- Melanie Griffith -
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O ano passava parecendo rápido e o vice-presidente da empresa, Silas Albuquerque, a sua secretária particular, Ligia Duarte, a presidente Vera Muniz, auxiliares e diretores de filmes corriam feito loucos de um lado para outro a fim de terminar as produções programadas para serem apresentadas nos Festivais de Cinema do Brasil e do exterior, como Berlim, Rússia, Veneza, França, Espanha, Estados Unidos, México e Cuba entre outros. A empresa de Vera Muniz estava com uma produção de cerca de dez filmes durante o ano e ainda adquiria produções independentes para exibir no Brasil e exterior. Artistas sob contrato era um mundo. Quase sempre um ator trabalhava oito dias e já estava locado para outra produção. Técnicos, eletricistas, mecânicos, diretores e mesmo produtores independentes eram amealhados pela Empresa POMAR de Entretenimentos. No exterior, como Itália, produções eram aceitas de acordo com o seu tema e beleza fílmica. Com a certeza de estar emplacada nos festivais de cinemas, Vera era puro deleite;
--- Vencemos mais essa! – sorria Vera Muniz ao ver o resultado de um festival como Locarno.
Locarno é uma cidade da Suíça onde se faz amostra de cinema. O prêmio cobiçado por uma produção cinematográfica é o “Leopardo de Ouro”. A mostra de filmes é tida como Festival Internacional de Cinema de Locarno. Apesar de pouco divulgado a frente dos demais, o Festival de Locarno é magnífico cinema com os prêmios auferidos as mais belas produções. Quem passa por Locarno, a cidade, encontra belas ruas estreitas prontas para ser locadas em um filme. O lagos de Locarno é uma atração para o turismo. Casarios nos montes e na cidade são outras atrações. Belos Hoteis como o Hotel Dell Angelo são atrações a parte. Quando Vera Muniz, Silas e a secretaria Ligia estiveram em Locarno ficaram então maravilhados com toda expoente beleza do lugar. Eles tiveram a emoção de defender o “Leopardo de Ouro” com uma de suas produções ítalo-brasileiro-francesa. Ao saírem de Locarno, Suíça, eles prometeram voltar no próximo ano com outras esmeradas produções.
E assim prosseguia célere Vera e Silas Albuquerque com seu leque de produções. Não raro, um tomava direção diferente do outro, porque eram vários locais para se ver filmes estrangeiros e notar qual seria o melhor em termos de exibição. Não raro ganhava o premio uma produção de menor nível enquanto outra de maior porte ficava para trás. Havia severas discussões em torno de tais festivais e de jurados, cujo empenho era maior por um filme de cunho de um país vizinho deixando-se outras produções muito mais interessantes. O cinema começava em seus Festivais a partir do mês de fevereiro e prosseguia até o mês de dezembro. No Brasil eram vários festivais muitos dos quais a Pomar não poria filmes apesar de ser festivais de exímio conteúdo para se verificar.
De volta ao Brasil, Silas e sua secretaria, Ligia, tinham muito que aprender e o que declarar em reuniões de diretores, produtores e atores. De uma vez, Silas esteve em Espanha agendando a mostra do Brasil para o cinema internacional. E desse ponto, ele teve de viajar para Belo Horizonte, Minas Gerais, onde outra mostra era programada. Dessa vez ele foi à companhia de sua esposa Vera Muniz. Com certo cansaço. Silas voltou para a capital deixando Vera Muniz a ver o restante dos filmes em exibição. A sua secretária Ligia Duarte estava febril, nesse tempo, sem sair de casa. Ela solicitou uma licença de três dias enquanto a casa ficou por conta de Lia, a sua prima. Com o passar dos dias, Ligia voltou ao trabalho deixando, por conseguinte Lia a ocupar suas funções domésticas. O rapaz – presumivelmente – do telefone voltou a ligar para a exuberante Lia apenas para ouvi-la dizer “alô”. Ele nada respondia de retorno e Lia bastante apoquentada findava por desligar o telefone. A moça continuava a fazer o serviço doméstico, não raro esfregando o chão ou coisa parecida. De certa vez, a saia de Lia levantou por força do vendo e a deixou a descoberta até a cintura. Ela vestia uma saia não tendo por baixo as calcinhas. De imediato, Lia se soergueu e baixou a saia. Nesse instante, sem que nem mais, ela pode observar a janela do apartamento quase vizinho e enxergou novamente a luneta por entre a cortina e um rapaz, com certeza, a observar a moça. Ela não teve escolha: enfiou o dedo na vagina e mostrou para o rapaz da luneta dizendo:
--- Cheire aqui, ó! – berrou Lia para o rapaz.
E não houve progresso na ação de Lia. De imediato, ela trancou a porta do kitnet e passou a cortina de tecido negro e branco e largou o voyeur a ver plumas e paetês. O kitnet de Ligia era apurado e ao passar dos meses ela cobria com mais elegância ainda maior. Desde a porta de entrada até os mais remotos terraços a moça revestia com sedas entre outros ambientes de maior rigor. E, por seu lado, a prima Lia dava maior gosto na arrumação primoroso do belo apartamento. Quando estava em casa, Ligia ficava a meditar o de se fazer melhor para dar mais encanto ao seu kitnet. Apesar de ser um acanhado minúsculo imóvel alugado, para Ligia o apartamento era como se fosse seu. Dessa forma a moça seguia seu rumo. Amigas, amigas do peito Ligia não tinha. Apenas Lia e, de vez por outra, uma vizinha aparecia em seu imóvel para dois dedos de prosa. Só isso e nada mais. Os encontros furtivos e obscenos ela mantinha com Silas Albuquerque nos apartamentos de hotéis, quando isso fora tão possível. Ou mesmo em viagens pelo interior ou no exterior. O caso entre os dois havia tão somente ao sabor dos dois amantes e nada mais.
Teve um caso em que Silas ficou com a moça na parte de cima de uma sala de cinema. Esse foi um negócio casual. No cinema não havia viva alma no salão de cima e, enquanto o filme era projetado eles fizeram sexo na parte de cima da sala de cinema.
--- Loucura! – dizia a moça ao seu amado a sorrir.
Momentos casuais. De outras vezes, era aproveitar um apartamento do Hotel d’Olivier, em Cannes, da França. Sedenta de amor, a moça já sem a sua virgindade desde o tempo em que esteve com Silas Albuquerque em um apartamento no Hotel das Nações, em Brasília tecia carícias as mais afetuosas cobrando um pouco de carinho e apego do seu terno amado. Foi um angustiante momento de ternura aquela vivida por Ligia ao sol nascente da França. Ela se lembrava de muitas estrelas atrizes onde fizeram sexo como aquele no mesmo Hotel d’Olivier, com certeza.
--- Chega! Chega! Mais! Mais! – era tudo o que a moça dizia ao sol do velho mundo.
Paris estava aos seus pés. Cannes nem brilhava tanto como o amor de Ligia por seu eterno dono amante e senhor. O homem teve uma manhã incomum ao ver Ligia, vestindo apenas um penhoar de cetim a caminhar pelo quarto com um rosto em figura de uma mona olhando Silas com tal sorriso de modo inquieto e forma maliciosa.
--- Que loucura! – precisou o homem a sorrir.
Quando estava no Brasil, Silas Albuquerque chamou certa vez o velho Diomedes a treinar um pouco, nas pedras, bem ao alto da vila, distante das casas a sua Luger então já com munição. Os dois senhores saíram para um local remoto bem ao longe da vila uma tarde de junho. E eles procuraram um local onde pudesse atirar sem jeito de atingir qualquer pessoa. Foi nesse tempo em que Diomedes se lembrou de contar a Silas o sonho que tivera a noite passada:
--- Hoje, eu tive um sonho impressionante. – disse o velho.
--- Com que? Vê se dá para ganhar no bicho! – sorriu Silas remendando o sonho.
--- Não sei. Foi um sonho. Mas a pessoa que eu via era a Racilva. Nunca eu sonhei com Racilva. Hoje, me veio à lembrança a moça Racilva. Ela estava em um, parece, um cemitério. Ela colocava rosas no tumulo de Fernando, o menino que morreu. O senhor sabe. Mas, havia uma casa grande. Depois eu me lembrei da administração. E ela estava com uma menina. Estranho! – reprovou Diomedes ao pensar no sonho.
--- Estranho mesmo. Chega me deu arrepios. A gente sonha cada coisa. Pra mim, Racilva morreu mesmo. Faz mais de um ano. Não tive mais noticia. – lembrou Silas inquieto.
--- É. Ela não me via. Eu estava perto dela. Mas não me via. Curioso! – retrucou Diomedes.
--- Sonho! É sonho! Segunda feira você pode perguntar isso a Paredão. Veja o que ele diz! – falou Silas ao velho Diomedes.
--- É. E nunca mais nós fizemos sessão em casa. Então, agora, seu sonhei a uma pessoa que fazia parte da mesa. – reclamou o velho Diomedes arrependido.
--- E você tem ido ao centro? – perguntou Silas ao velho.
--- Nunca mais. Nunca mais. Estou sentindo falta do centro. – relatou o velho com pura solidão.
--- É. Mas vamos aos tiros! – sorriu Silas para o velho.
O dia era limpo e o sol caminhava para o poente quando os dois amigos resolveram voltar para as suas respectivas casas. Na verdade, Diomedes morava em uma casa nova. Silas, em uma mansão que ele mandou construir por uma empresa. As moradias ficavam quase a beira-mar. Quando era maré alta, as humildes casas eram lavadas até a cozinha pelas águas do mar. Casas pequenas, humildes, quase caindo. Alguns desses casebres eram escorados por madeira. Tinha casebre que era trocho, quase a cair. Alguns casebres eram feitos de palha de coqueiro. Gente idosa as que moravam nos casebres de palha fincados na areia. As moradas de pescadores eram sempre velhas. Eles pescavam em jangadas em alto mar. Ou pescavam com redes de malha. As redes eram estiradas nas cercas de suas casas. Algumas tinham troncos de coqueiro formando bancos logo em frente das choupanas. As pedras negras eram as protetoras dos casebres contra a entrada do mar nos meses de águas violentas. O local onde os dois amigos foram treinar tiro com uma pistola do tipo Luger de procedência alemã era bem distante das residências de morada.
--- Onde estão as tuas jangadas? - perguntou Diomedes a Silas meio pensativo.
--- O homem continua a fazer reparos. – respondeu Silas preocupado com outras coisas.
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