- Paris Hilton -
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OS INOCENTES
O agente Caio
Teixeira sorriu vagaroso e voltou a falar da fuga da noite passada do General
nazista pego por dois aparentes auxiliares de enfermagem. Os raptores colocaram
o General em uma ambulância após desmaiar com golpes da cabeça os dois
maqueiros quando ainda estavam no interior do hospital. Dai em diante houve
tremenda perseguição até o cruzamento das Avenidas Salgado Filho e Bernardo
Vieira. A chegar ao cruzamento à ambulância colidiu com um trucado e virou
cambalhotas por diversas vezes até que o trocado Bitrem se enroscou com o outro carro provocando um incêndio
catastrófico. O fogo assumiu terríveis proporções invadindo uma loja de
comercio da Midway e demais lojas menores a existir no cruzamento das avenidas.
A gente procurou fugir das chamas atropelando outros transeuntes e acabando por
matar pisoteados esses viandantes ou passageiros. A situação se tornou
gravíssima com as autoridades policiais evacuando os moradores de prédios
próximos para evitar um flagelo sem precedentes. Houve pânico generalizado por
parte desses moradores, inclusive os habitantes de prédios maiores fincados nas
ruas adjacentes. Houve mortos e feridos. Especula-se em quase cinquenta mortos.
Caio:
--- Mas
espera-se um número maior. Toda a área conflagrada foi fechada ao público,
mesmo aos moradores a espera de se debelar as labaredas ainda insistentes no
quarteirão. – declarou o agente.
Bartolo:
--- Ah! Mas eu
preciso ir até o local. O jornal não pode ser batido com uma notícia dessas. –
rebateu um repórter.
Caio:
--- Creio não
ser preciso. Há repórteres por todos os locais, inclusive colegas seus. – falou
calmo.
Bartolo:
--- Colegas?
Colegas? Não tenho colegas! Eu me viro como posso quando se está em uma grave
necessidade como a tal! – falou cruel a procura dos seus documentos.
Dalva:
--- Calma!
Calma! Esse é um fato que vai gerar muita controvérsia. – declarou a mulher.
Bartolo:
--- Calma que
nada! Eu vou seguir agora mesmo! Com ou seu coração! – relatou brutal.
Caio:
--- E voce
sabe como pode entrar no cerco? Olha lá! Não é um cercadinho. É um longo cerco
protegido pelas Forças Armadas. Não vá se meter em perigo! – aconselhou.
Bartolo:
--- E como é
que se entra nesse certo, heim? Heim? Heim? – indagou rápido
Dalva:
--- Calma
gente! Vamos deixar a coisa esfriar! – falou com remorso.
Bartolo:
--- Coisa
esfriar que nada! Eu vou agora! E por que voce não me chamou quando todo
ocorreu durante a noite? Heim? – perguntou indignado
Dalva:
--- Voce
estava de sono ferrado. E eu me preocupei mais com sua saúde! Merda! – falou
esquentada.
Bartolo:
--- Tá vendo?
Tá vendo? E se eu tivesse morrido? – falou intrigado ajeitando calças, camisa,
paletó e documentos.
Caio:
--- É melhor
confiar no que a sua mulher está a declarar. – falou calmo e prevenido
Bartolo:
--- Que nada!
Eu me ajeito! Por onde? Por onde? Por onde? – perguntou insistente.
Caio:
--- Eu
aconselho pegar a Avenida Rui Barbosa. É o melhor meio. – confidenciou.
Bartolo:
--- Legal.
Deixa que eu me acerque. - - falou ao pegar as chaves do carro.
Nesse ponto a
mulher falou alto.
Dalva:
--- Ei! Essa é
a minha chave! – falou grosso.
Bartolo:
--- E a minha?
– perguntou a olhar por outros locais.
Com alguns
minutos de procura até que em fim ele achou a chave e, de vez, saiu na carreira
em busca do seu carro. Foi um atropelo indigesto para encontrar um meio de
estacionar o veículo em um local próximo à avenida citada. Após entrar e sair
com pressa por becos imprevistos, Bartolo chegou ao ponto nefrálgico da
situação. Em um ponto até mesmo distante, ele olhou para um lado e outro e
encontrou um local de estacionar. E dali seguiu a pé por entre veredas e
entulhos até chegar ao ponto indicado da avenida bloqueada. Naquela hora
domingueira da manhã havia gente por demais querendo olhar de longe o fogo
ainda não sufocado pelo Corpo de Bombeiros a improvisar água do terreno da
ETFERN e do Hospital Central. Era o meio de aplacar as chamas ainda renitentes
àquela hora do dia. O povo desunindo parecia saído de uma feira, porquanto era
um número impressionante. E tinham até os “trombadinhas, maloqueiros,
vigaristas ou assaltantes” batendo a bolsa das senhoras desprevenidas com o
aguçar do olhar vendo as temerosas labaredas ainda a sair do edifício.
Ao se acerca
da grade de proteção ele observou uma figura peculiar entre os muitos
existentes na proteção do cercado. Oliveira era seu nome. De imediato, Bartolo
procurou falar com Oliveira e esse demonstrou inquietude.
Oliveira:
--- Por aqui,
homem? Sai daqui! Tá tudo cercado! – falou o homem com severidade.
Bartolo:
--- Escuta
meu! Dá um jeito. Fala com um superior. Diz que sou teu amigo. Eu não pude vir
à noite passada. Eu estava doente. Agora é que estou aqui. Fala com ele! –
relatou no sufoco.
Oliveira:
--- Puta
Merda! Voce me arranja cada encrenca! Espera! Eu vou contigo! Espera aqui!
Estas me ouvindo? – falou com raiva o policial.
Bartolo:
--- Vá! Vá! Vá!
Eu espero! – falou sorrindo o repórter.
Eram passados
os minutos e Oliveira voltou. Ele havia obtido uma senha para postar no busto
de Bartolo e assim poder entrar mais tranquilo. De longe as chamas ainda invadiam a loja
Midway, assim Bartolo pode observar. Casas carcomidas pelo cruzamento das
avenidas e os dois veículos no meio da estrada. Os homens da polícia civil
procuravam retirar o resto dos corpos carbonizados das cinco vítimas do
acidente. E de perto, Bartolo viu o solene estrago acarretado pelo motorista da
ambulância. Preso a cama estava o corpo carcomido do General Wagner Rahner
antigo líder nazista dos campos de concentração da Polônia. O cadáver da vítima
não tinha nenhum sinal de quem vivera tantos anos sem saber ter um dia capaz de
apontar as marcas de um holocausto. Um homem que matara tanta gente havia de
acabar como um pobre indigente morto e carcomido pelas chamas de um passado
sombrio e cruel.
E Bartolo se
lembrou dos campos de extermínios. Os pontos de concentração de prisioneiros. No
campo havia local de armazenagem de bens e objetos de valor tomados dos
prisioneiros. Em contrapartida, ali no chão aquecido pelo grosso fumo do
incêndio, estava a carcaça de um ser que um dia estava coberto de ouro e pratas
dos mortos. Um dia, os fornos de extermínio consumiam o mascarar de um
assassinato de seres humanos. Após dezenas de anos, o General nazista jazia
morto no chão como os cadáveres dos inocentes. Meninos e meninas. Homens e
mulheres. Idosos e jovens. Os nazistas
perseguiam grupos de “inimigos” por razões raciais ou ideológicas. Dentre as
primeiras vítimas da discriminação nazista encontravam-se os oponentes
políticos daquela ideologia, principalmente comunistas, socialistas e líderes
sindicais. Milhares de prisioneiros políticos foram encerrados nesses campos.
Os nazistas perseguiam autores e artistas cujas obras eram consideradas
subversivas. Os homens ciganos, considerados “preguiçosos” estavam entre os
primeiros a serem mortos em furgões de gás no campo de extermínio de Chelmno na
Polônia. Mais de vinte mil ciganos foram deportados para o campo de Auschwitz onde foi
assassinado na câmara de gás. Os poloneses e outros povos eslavos eram
considerados inferiores. Esse povo era condenado à aniquilação. Milhares de
intelectuais e padres católicos transformaram-se em alvos a serem destruídos.
Estima-se que os nazistas assassinaram dois milhões de civis poloneses
não-judeus durante a II Guerra Mundial.
Bartolo:
--- Infame! –
articulou por sua vez o jornalista.
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