domingo, 30 de janeiro de 2011

AMANTES - 64 -

- Leslie Caron -
- 64 -
Logo após o carnaval Ligia viajara com Silas Albuquerque para tratar de assuntos do Festival de Cannes onde o Brasil estaria representado com duas produções cinematográficas produzidas pela Agencia Cinematográfica Pomar do Brasil e Entretenimentos. Enquanto ela deixava o Brasil, na companhia de Vera Muniz e Silas Albuquerque ficou em seu kitnet a sua prima Lia cuidando dos afazeres domésticos. Foi por esse tempo, percebendo um objeto estranho que Lia ficou na espreita de quem era a curiosa pessoa a lhe mirar de dia e também de noite. Lia desconhecia luneta. Porem desconfiou ser um objeto para se poder ver mais longe. E foi muito bem querendo acostumar nessa hipótese na qual Lia se aproveitou. O prédio era quinze metros a frente do kitnet habitado naquele momento por Lia. Levando em conta tal hipótese, a mocinha ficou dentro da sala de sua humilde morada e levantou a camisola mostrando-se por completo ao rapaz do outro lado. Ela praticou tal ensaio por cinco minutos e depois baixou a camisola saindo da sala a sorrir como quem dizia:
--- “Gosta? Quer? Venha!” – era isso porventura o que a moça dizia em seu pensamento.
E fazia isso com gestos da sua mão para o rapaz – provavelmente – entender. A cortina do prédio em frente ao de Lia se fechou e daquele momento em diante nada mais era visível. Quando a garota voltou à sala do seu kitnet, nada mais pode ver na verdade. Então a moça ficou decepcionada e fechou a porta de entrada para a arcada do kitnet e foi cuidar de outras coisas enquanto começava a novela pela televisão, tema comum, porém despertando vivo interesse para Lia. Alguém bateu à porta e a jovem morena foi abrir para ver que era. Nada de mais: o carteiro. Ela recebeu os papeis e tornou a fechar a porta. E teve o cuidado de trancar com ferrolho além de por a fechadura de duas voltas. Lia voltou a cozinha e o telefone tocou. Com raiva por atender Lia pronunciou:
--- Bosta! – falou Lia ao tempo de estar para atender ao telefone.
O telefone se fez mudo. Porém alguém estava na linha. Ala falava como seu interlocutor. E esse não a respondia. Era apenas simplesmente mudo. Lia se zangou impertinente e disse um desaforo desligando o aparelho. Em seguida o telefone tocou com seu toque brando. Ela foi ouvir e ninguém respondeu. Ela voltou a desligar e sentou no sofá para assistir a novela nem se importando o que Haia na cozinha. E novamente o telefone tocou. Ela arrancou com bastante raiva o fio da tomada deixando o telefone mudo por completo.
--- Vá chamar o diabo! – disse Lia com cara abusada.
De camisola, ela sentou de novo no sofá e foi ver a novela. Então, a moça cochilou e, por fim, adormeceu. Quando a noite estava chegando Lia despertou. Acendeu a luz da sala e foi para a cozinha ver o seu café. Porém, ela se esqueceu de ligar o telefone do apartamento. Então, Ligia fez uma, dois, três e mais chamadas sem que nenhuma fosse atendida. Então, a moça desconfiou de que Lia tivesse saído ou mesmo partido para o interior. Outra coisa: doença. Afinal, doença podia ser acometida a qualquer instante e em qualquer pessoa. E logo a moça pensou em sua mãe, Bela. Afinal era já uma mulher de seus sessenta anos e bem poderia estar com alguma doença. E não precisaria ser doença de contagio. Doença comum. Ligia fez ligação para a cidade do interior do Estado pedindo informação de casa. Ela esperaria um pouco e voltaria a chamar depois. A atendente concordou. Com mais alguns minutos, Ligia voltou a chamar a sua cidade. A resposta foi de que tudo estava em ordem. Nada havia a temer.
--- Será o Benedito!? – pensou Ligia porquanto o telefone de sua casa não atendia.
Então, Ligia teve outra idéia: ligar para um apartamento vizinho ao dela. E fez. E atendeu. A pessoa pediu um momento, pois teria de ir ao apartamento de Ligia. Com um pedaço de tempo a moça voltou e deu a noticia: o telefone estava desligado.
--- Puta merda! Isso é uma porra! – gritou a moça e se desculpou por tanto atrevimento.
Em seguida, Ligia fez nova ligação para o seu aparelho e esse atendeu. Ela então perguntou a Lia o que estava havendo com o telefone.
--- Um sujeito ficou ligando para mim e não dizia nada. Então desliguei o telefone. – respondeu Lia com aspecto de abusada.
--- Como você sabe que era um homem? – indagou Ligia atormentada.
--- Sei lá. Penso que era! – respondeu a moça de modo inquieto.
--- E agora você vai desligar o telefone? – indagou Ligia meio brava.
--- Não. Mas se for ele eu dou o troco. Desligo na cara e não atendo mais. Pode chamar como quiser. Eu não atendo. Se for ele! – respondeu malcriada a jovem Lia.
A conversa durou mais algum tempo e Ligia se despediu dizendo que Lia tivesse cuidado com o que estava fazendo. E desligou a chamada.
Depois daquele dia, no escritório, Diomedes recebeu um telefonema. Era um rapaz. Ele disse ter encontrado munição para a arma de seu Silas Albuquerque. Não era tão difícil se encontrar munição para aquela virtuosa arma. A arma Luger ou Parabellum fora fabricada desde o ano de 1899 até 1945, quando o Exercito alemão adotou como arma de guerra para seus oficiais militares A munição era de 9 mm como para as armas que estavam em curso. Com isso, Diomedes agradeceu a atenção e ficou de procurá-lo em dias próximos. O rapaz não tinha muito prestigio com a sociedade, pois certa vez e por mais de uma, o homem estivera preso por conta de contrabando de armas. No entanto, Diomedes o conhecia muito bem desde a época quando fazia frete do interior para o  Mercado da Cidade, quando ainda era moço. Certo dia, depois da mostra da arma.
Ao dizer a novidade a Silas Albuquerque, esse ficou muito entusiasmado por saber da notícia. E ele mesmo entregou a arma Luger ao seu amigo para ver como fazia o Parabellum operar, se não mais estivesse corroído pelos anos. Com todo o cuidado, dias depois, Diomedes foi ao encontro do rapaz. E então levou a arma consigo para se examinar e dar como garantia o seu manuseio. A arma tinha características agressivas e naqueles dias apenas os Colecionadores de armas podiam ter um Parabellum igual. O rapaz tivera o cuidado de guardar o Luger e partir em companhia de Diomedes para examinar e ver o seu tiro certeiro como fora feito durante o período da guerra. A pistola era a mais portátil e pratica de se manusear.  O seu disparo era de alta velocidade e grande precisão como sustentavam os colecionadores da Luger onde o rapaz foi apresentar com Diomedes presente para ver o seu estado dentro daquele ano muito tempo depois de ter sido recolhida de sua fabricação.
--- Tem até tecla de segurança! – disse um dos colecionadores de armas.
--- O que é isso? – indagou Diomedes um tanto inquieto.
--- É para impedir o disparo se arma não estiver corretamente empunhada. Veja! – mostrou o colecionador a Diomedes.
--- Certo. Isso é bom? – perguntou Diomedes de olhos atentos.
--- Uma maravilha. Tem um calibre mais potente. – admirou o colecionador com o seu olhar inquieto e a fala mansa.
Apesar da lição dada pelo armeiro, para Diomedes tudo não passava de palavras, pois de coisa alguma entendia o que se estava a dizer. O velho nunca possuíra uma arma. Nem ao menos um bodoque ou um estilingue. Na sua meninice, o que Diomedes de mais entendia era de anzol. Linha, chumbo de pesca e outros elementos de se armar uma rede de pescaria. De armas, nunca ouvira falar até aquele momento. E quando tudo isso acabasse, ele  estaria um perfeito armeiro para ensinar tudo o que aprendera ao seu patrão.
--- Essa tem cano de 8 polegadas e mira regulável de 800 metros. Belo espécime. O senhor está vendendo essa Mauser? – indagou o armeiro ao impaciente portador da arma.
--- Não senhor. É do meu patrão. – respondeu Diomedes um pouco desconfiado.
--- E o que é que quer saber sobre a arma? – perguntou o Colecionador.
--- Eu pedi a esse rapaz que procurasse alguém que entendesse de arma para poder dizer ao meu patrão. – respondeu com pressa Diomedes.
--- E que, é o seu patrão? – indagou o Colecionador mais atento a resposta.
--- Ele é um dos donos da Agencia Pomar. A que produz filme. Doutor Silas Albuquerque. É o nome dele.  – respondeu o velho Diomedes com o rosto todo molhado de suor.
--- Ah bom. Pois ele tem uma preciosa arma. Eu tenho aqui a munição para a Luger. Vou até mandar para o Doutor Silas umas caixas de munição. E se ele quiser fazer negocio, eu estou às ordens. Com relação ao preço, isso a gente discute outra hora. Uma bela arma! Luger!!!  Aqui, no Brasil, parece que o Exercito tem armas como essa. Não sei bem. – alegou o homem devolvendo a arma a Diomedes.
Os dois homens saíram da residência do Colecionador, ambos satisfeitos. Diomedes bem mais tranqüilo, pois não contava a hora de perder a arma para o Colecionador. Ele embrulhou a bela Luger da melhor forma possível e agradeceu ao rapaz que fora com ele, tomando rumo da agencia esperando nunca mais voltar ao armeiro para outra daquela. Ao chegar ao escritório apenas disse:
--- Tá aqui o Parabellum. – e sorriu Diomedes para o patrão Silas Albuquerque.

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