- Aishwarya Rai -
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Ao chegar à mesa de atendimento do Hospital Central, Silas se identificou e disse para que estava naquela casa de saúde. A moça do telefone mandou que ele aguardasse um pouco, pois seria chamada a enfermeira de plantão. O homem ficou a aguardar um bom pedaço de tempo para poder falar com a enfermeira e ir visitar Racilva que deixara naquele Hospital na parte da manhã. Homens trajando branco, com certeza médicos, entravam e saíram a todo instante da Casa de Saúde. Outros, os maqueiros, ficavam parados em frente ao Hospital. Uma ambulância de sirene ligada chegava com novo paciente enfermo. Duas mulheres, com certeza auxiliares de enfermagem entraram a correr no corredor levando bandejas de soro. Era um corre-corre tremendo de um entra e sai que nunca parava um segundo sequer. Gente esperando médico, menino a chorar irremediavelmente, homem com uma perna engessado tranqüilo a espera de ser atendido por não se sabe quem. Outra ambulância chegava à porta da frente do Hospital Central. Era um verdadeiro tumulto a correr a todo instante. E Silas Albuquerque a esperar eternamente preocupado por essa tal de enfermeira. Depois de certo demorado tempo, chega a enfermeira para trazer a Silas a novidade.
--- Senhor Silas? – perguntou a enfermeira.
--- Eu mesmo. Como está passando a paciente Racilva? – indagou Silas.
--- Bem. Vamos sentar. Espero que entenda. A senhora Racilva morreu. Esse foi o diagnóstico médico da vítima. Mas, ao que parece, o seu corpo não está mais no necrotério onde foi posto. Aparentemente sumiu de repente. – falou a enfermeira um pouco assustada.
--- Sumiu como? Como é que um corpo some assim de repente? Ou vocês trocaram o corpo da vítima? – indagou Silas alarmado e com muita duvida cruel.
E o assunto tomou conta do hospital com um barulho tremendo de Silas com a enfermagem e exigindo a presença da direção da Casa de Saúde. Um rapaz, de cor clara, boa altura, voz suave veio até o homem Silas e indagou o que estava a acontecer. Silas, com ímpeto disse ao home que estava à procura do corpo de sua amiga. O rapaz perguntou qual o nome da amiga de Silas. Esse se debateu e perguntou que era o tal rapaz. O rapaz respondeu que era repórter de jornal. Silas ficou a pensar e de um estalo disse:
--- Pronto! É o senhor mesmo! Faça a matéria! O nome da jovem era Racilva Pontes. – replicou Silas ao repórter que anotava o nome da desaparecida moça.
E passou Silas a atender a reportagem respondendo a todas as questões alusivas sobre o caso, desde o desfalecimento da moça até aquele instante. E o rapaz perguntou ainda se Racilva tinha pai e mãe. Silas titubeou e disse não saber. Eles – Silas e Racilva – tinham sido amigos de infância, porém nada sabia a dizer sobre os seus pais. Nos últimos tempos ela era a vice-presidenta da Agencia Pomar. Mesmo assim, Silas não se preocupava em saber sobre a vida pessoal da moça. Cera vez, ele bem se lembrava, Racilva falou em “minha mãe”. Com certeza ela teria mãe. E há pouco tempo. Silas esteve em um sobrado que Racilva disse ter sido herança de seu avô. Era um sobrado imenso e com pinturas de artistas famosos. Além do mais tinham outros objetos no sobrado que parecia ser de alguém muito portentoso. Se ela estava no auge de sua carreira era, portanto em conseqüência de ter uma boa família declarou Silas.
O caso tomou rumo da família de Racilva com o repórter através de saber mais alguma noticia que, porventura Silas havia esquecido. Mas nada houve a acrescentar. Nesse momento, uma enfermeira chamou Silas até a direção do hospital, onde estava um senhor, talvez um médico, que tinha sabido do caso do desaparecimento do cadáver de Racilva. A direção do hospital tomou logo o trabalho de esclarecer ao homem, Silas Albuquerque, ao saber de que se tratava de um desaparecimento de alguém muito importante, de alto renome internacional. Racilva era a vice-presidente de uma soberba organização que tinha sede no Brasil, mas era de cunho mundialmente famosa. Algo que comprometesse o Hospital com o desaparecimento do corpo de alguém bastante famosa era totalmente comprometedor para o próprio Estado, dono do Hospital Geral. Com certo tempo a noticia se propagava e tomava rumos internacionais uma vez que o principal órgão da cidade já teria posto em sua primeira edição. A direção da Casa de Saúde procurou amenizar o fato se comprometendo em resolver o desaparecimento do corpo de Racilva. Isso tudo o repórter assistiu e foi à redação por nas máquinas o assunto do dia.
MISTÉRIO NO HOSPITAL – Corpo de mulher desaparece. – Era o assunto da notícia. Com esse destaque, as emissoras de rádio e televisão procuraram assumir o controle da informação. A imprensa internacional também fez o mesmo com alarde e destaques especiais com títulos avassaladores a indagar; QUEM É A MORTA; CORPO DESAPARECE; A ESTÓRIA DE RACILVA. O jornalista procurou saber mais informações a respeito de Racilva Pontes, indo no Grupo Escolar onde a jovem estudara. A direção geral da Escola procurou ver o histórico de Racilva e descobriu que ela era filha de Ana Carolina Pontes, mulher que a concebeu, porém morreu durante o parto feito em sua própria casa. Isso era conversa de se dizia a boca pequena. A mãe de leite tinha a senhora Nazinha – nome de Maria Nazaré Quirino, mulher que adotou a filha, Racilva. Outra informação muito preciosa foi a de que o pai de Racilva de nome Paulo Pontes, a sustentou até os dezoito anos quando veio a falecer em acidente de caminhão. Seus pais – de Paulo – tinham sido donos de grandes propriedades que ainda existiam ao abandono. O nobre sobrado deixado por herança à família levava o nome do velho Melquíades Pontes. Ele só deixara por herdeiro o filho Paulo. A sua esposa, Maria Aparecida, ainda era viva moradora em um casarão no interior do Estado. Essa mulher foi à segunda esposa de Paulo com quem casou com ele já viúvo.
A incumbência era a de descobrir onde morava dona Nazinha mãe de leite de Racilva. Foi uma luta feroz essa de descobrir a casa de dona Nazinha. Mesmo assim, alguém da Agencia Pomar se prontificou em resolver a questão, pois conhecera Racilva ainda moça, com seus dezoito anos, antes mesmo a jovem Racilva chegar à empresa. Por isso mesmo, o homem descobriu onde morava dona Nazinha, vez que a mulher era sustentada com feiras em sua vida de anciã por sua filha de leite, Racilva Pontes. A mulher Nazinha, perguntada pelo repórter tomou um grande choque ao saber que Racilva tinha morrido. A partir de então a anciã foi quem disse que a mãe de Racilva era Ana Carolina e que morreu quando deu à luz a filha.
--- Ela teve um desmaio. – respondeu Nazinha ao repórter.
--- E não despertou? – perguntou o repórter.
--- Não. Ela sempre tinha desmaios. Uma vez ela passou um dia desmaiado - relatou Nazinha com a sua voz rouca.
--- E a filha sabia disso? – indagou o repórter.
--- Quem? Racilva? Sabia! Ela também via coisas. Aparições. Visagem. Coisa do outro mundo. – respondeu a anciã com o seu cachimbo na boca.
--- Com certeza Racilva tinha religião! – indagou o rapaz a ancião.
--- Ela disse certa vez que estava freqüentando uma Casa Espírita. Não me lembro o nome. – respondeu a mulher cuspindo baba para longe. E atiçando o cachimbo.
--- E aqui, ela com certeza notava alguma presença de espírito? – perguntou o rapaz.
--- Meu filho. Isso teve por varias vezes. Um dia ela falou que estava conversando com a sua mãe. Besteira. Mas disse. – relatou a anciã.
--- E a mãe de Racilva, dona Carolina, morreu mesmo? – inquiriu o repórter.
--- Meu filho. Eu tenho minhas dúvidas. A despeito de ter sido enterrada como “morta”, certa vez “ela” disse à filha que tinha sido enterrada ainda com vida. – cuspiu a velha e respondeu a pergunta.
--- E a senhora acompanhou o enterro? – perguntou o repórter.
--- Acompanhar, eu não acompanhei. Eu estava de barriga pra ter um filho que já morreu ainda criança e dando leite a menina recém nascida. – respondeu à anciã.
--- Ela falava muito na sua mãe? – investigou o repórter.
--- Não. Só dizia que tinha conversado com a mãe, dona Carolina. Ela sempre dizia. – relatou a anciã Nazinha. E cuspiu novamente para um lado.
E a conversa demorou mais um pouco com o repórter, entretanto sem saber o que indagar à anciã. O tempo foi passando e a matéria ainda tinha que ser posta para sair no dia seguinte. Fotos foram feitas da anciã e seu cachimbo de barro para por na matéria de primeira capa. Nesse dia, uma quarta-feira, a esposa de Silas indagou do marido como estava à empresa sem saber de mais coisa alguma, como o desaparecimento de Racilva. Ele respondeu que tudo estava bem. E a mulher deveria descansar um pouco mais até a data de saída do Hospital Pro Matre. A reportagem já colhera informações que a mulher, Vera Muniz, estava naquela Casa de Saúde e queria ouvi-la a respeito do desaparecimento da sua vice-presidente. A direção do Hospital não autorizou fazer espécie de tal reportagem, pois a paciente estava em repouso e nem sequer sabia de algo a respeito da firma ou de sua diretoria. Houve altercação com os jornalistas, até mesmo da imprensa estrangeira quando um foi pego disfarçado em enfermeiro para entrar no apartamento de Vera Muniz. Era um repórter da imprensa italiana que se fez passar de enfermeiro para ter acesso ao apartamento de Vera. Quando o homem fazia a vez de penetrar no aposento, foi descoberto por uma enfermeira mais antiga no serviço e deu alarme para que os vigilantes viessem buscar o jornalista abusado. Nesse instante, com o barulho que se fez no corredor, Vera ainda perguntou a Otilia.
--- O que está havendo aí? – indagou Vera.
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