sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

AMANTES - 63 -

- Susan Sarandon -
- 63 -

Era fim de ano. Dia 30 de dezembro, um sábado. Silas Albuquerque, Vera Muniz – (sua esposa) -, a doméstica Otilia e as mães de Silas e Vera estavam todos reunidos da casa grande feita por uma construtora e entregue poucos dias antes do fim do ano. O casarão era na praia dos Coqueiros onde Diomedes mandara erguer a sua casa simples pela mesma construtora. Como era o fim de ano, todos estavam felizes e alegres com a data e o começo de ano novo no dia 1º de janeiro, uma segunda feira, feriado nacional. Vera Muniz organizava a festa de final de ano com todos os comes e bebes. A satisfação estampava a face da mulher enquanto o seu marido conversava com o velho Diomedes sobre tempos passados. A vila dos anos passados era uma vila pequena demais. Mesmo assim, ainda sem luz elétrica de água encanada, se vivi feliz com  toda a majestade de um palácio. Diomedes contava historias de quando menino quando nem rádio ele possuía. No fim de ano o povo todo da vila seguia atento para o começo do no novo, saindo de casa para assistir a Missa da Igrejinha do lugar. Todos caminhavam religiosamente, com o rosto encoberto pelas mantilhas, se fosse mulher e por um casaco velho de marinheiro dado por alguém, se fosse homem. Os meninos e meninas vestiam roupas simples que as suas mães faziam ou mandavam fazer por uma costureira da vila, quando era tempo de boa pesca. Os meninos e meninas dormiam logo cedo da noite. Apenas os garotos mais velhos esperavam os foguetões e lágrimas soltados pelos pescadores de suas velhas e remendadas jangadas a beira-mar. Viam-se luzes bem distantes das casas grandes da capital ou de alguma cidade mais próxima. Diomedes chorou naquele instante a se lembrar de Cila, a sua namorada de infância. Coisa passageira esse choro. Silas também se lembrou de seus momentos quase poéticos ou poéticos de menino travesso. Namoro às escondidas com a menina Vera.
--- Sempre Vera! – dizia Silas com orgulho de Vera ser a única mulher de seus sonhos.
Os cajus, as mangas, as jabuticabas.
--- E as abelhas! – Silas caia na gargalhada ao lembrar-se das abelhas fazendo um total estrago na cabeça de Vera.
E com isso Vera surgia a indagar desconfiada.
--- Que é que tanto acha graça? – perguntava Vera ao marido sempre a sorrir por causa das mortíferas abelhas.
--- Nada, mulher. É conversa de homem. – respondia depressa o homem Silas.
E a mulher fazia um:
--- Hum! Eu vou querer saber dessas conversas. – e saía Vera para dentro da mansão.
Por esses tempos, Silas Albuquerque se lembrou de mostrar uma arma descarregada que ele guardava há um bom tempo. Era uma Luger Nazista, a qual fora do seu pai. Com certeza, o homem a conseguira de um antigo companheiro de farda, pois tais armamentos tão raro só se encontravam, naquele tempo, das mãos de armeiros ou colecionadores. Como o homem que a deu ou vendeu, não conseguira de nenhum colecionador, talvez tivesse sido mesmo apanhada em campos de batalha de algum oficial nazista quando abatido em combate. E foi assim que Silas trouxe a arma bem cuidada e guardada sob sete capaz e mostrou ao velho Diomedes. Esse olhou com bastante atenção e respondeu de vagar.
--- É uma arma interessante. Eu me recordo de um amigo. Ele me disse que certa vez outro amigo seu disse que o senhor tinha coleção de armas. Carabinas, revolver e o que se pensasse. O homem guardava tudo em papel celofane ou mesmo na parede de sua sala. Era um mundo de armas. Tinha até armas de pistoleiros norte americano. Armas de duelos. Coisa incrível. Eu nunca mais vi esse amigo que me contou essa história. – respondeu o velho.
--- Quer ela para você? – perguntou Silas ao velho Diomedes.
--- Quem? Eu? Nunca atirei. E nem sei como se faz. – sorriu espantado o homem Diomedes.
--- Não é para atirar. Eu não sei nem se tem munição para essa arma. – relatou Silas a olhar de modo pensativo a arma que fora do seu pai.
--- Eu sei. Mas é melhor o senhor mesmo guardar essa relíquia. Talvez tenha sido usada para matar muita gente. – rebateu o velho Diomedes.
--- É. Vou guardar. Semana que vem vou procurar... Não. Deixa aqui mesmo. – e Silas voltou ao seu quarto para guardar a arma.
O sábado passou. Veio o domingo. Lagostas, perus, carnes, champanhes, vinhos, vermutes e tantas ou quantas bebidas e doces de cajus, goiabas em caldas entre ovos e pudins houvesse para os majestosos festivos amigos e casuais freqüentadores da nova e soberba mansão de Silas Albuquerque. O homem, cuja abstinência era total, nesse dia quebrou o seu protocolo. Os donos da Construtora Câmara e seus requintados convidados também estavam presentes ao lauto almoço de fim de ano. Era o dia de comemorar a nova construção da mansão. Discursos e mais discursos se fizeram presentes. No meio de tudo, as oferendas dos visitantes aos donos da festa. O banho de mar não se fez por rogado. Grande parte dos homens, mulheres e seus filhos e filhas caíram no mar, ainda cedo da tarde, pouco tempo após o almoço. As mulheres eram só gritinhos:
--- Cuidado com as ondas! – dizia uma mulher ao seu filho ou marido.
--- Aqui é raso. – respondia o homem a sua mulher.
--- É. Mas cuidado com os negócios que queimam – respondia de novo as mulheres.
--- Que negócios? – perguntava o homem.
--- Sei lá. Caravelas. Parece. - respondia a mulher a tomar banho também a beira mar.
E a algazarra continuava até a tarde inteira, quase noite enquanto a maré estava baixa. Gente vinda da cidade próxima também aproveitava o banho de mar. Com o fim do banho de mar, veio a festa na casa de Silas e Vera. Mais comida e bebida, afinal segunda feira era feriado. E assim, todos vararam a noite toda até o amanhecer. Menos os garotos. Esses foram dormir após a meia noite. Os bêbados também seguiram o caminho das crianças. De tanto beberem, não agüentaram ficar de pé. Uma mulher, ao longe, grávida de seus sete meses, sentada nas pedras dos arrecifes fazia somente olhar a festa de Silas ao luar de farto verão.  
No mês de fevereiro, depois de viajar ida e volta a diferentes Silas já estava confirmado com duas das produções de sua Agencia Pomar, com apoio do Governo Federal e de uma companhia norte-americana para a distribuição internacional. Além do mais, a produção teve apoio de firmas patrocinadoras, de governos estaduais, prefeituras entre muitos outros organizadores de eventos de cinema. Desse modo, Silas e Vera estavam eufóricos com as novas produções de sua Agencia. Perdendo ou ganhando, não tinha a menor importância. O que importava era ter sua organização em divulgação no Brasil e exterior. Aquele era um ano de muitas viagens. Silas para um lado. Vera para outro. Era tudo o que fazer como estiveram a fazer durante o ano que passou. Um celeiro de atores já estava combinado e, apenas cabia aos produtores e diretores marcar cada qual para o seu local. Assim surgia de vez aquela que era a POMAR Produções e Entretenimentos. Serviços demais para os arquitetos da Agencia lotando a cada ponto uma seqüencia. A Produção POMAR tinha uma obra imensa de curtas e longas metragens. Todas as fitas eram distribuídas para o comércio exibidor nacional e internacional. Por sua vez, Vera Muniz já estava à direção da sua agencia tendo ficado com a vice-presidência o seu marido, Silas Albuquerque. Não raro Vera tinha que viajar ao exterior enquanto Silas ficava com a representação da empresa no comercio brasileiro. Ou vice-versa. Juntos, os dois estavam somente nos festivais de Gramado (Rs), São Paulo (Sp), Brasília (Br), Niterói (Rj) entre outros festivais nacionais. E no exterior, como Veneza (It). Alemanha, Rússia, França, Espanha, México, Cuba e até mesmo Estados Unidos. O casal quase não dava conta nem para urinar, tanto vexame era ocupado.
Enquanto isso, Ligia fazia a vez de interlocutora por saber falar inglês, italiano e espanhol, línguas motivadas no Convento das Freiras. Isso até não causava inveja a Vera por saber ser ela uma moça muito  bem comportada e começou a fazer conhecimento mais próximo com a ex-noviça, então secretaria particular de Silas Albuquerque, mesmo quando esse deixou a direção da Agencia Pomar que ocupara durante o período quando Vera Muniz estava de férias por motivo da cirurgia feita. Ligia Duarte teve a oportunidade de ganhar a simpatia da mulher e desde então se integrou de corpo e alma a direção da Agencia POMAR. Em sua casa, um kitnet, ficara a sua prima Lia, a cuidar do asseio do lar. Quando Ligia chegou a casa com um carro, foi então a maior surpresa para Lia.
--- É seu? Você comprou? Que luxo? – argumentou Lia admirada com o automóvel.
--- Estou em negócio com ele. – falou Ligia a sorrir.
--- Que bacana! – fomentou Lia a olhar o veículo em todos os seus detalhes.
--- Dá para o gasto. Não é o melhor. Mas um dia eu chego lá. – sorriu Ligia ao contemplar o seu veículo.
De um modo ou de outro, Ligia estava satisfeita com a aquisição do seu automóvel. À Lia era tomara a decisão de lhe dar um ordenado por serviços prestados, assinar a carteira de trabalho e fazer outros reparos da vida da moça. Apenas uma coisa não poderia fazer: da moça Lia usar as calcinhas quando estava em casa, no kitnet. Ela continuava a usar penhoar, roupão, ou mesmo roupa de dormir, como a camisola, sem por a sua calcinha. E nem notava a presença de um vizinho. Ele estava sempre a olhar com uma luneta a moça sem calcinha.


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