- Linda Blair -
- 62 -
Manhã de segunda-feira, feriado. Logo cedo alguém bateu palmas na porta de dona Bela, mãe de Ligia. Era um rapaz das redondezas. E veio então dizer que Pedro, o sobrinho da mulher estava internado no hospital com várias picadas de urtiga brava. O rapaz era todo suado àquela hora da manhã, sol de sete horas, carros passando para cima e para baixo. Ônibus da linha faziam percurso para a capital. Carros-de-boi gemendo na estrada com seus bois atrelados a levar cana de açúcar para a usina. Mulheres e meninos a passar para a Igreja. Alguém procurando um filho ou neto a chamar aos gritos. Era uma mulher de meia idade. Seu cabelo era todo assanhado. Ela em pé à porta do casebre. E o rapaz a espera de dona Bela. A mulher chamava pela filha, Ligia, a sobrinha Lia os irmãos de Ligia. Toda vexada dona Bela perguntava.
--- A mulher já sabe? – perguntou alvoroçada dona Bela a tempo de cair morta.
--- Eu vim primeiro aqui. Na casa dele não fui. – respondeu o rapaz de cabeça abaixada.
Com tanta pressa que estava, dona Bela calçou sandálias diferentes alarmando pela filha e sobrinha e se prepararem para ir ao Hospital. Pedro estava internado. E o caso era grave. O homem estava todo picado. Parecia ser urtiga. Vontade de urinar fez a mulher retroceder. Ligia, sua filha, dizia não ir ao hospital. O mesmo acontecia com a irmã de Pedro. Lia preferia levar o recado a sua mãe. A mulher de Pedro era Lourdes. Mulher por acaso. Ele vivia amigado com Lourdes. Às vezes arranjava serviço. Por outras, vivia a pescar no açude ou mesmo beber pinga até topar. A mãe de Pedro era irmã de dona Bela. Seu nome era Maria do Ó. Todos a chamavam por apenas Do Ó. Seu marido arranjava serviço para cuidar de vacas de um homem da cidade. Seu nome era José Nicácio. Àquela hora do dia Nicácio já estava tomando conta do gado. Por isso, ele não sabia do filho pipinado de urtigas.
A mãe de Pedro logo ficou sabendo da historia. Por isso ela não vira mais o filho no dia que passou. A mulher de Pedro não se ligava tanto. Apenas dizia.
--- Foi a cachaça! – dizia a mocinha com seu filho no colo.
--- É bom nós irmos para o hospital. – falou Do Ó quase a chorar.
--- Eu não vou pelo menino. – respondeu Lourdes acalentando a criança no colo.
--- Eu também não vou porque tenho medo de hospital. Só tem gente pra morrer. – relatou Lia assombrada.
Ligia não dizia o porquê de não ir ao Hospital. Porém ela jamais esquecera o empurrão o qual sacudira Pedro contra um pé de pau perto da lagoa do matagal. Eles estavam vendo a mocinha Marilu fazer negócio feio.
E com o passar do tempo, ela já estava no Convento e lembrou-se do fato do primo Pedro. Naquele tempo Ligia então se masturbou. Toda vida ela praticava masturbação por um motivo qualquer. Quando foi com Silas a Brasília, também se masturbou e foi dormir inteiramente nua com o seu chefe. Então, na cama de casal do apartamento do Hotel das Nações ela fez amor com seu próprio chefe.
Casos da vida. Ligia já era moça e certa vez a Madre Superiora do Convento a surpreendeu a se masturbar. Não houve mais razão para Ligia se acostumar no Convento e, desse dia em diante, ela teve de pedir o seu afastamento da Congregação Religiosa. Foi dessa forma onde Ligia falou ao homem Silas. Ela não podia mais ficar no Convento por causa dos afazeres diários. Outra mentira por ela feita. E, no interior, Ligia não mais queria ver nem mesmo o Hospital, comandado pelas freiras do lugar em qualquer local. Era, por conseguinte, Ligia não mais desejar ter qualquer aproximação com freiras ou Hospitais. Disso, ela não falaria nada a qualquer pessoa, caso fosse. Ela sempre guardaria em segredo esse estigma social. Quando ainda infante, ela teve medo de Pedro. Porém, com o passar do tempo, o medo para Lígia se transformou em anseio.
Dona Bela chegou ao Hospital mais algumas pessoas, inclusive Do Ó, e procurou saber de maiores detalhes sobre o seu sobrinho. Cansada de tanto correr, ela quase desmaia na entrada do prédio. Era dia feriado, festivo por sinal e advindas festas populares, fogos de artifício, cirandas, banda de musica no decorrer do dia com sinos a repicar da Igreja ao meio dia e coisa e tal, mesmo assim, no Hospital o expediente era normal. Logo depois a mulher foi até a enfermaria onde estava Pedro bastante adoentado, com vômitos, diarréias, entre outros distúrbios orgânicos era um pobre enfermo naquele dia feriado entre tantos outros doentes. Dona Bela acariciou a cabeça do sobrinho ao dizer-lhe:
--- Filho. Tome cuidado. Esta é uma doença braba. Mas, com o tempo você fica curado. – relatou a tia do rapaz tendo todo o carinho tomado.
Pedro apenas olhava a sua mãe e a sua tia. Ele era cheio de náuseas. O com terrível medo de vomitar como tinha feito ao longo do domingo e parte da noite da segunda feira era temeroso. O rapaz chorou por todo o tempo da visita cedo da manhã. Após alguns instantes, uma auxiliar de enfermagem entrou no ambulatório e chamou dona Bela para lhe dizer:
--- Ele, hoje, está melhor. Quando for para casa, dê muito leite ao homem. – recomendou a auxiliar de enfermagem.
--- Sim senhora. Faço isso. Aliás, a mãe dele é aquela. Ela faz. – respondeu dona Bela.
À tarde, Pedro foi para a sua casa. Ele ainda estava bastante dolorido. Parecia até um doente mortal. A sua mãe o tratou e em certos instantes a mulher, Lourdes, chegava para dar uma olhadela e, depois, saía do local. A prima Ligia, não apareceu um só instante. Ele ficou sabendo que ao meio dia, Ligia e Lia tomou o ônibus para a capital e foram embora de vez. Apesar de não conhecer a capital, Lia pediu a Ligia para lhe levar. O certo era quando a mocinha completara dezoito anos sua mãe levaria Lia para conhecer a capital do Estado. Mesmo assim, a mocinha nunca confiou em tal promessa. A ver Ligia chegar, logo a mocinha pediu para se mandar para a cidade de uma vez:
--- Eu lavo, engomo, cozinho, varro casa, vou a feira. Compro tudo o que precisar em uma casa. Agora, ficar aqui, não tem a menor importância. – respondeu Lia com a cara trombuda.
--- Vou pedir a tua mãe. Se ela deixar.... – respondeu Ligia aquietando a moça.
--- Vou esperar só para ver. – reclamou Lia um tanto abusada.
E foi assim que se deu a permissão de Lia viajar para a cidade grande. Ela se preparou com seu melhor traje – vestido de algodão. E para compensar: de calcinha. – E tocou em frente, alegre e satisfeita como um pinto no pé da cerca. Quando Ligia chegou ao terminal de ônibus, então trazia mais do que levara para o interior: a sua prima com seu alforje. Não era muito, não era nada, mas pesava um tanto mais. Era uma boca a mais para Ligia sustentar. É tanto que logo pensou quando ainda estava em viajem:
--- “Mais uma boca”. – refletiu Ligia com seus botões.
E assim se foi. Quando Ligia desembarcou, trouxe com ela a prima. E para chegar no seu kitnet ela alugou um táxis e assim, foi saindo para a capital, cidade imensa, gente muita, pedintes a granel, pessoal esmolambado entre outras pessoas de pouca índole. Bares lotados de bêbados ou quase bêbados, avenidas largas demais onde Ligia nem pensava em residir. Ou pensava, com certeza, algum dia. Casas de comércio todas fechadas. Era aquele um dia inicio de semana, porém um feriado. Repartições municipais, estaduais e federais todas fechadas por causa do feriado. Nas largas avenidas o movimento de carros. Era um verdadeiro tumulto para quem dirigia seu veículo. Alguns, e não eram tão poucos, os caminhões, traziam ou mesmo levavam produtos acabados. A chamada linha branca. Caminhões cegonheiros eram vistos pelas duas moças. E caminhões repletos de combustíveis também faziam a rota. Um buzinasso dos infernos. Aquele era o fim do mundo para muita gente. E era também para jovem Lia a qual tremia de medo ao ver tanta coisa a um só tempo.
--- Essa é a capital! – disse-lhe Ligia sentindo em Lia assombração e terror.
--- Grande! – respondeu a jovem amedrontada.
--- As torres, no alto daqueles desmesurados arranha-céus são transmissores de televisão, rádios entre outras coisas. Verdadeiros gigantes do ar! Tem logo quando nós iremos passar o campo de pouso de verdadeiros gigantes: os aviões. – falou alarmada a prima Ligia.
--- Nossa! – tremia a jovem moça agüentando o medo de passar por perto de um dos aviões.
E o taxi foi cruzando por esquinas e avenida com destino ao local onde Ligia residia, logo perto da Catedral onde logo mais à noite haveria a celebração religiosa. Pequenas e grandes casas de morada. Um terreno desocupado e murado exibia a propaganda de bebidas, internet e tantas outras coisas que não Daca tempo nem mesmo os passageiros do taxi vislumbrar. O céu estava calmo, porém nas bancas de jornal e revistas, um alerta: chuva forte à noite. Tais informações as moças nem chegaram a notar. Um carro com equipamento de som passava fazendo zoada atormentando os transeuntes. Depois do primeiro carro de som, vinha outro também. E ninguém percebia um automóvel passando fazendo barulho com seus rádios inquietantes. Em uma esquina de Praça Ligia pediu ao motorista aguardar um pouco. Era o Mercado das Flores. Um extenso local ao ar livre a negociar flores. Havia flores das mais diversas cores. E gente a granel. Uns a vender. Outros a comprar.
--- Isso é o que? – indagou Lia assustada.
--- Mercado das Flores. Espere. Volto num instante. – falou Liga abrindo e fechando a porta do taxi para um motorista já com bastante sono.
Nenhum comentário:
Postar um comentário