- Cláudia Matos -
- 46 -
DESTINO
No sábado,
ainda cedo, Eurípedes estava sentado em sua cadeira de palhinha lendo as
notícias do dia em um jornal da cidade. O seu pai, Amaro Castro, ainda não
tinha saído para a fazenda e estava sentado na cadeira de balanço. Ambos
estavam na entrada da sua casa. O velho, a matutar, nada dizia. O filho apenas
lia as noticias. E o tempo seguia com o valho Amaro negociando consigo mesmo.
Por sua vez, Eurípedes comentava devagar as noticias já vistas por ele em
outros jornais da tarde do dia anterior. Foi nesse ponto quanto Eurípedes indagou:
Eurípedes;
--- Margarida?
– sem tirar a vista do jorna.
Amaro:
--- Lá dentro.
– respondeu o velho.
Eurípedes:
--- Veio de
vez? – indagou ainda lendo.
Amaro:
--- Vamos ver.
– comentou meio baixo o velho.
Eurípedes:
--- Por que
“vamos ver”? Houve problemas? – indagou preocupado o rapaz já sabendo de
distúrbios na fazenda.
Amaro:
--- É.
...Negócio besta. – relatou o homem sem querer declarar.
Eurípedes;
--- E esse
“negócio besta” tem nome? – indagou ainda lendo o jornal.
Amaro.
--- É. Tem.
Mas é sem importância. – comentou bem baixo o fazendeiro.
Eurípedes:
--- Meu pai! O
senhor está se metendo em encrencas. Esse “negócio besta” pode terminar em
cadeia. – fez ver o médico.
Amaro:
--- Que nada.
Não dá em nada. Ela é menor de idade. E a questão foi à honra da menina. –
confessou o fazendeiro.
Eurípedes:
--- Honra? Que
honra? O homem agrediu a moça? – perguntou com segurança o médico.
Amaro:
--- Ela disse
que “não”. Mas foi “desonrada”. – comentou o velho.
Eurípedes:
--- Houve
sexo? – indagou novamente o médico.
Amaro:
--- Não sei.
Parece. Não sei. – pensou o agricultor.
Eurípedes:
--- Se não
houve sexo, não houve desonra. É melhor me contar a história. –
O velho Amaro
ficou um tanto desconfiado e por uns instantes calou. O balaeiro chegava à casa
do velho e se escorou na mureta a espera de alguém para atender. No instante
veio à doméstica e o homem, já exaurido, pois os pães na bandeja. Um veículo de
praça passou “desembestado” pela rua. Meninos atiravam pedras em um cajueiro à
frente da casa do outro lado da rua. Alguns sorriam e corriam a sugar os cajus
ainda verdes ou quase maduros. Um homem a passar aproveitava os galhos do
cajueiro. Tudo era calmo naquele instante. Então, o velho começou a contar
aquilo que lhe foi dito.
Amaro:
--- Assim
ocorreu. – pigarreou.
Eurípedes:
--- E a arma?
– indagou o rapaz.
Amaro:
--- Eu trouxe
comigo. Lá dentro. Escondida. No baú. – declarou
E apontou com
a mão para o interior da casa. O rapaz ficou calado e depois de alguns minutos
declarou solene:
Eurípedes:
--- É “foda”.
E fica aqui agora? –
Amaro:
--- Eu penso.
Deixe as coisas esfriarem. Depois. .... Não há carência dela por lá. – comentou
agoniado.
Eurípedes:
--- O senhor
já resolveu? – indagou o médico.
Amaro:
--- O
“furdunço”? Deixa como está. – ludibriou o homem
Eurípedes:
--- “Deixa
como está” uma ova! Pensa que ninguém sabe? Ela mesma sabe muito bem! –
alertou.
Amaro:
--- Ô meu
Deus! Pra que eu fui de meter nesse negócio? – indagou com as mãos para o Céu.
O médico se
virou para o pai e sorriu. Sorriu e sorriu. Quando mais tempo se voltava para o
pai ele então sorria de se acabar como quem dizia: “esse velho manhoso”. Mesmo
assim não disse nada. Apenas sorria. E a cada vez que observa o velho, então
era a vontade de gargalhar. O pai olhou cismado para o filho e respondeu.
Amaro:
--- Mangue!
Mangue mesmo seu “bosta”. – e se levantou da espreguiçadeira caminhando para o
interior da sala soltando uns flatos fétidos.
Um pouco mais
tarde Eurípedes comentou com o velho pai. Dizia o moço ter de conversar com Nara
e sua mãe para saber se foi encontrada uma pessoa para fazer a limpeza da casa.
Do contrário ele pensou em levar Margarida para ser a serviçal da casa:
Eurípedes:
--- Varrer,
limpar, espanar, cuidar do menino. Essas coisas de doméstica. O senhor entente
do caso muito bem. – pesquisou o rapaz.
Amaro:
--- Você acha
que ela presta? – perguntou o velho apontando para o quintal.
Eurípedes:
--- Presta.
Além do mais pode se “esconder” por mais dias da investigação. – falou.
Amaro:
--- Nesse
ponto estou de acordo. E Nara quem é? – indagou o velho a estranhar.
Eurípedes:
--- Minha
noiva! O senhor não sabe? – dialogou forte o rapaz.
Amaro:
--- Ah. Certo.
Mas ainda não a conheço. – fomentou o velho a ingerir café.
Eurípedes:
--- Tem tempo.
Ela me falou de visitar a menina Rócia, pois ambas sabem da mesma arte. –
comentou o moço.
Amaro:
--- Ela também
toca? – indagou perplexo.
Eurípedes:
--- Muito bem.
– finalizou o filho.
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