quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

AMANTES - 44 -

- Ingrid Bergman -
- 44 -

O homem rumou para a recepção do Hospital onde fez o ingresso de sua mulher com toda a documentação prevista. Embora suando frio apesar de fazer muito calor, Silas Albuquerque sentia vontade de correr, gritar e até mesmo se sentar, pois àquela hora da tarde nada sabia do que estava a acontecer na sala de parto. Por fim, Silas fez a ligação para o médico especialista de sua amada para saber onde ele estava àquela hora. O celular chamou, chamou e pôs-se na caixa de remessa. Ou seja: não atendeu. O homem ficou mais nervoso ainda sem saber se os médicos de plantão sabiam o que fazer com a sua amada. Por fim, sentou na cadeira que havia no corredor do Hospital. Silas, nervoso, cambaleante voltou à recepção para saber de alguma noticia da sua amada. A moça que o atendeu disse apenas que a mulher estava sob cuidados médicos. Mais alguma coisa moça atendente não mais reportou.  Gente entrava. Gente saía. Os maqueiros passavam correndo pela passagem para ficar do lado de fora do Hospital num dia de domingo onde pouca gente precisava de médico. Otilia, sempre a chorar do medo que teve horas antes ou porque a mulher estava se esvaziando em sangue e até mesmo pelas circunstancias do parto, nada mais ouvia ou sentia para dizer.
--- Racilva! Racilva! – clamou o homem ao lembrar-se de Racilva para aquela ocasião.
Otilia, desatenta, ainda indagou o homem que se portava como um louco.
--- Onde está dona Racilva? – indagou Otilia.
--- Vou ligar para ela! Vejo agora! – declarou de imediato o rapaz.
O celular tocou e quase não atendia com Silas a declarar:
--- Atenda! Atenda! – era o que dizia o homem ao desespero.
E por fim o celular atendeu com Racilva falando ao outro extremo da linha.
--- Boa tarde Silas. O que houve? – indagou Racilva no outro extremo da linha.
--- Venha pra cá! Depressa! Vera está no hospital! – tremeu de pavor Silas ao dar o recado tão atarantado que estava.
--- No Pro Matre? Chego já! – articulou Racilva tão de imediato.
E desligou o telefone saindo com pressa de seu casarão onde, no dia que passou sentiu um desmaio inexplicável.
Após meia hora um médico apareceu na mesa da atendente no outro lado do balcão e perguntou alguma coisa que Silas não pode ouvir. Mas, deu a entender se de fato o marido da mulher parturiente que dera entrada na emergência estava naquele hospital. A atendente fez que sim apontando discretamente o dedo para Silas. O médico então saiu da recepção e se mostrou simpático para com Silas afirmando ter sido um parto difícil de ser feito e a equipe teve que apelar para um parto cesariano.
--- A sua esposa passa bem. Agora a criança estava sem vida há pelo menos dois dias. – relatou o médico ao homem sobressaltado.
Com a notícia da morte do seu filho, Silas não teve outro remédio: perdeu os sentidos e caiu no chão do hospital. Então não teve outro remédio. A equipe de enfermagem acorreu com pressa ao ver o homem ao cair ao chão e procurou soerguer de modo a pô-lo sentado na poltrona de espera. Outra enfermeira preparou uma injeção que fez no cidadão. O médico, mais atarantado ordenou que o levassem para a enfermaria, pois era um local de maior segurança e tratamento rápido. A moça Otilia igualmente ficou abismada com a sorte do seu patrão e, de tanto chorar, ela também desfaleceu na cadeira em que estava.
--- É o mundo todo gente! – reclamou o médico ordenando também que a moça fosse posta no setor de enfermagem.
Em igual instante chegou ao Hospital Pro Matre a jovem Racilva vendo aquela parafernália toda, de socorrer um, socorrer outro e então perguntou a recepcionista o que estaria havendo naquele momento.
--- O homem desmaio com a notícia! – disse a atendente um tanto atormentada.
--- Qual notícia? – fez ver Racilva a atendente.
--- Da mulher o cidadão! – refutou a atendente com medo de dizer qual foi a notícia.
--- Ela morreu? – indagou Racilva de modo aterrada.
--- Não senhora! Mas a senhora? O que é da família? – perguntou a atendente.
--- Sou amiga dos dois. A mulher e o marido! – respondeu Racilva um tanto alarmada vendo Silas posto numa maca e ser levado para um local que Racilva não sabia o qual. E viu também seguirem os enfermeiros com a moça Otilia.
--- Bem. A mulher do cidadão passa bem. – respondeu a atendente.
--- Ah bom. E os dois desmaios foram por quê? – indagou Racilva a atendente.
--- Não sei informar. Só o médico é quem sabe. – relatou a atendente um tanto azeda e voltou aos seus afazeres diários.
--- Isso é uma merda mesmo! Eu sou da família de Vera! – relatou a moça Racilva.
E a atendente não deu credito a essa afirmação. De imediato, dois auxiliares de enfermagem chegaram até onde Racilva estava a convidaram a sentar, pois o médico a atenderia logo que cuidasse dos outros pacientes. E foi um tempo enorme de espera. Com certo tempo apareceu à porta a doméstica Otilia um tanto cheia de cuidados por outra moça, talvez auxiliar de enfermagem, que a fazia companhia para que ela viesse a sentar em sua cadeira de espera do corredor do hospital. Então Racilva recebeu a moça e indagou sobre o estado do rapaz que fora levado para o interior da casa de saúde.
--- Ele está bem. Nesse instante está em repouso. – declarou a auxiliar de enfermagem.
--- Em repouso? Então não está bem! Que repouso? – indagou alarmada a visita.
--- Tenha calma. Ele está bem. Tenha calma. – relatou a auxiliar a Racilva com muito vagar.
Para se contentar com o que não pode saber dos empregados do Hospital, Racilva resolveu ficar com a atenção de Otilia, pois a garota estava naquele recinto há mais tempo e o que a garota dissesse talvez fosse um pouco de verdade. Racilva acalentou a moça e disse-lhe que estava tudo normal, pois a garota não mais devia se preocupar com o que estava a acontecer por outros locais. No entanto a garota tremia de medo e de dor, pois foi ela que socorreu a patroa num instante crucial de sua vida. Ela, então, apenas tremia como nunca o fizera. Racilva acolhia a garota em seu seio e fazia conchegos para que Otilia não tivesse medo algum. Com o passar das horas, a mocinha soletrou algumas frases que, devagar, Racilva foi entendendo. Dizia Otilia que ela foi quem pegou a dona Vera para cuidar em um posto médico. E ainda disse que a mulher estava toda ensangüentada. Ela só se lembrava do sangue que lhe molhou todo o seu braço.
--- Era muito sangue! Eu não sei por que! Mas era muito! – chorou Otilia a olhar os seus braços
--- Tenha calma. Tudo passa. Agora dona Vera está bem. – relatou Racilva à moça.
--- Mas era muito mesmo. Quando o médico disse aqui que a criança morrera, eu só tremi por saber que dona Vera tinha posto tanto sangue pra fora. – relatou a moça Otilia.
--- E a criança morreu mesmo? – indagou Racilva a Otilia.
--- Disse o medico que a criança estava morta. – chorou Otilia com temor.
--- Nossa Senhora! O que será de Vera? O seu primeiro filho! – raciocinou com calma Racilva.
--- Por isso não.  A mulher de perto de minha casa teve três filhos. E todos três nasceram sem vida. Isso eu entendo ser até normal. – descreveu a mocinha Otilia.
--- É. É. É normal. Mas Vera vai receber um choque. - contestou a amiga Racilva.
Por dentro, estava Racilva a pensar no caso que houvera entre ela e Silas na tarde da sexta-feira, tempo em que o menino morreu na barriga então de sua mãe. Caso comum, aparente, Mas, tão logo assim não parecia ser. A criança estava definida para nascer em poucos dias. A gestação fora perfeita. De um momento para outro, a criança rejeito a vida e teve que sair daquele corpo. Racilva, que era espírita, teve que raciocinar de modo como pensaria o pai do natimorto ainda com vida. E, talvez aquele episódio fatal fosse o episódio que um espírito tenha se recusado estar mais no corpo em que deveria nascer. Os casos dos natimortos são plenamente comuns entre os seres reprodutores. Algo de anormal ocorreu de modo que o espírito recusou a assumir a condição de ser vivente, uma vez que poderia haver outro ser em sua legítima rota. Eram dois espíritos “irmãos” que estariam por nascer. Dessa forma, um deles talvez tenha recusado de viver.
--- O doutor Silas está chegando. – pronunciou Otilia a Racilva.
--- Ainda bem. Vejamos o que houve mesmo. – respondeu Racilva baixinho a Otilia.
--- Ele vem com uma moça. – relatou Otilia.
--- É uma auxiliar de enfermagem, penso eu. – cochichou Racilva.


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