- Carey Mulligan -
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Naquele final de semana, quando tudo era calmo, Ligia se meteu a arrumar seu novo e velho de kitnet com suas instalações belas, modernas e aconchegantes. Para a moça, aquele era um local a deslumbrar. Frigobar, utensílios de cozinha, ar condicionado, fogão com forno, roupas de cama e banho, colchões ortopédicos e ainda Ligia podia fazer todas as manhãs e a tarde seu café diversificado com frutas, sucos e várias qualidades de frios. No kitnet tinha uma cama para casal, guarda-roupa, toalete além de espelhos emoldurando os aposentos. Televisou suspensa, luz difusa, um criado mudo, banheiro além de uma saída para a varanda com grade de madeira. A vista era monumental. Podia-se vislumbrar boa parte da cidade ao longe. Abaixo do primeiro andar onde estava o kitnet, notava-se estacionamento para automóveis. Piscina de água reluzente se podia notar naquele conjunto de quartos. O valor da prestação era bem cômodo, pois o kitnet já oferecia tudo o a moça precisava, como maquinar de lavar roupa. No seu encantado solar, ela ajeitava tudo. Uma coisa aqui, outra acolá. E com certeza, as amigas da Agencia Pomar teriam que vir qualquer dia para uma visita ao belo kitnet de Ligia. Naquela hora, toda assanhada, ela apenas cuidada dos acontecimentos. Pois com o seu muito cuidado no ambiente, o dono do local ainda não sabia de todo o gosto do inquilino solitário. Era fim de semana e era tempo de sobra para a moça cuidar do que faltava. Algo surgido e não querido ela de imediato dizia:
--- Lixo! – resmungava a jovem moça.
Com a vassoura na mão Ligia varia apressada por todos os locais existentes e nem visíveis. Era um prazer angustiante aquele a sofrer a agoniada e inquieta jovem. Ela se lembrava da vez quando esteve a cuidar do asseio no dormitório do Convento das Freiras. Era ela só para limpar e um monte de freira e noviças para sujar.
--- Eu te esconjuro! – resmungava a moça ao se lembrar de tal fato com sua cara trancada.
Após o almoço, um descanso. Ligia acordou por volta das três horas e logo inventou de por a mão da massa. Era o desenho. Ela criava da própria memória uns quadros onde levavam dias para concluir. Um dos quais era “Mulher Solitária”, pintura a óleo. Nesse quadro, a moça não tinha dia e nem hora para começar e interromper para mais tarde recomeçar. Um belíssimo quadro ao qual Ligia empregava todo seu esforço e intelecto. Nada mais uma mulher ao abandono, solitária, pensativa, sentada e escorada em uma parede de uma casa. Essa imagem Ligia notara em dias passados e guardou na memória para reproduzir em seu devido tempo. A “Mulher Solitária” vestia roupas de puro algodão em cores vivas, vermelha a saia com modelos em marrom. Blusa marrom, um colar ao pescoço, cabeça a escorar na parece de uma casa qualquer, sentada ao desleixo; pés descalços; uma pena arqueada e as mãos a segurar a perna como alguém em seu ambiente solitário; o saco escuro, talvez com roupas; a sua distante e peculiar fisionomia a olhar para o alto como se estivesse visto algo ou buscasse alguém; de forma pensativa como quem procura filhos ou familiares; o rosto enobrecido e sério cheio de encanto era a figura daquele quadro quase pronto. Os pinceis a modelar o quadro estavam todos sujos de tintas. Àquela hora, quando o sol se punha no vórtice do entardecer, Ligia não pode mais conceber a sua leve pintura e pôs-se a meditar sobre tudo o que acabara de fazer. De imediato, levou o seu quadro para a galeria onde amontoava outros quadros produzidos e foi-se a repousa com a sensação de que algo ainda faltava no seu óleo.
--- Você tem procurado alguém? – indagou Vera Muniz ao seu marido àquela hora nostálgica da tarde/noite.
--- Quem eu procuro? – voltou Silas a perguntar a Vera.
--- Não sei. Alguém. Eu estou ainda de resguardo e você deve procurar alguém. Por exemplo, a secretaria. – sorriu Vera a insinuar tal fato.
--- Que coisa! Eu vou procurar a secretaria? Não me faça pergunta desse tipo. – respondeu Silas encabulado com a história.
--- Ora! Mais é normal. Um garanhão de o seu tipo procurar uma mulher. – disse Vera a sorrir.
--- Não para mim. E esse negócio já está começando a esquentar. Você é a minha mulher. E nada mais. – fomentou Silas dobrando o jornal da cidade e sacudindo na cadeira. Em seguida ele saiu para a cozinha soltando gases.
A mulher sorriu com os gases do marido. E olhou para um lado e outro verificando se a Otília doméstica estava por perto. Por conseguinte não observou a sua presença por próximo da sala de jantar. E logo se levantou Vera Muniz rumando para o seu quarto. Ela abriu e fechou a porta com todo o esmero e cuidado. Por lá se arrumou, penteou o cabelo, colocou um pouco de perfume no pescoço, vestiu um lingerie bastante longo e todo branco. Ela por certo tinha consciência de que o traje branco feminino conferia um toque romântico e bem suave leveza. A belíssima camisola enriquecida com detalhes oferecia afetuosa delicadeza. As calcinhas ajudavam em muito o seu contorno de mulher.
Passaram-se os minutos e Silas procurou a mulher na sala de jantar e não a encontrou. Ele foi até ao quarto de dormir e achou Vera de camisola, quase nua, com suas mãos finas e delicadas a chamar o seu amante para deitar com ela. O homem ficou assustado, pois há três meses ainda havia perigo de uma relação sexual. A mulher se pôs ao verdadeiro agrado do marido ao dizer apenas:
--- Tem outras formas de se agradar o marido. – disse mulher de forma carinhosa
Naquele verdadeiro instante Vera, com sua suntuosa combinação e calcinhas a mostra todo o seu anseio, usou da exibição a qual ela sem receio e com muito afeto podia fazer bem feito amor sem a penetração. Em ânsias e desapego homem apenas foi ao cume do êxtase com o perfume sedoso da mulher amada a fazer o real toque oral o qual ele já esquecera de fato. As estrelas começavam a luzir no céu brilhoso procurando seus verdadeiros ninhos de mágico e notívago encanto. Na igreja ao longe, soava o rugir do sino a marcar suas noturnas horas. O sorriso das moças nas caçadas de um bar denunciava ser propício para se fazer total amor a cada instante da noite.
--- Que horas? – indagou Silas a mulher após acordar de seu profundo sono.
--- Quase nove da noite. – sorriu Vera ao responder a seu marido.
--- Manhã nós devemos ir à construção na praia dos Coqueiros. – respondeu Silas se erguendo com toda preguiça do mundo.
Em algum domingo aproveitando o feriado da segunda feira, Ligia rumou pra a casa de seus pais, no interior, cerca de duzentos quilômetros da capital. Ela preferiu seguir de ônibus, pois temia acidentes da rodovia federal. Após viagem de três horas, Ligia pediu parada antes do terminal, pois era ali onde residiam seus pais, irmãos, irmãs e, de vez em quando, as primas de Ligia. Em carta, ela havia contado a sua mãe ter deixado o Convento e estava trabalhando em uma firma comercial. Quando bateu à porta, dona Bela veio contente a lhe abraçar. Foi uma festa e tanto. Os irmãos estavam na feira juntos com o seu pai. As irmãs eram casadas e moravam nas proximidades, Na casa, estava apenas uma mocinha que Ligia chamava de Lia. A moça tinha seus dezoito anos de idade, porém parecia ter bem menos. Elas eram primas. Lia vivia mais tempo na casa da tia, dona Bela em lugar da própria casa onde moravam sua mãe, pai, irmãos, irmãs e um neto de sua mãe. Lia era filha de Maria Clementina. Seu pai era Porcidônio, homem do mato, pois vivia cuidando da roça e de umas cabeças de gado junto com seus filhos. Um deles não fazia nada. Era Doca como a irmã o chamava. Seu nome verdadeiro era João. Quando Doca não estava bêbado, na certa estava dormindo.
Lia abraçou contente a prima Ligia. Ela vestia apenas um camisão, parece ser de homem. Por baixo não tinha nada. Nem cobrindo os seis e tampouco a sua genitália. E nem por isso ligava por estar quase despida. Quando uma Irma mandava vestir a calcinha ela saia zangada.
--- Sou moça e já tenho dezoito anos! – respondia de modo atrevido e com bastante raiva até.
Nessa ocasião, Lia se enfurnava no quarto da casa de dona Bela o por lá ficava. No entanto, à chegada da prima, ela estava sorridente e feliz da vida pegando a mala nutrida de roupas da moça e arrastou para dentro da sala. Aquele era tempo de conversar, apesar da mãe de Ligia oferecer café para a sua filha. E reclamava da jovem moça Ligia ter deixado o Convento sem saber a razão. A prima Lia sempre sorridente, apesar de usa somente um camisolão apenas queria saber de como era a vida na cidade grande, pois apenas duas vezes estivera pela capital e nem foi ao centro da cidade. Com certeza, Lia gostaria de saber qual a sua função no novo emprego; dos rapazes namoradeiros; da situação de se conseguir trabalho de arrumadeira ou de cozinheira ou mesmo de outra coisa qualquer. Porém, Ligia não tinha muito a dizer, uma vez não ter procurado saber realmente do assunto.
--- Nessa só têm vadios! Ô raça ruim! – reclamava Lia a sua prima com a cara amarga de ódio.
Ligia não se importava, pois na capital era do mesmo jeito. Bares, bares e bares. Quando o rapaz não estava embriagado é por que estava dormindo, argumentava Ligia de certo modo. A vida na grande cidade era uma ilusão. Para se morar, tinha que ser em casebre de palha ou papelão. Quando não pegava fogo em tudo, vinha à cheia das águas a desabrigar, era o que argumentava Ligia a sua prima. Enquanto isso a sua mãe aprontava o café e chamava a filha para tomar uma xícara com um pedaço de bolo feito por dona Bela.
--- Ora mãe. Não estou nem com fome. Eu trouxe umas coisas para a senhora. Para o meu pai também. E um monte de brinquedos para a garotada. – respondia Ligia a sorrir.
--- Deixa de besteira. Você está magra. Depois do Convento! Não sei por que você saiu do lado Freiras. – respondeu a mulher com a cara de tristeza.
--- Trabalho, minha mãe. Trabalho – argumentou a jovem Ligia.
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