- Evan Rachel Wood -
- 47 -
CONTINUA
A conversa
continuou por mais tempo quando Amaro e seu filho tomavam café da manhã na sala
de serviços. A questão de Margarida era o toque principal. Ela era menor de
idade. Isso seria bom. E estava pendente
o caso de defloramento. Esse era bem mais grave. Contudo, o motorista foi morto
em consequência de o tiro desferido por Margarida. Sempre que há crime existe
um culpado. Nesse caso “todos” viram um “homem” de fora atirar em Salvador, o
motorista. Mesmo com o depoimento de quem estava por perto, não valeria muito
se a defesa da vítima, no caso Salvador, pusesse por terra tal questão. Seria
alegação por demais de “falso testemunho” para todos os efeitos. A Polícia não
havia procurado a moça até aquela data. Nesse caso, o fato estava a “esfriar”
um pouco mais. Era essa a chave da questão levantada por Eurípedes. Ligando-se
a saída de Margarida para a capital se teria então a “fuga”. Esse caso seria
levantado pela Promotoria. E a conversa entre pai e filho não terminaria nesse
ponto. O melhor seria constituir um advogado para Margarida, uma vez ter havido
suspeita de a moça ter arribado da fazenda.
Eurípedes:
--- Doutor
Vilaça é um bom advogado. Seria bom consulta-lo. – lembrou o médico.
O velho
observou se havia gente por perto e nada comentou. Com um pouco de tempo surgiu
Margarida vida do quintal e passando na sala de jantar. Então a moça
cumprimentou o médico como se nunca o tinha visto e saiu a galope. O velho
Amaro olhou para o filho sem nada dizer. Eurípedes foi quem chamou:
Eurípedes:
--- Menina!
Volte aqui! – disse o médico com alegria.
Margarida:
--- Eu? –
perguntou surpresa e sorriu.
Eurípedes:
--- Nós não
nos falamos desde que a senhoria voltou. Venha! – continuou a chamar.
Margarida
sorriu e deu meia volta se acercando de Eurípedes. De imediato foi dizendo:
Margarida:
--- Bom dia.
Em que posso ser útil? – sorriu a mocinha.
Eurípedes:
--- Apenas um
beijo. E me contar as novidades. – sorriu o médico.
De pronto a
moça concordou com o pedido e disse não ter muita coisa a contar. E assim ficou de pé junto Eurípedes a sorrir
bastante. Enfim, Eurípedes puxou a moça pela cintura e fez a mesma se sentar em
seu colo. Naquele instante o rapaz reclamou e pediu que Margarida saísse:
Eurípedes:
--- Cu duro!
Vai matar o cão! – disse o rapaz a sorrir enquanto a moça saía de cima do
doutor.
Margarida:
--- Foi o
jeito de me sentar. – disse a moça a sorrir.
E os dois
conversaram um tempo, não muito, é verdade, porém o instante desejado pelo
médico. Ele não quis se adiantar no assunto do crime de Salvador, mas perguntou
por sua mãe Clotilde e a moça deu como
resposta ter a mulher saído logo cedo com uma comadre para assistir o Santo
Oficio da Missa devendo retornar dentro de instantes. O médico sorriu e
agradeceu dando-lhe um tapa nas nádegas ao se despedir por instantes. A moça
olhou para trás e nada falou. Apenas sorriu com a molecagem do seu irmão. Nesse
mesmo instante entrava na sala de jantar a jovem Rócia com acara de sono. E de
imediato pediu a benção do seu pai e deu um beijo no rosto do seu irmão. Os
dois conversaram um pouco e Rócia saiu para o toalete do banheiro. De longe,
Eurípedes falou a gracejar:
Eurípedes:
--- Veja se
não fede! – falou um pouco alto.
A moça nada
respondeu, mas deu uma boa gargalhada.
Pouco antes
das nove horas Eurípedes estava em casa de Nara. Consultas ou coisa e tal mais
a lembrança de, na segunda feira, Nara teria de ir à Maternidade para fazer o
acompanhamento por conta a enfermidade descoberta. O pai de Nara chegou do
mercado onde fora tagarelar e cumprimentou o seu futuro genro. Na ocasião
Sisenando falou sobre as aulas dos Grupos e Colégios. Nesses locais não havia
aulas por esses dias devido ao terremoto. Os professores teriam assembleias
nesse sábado para decidir o futuro dos escolares, pois em algumas escolas a
situação era vexatória. Além de escolas, outros departamentos federais,
estaduais e do próprio município entraram em colapso. O Departamento de Transito foi um dos tais.
Sisenando:
--- Caos! Um
caos! – relatou com exatidão.
Por seu lado,
àquela hora, o velho Amaro Castro chegava à fazenda. Ele teria de buscar outro
caminhão tanque para fazer o abastecimento de água para o seu minguado gado. Na cidade de Santa Cruz a situação era
vexatória. Os carros tanques, quase todos, operavam para a Prefeitura a
conduzir água para abastecer as moradias. Igualmente na cidade, não havia aulas
nos Grupos e as repartições estavam paradas por ter havido prejuízos nas suas
dependências por conta do recente terremoto. Até o cemitério do lugar se
encontrava com muitas covas a descoberto. Também havia falta de água e os
coveiros abandonaram o serviço. Na
Rodoviária ninguém mais estava. Era tudo desamparo. Havia uma parada de ônibus
onde meninos vendiam cocadas e coisas assim. Uns ébrios a dormir sossegados
como se nada houvesse a ter. Mulheres de roupas sujas andavam para um lado e
para outro sem saber para onde ir. Um rapaz com um calão de água era tudo o que
se via. Havia velhos a sentar em uma pedra e comentar a desgraça havida por
causa do tremor. Uns cuspiam. Outros mascavam. Um mendigo passou para qualquer
canto. Meninos jogavam com pedras como se fossem bolas de gude. Sol já quase a
pino. Uma carroça passou conduzida pelo homem a levar uma carga de bananas.
Gado solto pela rua. Isso era tudo o que existia em Santa Cruz esgotada pela
seca. No igual instante chegou a praça o velho Amaro Borba em busca de um
caminheiro qualquer. Dois ou três velhos estavam a cozinhar conversa e quase
não ouviram o dono da terra. Tomaz acompanhava o patrão. E foi ele quem falou:
Tomaz:
--- Bom dia.
Eu busco o homem do carro d’água. Por favor, os senhores sabem onde encontro? –
indagou.
Velho olhou
para Tomaz de cima abaixo como quem faz careta e logo declarou:
Velho:
--- Seu
menino! O senhor espere um pouco, pois daqui a instantes chega um na praça. –
falou o velho.
Tomaz:
--- Tem
muitos? – indagou.
Velho:
--- Uma ruma!
A maior parte trabalha pondo água para seu prefeito. Mas nem todos. Se mal lhe
pergunto: como se chama? – indagou o velho.
Tomaz:
--- Eu me
chamo Tomaz. Pois tá bom. Eu espero. – falou o vaqueiro.
E rodopiou nos
pés caminhando para o local de onde tinha saído. Tirou o chapéu da cabeça para
poder coçar. O velho era do mato e sabia muito bem quem era o vaqueiro. De
imediato, Tomaz chegou até onde ficara o veículo e fomentou para o patrão ser
possível encontrar alguém a transportar água. Mas, o pessoal estava fazendo
transporte para a Prefeitura. Isso levaria algum tempo. Era preciso esperar
alguém. O homem ficou amuado e salientou ser necessário se ir para uma
sorveteria ou coisa assim. Ele estava com bastante sede. O vaqueiro concordou.
E pediu para ficar a espera de alguém para fazer o trato.
Tomaz:
--- Eu fico
aqui esperando o motorista. O senhor pode se dirigir aquele quiosque. – apontou
o vaqueiro.
E o tempo se
passou por um longo período até Tomar ouvir a zoada de um motor. Na verdade era
um caminhão de transporte de água. Ele se pôs a beira da estrada e fez sinal
para o motorista. Sem maior cuidado o motorista brecou o caminhão tanque
próximo ao local onde estava Tomaz e indagou a razão. O vaqueiro disse que seu
patrão precisava de água para o gado e não mais chovera no sertão.
Motorista:
--- Onde fica
a fazenda? – indagou o motorista.
Tomaz:
--- Perto da
Lagoa dos Burros. Tem estrada. Fazenda Boqueirão. Logo perto. – explicou com
razão o matuto.
Motorista:
--- O patrão?
– indagou cismado.
Nenhum comentário:
Postar um comentário