segunda-feira, 31 de janeiro de 2011

AMANTES - 65 -

- Melanie Griffith -
- 65 -
O ano passava parecendo rápido e o vice-presidente da empresa, Silas Albuquerque, a sua secretária particular, Ligia Duarte, a presidente Vera Muniz, auxiliares e diretores de filmes corriam feito loucos de um lado para outro a fim de terminar as produções programadas para serem apresentadas nos Festivais de Cinema do Brasil e do exterior, como Berlim, Rússia, Veneza, França, Espanha, Estados Unidos, México e Cuba entre outros. A empresa de Vera Muniz estava com uma produção de cerca de dez filmes durante o ano e ainda adquiria produções independentes para exibir no Brasil e exterior. Artistas sob contrato era um mundo. Quase sempre um ator trabalhava oito dias e já estava locado para outra produção. Técnicos, eletricistas, mecânicos, diretores e mesmo produtores independentes eram amealhados pela Empresa POMAR de Entretenimentos. No exterior, como Itália, produções eram aceitas de acordo com o seu tema e beleza fílmica. Com a certeza de estar emplacada nos festivais de cinemas, Vera era puro deleite;
--- Vencemos mais essa! – sorria Vera Muniz ao ver o resultado de um festival como  Locarno.
Locarno é uma cidade da Suíça onde se faz amostra de cinema. O prêmio cobiçado por uma produção cinematográfica é o “Leopardo de Ouro”. A mostra de filmes é tida como Festival Internacional de Cinema de Locarno. Apesar de pouco divulgado a frente dos demais, o Festival de Locarno é magnífico cinema com os prêmios auferidos as mais belas produções. Quem passa por Locarno, a cidade, encontra belas ruas estreitas prontas para ser locadas em um filme. O lagos de Locarno é uma atração para o turismo. Casarios nos montes e na cidade são outras atrações. Belos Hoteis como o Hotel Dell Angelo são atrações a parte. Quando Vera Muniz, Silas e a secretaria Ligia estiveram em Locarno ficaram então maravilhados com toda expoente beleza do lugar. Eles tiveram a emoção de defender o “Leopardo de Ouro” com uma de suas produções ítalo-brasileiro-francesa.  Ao saírem de Locarno, Suíça, eles prometeram voltar no próximo ano com outras esmeradas produções.
E assim prosseguia célere Vera e Silas Albuquerque com seu leque de produções. Não raro, um tomava direção diferente do outro, porque eram vários locais para se ver filmes estrangeiros e notar qual seria o melhor em termos de exibição. Não raro ganhava o premio uma produção de menor nível enquanto outra de maior porte ficava para trás. Havia severas discussões em torno de tais festivais e de jurados, cujo empenho era maior por um filme de cunho de um país vizinho deixando-se outras produções muito mais interessantes. O cinema começava em seus Festivais a partir do mês de fevereiro e prosseguia até o mês de dezembro. No Brasil eram vários festivais muitos dos quais a Pomar não poria filmes apesar de ser festivais de exímio conteúdo para se verificar. 
De volta ao Brasil, Silas e sua secretaria, Ligia, tinham muito que aprender e o que declarar em reuniões de diretores, produtores e atores. De uma vez, Silas esteve em Espanha agendando a mostra do Brasil para o cinema internacional. E desse ponto, ele teve de viajar para Belo Horizonte, Minas Gerais, onde outra mostra era programada. Dessa vez ele foi à companhia de sua esposa Vera Muniz. Com certo cansaço. Silas voltou para a capital deixando Vera Muniz a ver o restante dos filmes em exibição. A sua secretária Ligia Duarte estava febril, nesse tempo, sem sair de casa. Ela solicitou uma licença de três dias enquanto a casa ficou por conta de Lia, a sua prima.  Com o passar dos dias, Ligia voltou ao trabalho deixando, por conseguinte Lia a ocupar suas funções domésticas. O rapaz – presumivelmente – do telefone voltou a ligar para a exuberante Lia apenas para ouvi-la dizer “alô”. Ele nada respondia de retorno e Lia bastante apoquentada findava por desligar o telefone. A moça continuava a fazer o serviço doméstico, não raro esfregando o chão ou coisa parecida. De certa vez, a saia de Lia levantou por força do vendo e a deixou a descoberta até a cintura. Ela vestia uma saia não tendo por baixo as calcinhas. De imediato, Lia se soergueu e baixou a saia. Nesse instante, sem que nem mais, ela pode observar a janela do apartamento quase vizinho e enxergou novamente a luneta por entre a cortina e um rapaz, com certeza, a observar a moça. Ela não teve escolha: enfiou o dedo na vagina e mostrou para o rapaz da luneta dizendo:
--- Cheire aqui, ó! – berrou Lia para o rapaz.    
E não houve progresso na ação de Lia. De imediato, ela trancou a porta do kitnet e passou a cortina de tecido negro e branco e largou o voyeur a ver plumas e paetês. O kitnet de Ligia era apurado e ao passar dos meses ela cobria com mais elegância ainda maior. Desde a porta de entrada até os mais remotos terraços a moça revestia com sedas entre outros ambientes de maior rigor. E, por seu lado, a prima Lia dava maior gosto na arrumação primoroso do belo apartamento. Quando estava em casa, Ligia ficava a meditar o de se fazer melhor para dar mais encanto ao seu kitnet. Apesar de ser um acanhado minúsculo imóvel alugado, para Ligia o apartamento era como se fosse seu. Dessa forma a moça seguia seu rumo. Amigas, amigas do peito Ligia não tinha. Apenas Lia e, de vez por outra, uma vizinha aparecia em seu imóvel para dois dedos de prosa. Só isso e nada mais. Os encontros furtivos e obscenos ela mantinha com Silas Albuquerque nos apartamentos de hotéis, quando isso fora tão possível. Ou mesmo em viagens pelo interior ou no exterior. O caso entre os dois havia tão somente ao sabor dos dois amantes e nada mais.
Teve um caso em que Silas ficou com a moça na parte de cima de uma sala de cinema. Esse foi um negócio casual. No cinema não havia viva alma no salão de cima e, enquanto o filme era projetado eles fizeram sexo na parte de cima da sala de cinema.
--- Loucura! – dizia a moça ao seu amado a sorrir.
Momentos casuais. De outras vezes, era aproveitar um apartamento do Hotel d’Olivier, em Cannes, da França. Sedenta de amor, a moça já sem a sua virgindade desde o tempo em que esteve com Silas Albuquerque em um apartamento no Hotel das Nações, em Brasília tecia carícias as mais afetuosas cobrando um pouco de carinho e apego do seu terno amado. Foi um angustiante momento de ternura aquela vivida por Ligia ao sol nascente da França. Ela se lembrava de muitas estrelas atrizes onde fizeram sexo  como aquele no mesmo Hotel d’Olivier, com certeza.
--- Chega! Chega! Mais! Mais! – era tudo o que a moça dizia ao sol do velho mundo.
Paris estava aos seus pés. Cannes nem brilhava tanto como o amor de Ligia por seu eterno dono amante e senhor. O homem teve uma manhã incomum ao ver Ligia, vestindo apenas um penhoar de cetim a caminhar pelo quarto com um rosto em figura de uma mona olhando Silas com tal sorriso de modo inquieto e forma maliciosa. 
--- Que loucura! – precisou o homem a sorrir.
Quando estava no Brasil, Silas Albuquerque chamou  certa vez o velho Diomedes a treinar um pouco, nas pedras, bem ao alto da vila, distante das casas a sua Luger então já com munição. Os dois senhores saíram para um local remoto bem ao longe da vila uma tarde de junho. E eles procuraram um local onde pudesse atirar sem jeito de atingir qualquer pessoa. Foi nesse tempo em que Diomedes se lembrou de contar a Silas o sonho que tivera a noite passada:
--- Hoje, eu tive um sonho impressionante. – disse o velho.
--- Com que? Vê se dá para ganhar no bicho! – sorriu Silas remendando o sonho.
--- Não sei. Foi um sonho. Mas a pessoa que eu via era a Racilva. Nunca eu sonhei com Racilva. Hoje, me veio à lembrança a moça Racilva. Ela estava em um, parece, um cemitério. Ela colocava rosas no tumulo de Fernando, o menino que morreu. O senhor sabe. Mas, havia uma casa grande. Depois eu me lembrei da administração. E ela estava com uma menina. Estranho! – reprovou Diomedes ao pensar no sonho.
--- Estranho mesmo. Chega me deu arrepios. A gente sonha cada coisa. Pra mim, Racilva morreu mesmo. Faz mais de um ano. Não tive mais noticia. – lembrou Silas inquieto.
--- É. Ela não me via. Eu estava perto dela. Mas não me via. Curioso! – retrucou Diomedes.
--- Sonho! É sonho! Segunda feira você pode perguntar isso a Paredão. Veja o que ele diz! – falou Silas ao velho Diomedes.
--- É. E nunca mais nós fizemos sessão em casa. Então, agora, seu sonhei a uma pessoa que fazia parte da mesa. – reclamou o velho Diomedes arrependido.
--- E você tem ido ao centro? – perguntou Silas ao velho.
--- Nunca mais. Nunca mais. Estou sentindo falta do centro. – relatou o velho com pura solidão.
--- É. Mas vamos aos tiros! – sorriu Silas para o velho.
O dia era limpo e o sol caminhava para o poente quando os dois amigos resolveram voltar para as suas respectivas casas. Na verdade, Diomedes morava em uma casa nova. Silas, em uma mansão que ele mandou construir por uma empresa. As moradias ficavam quase a beira-mar. Quando era maré alta, as humildes casas eram lavadas até a cozinha pelas águas do mar. Casas pequenas, humildes, quase caindo. Alguns desses casebres eram escorados por madeira. Tinha casebre que era trocho, quase a cair. Alguns casebres eram feitos de palha de coqueiro. Gente idosa as que moravam nos casebres de palha fincados na areia. As moradas de pescadores eram sempre velhas. Eles pescavam em jangadas em alto mar. Ou pescavam com redes de malha. As redes eram estiradas nas cercas de suas casas. Algumas tinham troncos de coqueiro formando bancos logo em frente das choupanas. As pedras negras eram as protetoras dos casebres contra a entrada do mar nos meses de águas violentas. O local onde os dois amigos foram treinar tiro com uma pistola do tipo Luger de procedência alemã era bem distante das residências de morada.
--- Onde estão as tuas jangadas?  - perguntou Diomedes a Silas meio pensativo.
--- O homem continua a fazer reparos. – respondeu Silas preocupado com outras coisas.

domingo, 30 de janeiro de 2011

AMANTES - 64 -

- Leslie Caron -
- 64 -
Logo após o carnaval Ligia viajara com Silas Albuquerque para tratar de assuntos do Festival de Cannes onde o Brasil estaria representado com duas produções cinematográficas produzidas pela Agencia Cinematográfica Pomar do Brasil e Entretenimentos. Enquanto ela deixava o Brasil, na companhia de Vera Muniz e Silas Albuquerque ficou em seu kitnet a sua prima Lia cuidando dos afazeres domésticos. Foi por esse tempo, percebendo um objeto estranho que Lia ficou na espreita de quem era a curiosa pessoa a lhe mirar de dia e também de noite. Lia desconhecia luneta. Porem desconfiou ser um objeto para se poder ver mais longe. E foi muito bem querendo acostumar nessa hipótese na qual Lia se aproveitou. O prédio era quinze metros a frente do kitnet habitado naquele momento por Lia. Levando em conta tal hipótese, a mocinha ficou dentro da sala de sua humilde morada e levantou a camisola mostrando-se por completo ao rapaz do outro lado. Ela praticou tal ensaio por cinco minutos e depois baixou a camisola saindo da sala a sorrir como quem dizia:
--- “Gosta? Quer? Venha!” – era isso porventura o que a moça dizia em seu pensamento.
E fazia isso com gestos da sua mão para o rapaz – provavelmente – entender. A cortina do prédio em frente ao de Lia se fechou e daquele momento em diante nada mais era visível. Quando a garota voltou à sala do seu kitnet, nada mais pode ver na verdade. Então a moça ficou decepcionada e fechou a porta de entrada para a arcada do kitnet e foi cuidar de outras coisas enquanto começava a novela pela televisão, tema comum, porém despertando vivo interesse para Lia. Alguém bateu à porta e a jovem morena foi abrir para ver que era. Nada de mais: o carteiro. Ela recebeu os papeis e tornou a fechar a porta. E teve o cuidado de trancar com ferrolho além de por a fechadura de duas voltas. Lia voltou a cozinha e o telefone tocou. Com raiva por atender Lia pronunciou:
--- Bosta! – falou Lia ao tempo de estar para atender ao telefone.
O telefone se fez mudo. Porém alguém estava na linha. Ala falava como seu interlocutor. E esse não a respondia. Era apenas simplesmente mudo. Lia se zangou impertinente e disse um desaforo desligando o aparelho. Em seguida o telefone tocou com seu toque brando. Ela foi ouvir e ninguém respondeu. Ela voltou a desligar e sentou no sofá para assistir a novela nem se importando o que Haia na cozinha. E novamente o telefone tocou. Ela arrancou com bastante raiva o fio da tomada deixando o telefone mudo por completo.
--- Vá chamar o diabo! – disse Lia com cara abusada.
De camisola, ela sentou de novo no sofá e foi ver a novela. Então, a moça cochilou e, por fim, adormeceu. Quando a noite estava chegando Lia despertou. Acendeu a luz da sala e foi para a cozinha ver o seu café. Porém, ela se esqueceu de ligar o telefone do apartamento. Então, Ligia fez uma, dois, três e mais chamadas sem que nenhuma fosse atendida. Então, a moça desconfiou de que Lia tivesse saído ou mesmo partido para o interior. Outra coisa: doença. Afinal, doença podia ser acometida a qualquer instante e em qualquer pessoa. E logo a moça pensou em sua mãe, Bela. Afinal era já uma mulher de seus sessenta anos e bem poderia estar com alguma doença. E não precisaria ser doença de contagio. Doença comum. Ligia fez ligação para a cidade do interior do Estado pedindo informação de casa. Ela esperaria um pouco e voltaria a chamar depois. A atendente concordou. Com mais alguns minutos, Ligia voltou a chamar a sua cidade. A resposta foi de que tudo estava em ordem. Nada havia a temer.
--- Será o Benedito!? – pensou Ligia porquanto o telefone de sua casa não atendia.
Então, Ligia teve outra idéia: ligar para um apartamento vizinho ao dela. E fez. E atendeu. A pessoa pediu um momento, pois teria de ir ao apartamento de Ligia. Com um pedaço de tempo a moça voltou e deu a noticia: o telefone estava desligado.
--- Puta merda! Isso é uma porra! – gritou a moça e se desculpou por tanto atrevimento.
Em seguida, Ligia fez nova ligação para o seu aparelho e esse atendeu. Ela então perguntou a Lia o que estava havendo com o telefone.
--- Um sujeito ficou ligando para mim e não dizia nada. Então desliguei o telefone. – respondeu Lia com aspecto de abusada.
--- Como você sabe que era um homem? – indagou Ligia atormentada.
--- Sei lá. Penso que era! – respondeu a moça de modo inquieto.
--- E agora você vai desligar o telefone? – indagou Ligia meio brava.
--- Não. Mas se for ele eu dou o troco. Desligo na cara e não atendo mais. Pode chamar como quiser. Eu não atendo. Se for ele! – respondeu malcriada a jovem Lia.
A conversa durou mais algum tempo e Ligia se despediu dizendo que Lia tivesse cuidado com o que estava fazendo. E desligou a chamada.
Depois daquele dia, no escritório, Diomedes recebeu um telefonema. Era um rapaz. Ele disse ter encontrado munição para a arma de seu Silas Albuquerque. Não era tão difícil se encontrar munição para aquela virtuosa arma. A arma Luger ou Parabellum fora fabricada desde o ano de 1899 até 1945, quando o Exercito alemão adotou como arma de guerra para seus oficiais militares A munição era de 9 mm como para as armas que estavam em curso. Com isso, Diomedes agradeceu a atenção e ficou de procurá-lo em dias próximos. O rapaz não tinha muito prestigio com a sociedade, pois certa vez e por mais de uma, o homem estivera preso por conta de contrabando de armas. No entanto, Diomedes o conhecia muito bem desde a época quando fazia frete do interior para o  Mercado da Cidade, quando ainda era moço. Certo dia, depois da mostra da arma.
Ao dizer a novidade a Silas Albuquerque, esse ficou muito entusiasmado por saber da notícia. E ele mesmo entregou a arma Luger ao seu amigo para ver como fazia o Parabellum operar, se não mais estivesse corroído pelos anos. Com todo o cuidado, dias depois, Diomedes foi ao encontro do rapaz. E então levou a arma consigo para se examinar e dar como garantia o seu manuseio. A arma tinha características agressivas e naqueles dias apenas os Colecionadores de armas podiam ter um Parabellum igual. O rapaz tivera o cuidado de guardar o Luger e partir em companhia de Diomedes para examinar e ver o seu tiro certeiro como fora feito durante o período da guerra. A pistola era a mais portátil e pratica de se manusear.  O seu disparo era de alta velocidade e grande precisão como sustentavam os colecionadores da Luger onde o rapaz foi apresentar com Diomedes presente para ver o seu estado dentro daquele ano muito tempo depois de ter sido recolhida de sua fabricação.
--- Tem até tecla de segurança! – disse um dos colecionadores de armas.
--- O que é isso? – indagou Diomedes um tanto inquieto.
--- É para impedir o disparo se arma não estiver corretamente empunhada. Veja! – mostrou o colecionador a Diomedes.
--- Certo. Isso é bom? – perguntou Diomedes de olhos atentos.
--- Uma maravilha. Tem um calibre mais potente. – admirou o colecionador com o seu olhar inquieto e a fala mansa.
Apesar da lição dada pelo armeiro, para Diomedes tudo não passava de palavras, pois de coisa alguma entendia o que se estava a dizer. O velho nunca possuíra uma arma. Nem ao menos um bodoque ou um estilingue. Na sua meninice, o que Diomedes de mais entendia era de anzol. Linha, chumbo de pesca e outros elementos de se armar uma rede de pescaria. De armas, nunca ouvira falar até aquele momento. E quando tudo isso acabasse, ele  estaria um perfeito armeiro para ensinar tudo o que aprendera ao seu patrão.
--- Essa tem cano de 8 polegadas e mira regulável de 800 metros. Belo espécime. O senhor está vendendo essa Mauser? – indagou o armeiro ao impaciente portador da arma.
--- Não senhor. É do meu patrão. – respondeu Diomedes um pouco desconfiado.
--- E o que é que quer saber sobre a arma? – perguntou o Colecionador.
--- Eu pedi a esse rapaz que procurasse alguém que entendesse de arma para poder dizer ao meu patrão. – respondeu com pressa Diomedes.
--- E que, é o seu patrão? – indagou o Colecionador mais atento a resposta.
--- Ele é um dos donos da Agencia Pomar. A que produz filme. Doutor Silas Albuquerque. É o nome dele.  – respondeu o velho Diomedes com o rosto todo molhado de suor.
--- Ah bom. Pois ele tem uma preciosa arma. Eu tenho aqui a munição para a Luger. Vou até mandar para o Doutor Silas umas caixas de munição. E se ele quiser fazer negocio, eu estou às ordens. Com relação ao preço, isso a gente discute outra hora. Uma bela arma! Luger!!!  Aqui, no Brasil, parece que o Exercito tem armas como essa. Não sei bem. – alegou o homem devolvendo a arma a Diomedes.
Os dois homens saíram da residência do Colecionador, ambos satisfeitos. Diomedes bem mais tranqüilo, pois não contava a hora de perder a arma para o Colecionador. Ele embrulhou a bela Luger da melhor forma possível e agradeceu ao rapaz que fora com ele, tomando rumo da agencia esperando nunca mais voltar ao armeiro para outra daquela. Ao chegar ao escritório apenas disse:
--- Tá aqui o Parabellum. – e sorriu Diomedes para o patrão Silas Albuquerque.

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

AMANTES - 63 -

- Susan Sarandon -
- 63 -

Era fim de ano. Dia 30 de dezembro, um sábado. Silas Albuquerque, Vera Muniz – (sua esposa) -, a doméstica Otilia e as mães de Silas e Vera estavam todos reunidos da casa grande feita por uma construtora e entregue poucos dias antes do fim do ano. O casarão era na praia dos Coqueiros onde Diomedes mandara erguer a sua casa simples pela mesma construtora. Como era o fim de ano, todos estavam felizes e alegres com a data e o começo de ano novo no dia 1º de janeiro, uma segunda feira, feriado nacional. Vera Muniz organizava a festa de final de ano com todos os comes e bebes. A satisfação estampava a face da mulher enquanto o seu marido conversava com o velho Diomedes sobre tempos passados. A vila dos anos passados era uma vila pequena demais. Mesmo assim, ainda sem luz elétrica de água encanada, se vivi feliz com  toda a majestade de um palácio. Diomedes contava historias de quando menino quando nem rádio ele possuía. No fim de ano o povo todo da vila seguia atento para o começo do no novo, saindo de casa para assistir a Missa da Igrejinha do lugar. Todos caminhavam religiosamente, com o rosto encoberto pelas mantilhas, se fosse mulher e por um casaco velho de marinheiro dado por alguém, se fosse homem. Os meninos e meninas vestiam roupas simples que as suas mães faziam ou mandavam fazer por uma costureira da vila, quando era tempo de boa pesca. Os meninos e meninas dormiam logo cedo da noite. Apenas os garotos mais velhos esperavam os foguetões e lágrimas soltados pelos pescadores de suas velhas e remendadas jangadas a beira-mar. Viam-se luzes bem distantes das casas grandes da capital ou de alguma cidade mais próxima. Diomedes chorou naquele instante a se lembrar de Cila, a sua namorada de infância. Coisa passageira esse choro. Silas também se lembrou de seus momentos quase poéticos ou poéticos de menino travesso. Namoro às escondidas com a menina Vera.
--- Sempre Vera! – dizia Silas com orgulho de Vera ser a única mulher de seus sonhos.
Os cajus, as mangas, as jabuticabas.
--- E as abelhas! – Silas caia na gargalhada ao lembrar-se das abelhas fazendo um total estrago na cabeça de Vera.
E com isso Vera surgia a indagar desconfiada.
--- Que é que tanto acha graça? – perguntava Vera ao marido sempre a sorrir por causa das mortíferas abelhas.
--- Nada, mulher. É conversa de homem. – respondia depressa o homem Silas.
E a mulher fazia um:
--- Hum! Eu vou querer saber dessas conversas. – e saía Vera para dentro da mansão.
Por esses tempos, Silas Albuquerque se lembrou de mostrar uma arma descarregada que ele guardava há um bom tempo. Era uma Luger Nazista, a qual fora do seu pai. Com certeza, o homem a conseguira de um antigo companheiro de farda, pois tais armamentos tão raro só se encontravam, naquele tempo, das mãos de armeiros ou colecionadores. Como o homem que a deu ou vendeu, não conseguira de nenhum colecionador, talvez tivesse sido mesmo apanhada em campos de batalha de algum oficial nazista quando abatido em combate. E foi assim que Silas trouxe a arma bem cuidada e guardada sob sete capaz e mostrou ao velho Diomedes. Esse olhou com bastante atenção e respondeu de vagar.
--- É uma arma interessante. Eu me recordo de um amigo. Ele me disse que certa vez outro amigo seu disse que o senhor tinha coleção de armas. Carabinas, revolver e o que se pensasse. O homem guardava tudo em papel celofane ou mesmo na parede de sua sala. Era um mundo de armas. Tinha até armas de pistoleiros norte americano. Armas de duelos. Coisa incrível. Eu nunca mais vi esse amigo que me contou essa história. – respondeu o velho.
--- Quer ela para você? – perguntou Silas ao velho Diomedes.
--- Quem? Eu? Nunca atirei. E nem sei como se faz. – sorriu espantado o homem Diomedes.
--- Não é para atirar. Eu não sei nem se tem munição para essa arma. – relatou Silas a olhar de modo pensativo a arma que fora do seu pai.
--- Eu sei. Mas é melhor o senhor mesmo guardar essa relíquia. Talvez tenha sido usada para matar muita gente. – rebateu o velho Diomedes.
--- É. Vou guardar. Semana que vem vou procurar... Não. Deixa aqui mesmo. – e Silas voltou ao seu quarto para guardar a arma.
O sábado passou. Veio o domingo. Lagostas, perus, carnes, champanhes, vinhos, vermutes e tantas ou quantas bebidas e doces de cajus, goiabas em caldas entre ovos e pudins houvesse para os majestosos festivos amigos e casuais freqüentadores da nova e soberba mansão de Silas Albuquerque. O homem, cuja abstinência era total, nesse dia quebrou o seu protocolo. Os donos da Construtora Câmara e seus requintados convidados também estavam presentes ao lauto almoço de fim de ano. Era o dia de comemorar a nova construção da mansão. Discursos e mais discursos se fizeram presentes. No meio de tudo, as oferendas dos visitantes aos donos da festa. O banho de mar não se fez por rogado. Grande parte dos homens, mulheres e seus filhos e filhas caíram no mar, ainda cedo da tarde, pouco tempo após o almoço. As mulheres eram só gritinhos:
--- Cuidado com as ondas! – dizia uma mulher ao seu filho ou marido.
--- Aqui é raso. – respondia o homem a sua mulher.
--- É. Mas cuidado com os negócios que queimam – respondia de novo as mulheres.
--- Que negócios? – perguntava o homem.
--- Sei lá. Caravelas. Parece. - respondia a mulher a tomar banho também a beira mar.
E a algazarra continuava até a tarde inteira, quase noite enquanto a maré estava baixa. Gente vinda da cidade próxima também aproveitava o banho de mar. Com o fim do banho de mar, veio a festa na casa de Silas e Vera. Mais comida e bebida, afinal segunda feira era feriado. E assim, todos vararam a noite toda até o amanhecer. Menos os garotos. Esses foram dormir após a meia noite. Os bêbados também seguiram o caminho das crianças. De tanto beberem, não agüentaram ficar de pé. Uma mulher, ao longe, grávida de seus sete meses, sentada nas pedras dos arrecifes fazia somente olhar a festa de Silas ao luar de farto verão.  
No mês de fevereiro, depois de viajar ida e volta a diferentes Silas já estava confirmado com duas das produções de sua Agencia Pomar, com apoio do Governo Federal e de uma companhia norte-americana para a distribuição internacional. Além do mais, a produção teve apoio de firmas patrocinadoras, de governos estaduais, prefeituras entre muitos outros organizadores de eventos de cinema. Desse modo, Silas e Vera estavam eufóricos com as novas produções de sua Agencia. Perdendo ou ganhando, não tinha a menor importância. O que importava era ter sua organização em divulgação no Brasil e exterior. Aquele era um ano de muitas viagens. Silas para um lado. Vera para outro. Era tudo o que fazer como estiveram a fazer durante o ano que passou. Um celeiro de atores já estava combinado e, apenas cabia aos produtores e diretores marcar cada qual para o seu local. Assim surgia de vez aquela que era a POMAR Produções e Entretenimentos. Serviços demais para os arquitetos da Agencia lotando a cada ponto uma seqüencia. A Produção POMAR tinha uma obra imensa de curtas e longas metragens. Todas as fitas eram distribuídas para o comércio exibidor nacional e internacional. Por sua vez, Vera Muniz já estava à direção da sua agencia tendo ficado com a vice-presidência o seu marido, Silas Albuquerque. Não raro Vera tinha que viajar ao exterior enquanto Silas ficava com a representação da empresa no comercio brasileiro. Ou vice-versa. Juntos, os dois estavam somente nos festivais de Gramado (Rs), São Paulo (Sp), Brasília (Br), Niterói (Rj) entre outros festivais nacionais. E no exterior, como Veneza (It). Alemanha, Rússia, França, Espanha, México, Cuba e até mesmo Estados Unidos. O casal quase não dava conta nem para urinar, tanto vexame era ocupado.
Enquanto isso, Ligia fazia a vez de interlocutora por saber falar inglês, italiano e espanhol, línguas motivadas no Convento das Freiras. Isso até não causava inveja a Vera por saber ser ela uma moça muito  bem comportada e começou a fazer conhecimento mais próximo com a ex-noviça, então secretaria particular de Silas Albuquerque, mesmo quando esse deixou a direção da Agencia Pomar que ocupara durante o período quando Vera Muniz estava de férias por motivo da cirurgia feita. Ligia Duarte teve a oportunidade de ganhar a simpatia da mulher e desde então se integrou de corpo e alma a direção da Agencia POMAR. Em sua casa, um kitnet, ficara a sua prima Lia, a cuidar do asseio do lar. Quando Ligia chegou a casa com um carro, foi então a maior surpresa para Lia.
--- É seu? Você comprou? Que luxo? – argumentou Lia admirada com o automóvel.
--- Estou em negócio com ele. – falou Ligia a sorrir.
--- Que bacana! – fomentou Lia a olhar o veículo em todos os seus detalhes.
--- Dá para o gasto. Não é o melhor. Mas um dia eu chego lá. – sorriu Ligia ao contemplar o seu veículo.
De um modo ou de outro, Ligia estava satisfeita com a aquisição do seu automóvel. À Lia era tomara a decisão de lhe dar um ordenado por serviços prestados, assinar a carteira de trabalho e fazer outros reparos da vida da moça. Apenas uma coisa não poderia fazer: da moça Lia usar as calcinhas quando estava em casa, no kitnet. Ela continuava a usar penhoar, roupão, ou mesmo roupa de dormir, como a camisola, sem por a sua calcinha. E nem notava a presença de um vizinho. Ele estava sempre a olhar com uma luneta a moça sem calcinha.


segunda-feira, 24 de janeiro de 2011

AMANTES - 62 -

- Linda Blair -
- 62 -
Manhã de segunda-feira, feriado. Logo cedo alguém bateu palmas na porta de dona Bela, mãe de Ligia. Era um rapaz das redondezas. E veio então dizer que Pedro, o sobrinho da mulher estava internado no hospital com várias picadas de urtiga brava. O rapaz era todo suado àquela hora da manhã, sol de sete horas, carros passando para cima e para baixo. Ônibus da linha faziam percurso para a capital. Carros-de-boi gemendo na estrada com seus bois atrelados a levar cana de açúcar para a usina. Mulheres e meninos a passar para a Igreja. Alguém procurando um filho ou neto a chamar aos gritos.  Era uma mulher de meia idade.  Seu cabelo era todo assanhado. Ela em pé à porta do casebre. E o rapaz a espera de dona Bela. A mulher chamava pela filha, Ligia, a sobrinha Lia os irmãos de Ligia. Toda vexada dona Bela perguntava.
--- A mulher já sabe? – perguntou alvoroçada dona Bela a tempo de cair morta.
--- Eu vim primeiro aqui. Na casa dele não fui. – respondeu o rapaz de cabeça abaixada.
Com tanta pressa que estava, dona Bela calçou sandálias diferentes alarmando pela filha e sobrinha e se prepararem para ir ao Hospital. Pedro estava internado. E o caso era grave. O homem estava todo picado. Parecia ser urtiga. Vontade de urinar fez a mulher retroceder. Ligia, sua filha, dizia não ir ao hospital. O mesmo acontecia com a irmã de Pedro. Lia preferia levar o recado a sua mãe. A mulher de Pedro era Lourdes. Mulher por acaso. Ele vivia amigado com Lourdes. Às vezes arranjava serviço. Por outras, vivia a pescar no açude ou mesmo beber pinga até topar. A mãe de Pedro era irmã de dona Bela. Seu nome era Maria do Ó. Todos a chamavam por apenas Do Ó. Seu marido arranjava serviço para cuidar de vacas de um homem da cidade. Seu nome era José Nicácio. Àquela hora do dia Nicácio já estava tomando conta do gado. Por isso, ele não sabia do filho pipinado de urtigas.
A mãe de Pedro logo ficou sabendo da historia. Por isso ela não vira mais o filho no dia que passou. A mulher de Pedro não se ligava tanto. Apenas dizia.
--- Foi a cachaça! – dizia a mocinha com seu filho no colo.
--- É bom nós irmos para o hospital. – falou Do Ó quase a chorar.
--- Eu não vou pelo menino. – respondeu Lourdes acalentando a criança no colo.
--- Eu também não vou porque tenho medo de hospital. Só tem gente pra morrer. – relatou Lia assombrada.
Ligia não dizia o porquê de não ir ao Hospital. Porém ela jamais esquecera o empurrão o qual sacudira Pedro contra um pé de pau perto da lagoa do matagal. Eles estavam vendo a mocinha Marilu fazer negócio feio.
E com o passar do tempo, ela já estava no Convento e lembrou-se do fato do primo Pedro. Naquele tempo Ligia então se masturbou. Toda vida ela praticava masturbação por um motivo qualquer. Quando foi com Silas a Brasília, também se masturbou e foi dormir inteiramente nua com o seu chefe. Então, na cama de casal do apartamento do Hotel das Nações ela fez amor com seu próprio chefe.
Casos da vida. Ligia já era moça e certa vez a Madre Superiora do Convento a surpreendeu a se masturbar. Não houve mais razão para Ligia se acostumar no Convento e, desse dia em diante, ela teve de pedir o seu afastamento da Congregação Religiosa. Foi dessa forma onde Ligia falou ao homem Silas. Ela não podia mais ficar no Convento por causa dos afazeres diários. Outra mentira por ela feita. E, no interior, Ligia não mais queria ver nem mesmo o Hospital, comandado pelas freiras do lugar em qualquer local. Era, por conseguinte, Ligia não mais desejar ter qualquer aproximação com freiras ou Hospitais. Disso, ela não falaria nada a qualquer pessoa, caso fosse. Ela sempre guardaria em segredo esse estigma social. Quando ainda infante, ela teve medo de Pedro. Porém, com o passar do tempo, o medo para Lígia se transformou em anseio.
Dona Bela chegou ao Hospital mais algumas pessoas, inclusive Do Ó, e procurou saber de maiores detalhes sobre o seu sobrinho. Cansada de tanto correr, ela quase desmaia na entrada do prédio. Era dia feriado, festivo por sinal e advindas festas populares, fogos de artifício, cirandas, banda de musica no decorrer do dia com sinos a repicar da Igreja ao meio dia e coisa e tal, mesmo assim, no Hospital o expediente era normal. Logo depois a mulher foi até a enfermaria onde estava Pedro bastante adoentado, com vômitos, diarréias, entre outros distúrbios orgânicos era um pobre enfermo naquele dia feriado entre tantos outros doentes. Dona Bela acariciou a cabeça do sobrinho ao dizer-lhe:
--- Filho. Tome cuidado. Esta é uma doença braba. Mas, com o tempo você fica curado. – relatou a tia do rapaz tendo todo o carinho tomado.
Pedro apenas olhava a sua mãe e a sua tia. Ele era cheio de náuseas.  O com terrível medo de vomitar como tinha feito ao longo do domingo e parte da noite da segunda feira era temeroso. O rapaz chorou por todo o tempo da visita cedo da manhã. Após alguns instantes, uma auxiliar de enfermagem entrou no ambulatório e chamou dona Bela para lhe dizer:
--- Ele, hoje, está melhor. Quando for para casa, dê muito leite ao homem. – recomendou a auxiliar de enfermagem.
--- Sim senhora. Faço isso. Aliás, a mãe dele é aquela. Ela faz. – respondeu dona Bela.
À tarde, Pedro foi para a sua casa. Ele ainda estava bastante dolorido. Parecia até um doente mortal. A sua mãe o tratou e em certos instantes a mulher, Lourdes, chegava para dar uma olhadela e, depois, saía do local. A prima Ligia, não apareceu um só instante. Ele ficou sabendo que ao meio dia, Ligia e Lia tomou o ônibus para a capital e foram embora de vez. Apesar de não conhecer a capital, Lia pediu a Ligia para lhe levar. O certo era quando a mocinha completara dezoito anos sua mãe levaria Lia para conhecer a capital do Estado.  Mesmo assim, a mocinha nunca confiou em tal promessa. A ver Ligia chegar, logo a mocinha pediu para se mandar para a cidade de uma vez:
--- Eu lavo, engomo, cozinho, varro casa, vou a feira. Compro tudo o que precisar em uma casa. Agora, ficar aqui, não tem a menor importância. – respondeu Lia com a cara trombuda.
--- Vou pedir a tua mãe. Se ela deixar.... – respondeu Ligia aquietando a moça.
--- Vou esperar só para ver. – reclamou Lia um tanto abusada.
E foi assim que se deu a permissão de Lia viajar para a cidade grande. Ela se preparou com seu melhor traje – vestido de algodão. E para compensar: de calcinha. – E tocou em frente, alegre e satisfeita como um pinto no pé da cerca. Quando Ligia chegou ao terminal de ônibus, então trazia mais do que levara para o interior: a sua prima com seu alforje. Não era muito, não era nada, mas pesava um tanto mais. Era uma boca a mais para Ligia sustentar. É tanto que logo pensou quando ainda estava em viajem:
--- “Mais uma boca”. – refletiu Ligia com seus botões.
E assim se foi. Quando Ligia desembarcou, trouxe com ela a prima. E para chegar no seu kitnet ela alugou um táxis e assim, foi saindo para a capital, cidade imensa, gente muita, pedintes a granel, pessoal esmolambado entre outras pessoas de pouca índole. Bares lotados de bêbados ou quase bêbados, avenidas largas demais onde Ligia nem pensava em residir. Ou pensava, com certeza, algum dia. Casas de comércio todas fechadas. Era aquele um dia inicio de semana, porém um feriado. Repartições municipais, estaduais e federais todas fechadas por causa do feriado. Nas largas avenidas o movimento de carros. Era um verdadeiro tumulto para quem dirigia seu veículo. Alguns, e não eram tão poucos, os caminhões, traziam ou mesmo levavam produtos acabados. A chamada linha branca. Caminhões cegonheiros eram vistos pelas duas moças. E caminhões repletos de combustíveis também faziam a rota. Um buzinasso dos infernos. Aquele era o fim do mundo para muita gente. E era também para jovem Lia a qual tremia de medo ao ver tanta coisa a um só tempo.
--- Essa é a capital! – disse-lhe Ligia sentindo em Lia assombração e terror.
--- Grande! – respondeu a jovem amedrontada.
--- As torres, no alto daqueles desmesurados arranha-céus são transmissores de televisão, rádios entre outras coisas. Verdadeiros gigantes do ar! Tem logo quando nós iremos passar o campo de pouso de verdadeiros gigantes: os aviões. – falou alarmada a prima Ligia.  
--- Nossa! – tremia a jovem moça agüentando o medo de passar por perto de um dos aviões.
E o taxi foi cruzando por esquinas e avenida com destino ao local onde Ligia residia, logo perto da Catedral onde logo mais à noite haveria a celebração religiosa. Pequenas e grandes casas de morada. Um terreno desocupado e murado exibia a propaganda de bebidas, internet e tantas outras coisas que não Daca tempo nem mesmo os passageiros do taxi vislumbrar. O céu estava calmo, porém nas bancas de jornal e revistas, um alerta: chuva forte à noite. Tais informações as moças nem chegaram a notar. Um carro com equipamento de som passava fazendo zoada atormentando os transeuntes. Depois do primeiro carro de som, vinha outro também. E ninguém percebia um automóvel passando fazendo barulho com seus rádios inquietantes. Em uma esquina de Praça Ligia pediu ao motorista aguardar um pouco. Era o Mercado das Flores. Um extenso local ao ar livre a negociar flores. Havia flores das mais diversas cores. E gente a granel. Uns a vender. Outros a comprar.
--- Isso é o que? – indagou Lia assustada.
--- Mercado das Flores. Espere. Volto num instante. – falou Liga abrindo e fechando a porta do taxi para um motorista já com bastante sono.

sábado, 22 de janeiro de 2011

AMANTES - 61 -

- Monica Bellucci -
- 61 -
No mesmo sábado, pouco tempo depois de Diomedes, saíram Silas, Vera Muniz e a doméstica Otília no igual caminho da praia dos Coqueiros. Com havia acertado na noite anterior, Silas queria ver como estava o perfeito andamento da construção, porquanto a empresa prometera entregar a chave naquela semana. Vera Muniz, sua mulher, já esteve no local e acreditou nas obras tão adiantadas. No domingo só teria o vigia a tomar conta da elegante mansão, como Silas Albuquerque costumava chamar a casa grande. O caminho era o mesmo de sempre, com os botecos a funcionar dia e noite na estrada com seus bêbados e meretrizes. Uma Igreja de Crentes já estava de portas abertas recebendo os seus fies. Eram pessoas todas bem caladas quando estavam no espaço da rua. A doméstica Otilia ainda teve tempo de ver todos os que estavam a entrar no Templo com suas bíblias da mão. E ela nem sabia a razão de tantas bíblias assim. Na Igreja de sua mãe, a Igreja Católica, o povo quando freqüentavam aos domingos nada levava. Apenas as carolas mantinham o véu cobrindo a cabeça e um terço na mão. Tais mulheres pareciam adivinhar o pensamento dos outros, pois combinavam umas com as outras o comportamento das mocinhas quando estavam com seus vestidos de mangas curtas ou saia mostrando as pernas.
--- Olha essa! Olha essa! – cochichavam as carolas confabulando o vestir das moças.
Era sempre assim, a vida inteira. E por conta disso, não raro as moças “pra frente” deixavam de ir a Igreja Católica para não levar carão de suas mães. Os rapazes, na maior parte, ficavam do lado de fora da Igreja Católica conversando quem era a garota desejosa. E a tal garota, passava e achava graça para os rapazes, apesar de estar com a sua mãe ao lado.  Era assim o passar da Missa sempre aos domingos, logo cedo da manhã. Com certeza era assim Otilia a pensar.
O carro trafegava com velocidade, porém o velho Diomedes já estava muito a frente de Silas Albuquerque, pois esse não conseguira ver nem mesmo sombra do veloz automóvel entre outros tantos. Caminhões transitavam com destino a capital do Estado. Eles conduziam peixes, verduras e frutas. Mangas, cajus e bananas entre as demais. O sol já havia assomado  e nem o vento a soprar fazia a vez de uma temperatura menos aquecida para quem viajava em um banco de trás como era o caso de Otilia. Vacas vinham e voltavam na estrada dos Coqueiros atrapalhando o tráfego dos automóveis e caminhões. Quando Silas chegou à porta da casa de Diomedes, só se ouviu o grito:
--- Vamos velho! Tá na hora! Tu chegasses primeiro! – gritava Silas alegre da vida.
A moça Otilia saltou e entrou correndo dentro da sua casa. Com certeza ela estava espremida com vontade de urinar a todo instante. A mulher, Vera Muniz, saltou também e foi agradar a anciã Maria, mãe de Diomedes, e cumprimentar de fato a irmã Luiza bem como a garotada a quem distribuiu bombons. O velho Diomedes retornou do interior da nova casa a qual estava a morar com sua mãe, irmã e sobrinhos. O homem era de tal orgulhoso por estar naquela hora residido em uma nova moradia.
--- Cheguei um pouco antes que o senhor. – respondeu Diomedes a sorrir.
--- Não avistei nem poeira do teu carro. – sorriu Silas ao abraçar o amigo.
--- O carro corre. Caro novo. É bastante tocar no arranco. – sorriu Diomedes a responder.
--- É. O carro é bom. Vamos lá? – perguntou Silas a apontar para a mansão com sorriso da face.
E Silas teve que esperar por Vera. A mulher estava a cumprimentar a anciã Maria e Luiza, irmã de Diomedes. Conversa não faltava para as duas mulheres: Vera e Luiza. Após algum tempo passado Vera se despediu prometendo voltar tão logo possível, pois estaria a ver o tanto dos trabalhadores nos últimos dias. Na praia, ainda cheia, o mar quase batia nos pés dos muros ou nas paredes das casas de taipas. Era maré cheia aquela dos recentes dias. O homem dos burros saía da loca onde fora buscar água doce das pedras. Os meninos procuravam colher lagostinha para o seu café ou mesmo o almoço. Vez ou outra encontravam camarões de água salgada. Os homens com agasalho azul marinho jogavam a isca para apanhar peixe em cima das pedras e direto do mar. Os pescadores estendiam às redes nas cercas a espera de maré branda. Um homem apontava para outro onde havia peixe de montão em alto mar. Jangadas já estavam no mar aberto colhendo os peixes da hora.
Após inspecionar as obras de construção da nova mansão, vendo que tudo estava pronto, Silas aventurou perguntar ao velho vigia quanto estava a faltar para ser terminada a casa grande. O homem, então, disse por entre voz bem mansa.
--- Se o senhor me pergunta eu digo não faltar mais coisa alguma. – falou o velho vigia.
--- É também o que noto. O restante, a gente é quem faz. – sorriu acanhado o homem.
--- Pois é. Agora, é continuar o trabalho. – respondeu o vigia.
Vera Muniz continuou a inspecionar toda a obra, de cima a baixo, procurando encontrar algo mal feito e nada foi visto. Com um pouco, chegou também a casa grande a doméstica Otilia a inspecionar tudo sem encontrar nada por fazer. Elas nem pensaram nas moças. Essas tomaram a frente da obra quase terminada, quando foram para dar o acabamento final, jardins, lustres, arrumação de cama, mesa e banho. Cozinha, também elas, as jovens moças, eram verdadeiras artífices nos moldes da arquitetura contemporânea. Desde o inicio da obra, as três moças atuaram a buscar os melhores artigos com os mais baixos preços para por na construção. Aos homens coube a engenharia de massa. As jovens moças ficaram as partes mais preciosas do acabamento, até o local onde a família pudesse assistir à televisão com os aparelhos modernos alimentados por via Internet. Para melhor comportar o modelo, foram instaladas três televisões na sala de visita, quarto de dormir e sala de almoço.
--- Também eles fizeram demais! – comentou Silas a sorrir.
--- Na minha casa, tem dois pontos de TV. – articulou o velho Diomedes.
--- Lá em cima tem mais dois pontos. – respondeu Vera ao verificar as instalações de cada qual.
--- Nem precisava disso tudo. – argumentou Silas Albuquerque.
Do lado de fora, em baixo, no quintal, havia cajueiros, mangueiras, coqueiros além de outros pés de frutas e uma piscina moderna. A água servida escoava direto para o mar enquanto as águas dos asseios domésticos e aparelhos sanitários ficavam enterrados em uma fossa de três metros de profundidade.
--- Para a inauguração festiva da mansão, deve estar presente a tua mãe, a minha, amigos e, sem dúvida, o velho Diomedes. – relatou Silas cheio de alegria.
Nesse ponto, o vigia adiantou que certo dia daquela semana esteve no local uma mulher no seu quarto mês de gestação pedindo abrigo por uma noite. Ele ficou desconfiado em deixar a mulher ficar e a despachou incontinente. Além disso, o vigia relatou não conhecer a mulher e que ninguém de perto a conhecia. E a mulher foi embora sem maior atrito.
--- E de onde ela apareceu? – indagou Silas ao vigia.
--- Não sei. Eu nunca vi tal mulher. – respondeu o vigia com remorso.
--- Mas a mulher disse que era de perto? – perguntou Vera assustada.
--- Ela falou que vinha das brenhas. – relatou o vigia de forma segura.
--- Brenhas? Só sendo mesmo das brenhas! – ajuizou Silas a sorrir.
--- Eu não conheço e findei não deixando. – relatou o vigia com mais orgulho.
--- Tá bom. Deixa a mulher pra lá. – refez Vera orgulhosa de si.
--- Se eu tivesse aqui, talvez perguntasse a ela onde era essa tal “brenha”. – relatou Otilia a sorrir.
--- É. Mas deixa pra lá. Vamos fazer um mutirão para limpar bem o terreno. Está imundo! – reclamou Vera vendo a situação do terreno.
--- Nada! Os homens vêm limpar amanhã. Eles disseram! – refez o vigia sorrindo.
E tudo se acalmou com o dizer do vigia. A maré continuava a encher, lambendo as paredes das casas mais pobres. Nesse tempo de verão, a maré tornava-se alta e a estrada de barro feita pela Prefeitura era tomada pelas águas. Na mansão de Silas havia um muro de arrimo para conter possíveis cheias da maré. A Construtora fora prudente em tal sentido e construiu o tal muro, deixando uma entrada para dois automóveis. Naquela hora, o veículo de Silas estava no meio da rua e ele notou ter as águas tomadas conta dos pneus. De repente, ele se apressou em retirar o seu veículo para um local mais distante onde a maré não tinha a vez de atingir o veiculo de modo algum.
--- Ponha acolá! – gritou vera assustada com a força das águas.
--- Quando chove é pior ainda. – relatou Otilia que estava também presente a cheia do mar.
--- Deus me livre. Que coisa! – reclamou Vera arrepiando-se toda.
Bem abaixo, onde o homem pegava água, uma mulher olhava a cena, calada, sem dizer coisa alguma. O tempo rugiu. Era a chuva naquela hora da manhã.

sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

AMANTES - 60 -

- Jodie Foster -
- 60 -
No sábado, pela manhã, bem cedo ainda, Diomedes dirigia o veículo da repartição para a qual trabalhava em direção a Praia dos Coqueiros onde ele havia construído a casa nova para de modo especial à sua mãe querida. Ele viajava orgulhoso e satisfeito com a casa. A Construtora fez de tudo o que era bom e magnífico. E isso deixava Diomedes feliz. A praia dos Coqueiros ficava a certa distancia da cidade onde Diomedes trabalhava já há algum tempo. O vento frio batia no rosto do homem, pois esse dirigia o veículo com seus vidros abertos. Entrara ele na pista principal onde mulheres com cachimbo na boca esfumaçavam o meio ambiente. Muitas das quais caminhavam para o rio onde batiam roupas da semana. Com as mulheres seguiam as suas filhas. Cada qual com uma trouxa na cabeça, com certeza, de muita roupa. As filhas das mulheres apenas conversavam entre si, pois não tinham o habito de fumar cachimbo. No caminho, vinha um homem todo de palitó, calça, camisa, Bíblia e outros livros nas mãos. Com ele seguiam mais a mulher e dois filhos, sendo uma mulher. Caminham em direção à Igreja dos Crentes como era assim chamado do templo religioso. Eles passavam por uma banda da pista sem nada a conversar. De longe, Diomedes avistou um jovem de pouca idade a fazer sinal para o veículo. Diomedes caminhou um pouco e parou seu carro no acostamento esperando pela jovem. Na certa era uma carona. E foi com toda a certeza. A mocinha se acercou do veículo e perguntou a Diomedes se ele caminhava para os Coqueiros. O homem disse que sim. A moça então entrou no carro e se acomodou como pode. Suas vestes eram de certo modo bastante curtas. Era uma saia e blusa. Talvez usasse calcinha. Talvez.
--- Você mora por essas bandas? – indagou a moçinha a sorrir.
--- Sim. Em uma casa depois do rio. – afirmou Diomedes sem colocar os olhos nas pernas bem torneadas da linda moça.
--- Nunca vi o senhor por essas bandas! – sorriu a moça ao falar contente.
--- Eu trabalho na capital. Só venho aqui no final de semana. – argumentou Diomedes com a vista presa na estrada.
--- E sua mulher? – indagou a linda moça ao velho homem.
--- Não tenho mulher. E nem filhos. Eu moro com a minha mãe. – falou Diomedes sem meias palavras a agradável jovem.
--- Ah bom. Eu tenho mãe. Meu pai se mandou para outra cidade e nunca mais voltou. Com certeza está com outra.  – respondeu a bela jovem a cruzar as pernas mostrando toda sua formosura juvenil.
O homem nem mesmo sorriu. As vacas passavam pela estrada e Diomedes teve de parar um bom tempo. Era as vacas do velho Artur, seu criador. Os vaqueiros tangiam o gado para abrir o caminho para o motorista passar. E a moça continuou a conversar.
--- Vacas! Tenho é medo desses animais! – relatou a jovem com certa inquietude.
--- Elas não fazem mal a ninguém. Somente dão leite e boa carne. – respondei Diomedes sem olhar as coxas da moça.
A moça sorriu leve e se pôs mais abertas com as suas coxas, fazendo com um dos joelhos chegarem bem perto do homem. Diomedes notou. E percebeu a falta das calcinhas. Pois a moça não trajava essa indumentária. Então o velho indagou:
--- A senhorita reside na praia o fora? – quis saber Diomedes da moça.
--- Na praia. Mas passo a noite no bar. Você conhece o bar? – sorriu a mocinha.
--- Têm muitos por essas bandas. Eu já conheci alguns. – falou a velho enquanto os vaqueiros tocavam o gado para sair da pista.
--- Eu sempre estou no bar de Giba. Conhece? – perguntou a moça a Diomedes.
--- Devo conhecer. Mas não me lembro. – respondeu o motorista.
--- O senhor não tem mulher. E como faz? – indagou a moçinha sorridente de prazer.
--- Como faz o que? – perguntou Diomedes olhando  a frente o gado se dispersando.
--- Como faz! Arranja mulher na rua? – pesquisou a mocinha a sorrir.
O homem olhou para o rosto da moça e então respondeu com severidade.
--- Eu não faço. E não sou crente também. Se quiser saber. – falou sisudo o homem.
--- Bobo. Eu sei que faz. Não quer é dizer. Eu não me importo com isso. Faço com os homens casados, solteiros, viúvos. Faço com qualquer um que aparecer - sorriu a moça aconchegando-se a Diomedes.
O homem sentiu o aperto da jovem em seu sexo e preferiu dizer que àquela hora não era tão propícia para tal arrumação. A jovem sorriu e se aquietou em sua bancada. As mulheres das trouxas com as suas filhas já passavam junto ao carro e uma delas olhou para a cara da moça dizendo a seguir.
--- É a filha de Joana. Dá por um derreis. – disse a mulher caindo na risada.
As filhas das lavadeiras também sorriram. A jovem moça ficou acanhada com a insinuação da mulher lavadeira. E argumentou para quem havia dito.
--- Um derreis uma porra! Tome aqui, ó!  - apontou o dedo maior para as mulheres.
O homem Diomedes refletiu e logo disse a jovem caroneira.
--- Deixa pra lá. Elas dizem qualquer coisa. – falou Diomedes muito sério.
--- Mas eu não dou por um derreis. – reclamou a jovem pouco acanhada.
--- E como te chamas? – perguntou o homem a jovem.
--- Eu? Rosa. – sorriu a jovem para o homem.
--- Belo nome. – respondeu Diomedes arrancando com o seu carro.
--- Quer fazer comigo? – perguntou a sorrir Rosa.
--- Não senhora. – respondeu o homem trancando a cara.
--- Eu masturbo, faço oral, deixo penetrar por trás. Pela frente, se você quiser. Faço de todo jeito. Vamos amorzinho. – falou a moça como quem chora.
--- Você é uma menina. Dá cadeia. E nem assim eu vou. Estou velho demais para essas relações amorosas. – reclamou Diomedes a Rosa.
--- E o que tem isso? Ninguém vai saber. Só nós dois. Vamos? Estou morrendo de excitação por sua causa. – replicou Rosa aquietando nas pernas do motorista.
--- Nem pensar! Se você quiser ir para a minha casa, até eu posso pensar. Aceita? – perguntou o velho a jovem Rosa.
--- Não sei. Você mora apenas com sua mãe ou tem mulher? – indagou Rosa ao homem.
--- Têm minha mãe, minha irmã, minhas sobrinhas. Tudo isso! – sorriu Diomedes ao responder tal indagação.
--- Basta. Salto aqui. – relatou Rosa ao motorista.
E logo a frente, antes da passagem do rio, Rosa resolveu ficar. Logo em seguida Diomedes seguiu viagem até a sua casa, depois do rio, onde estavam a sua mãe, irmã e sobrinhos. Foi uma festa ao ver o tio Diomedes chegar pelo grosso da meninada. Todos queriam abraça o tio, principalmente aqueles esperançosos de uns chocolates a mais. Diomedes, a sorrir, aquietou a todos. A sua irmã, ele deu um queijo do reino e a sua mãe, ale de frutas, teve também abraços e intensos beijos enquanto a anciã reclamava horrores de tais agrados querendo apenas se balançar em sua rede de malha.
--- Sai daqui! Tanto beijo! Ora já se viu! – reclamava a anciã impertinente.
A praia estava cheia e os pescadores singravam o mar aberto a procura de peixes. Outros ficaram à beira do mar a lançar a rede já tão escura na espera de colher alguns peixes grandes daquela vez. Gente da cidade ou de outros locais já chegavam a praia para aproveitar o sol e o sal. Alguns rapazes atiravam suas linhas no mar e se escorando das pedras onde eles ficavam. Um grupo de rapaz já estava a buscar água doce tirada das pedras onde tinham as mais doces águas descidas dos lençóis subterrâneos vindos do alto dos morros. Alguns garotos jogavam bola de meia em um terreno mais enxuto da praia. O homem dos burros já levava seus animais carregados com água doce para as residências de cima da tão longa praia. Barcos de pesca eram avistados ao longe. Navio de carga quase desaparecendo pelo nevoeiro ainda se podia vislumbrar ao longe. Era a praia. A praia dos Coqueiros do velho Molambo.
--- Você vai querer café? – perguntou Luiza ao seu irmão Diomedes.
--- Um pouco. Eu saí logo cedo e nem deu tempo de fazer café. – lembrou Diomedes já fora de casa olhando para o mar. 


quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

AMANTES - 59 -

- Anne  Hathaway -
- 59 -
Pedro era o seu nome. Ele era primo de Ligia. Quando meninos, os dois deliravam e brincavam no descampado, sobre as pedras rolantes da montanha bem longe de suas casas. Corriam a floresta por trás de seus casebres e, não raro, tomavam banho em um lago entre a floresta. Nus. Completamente nus. Inteiramente despidos. Era a alegria dos dois meninos peraltas. Quando estavam na lagoa, uma lagoa imensa cobrindo vasta área e toda cercada pela floresta que se fazia presente, os dois meninos dos seus cinco ou seis anos, sacudiam gotas de água um no outro. Ambos brincavam a valer e não raro Pedro urinava sobre sua prima e ela fazia o mesmo sobre Pedro. Eram apenas os dois brincalhões ao fazer algazarra ao brincar e tomar banho na lagoa por toda a manhã de um dia qualquer. Passaram-se os anos e os garotos a brincar sempre todos nus ou desvestidos. Certa vez, quando os dois estavam a tomar banho, viram um casal entrar no matagal. A mocinha, eles a conheciam. Era Marilu, bem conhecida do lugarejo, pois apesar de ser menor de idade, já era uma infante rebelde saindo com qualquer um. E a mocinha veio com um homem, entrou no matagal para fazer sexo. Ligia sabia que a mocinha era de programa. Porém não ligava para tal. E nesse dia, ao ver o homem e Marilu entrarem na mata, os dois garotos resolveram ir também espiar por entre as folhas do mato o que Marilu estava a fazer com o tal homem. Eles chegaram bem próximo de Marilu e viram em ânsia a mocinha, toda desnuda a receber um homem desnudo até a metade das pernas a fazer sexo com a moça. O homem chupou o bico do peito de Marilu e fez de tudo o que era certo com a mocinha. Em desvario Marilu se deixava ansiar até se alquebrar nas suas emoções.
Pedro, vendo aquilo tudo, teve ereção. Com Ligia por bem próxima, inteiramente despida, ele quis fazer o mesmo anseio de Marilu. A principio a menina dos seus sete anos não quis  fazer o mesmo, pois preferia apenas olhar para a façanha de Marilu. O menino, desesperado, agarrou Ligia e fez como o homem vinha a fazer com sua fêmea. Apenas, o seu sexo não penetrava nos antros de Ligia, pois a garota lhe fechou as pernas finas iguais a um palito. Com o desassossego do garoto Ligia empurrou o seu primo e saiu a correr para se vestir com suas vestes deixadas na margem da lagoa. E o garoto se levantou de sobre um tronco de madeira e correu também. Eles somente ouviram a voz do homem.
--- Um barulho! – disse alarmado o homem procurando ver quem estava escondido a olhar os dois amantes.
--- Deve ser gambá. – respondeu a mocinha Marilu.
--- Gambá? – perguntou de certa forma amedrontado o homem.
--- Tem muito aqui. Ou outro animal qualquer. – respondeu a moça sorrindo para tranqüilizar seu homem.
O certo foi a menina vestir os seus trapos e fazer viagem para a sua casa, em seguida do garoto a qual pedia desculpa a todo instante.
--- Bruto. Não tem desculpa. – respondia Ligia ao seu primo. Ela estava bastante enraivecida.
O garoto baixou a cabeça e saiu estremecido para o seu casebre de duas águas. Desse dia em diante eles não foram mais tomar banho na lagoa, a não ser quando Ligia seguia com sua mãe, irmãs, irmãos, tias e outros primos. Também, por muito tempo os dois deixaram de se falar quando a menina disse ao menino.
--- Estou de mau. Corte aqui! – falou Ligia com a cara trombuda e mostrando os dois dedos indicadores juntos uma ao outro para o garoto corta com o seu próprio dedo.
Levou tempo para eles se falarem. Somente quando Ligia entrou para o Convento das Freiras, com seus treze anos foi quando a mocinha deu adeus a Pedro de forma bem alheia. O rapaz por esses tempos pegou outra garota e fez sexo com ela. A mocinha ficou grávida e então os dois se ajuntaram para morar em combinação na casa da mãe de Pedro, a irmã mais velha de todas as mulheres da casa de dona Bela, mãe de Ligia. Nesse meio tempo, enquanto Ligia estava no Convento das Freiras, Pedro não se esquecia da lagoa e nem da besteira de Ligia em não aceitá-lo em conluio naquele verdadeiro momento de amor por coisa nenhuma.
Quando Ligia voltou da cidade para rever a sua mãe, Pedro estava ao longe a olhar a prima com outros rapazes das moradias. Toda bem vestida deixava Ligia entusiasmada a sua mãe por seus requintados agasalhos. A prima de Ligia também corria o olhar para ver de perto aquelas jóias, braceletes e estamparias que a sua prima usava. Por algum tempo Lia correu para o quintal para urinar atrás das matas. Era costume dos rapazes urinarem no quintal desmatado dos casebres, muito embora houvesse aparelho sanitário nas suas vivendas. As moças do lugar preferiam os matinhos. Muito embora estivesse vestida com um camisolão, Lia prima de Ligia, não colocava peça alguma por baixo da veste. Se ela vestia uma roupa, era do mesmo jeito. Às vezes, Ligia notara que suas irmãs mais velhas também faziam o mesmo. Ela, Ligia, costumara a usar calcinhas quando entrou para o Convento. Às vezes, quando estava menstruada, em casa, ainda menina de doze anos, ela usava uns panos. Em outras ocasiões, também não usava calcinhas. E nem calça comprida. Por isso mesmo quando esteve em Brasília, Ligia dormira sempre despida. Houve visitas das irmãs, sobrinhos e primas quando a moça chegou logo ao meio da tarde. O pai e os irmãos bem próximos da querida irmã também estavam em festas antes do por do sol. Quase todos da família chegaram entusiasmados de contentes para rever Ligia há anos distante. Quem mais se ocupou da moça foi a sua prima Lia. Em todos os assuntos essa metia a colher a querer saber como tinha sido o que a prima falava. Todo o pessoal de juntaram para provar do  café do dona Bela, coisa já bem ao costume de cada um.
A lua brilhava no céu. Era hora de dormir, pois no dia seguinte Ligia, Lia e demais primos tomariam banho na famosa lagoa onde, quando pequena, Ligia fez daquele lugar o seu local favorito para o banho de todos os dias. Se não de todos, pelo menos de quase todos os dias. A moça dormiu no mesmo quarto em que Lia se acomodou. Naquele local a conversa rolou por longos tempos. Foi o momento onde Lia pediu a sua prima para levá-la para a capital, pois arranjaria pela cidade algum local para trabalhar. Ou, pelo menos, trabalharia no kitnet da prima fazendo arrumação e varrendo a casa, ajudando nos pratos e coisa e tal. Ligia concordou com a idéia de Lia desde que a sua irmã também pudesse permitir.
--- A vida na grande cidade é bem diferente. – disse Ligia a sua prima.
--- Eu me ajeito. Estando com você, não tem importância. – sorriu Lia a conquistar a prima.
--- Vamos ver se dá certo. – argumentou Ligia com ar de preocupação.
No dia seguinte, logo cedo do dia, saiu a turma para tomar banho da lagoa onde a floresta parecia ser mais gigantes aos olhos de Ligia. Foi uma pouca caminhada, entrando pelo bosque até chegar a margem do lago onde outras poucas pessoas já estavam a se banhar, pois era um dia de domingo. Ligia vestia um maiô ultimo modelo e as primas vestiam roupas simples de casa, menos Lia que vestia um camisolão e sem calcinhas. Sem ter ninguém a notar, pelas brenhas adiantou, se escondendo por entre o matagal o primo Pedro para ver bem de longe a sua prima Ligia. Há muito que ele não avistara Ligia. E, quando a moça chegou, nem perguntar por ele, ela quis saber. A malquerença entre os dois parecia não ter passado de modo algum. Ela não esquecera, talvez, do gesto do garoto de querer fazer amor como a mocinha Marilu estava a fazer com o seu homem. Assim era o que pensava Pedro e por isso veio às escondidas por entre o matagal espreitar o corpo exuberante e vivaz da bela prima, com o tempo bem mais faceiro vez de quando garota.
Todas as primas de Ligia, inclusive Lia experimentavam o gosto do banho de lagoa, evento há muito pensado pela ninfa daquela mesma lagoa de tempos bastante passados. Os nados eram belíssimos onde cada qual fazia o seu modo de saber até mesmo de fisgar um peixe pequeno para depois soltá-lo. Era uma manhã de alegre e risonho prazer entre todos os conhecidos da cidade e do campo. Enquanto isso, na mata, Pedro apenas olhava a prima a se banhar ao seu bel prazer. Não demorou muito, então o rapaz com sua forte e majestosa ereção de quem jamais há tempo notara se fez masturbar em intenção a primorosa Ligia moça de encantos mil para o modesto homem. Foi um gozo tamanho o qual Pedro se desnorteou e caiu sobre uma mata fechada de urtiga braba. Dessa queda o rapaz se levantou e saiu a correr se coçando por todo o corpo afetado pelos espinhos da urtiga. Com as suas calças penduradas até a metade das pernas, ouvia-se o grito de Pedro mata a fora. O estranho berro das garotas e da moça também despertar e perguntar:
--- Que foi aquilo? – perguntou Lia apavorada.
--- Um homem – alertou Ligia pelo impacto do grito.
--- Um homem? – despertou a atenção de outra prima por vez assustada.
O impacto fez da mocinha Lia se guardar dentro da água da lagoa e se abaixa e por completo. Uns garotos tiveram a coragem de subir o barranco que dava acesso ao lago e ver de melhor ângulo quem podia ter sido o vadio. Cada qual se armara com uma tora de pau e correram na direção do grito, porém nada eles encontraram. Foi carreirão aquela de Pedro, a se coçar e a se esconder de quem pudesse ver o rapaz todo pinicado pelos espigões da urtiga. À noite, ninguém ainda tinha noticia de Pedro admitindo ter ele saído para outra feira mais distante em outro município. Ou senão, estava bêbado por completo dormindo em baixo de um pé de pau qualquer. Quando deu as dez horas da manhã, todo o grupo estava de volta da lagoa, inquieto com os berros ouvidos de alguém. E ninguém se aventurava em dizer ser pleno sabedor de quem fizera tal alarde.
--- Foi um louco! – dizia alguém sobre os gritos ouvidos.
--- Um tarado! – alarmou Lia ainda com vestes de camisão.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

AMANTES - 58 -

- Carey  Mulligan -
- 58 -
Naquele final de semana, quando tudo era calmo, Ligia se meteu a arrumar seu novo e velho de kitnet  com suas instalações belas, modernas e aconchegantes. Para a moça, aquele era um local a deslumbrar. Frigobar, utensílios de cozinha, ar condicionado, fogão com forno, roupas de cama e banho, colchões ortopédicos e ainda Ligia podia fazer todas as manhãs e a tarde seu café diversificado com frutas, sucos e várias qualidades de frios. No kitnet tinha uma cama para casal, guarda-roupa, toalete além de espelhos emoldurando os aposentos. Televisou suspensa, luz difusa, um criado mudo, banheiro além de uma saída para a varanda com grade de madeira. A vista era monumental. Podia-se vislumbrar boa parte da cidade ao longe. Abaixo do primeiro andar onde estava o kitnet, notava-se estacionamento para automóveis. Piscina de água reluzente se podia notar naquele conjunto de quartos. O valor da prestação era bem cômodo, pois o kitnet já oferecia tudo o a moça precisava, como maquinar de lavar roupa. No seu encantado solar, ela ajeitava tudo. Uma coisa aqui, outra acolá. E com certeza, as amigas da Agencia Pomar teriam que vir qualquer dia para uma visita ao belo kitnet de Ligia. Naquela hora, toda assanhada, ela apenas cuidada dos acontecimentos. Pois com o seu muito cuidado no ambiente, o dono do local ainda não sabia de todo o gosto do inquilino solitário. Era fim de semana e era tempo de sobra para a moça cuidar do que faltava. Algo surgido e não querido ela de imediato dizia:
--- Lixo! – resmungava a jovem moça.
Com a vassoura na mão Ligia varia apressada por todos os locais existentes e nem visíveis. Era um prazer angustiante aquele a sofrer a agoniada e inquieta jovem. Ela se lembrava da vez quando esteve a cuidar do asseio no dormitório do Convento das Freiras. Era ela só para limpar e um monte de freira e noviças para sujar.
--- Eu te esconjuro! – resmungava a moça ao se lembrar de tal fato com sua cara trancada.
Após o almoço, um descanso. Ligia acordou por volta das três horas e logo inventou de por a mão da massa. Era o desenho. Ela criava da própria memória uns quadros onde levavam dias para concluir. Um dos quais era “Mulher Solitária”, pintura a óleo. Nesse quadro, a moça não tinha dia e nem hora para começar e interromper para mais tarde recomeçar. Um belíssimo quadro ao qual Ligia empregava todo seu esforço e intelecto. Nada mais uma mulher ao abandono, solitária, pensativa, sentada e escorada em uma parede de uma casa.  Essa imagem Ligia notara em dias passados e guardou na memória para reproduzir em seu devido tempo. A “Mulher Solitária” vestia roupas de puro algodão em cores vivas, vermelha a saia com modelos em marrom. Blusa marrom, um colar ao pescoço, cabeça a escorar na parece de uma casa qualquer, sentada ao desleixo; pés descalços; uma pena arqueada e as mãos a segurar a perna como alguém em seu ambiente solitário; o saco escuro, talvez com roupas; a sua distante e peculiar fisionomia a olhar para o alto como se estivesse visto algo ou buscasse alguém; de forma pensativa como quem procura filhos ou familiares; o rosto enobrecido e sério cheio de encanto era a figura daquele quadro quase pronto. Os pinceis a modelar o quadro estavam todos sujos de tintas. Àquela hora, quando o sol se punha no vórtice do entardecer, Ligia não pode mais conceber a sua leve pintura e pôs-se a meditar sobre tudo o que acabara de fazer. De imediato, levou o seu quadro para a galeria onde amontoava outros quadros produzidos e foi-se a repousa com a sensação de que algo ainda faltava no seu óleo.
--- Você tem procurado alguém? – indagou Vera Muniz ao seu marido àquela hora nostálgica da tarde/noite.
--- Quem eu procuro? – voltou Silas a perguntar a Vera.
--- Não sei. Alguém. Eu estou ainda de resguardo e você deve procurar alguém. Por exemplo, a secretaria. – sorriu Vera a insinuar tal fato.
--- Que coisa! Eu vou procurar a secretaria? Não me faça pergunta desse tipo. – respondeu Silas encabulado com a história.
--- Ora! Mais é normal. Um garanhão de o seu tipo procurar uma mulher. – disse Vera a sorrir.
--- Não para mim. E esse negócio já está começando a esquentar. Você é a minha mulher. E nada mais. – fomentou Silas dobrando o jornal da cidade e sacudindo na cadeira. Em seguida ele saiu para a cozinha soltando gases.
A mulher sorriu com os gases do marido. E olhou para um lado e outro verificando se a Otília doméstica estava por perto. Por conseguinte não observou a sua presença por próximo da sala de jantar. E logo se levantou Vera Muniz rumando para o seu quarto. Ela abriu e fechou a porta com todo o esmero e cuidado. Por lá se arrumou, penteou o cabelo, colocou um pouco de perfume no pescoço, vestiu um lingerie bastante longo e todo branco. Ela por certo tinha consciência de que o traje branco feminino conferia um toque romântico e bem suave leveza. A belíssima camisola enriquecida com detalhes oferecia afetuosa delicadeza. As calcinhas ajudavam em muito o seu contorno de mulher.
Passaram-se os minutos e Silas procurou a mulher na sala de jantar e não a encontrou. Ele foi até ao quarto de dormir e achou Vera de camisola, quase nua, com suas mãos finas e delicadas a chamar o seu amante para deitar com ela. O homem ficou assustado, pois há três meses ainda havia perigo de uma relação sexual. A mulher se pôs ao verdadeiro agrado do marido ao dizer apenas:
--- Tem outras formas de se agradar o marido. – disse mulher de forma carinhosa
Naquele verdadeiro instante Vera, com sua suntuosa combinação e calcinhas a mostra todo o seu anseio, usou da exibição a qual ela sem receio e com muito afeto podia fazer bem feito amor sem a penetração. Em ânsias e desapego homem apenas foi ao cume do êxtase com o perfume sedoso da mulher amada a fazer o real toque oral o qual ele já esquecera de fato. As estrelas começavam a luzir no céu brilhoso procurando seus verdadeiros ninhos de mágico e notívago encanto. Na igreja ao longe, soava o rugir do sino a marcar suas noturnas horas. O sorriso das moças nas caçadas de um bar denunciava ser propício para se fazer total amor a cada instante da noite.
--- Que horas? – indagou Silas a mulher após acordar de seu profundo sono.
--- Quase nove da noite. – sorriu Vera ao responder a seu marido.
--- Manhã nós devemos ir à construção na praia dos Coqueiros. – respondeu Silas se erguendo com toda preguiça do mundo.
Em algum domingo aproveitando o feriado da segunda feira, Ligia rumou pra a casa de seus pais, no interior, cerca de duzentos quilômetros da capital. Ela preferiu seguir de ônibus, pois temia acidentes da rodovia federal. Após viagem de três horas, Ligia pediu parada antes do terminal, pois era ali onde residiam seus pais, irmãos, irmãs e, de vez em quando, as primas de Ligia. Em carta, ela havia contado a sua mãe ter deixado o Convento e estava trabalhando em uma firma comercial. Quando bateu à porta, dona Bela veio contente a lhe abraçar. Foi uma festa e tanto. Os irmãos estavam na feira juntos com o seu pai. As irmãs eram casadas e moravam nas proximidades, Na casa, estava apenas uma mocinha que Ligia chamava de Lia. A moça tinha seus dezoito anos de idade, porém parecia ter bem menos. Elas eram primas. Lia vivia mais tempo na casa da tia, dona Bela em lugar da própria casa onde moravam sua mãe, pai, irmãos, irmãs e um neto de sua mãe. Lia era filha de Maria Clementina. Seu pai era Porcidônio, homem do mato, pois vivia cuidando da roça e de umas cabeças de gado junto com seus filhos. Um deles não fazia nada. Era Doca como a irmã o chamava. Seu nome verdadeiro era João. Quando Doca não estava bêbado, na certa estava dormindo.
Lia abraçou contente a prima Ligia. Ela vestia apenas um camisão, parece ser de homem. Por baixo não tinha nada. Nem cobrindo os seis e tampouco a sua genitália. E nem por isso ligava por estar quase despida. Quando uma Irma mandava vestir a calcinha ela saia zangada.
--- Sou moça e já tenho dezoito anos! – respondia de modo atrevido e com bastante raiva até.
Nessa ocasião, Lia se enfurnava no quarto da casa de dona Bela o por lá ficava. No entanto, à chegada da prima, ela estava sorridente e feliz da vida pegando a mala nutrida de roupas da moça e arrastou para dentro da sala. Aquele era tempo de conversar, apesar da mãe de Ligia oferecer café para a sua filha. E reclamava da jovem moça Ligia ter deixado o Convento sem saber a razão. A prima Lia sempre sorridente, apesar de usa somente um camisolão apenas queria saber de como era a vida na cidade grande, pois apenas duas vezes estivera pela capital e nem foi ao centro da cidade. Com certeza, Lia gostaria de saber qual a sua função no novo emprego; dos rapazes namoradeiros; da situação de se conseguir trabalho de arrumadeira ou de cozinheira ou mesmo de outra coisa qualquer. Porém, Ligia não tinha muito a dizer, uma vez não ter procurado saber realmente do assunto.
--- Nessa só têm vadios! Ô raça ruim! – reclamava Lia a sua prima com a cara amarga de ódio.
Ligia não se importava, pois na capital era do mesmo jeito. Bares, bares e bares. Quando o rapaz não estava embriagado é por que estava dormindo, argumentava Ligia de certo modo. A vida na grande cidade era uma ilusão. Para se morar, tinha que ser em casebre de palha ou papelão. Quando não pegava fogo em tudo, vinha à cheia das águas a desabrigar, era o que argumentava Ligia a sua prima. Enquanto isso a sua mãe aprontava o café e chamava a filha para tomar uma xícara com um pedaço de bolo feito por dona Bela.
--- Ora mãe. Não estou nem com fome. Eu trouxe umas coisas para a senhora. Para o meu pai também. E um monte de brinquedos para a garotada. – respondia Ligia a sorrir.
--- Deixa de besteira. Você está magra. Depois do Convento! Não sei por que você saiu do lado Freiras. – respondeu a mulher com a cara de tristeza.
--- Trabalho, minha mãe. Trabalho – argumentou a jovem Ligia.