Caio:
--- Se é a
mulher que procura, eu a conheço. Por quê? – indagou curioso.
Rainke:
--- É uma
história longa. Eu nunca a vi. Mas tudo começou quando eu era criança. Eu tinha
coisa de seis ou sete anos. Uma mulher passando lá por casa, perguntou a minha
mãe: “Esse menino é o que a senhora cria?” – E a minha mãe me deu um puxavante
e me colocou para dentro de casa. Trancou a porta e nada respondeu. Eu era
criança. Bem criança. E o tempo passou. Eu não me esqueci da mulher. Quando eu
era rapaz fiz perguntas aos meus primos. E nada soube. Quando por fim, eu já
homem feito, dos meus 25 anos, a minha mãe me chamou e então me disse que eu
era a criança que ela criou. E contou a história de dona Joana. Desde esse
tempo eu a busco. Se não fosse um amigo que eu tenho na Força Aérea, sabedor da
minha historia por certo eu não estaria aqui. Ele me apresentou as fotos
tiradas por ele mesmo de Joana Vassina. Esse amigo é um homem que trabalha na
FAB. Ele é o cinegrafista. E fez as fotos que eu trouxe. Foram fotos feitas em
Brasília quando Joana esteve lá para a identificação de um corpo de um cidadão.
Eis aqui. – e mostrou as fotos a Caio.
Joana estava
no quarto de dormir arrumado a sua cama e ouviu a conversa. Para facilitar, ela
saiu e passou com pressa para a cozinha onde estava assando o peixe. De tanto
assar, o fogo já tinha tostado a carne. Ela a retirou do fogo e colocou tudo para
fora. E então arranjou outro pedaço de
peixe e pôs a cozinhar. De fora, a mulher olhava para a cara do rapaz para ter
certeza de quem era. E ouviu de Caio a sentença.
Caio:
--- Sua vida é
uma novela. Dá até para fazer um filme. Que coisa. E como o senhor encontrou a
minha humilde habitação? – indagou.
Rainke:
--- Isso foi o
mais fácil. Eu busquei a Secretaria de Segurança e eles me informaram. –
relatou
Caio:
--- E o senhor
trabalha em que? – perguntou
Rainke.
--- Eu já
trabalhava na companhia de aviação Skyscanner. Eu fui aviador de carreira.
Então, certa vez eu resolvi fazer as malas e morar no Brasil. Esse é o País do
futuro. – disse o homem
Caio:
--- Essa
conversa eu já ouvi contar. E desde anterior a Guerra, pela Lufthansa. – sorriu
com vagar.
Joana Vassina
chegou a sala e indagou:
Joana:
--- Jantar
para dois? – perguntou a mulher bastante séria
Caio respondeu
após ouvir a resposta de aceite do rapaz. E nesse momento Rainke comentou
murmurando a Caio:
Rainke:
--- Quem é a
senhora? É a sua mulher? – indagou duvidando
Caio
--- Não. Não.
Eu estou pressentindo ser ela a sua mãe. – disse de vez o homem
Então foram
choros e lágrimas para os reencontrados. Quando ouviu a sentença dada por Caio
o rapaz desabou em choro se levantando do divã e indo abraçar a sua verdadeira
mãe. Preces de um amor eternal evocando os deuses germânicos. As lendas e mitos
escandinavos de antigos deuses e a criação e destruição do universo constituem
a primeira fonte de conhecimento da antiga mitologia germânica. Era para esses
o oráculo dos presentes. Abraçados como um só corpo eles se uniram a uma só
vontade. Uma polca imaginável. Felizes dançaram como se dança assim na Alemanha
de tempos remotos. E nesse momento, Caio saiu para chamar os seus amigos. Ele
queria como o amor se complementa em um só instante onde filho e mãe se
encontram pela vez primeira em toda sua vida.
Dalva:
--- É um
delírio divino! – declarou a dama
Bartolo:
--- Quem
diria! – falou o rapaz nem acreditando no que via de concreto.
Caio:
--- Falta uma
coisa! Cerveja! É assim que se faz na Alemanha! – gritou em delírio
Cerveja,
vinhos, champanhes, pães, linguiças e tudo que se podia arranjar de ultima hora
para festejar o encontro de mãe e filho. A música alemã tomou conta do ambiente
retirada dos arquivos de Caio Teixeira em discos um tanto mofados. E o homem
completava com êxtase.
Caio:
--- Não
importa. Essa é a glória de reviver um mágico instante há tempos passado. –
enfatizou
Era alta
madrugada quando tudo terminou. Ficou a lembrança de se fazer um passeio ao
largo do Estado em um domingo pela manhã como a gloriosa festa para dona Joana
Vassina e o seu filho Elmer. Entre champanhes e vinhos todos foram dormir.
Ficou certo que na manhã seguinte, Elmer e Joana visitariam os recantos famosos
da capital onde tudo era encanto. Caio teve de alocar um quarto para dar abrigo
a Elmer tendo a idosa mulher se confortado em dormir no apartamento vizinho de
Dalva e Bartolo. A magia do resto da madrugada terminou aos cantos das aves
quando já amanhecia de verdade. As louças para lavar podiam assim esperar o
certo tempo a mais.
Com o anunciar
do dia se ouvia na rua o gazeteiro oferecendo jornais e homens a passar
apresentando de imediato grude e tapioca ao despertar os sonâmbulos senhores e
senhoras da noite nublada e fria. De longe se ouvia um vendedor de mangas,
pinhas e graviolas.
Vendedor:
--- Olha a
manga. Olha a pinha. Graviola. Quem vai querer! – falava em voz branda.
O homem de meia
idade continuava no seu sono como se nada houvesse a fazer. Meio cambaleante, o
homem Caio ingressou no banheiro do apartamento para cumprir suas virtuais
necessidades. Na sua sala fechada um Morse batia solitário informado algo. Nada
mais ele tinha a cumprir.
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