- Isabelle Drummond -
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UM MÊS
Um mês depois
os exames clínicos do senhor Amaro Borba Castro estavam concluídos e o homem
teria de se submeter a uma cirurgia de próstata aparentemente benigna, pois não
havia enfermidade na qual o comprometesse. De um modo ou de outro ele chorou
por demais e deu adeus ao novo membro da loja de produtos para o gado. José
Tomaz se fez de forte e disse apenas estar o velho muito em breve na fazenda. O
seu filho, o médico Eurípedes tranquilizou de forma carinhosa e não falou em
risco algum durante a cirurgia. O velho Amaro era um homem bastante forte capaz
de aguentar tais atropelos. Enquanto isso, dona Clotilde continuava no Rio de
Janeiro na esperança de ter o filho de volta muito em breve. Fabiana, a sua
filha fazia plantão no Hospital para dar maior atenção ao seu irmão Jonas. Ele,
um doutor formado em advocacia, mantinha seu emprego no Ministério da Fazenda.
Por isso mesmo, o quatro de visitas era intenso nos primeiros dias. Depois
amornou e já estando a um mês de hospitalização quase ninguém do Ministério aparecia
salvo um amigo mais chegado de nome Magela. Esse rapaz de mais de quarenta anos
todas as tardes se acercava do Hospital para cumprimentar Jonas e sorrir a
vontade com qualquer pilheria dita pelo enfermo.
Magela:
--- E aí? –
perguntava Magela ao doente.
Jonas:
--- Esperando
que a chuva passe para dar minhas cambalhotas. – respondia sem sorrir.
Nesse ponto
era tudo o esperado por Magela para então gargalhava às pencas. E depois de
muito sorrir o rapaz voltava a indagar.
Magela:
--- Não rapaz.
Eu estou falando sério. E aí? – ele fazia a igual pergunta
E mesmo assim
o homem respondia.
Jonas:
--- Não estou
afirmando! Cambalhotas! – respondia sem sorrir
Com isso, o
rapaz de quase meia idade voltava a sorrir com toda a graça que Deus lhe deu.
Ele, apesar de ainda jovem, não era casado e se tinha algo escondido, era bem
escondido, uma vez não falar do assunto a ninguém. Magela morava na companhia
de duas irmãs, sendo uma casada e a outra separada como se costumava falar. Foi
nesse tempo que urgiu a enfermeira a verificar o estado de saúde do doutor
Jonas e dar seu parecer na tabuleta. Nesse instante Magela olhou de forma
atraente a enfermeira, mas sem nada falar. Jonas o observou e deu seu parecer
para o visitante na frente da enfermeira;
Jonas:
--- Que tal? É
boa? Uma potranca dessas! – olhou a enfermeira e fez sinal para Magela a
declarar para ele avançar.
Magela, temeroso,
não disse nada. Apenas pigarreou. Ele quis sorrir mais não teve coragem. E
preferiu ficar calado com seus olhos delicados a observar apenas Jonas sem ao
menos sorrir. Então Jonas, sempre metido, falou sem vergonha.
Jonas:
--- Vai lá
homem. Atraca a fera. Ela está esperando. – declarou o rapaz.
A moça sorriu
e quis desmanchar o curativo feito no braço do homem, com a cara ligeiramente
maldosa e por fim foi dizendo:
Fabiana:
--- Vem! Vem!
Prá ver o que eu faço! Vem! Corno frouxo! – respondeu a irmã do enfermo.
Jonas:
--- Olhe! Não
faça isso! Eu digo ao padre! – disse o irmão diante de Magela sem saber serem
os dois de uma só família.
Fabiana;
--- Pois vem!
Você não presta mesmo. E esse? Parecem dois porquinhos! Comem no mesmo coxo! –
disse a irmã de Jonas a sair toda atraente em direção à porta do apartamento
solitário.
Ela foi saindo
e da porta estirou a língua para o irmão. Nesse ponto Magela, cabisbaixo, tremendo de medo, indagou do enfermo:
Magela:
--- Quem é?
Tua parenta? Homem! Você me colocou em uma tremenda enrascada! – falou temeroso
o visitante.
Jonas:
--- Que nada!
É minha irmã! Eu “brigo” com ela para azucrinar! Mas ela é gostosa, não achas?
– indagou o paciente ao seu amigo.
Magela:
--- Homem! Ela
a tua irmã! – sorriu condescendente e face ligeiramente envergonhada.
A fala branda
de Magela ao se referir ao pensar não foi muito além do irmão de Fabiana. Mesmo
assim e de qualquer forma, Jonas continuou a perturbar o moço para sentir o
ponto do mesmo gargalhar ou de ir embora. Não que Jonas quisesse expulsar Jonas
do seu amargo e silencioso apartamento. Porém pelo fato de se divertir cada vez
melhor. Há certo instante o enfermo vacilou e pediu a Magela de falar algo de
sua vida. O rapaz levantou a face e se pôs a gargalhar. Inconformado, Magela indagou:
Magela:
--- Que
pretendes saber? – indagou o rapaz a gargalhar
Jonas:
--- Nada.
Apenas para mudar de conversa. – rebateu o homem.
Magela
gargalhou como nunca e não disse coisa alguma. Apenas gargalhava quando olhava
a cara de Jonas. Uma situação incoerente a dos dois amigos de repartição.
Diante de todo o exposto Jonas mergulhou mais calmo e voltou a indagar.
Jonas:
--- O teu nome
é Geraldo Magela Gonçalves. Disso eu sei. Nasceu em Natal, Rio Grande do Norte.
Também sei. Data de nascimento; 02 de janeiro de não sei quanto. Isso é
segredo. Mas falta-me saber a hora exata do parto. – sorriu o enfermo.
Essa foi à
conta: Magela gargalhou de bater a cabeça no joelho. E rodopiou até cair
sentado. Depois de demorado tempo o rapaz se levantou de onde caíra e olhou a
cara sem vergonha do amigo e voltou a gargalhar batendo com as mãos na face.
Nesse momento entrou no apartamento do Hospital a virgem Fabiana. A olhar com
temeroso espanto o resto de homem se arrastando no chão foi a vez de indagar;
Fabiana:
--- O que está
havendo aqui Santo Deus? Ave Jesus! – foi o que pode dizer sem mais assunto.
Nesse momento
Magela se levantou de onde estava e foi declarar ser o Jonas culpado de tudo
aquilo, mesmo ainda a gargalhar. Ele apontava apenas o indicador.
Magela:
--- Foi ele.
Esse imprestável. – respondeu a gargalhar o rapaz.
Jonas:
--- “Foi ele”
uma ova! Eu perguntei apenas a hora de nascimento dele! – disse o rapaz a
sorrir.
Fabiana:
--- Você não
presta mesmo. – cuidava Fabiana da mudança do lençol da cama.
Jonas:
---E tem mais:
Ele quer casar com você. Disse a mim: “Como uma moça tão bela como Fabiana não
arranja um namorado?”. Foi ele quem disse. Foi ele! – apontou o indicador para
Magela.
Magela:
--- É conversa
dele dona. Eu não disse nada disso. Ele é quem se apaixonou pela senhora. –
respondeu Magela a gargalhar com a mão a cobrir o rosto.
Fabiana:
--- O senhor
também parece ser igual ao traste! – respondeu Fabiana arranjando a cama.
Magela:
--- Eu? Eu? É
danado! Agora sou eu? – indago a gargalhar o visitante.
Fabiana;
--- Para mim
nenhum dois presta. – aventou a moça arrumando a cama do doente.
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