- Agatha Moreira -
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TRAGÉDIA
O caso tomou
maior impacto quando Margarida descobriu um corpo sem a sua cabeça. Um grito de
comoção e horror se ouviu de parte a parte dos que estavam a vasculhar o
destroço daquilo que fora um ônibus. E entre gritos e prantos as ainda poucas pessoas
vasculhavam os escombros em uma curva acidentada onde houve o desastre.
Ouviam-se gemidos de dor com muitos doentes, quase todos sem nada poder fazer.
Alguns não tinham um braço. Outro lhe faltava uma perna e os melhores estavam
todos ensanguentados por conta de outros feridos. A enfermeira da ambulância
fez-se de dura a procura dos ainda vivos, pois a morte campeava no chão árido.
E aos poucos chegavam carros vindos da parte de Caicó, Currais Novos e outros municípios
e a ajuda então toma folego. Os feridos eram de imediato posto nos carros os
quais seguiam destino a fora em busca de Santa Cruz. Com esse tempo surgiu uma
equipe de soldados, nada mais que cinco homens, incluindo o delegado de Santa
Cruz. Por não terem condução eles vieram em carros particulares. Alguém falou
em uns militares de Currais Novos. Esses também vieram em suas motos. Eram
poucos. Não mais de três. Equipes de paramédicos de Santa Cruz também vieram ao
local do acidente. Aos poucos se juntavam todos: um verdadeiro batalhão a
procura de ajuda. Alguém contou os mortos.
Alguém:
--- Eu contei
vinte corpos. – relatou um dos ajudantes da tragédia.
Outro:
--- Mas tem
três ali. – dizia outro todo molhado de suor e sangue. E apontava o seu dedo em
direção aos três mortos.
Um policial
detinha um dos que estavam na ajuda, pois pegara o rapaz a saquear as vítimas.
E assim o militar seguia com o desastrado a procura de um pé de pau onde o
poria amarrado com cordas. Margarida
procurava a cabeça de uma mulher. Essa mulher perdera a cabeça e Margarida a
chorar nada pode divisar entre o matagal existente na ribanceira. Um rapaz
disse então;
Rapaz:
--- Encontrei
uma cabeça. – e mostrou soerguendo em suas mãos
A moça quase
desmaia de tanto horror sentido.
Margarida:
--- Ai meu
Deus! É da defunta! – disse alarmada a moça.
O homem subia
a rampa com uma criança de colo. Outro ajudava um ancião a caminhar. Nem sempre
podia e tinha de conduzi-lo nos braços.
Homem:
--- Vamos meu
pai! É logo ali! – recomendava o moço.
Nesse meio
tempo uma guarnição do DNER ( Departamento Nacional de Estradas de Rodagem)
chegou ao local e outras viaturas particulares faziam a retirada das pessoas
com vida e partiam como loucas em busca de outras cidades para atender aos
pacientes. Era um tumulto, pois aquele acidente não era mais o único havido
naquela estrada cuja ribanceira de mais de cinquenta metros de profundidade
provocava vertiginosos tombos de carros, carretas e ônibus a fazer percurso
entre Natal e interior. Eram mais de duas horas de trabalho e Margarida nem
ouviu o chamar do seu pai adotivo, uma vez ter ela o trabalho constante de
ajudar aos mais dedicados. Quando tudo chegou ao seu final, o número de mortos
foi contado: trinta e seis ao todo. Pouca gente sobrou com vida.
Margarida:
--- Pronto!
Terminei! Agora é com você! – fez ver a moça.
Na tarde
daquele dia Margarida se limpava de todo sujo quase como pregado em seu corpo.
O velho senhor Amaro Boba Castro lamentava o acidente a conversar com o
vaqueiro Tomaz. Entre outros assuntos, o velho chegou a dizer ter de ir ainda
naquele dia para a Capital, pois levaria a moça para deixar os negócios
esfriarem um pouco.
Amaro;
--- Nunca se
sabe o que pode acontecer. Por isso é melhor eu levar a moça. – comentou com
vista para os lados.
Tomaz:
--- E se a
Polícia. .... – sem completar o dito.
Amaro.
--- Bem! Você
diz que eu fui. E que a moça saiu para a casa de um padrinho ou qualquer coisa
desse modo. – falou com voz baixa o homem.
O vaqueiro
coçou a cabeça e se mostrou inquieto.
Tomaz;
--- Que
padrinho? – indagou.
Amaro:
--- Não sei.
Inventa um nome qualquer. Diz que a moça foi para repousar do cansaço do
desastre. – comentou
Tomaz;
--- Bom. Está
bem. Eu invento. – falou o vaqueiro.
No caminho de
volta o velho Amaro Castro ficou a meditar como faria para por a moça em casa,
apesar de sua mulher saber do apadrinhado do homem. Mas, era de supor ter a
mulher Clotilde, ficar de orelha em pé em ele buscar a filha adotiva assim nem
mais. Tantas coisas e ele a pensar de negócios sem maior importância. Afinal o
rapaz estava morto de vera. De vera. O caminho era um pouco longo,
principalmente à tarde/noite como era de fazer. Amaro ainda olhou mulheres e
crianças a arrumar suas casas quando era quase noite. O terremoto foi sentido
também naquele mato grande de fazer medo. Homens, quando muito mal vestidos,
procuravam ainda um chinelo para calçar. Outros ficavam a olhar o tempo para
ter a certeza do estrado já haver passado de vez. Alguns vaqueiros escutavam um
homem já idoso. Amaro viu esses instantes apenas ao passar de carro pela
cercania da cidade ainda longe. Aquela cidade interiorana muito longe da
capital. Na Igreja Católica as portas estavam abertas e o pessoal adentrava.
Era sinal de haver novena ou coisa assim. Algum falava na praça em frente a
matriz. Assuntos os quais a ele só interessava. Os pássaros já estavam
recolhidos. Apenas as aves noturnas cruzavam o céu. Um cão atravessou
lentamente a estrada calçada. Já era a cidade. Gente em uma padaria. Um bar.
Uma casa de residência. Outra. Um, dois, três e mais carros estacionados.
Caminhão carregado de torta. E seu Amaro Borba não se importava com tudo o que
estava percebendo. A moça, Margarida, pediu a seu pai de criação uma parada em
um restaurante de estrada:
Margarida:
--- Pare ali
no restaurante. – falou a moça sem nenhum motivo.
Amaro:
--- Está com
fome? - indagou o homem.
Margarida;
--- Pão com
queijo. – disse a moça.
Amaro:
--- Não
almoçou? – indagou
Margarida:
--- Coisa
alguma. –declarou.
Começava a
anoitecer. O veículo estacionou em um ponto reservado. Um casala de jovens
passavam a discutir sobre algo. Margarida ficou sozinha no interior do carro.
Um garoto chegou com uma flanela e despejou água no para-brisa. Depois passou o
pano. E nada o garoto falou. Esperava tão somente a gorjeta. A moça o olhava se
motivo. Pessoas entravam no restaurante. Outros veículos chegavam. Um rapaz
descia do carro. A mulher também. Era um casal. Uma garota ficou dentro do
automóvel. E gritou:
Garota;
--- Sequilho!
– pediu a menina com voz ativa.
Um ônibus
cruzava a estrada. O caminhão voltava. Tudo era o comum. Mesmo no posto de
combustível onde os prestadores de serviços atendiam aos clientes de viagem. A
virgem ligou o rádio do carro para ouvir qualquer assunto. E logo a notícia se
espalhou. Um ônibus virou na curva da estrada de Santa Cruz. Havia mortos e
feridos. Muita gente a prestar imediato socorro. Margarida não queria saber de
mais nada. E desligou o rádio do automóvel. Demorou um instante para seu Amaro
Borba retornar. Ele trazia dois hambúrgueres, espécie de sanduiche de carne com
queijo, bacon, ovos fritos além de cebolas, alface e tomate. Além dos alimentos
Amaro trazia copos de sucos. Ele entregou uma parte a Margarida e ficou com a
outra. O homem também não almoçara a contento. E ali mesmo de refastelaram. Nuvens
no céu demonstravam sinal de chuva. O homem se alegrou. E de imediato pensou em
Margarida. Ele tentava saber de algo mais. Mesmo assim, calou.
Amaro:
--- Chuva!
Ótimo! – disse o homem.
Em instantes o
automóvel partiu e estava na cidade às oito horas da noite. Havia carros demais
na estrada.
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