sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

AMANTES - 45 -

- Angelina Jolie -
- 45 -

Alquebrado pela noticia do seu amado filho ter morrido ao nascer o homem não se contentava e tudo que fazia era mesmo chorar. Plenamente acomodado pela auxiliar de enfermagem a procurar um melhor apoio no assento em que ela o colocava, Silas Albuquerque só pensava da sua mulher. Ela estava sedada e mesmo a dormir por uma eternidade. Como seria o caso de dizer que seu filhou nasceu morto era um dilema para Silas. Bem perto dele estava à jovem Racilva que o acomodou como precisava acomodar. Mais ao lado estava Otilia a choramingar sentida por Vera Muniz. E Silas, em revolta com o mundo somente o que tinha a fazer era também chorar. Nesse ponto de tristeza e dor, Racilva procurava aquecer o homem e proferir palavras de real condolência. Nada mais havia a ser feito naquela hora de desespero e agonia. Racilva entendia sutil e plenamente do que deveria ser feito em um momento tristonho como o que Silas estava a viver.
--- Que dor! Que dor atroz! – reclamava Silas pela perda do seu querido filho natimorto.
--- Tenha calma. Esse é o designo de Deus. Se ele desencanou ainda por nascer, é que o seu tempo não deveria ter chegado. Por isso, tenha calma. Façamos uma oração para ele, pois certamente ouvirá. – falou Racilva com suavidade.
O homem não se contentava e continuava a chorar como igual uma criança de colo. Tanto afazeres ele pensava para dar ao filho. Carrinhos, um quarto cheio de brinquedos, um berço coberto com uma cortina branca e ali, brinquedo para fazer a criança dormir. E se acordar, ter em suas mãos os brinquedos próprios para um recém-nascido. No primeiro ano, festa para muitos convidados. Na praça do edifício, um passeio no carrinho de bebê, de manhã, ao sol nascente. Ele ainda era pequeno. Poucos meses de idade. Uma doméstica bem trajada com o bebê a passear. Sonhos e mai sonhos. E tudo isso se desmoronou de vez. Para Silas, um nascimento representava o princípio de tudo. O bebê nasce com a necessidade de ser querido. Para o bebê tudo é precioso. Era assim que o homem Silas estava a pensar por todo o tempo em que a mulher lhe deu a notícia de que estaria grávida. E por isso mesmo, ele estava naquele instante desprezado de tudo. A suavidade, as caricias, a perene ternura que Racilva lhe emprestava pouco ou nada adiantava.
Com o passar das horas, uma enfermeira chegou até Silas informando que a sua mulher estava desperta e ele poderia ir até os seus aposentos. E a enfermeira caminhou em frente até o elevador. Silas, Racilva e Otilia também seguiam de forma pouco confortável. Nenhum dos três sabia o que dizer a Vera Muniz pela perda do seu filho amado.  A chegarem ao quarto de Vera, os três ficaram sem ação de dizer ou não que o seu filho havia nascido morto. E nesse instante, a mulher, mesmo quase se ação disse aos três:
--- Não teve jeito. Nandinho nasceu morto. – falou a mulher ao se referir ao filho Fernando.
E mesmo assim, a mulher não chorou. Era se fora como um presente que lhe fora dado e se partira na ocasião de ser aberto. Nada mais havia a ser feito. Então, a mulher pensava que era só partir para outro presente. O homem não conteve risos e lágrimas para o conforto de sua mulher amada. Para ele, o momento era de pura emoção.
Após o sepultamento da criança, Silas e Racilva voltaram ao Hospital onde estava à mulher Vera Muniz. Isso foi no dia seguinte pela manhã. Uma segunda-feira. O médico lhe deu três meses de repouso, mas Vera entendia que um mês era o suficiente para ela. E disse mesmo a Racilva que, com um mês estaria de volta ao trabalho. O calor na rua era intenso. No apartamento, ficara a doméstica Otilia a cuidar de Vera Muniz. As auxiliares de quando em quando apareciam para fazer injeções na mulher, lhe dar medicamentos e igualmente trazer alimentos para ela. Quando Racilva e Silas voltavam para o Hospital, a moça sentiu a necessidade de entrar na Catedral Metropolitana da cidade e pediu a companhia do seu amante. Eles formavam um par de amantes, apesar de não relatarem o seu compromisso de amor a qualquer pessoa. Era um amor às escondidas, apesar de fazer apenas três dias. Então Silas concordou em entrar na Catedral, apesar de fazer pouca diferença para ele ir naquele Templo secular.
Ao entrarem na Catedral, os dois viram passar por eles uma esbelta freira, aparentando vinte anos, majestosa como as ninfas do Paraíso, pele clara, pois era visível apenas o deleitoso rosto, com trajes completos cobrindo todo o corpo, até os pés onde se podia observa um par de calçados todo branco e aos pés meias de algodão completamente claras. A freira passou por uma parte vazia que os dois deixaram e seguiu em frente em um pisar bem rápido. Bem podia também ser apenas uma noviça, algo que nem Silas ou Racilva entendiam muito bem. Suas vestes eram brancas ou quase brancas. Ao passar pelo par de amantes, ela não deixou antever qualquer perfume. Mesmo assim, não cheira mal. A sua face estava sempre para baixo, o que Silas relatou a Racilva ser aquela moça apenas uma noviça. A amante não fez que sim e não fez que não. Ela emudeceu. Em sua emaciação, a divina noviça também não deixava a perceber se tinha um corpo saudável ou não. Ela era apenas uma moça com vestes de noviça ou freira. Com pouco tempo a noviça se perdeu PR trás do altar mor, onde fez a persignação como era de praxe. Depois disso tudo caminhou e entrou por uma portinhola e desapareceu.
Racilva não quis tecer comentário. Silas apenas supôs em sua condição de homem que aquela era uma deslumbrante jovem perdida em um convento. Em certo instante do caso Silas nem se lembrou de modo de sua fascinante Vera Muniz, nesse tempo guardada em um Hospital a se recuperar de uma cirurgia feita sobre os pelos púbicos a que deu a designação de cesariana ou cirurgia cesárea. Ele queria saber onde a noviça se escondera atrás da porta. A fisionomia da noviça se voltou firme aos olhos de Silas, caso que ele não esqueceria em certo tempo. E nesse meio tempo estava Racilva ajoelhada a rezar de modo de penitencia em forma calada, cabeça abaixada, sem véu, porém bastante contrita. Silas, por seu lado, ficou a sentar em um banco e a observar os quadros da Santa Penitência de Jesus. Ícones de sagrados Santos elevados ao local supremo do altar, cores amenas com que se pintava a Catedral. Silêncio profundo na Catedral. Apenas os ruídos dos carros passando ao longe da santa madre Igreja eram tudo que mais perturbava aquele perfeito silêncio. No interior da Catedral havia algo em torno de cinco pessoas assentadas em bancos por outros locais e revendo os túmulos de sacerdotes que eram sepultados nas grossas paredes da Igreja. Alguns túmulos foram abertos no próprio solo em frente ao Santo Sacrário, no altar mor da catedral. Em um dado instante, a noviça saiu de trás de altar mor. Ela caminhava elegante pelo interior da Catedral, com o rosto voltado para o chão, mãos entrepostas uma na outra ao longo do seu aparente busto. Silas ficou a observar a noviça a caminhar sem dar conta de que alguém lhe notava.
A noviça passou pelo banco onde estava Silas e voltou seu rosto para o homem, soltou um leve sorriso e caminhou para fora do templo. Racilva nem notou o sorriso da donzela, pensou Silas com os seus botões.
--- Que freira exuberante! –  declarou Silas ao se referir a donzela noviça.
No meio da prece que Racilva fazia algo de anormal aconteceu. Ela olhou para frente, onde estava o altar mor e viu ali uma parede carcomida com um gigantesco portal, tudo no escuro, porem com janelas de um lado e do outro do pórtico onde ela já havia notado uma mulher toda de branco a chamá-la a entrar. Porém, dessa vez não havia ninguém a chamar. Apenas uns pés de ciprestes com suas folhas esmaecidas a deixar cair sobre algo como túmulos.  Ao ver todo aquele espantoso e abissal estranho recinto, Racilva, como se pendesse para frente entrou em um estado cataléptico. Aterrorizado, Silas acudiu a moça que desmaiara ao ser ver.
--- Racilva! Racilva! Acorde! – chamava baixinho o seu amante.
Racilva nada respondia. Em seu estado cataléptico ela apenas ouvia Silas lhe chamar. Para todos os efeitos, Racilva respondia e pedia ajuda por parte do homem. Mas de nada adiantava pôs seus sinais de vida não se faziam presentes.
--- Acorde Racilva! Acorde Racilva! Pelo amor de Deus! – já gritava o homem para ver se a moça sentia sua presença naquele local.
Porém Racilva não respondia a coisa nenhuma. Ela apenas estava “morta” perante os olhos de Silas que a deitou no banco da Igreja. Alarmado com tamanho desfalecimento o homem gritou para quem pudesse ouvir.
--- Socorro! Acudam-me! A moça está morrendo! – gritava pasmado com os olhos fora da órbita o rapaz sem saber o que fazer.
Nunca, nem por sonho, Racilva lhe falara que era ou se sentira cataléptica. Muito embora Silas já ouvisse falar em uma esquizofrenia, ele jamais tinha notado alguém com esse mau. Certa vez, ele ouviu dizer que um cidadão foi enterrado vivo. No entanto, isso era apenas conto de carochinha. Verdade mesmo estava ali perto dele com Racilva pelo menos desmaiada. Aos berros estridentes, o homem notou se acercar a noviça ao seu lado e a perguntar a ele o que estava a acontecer. Ele teve tempo em dizer:
--- A moça teve um desmaio! – respondeu Silas de forma alarmado.
--- Deixe-me ver o seu pulso. – falou a noviça tranqüilizando o homem.
E Silas, desnorteada, se levantou do banco que estava, correu para o passeio do meio da velha Catedral e apenas gritou:
--- Ah meu Deus! Não faça isso comigo! Leva um! Agora quer levar outro! – chorou Silas como quem está arrependido de algo que fez.
--- Ela não tem pulso. – relatou a noviça.
E Silas não teve jeito. Então desmaiou caindo ao solo.


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