quarta-feira, 15 de maio de 2013

"NARA" - 56 -

- Tanja Mihalic -
- 56 -
ADVOGADO
Na manhã do domingo, por volta das oito horas o médico Eurípedes chegou em seu automóvel na companhia de sua irmã Rócia, à residência de Nara. Logo a seguir veio o advogado Nestor dos Santos e a sua assistente, Tâmara Peluso, ela a conduzir papeis e blocos de notas em uma pasta bem fornida. A jovem acompanhante trajava uma veste de cor róseo claro em vestido longo, sapatos salto alto e na cabeça uma tiara cor de prata. O advogado vestia-se a rigor. Um aroma frequente no ar. Era a jovem assistente. O suave perfume parecia um Topázio ou uma Água de Toalete. O seu andar macio e elegante dava-lhe o esplendor das ninfas dos deuses. Cabelos negros com fios amarelados. Era ela a mulher extasiante. Solteira. E quem a via nem sabia dizer ao certo. Tâmara podia ser amante do advogado ou não. Ainda jovem, a sua idade era de no máximo vinte dois anos. Sensual, extasiante e na verdade suave em seus encantos. Ao prosseguir o caminhar para a residência de Nara a moça ouviu o advogado doutor Nestor lhe falar algo. E a moça perfeitamente entendeu e nada comentou.
O médico Eurípedes comentou com o advogado Nestor ser a mocinha ainda de menor idade. Em certas ocasiões Margarida era bastante atrevida com quem desgostava. O advogado sorriu como quem declarava: “Não tem importância”.  Já na sala de visitas o advogado e sua ajudante ficaram de pé por alguns instantes. De imediato, Eurípedes os mandou sentar em uma das poltronas. E sorriu com a preguiça de fazer tal procedimento. A irmã Rócia já estava a caminho da sala de jantar para avisar a Nara:
Rócia:
--- O advogado chegou. – falou a moça de modo para apenas Nara entender.
Nara:
--- Cheiro! É você? – indagou Nara procurando sentir melhor o perfume.
Rócia:
--- Eu usei Água de Colônia. O cheiro é da assistente do advogado. – sorriu a moça.
Sisenando:
--- O advogado está lá fora? – indagou curioso o mestre.
Rócia:
--- Sim. E Margarida? – indagou curiosa a moça.
Nara:
--- Está se ajeitando no quarto. Minha mãe está com Margarida. – falou com ansiedade.
E foram passados alguns minutos até Margarida de ajeitar e sair. O advogado estava a conversar de assuntos diversos com o seu amigo Eurípedes. Na entrada do corredor surgiu a figura de Sisenando para cumprimentos habituais ao visitante. Após esse tempo o mestre saiu da sala. Dona Ceci chegou com Margarida. Elas estavam lentas por demais. O rapaz Eurípedes foi que apresentou a moça ao advogado e relatou ter dona Ceci como companhia.
Eurípedes:
--- Dona Ceci é aminha futura sogra. –sorriu o médico.
Cumprimentos para cá, apertos de mão para lá. Enfim tudo estava pronto. A assistente Tâmara se acercou da mulher e também fez seus cumprimentos. Em seguida procurou falar com a donzela e saber seu nome, idade, local de nascimento, nome dos seus pais e coisa assim. Depois de concluída essa parte do interrogatório o advogado começou a pergunta. E a donzela se pôs a responder.
Nestor:
--- Conte-me como se deu o fato. Não faça cerimonia. Apenas eu tenho de saber para poder defender na delegacia e, depois, em Juízo. – fez questão de dizer o advogado..
A sua assistente estava com a tabuleta apoiada em uma mesa e se pôs a anotar toda a história.
Margarida:
--- Quem é essa moça? – indagou desconfiada a virgem.
Nestor:
--- A minha assistente. Não se importe. Vamos a história. – fez ver com boa intenção.
E Margarida se pôs a comentar todo o acontecido. Desde o seu início.
Margarida:
--- Foi assim, ó: - começou a falar a donzela.
Desde o início, a sua admiração por Salvador. Os aconchegos do homem a tratar por outra mulher aparentemente a sua primeira esposa. As chegadas de Salvador. As boas intenções de Margarida. O servir de almoços. As alusões a uma conhecida “Dalva”.
Margarida:
--- Eu não sei quem foi essa tal mulher. Disse certa vez ser Dalva a sua primeira mulher. Ela morreu. E me parece de parto. Ele disse que nem viu a criança. – falou lenta a virgem.
Advogado:
--- E por que ele quis assediar você? –indagou o doutro Nestor.
Margarida:
--- Bem. Uma vez ele estava a por água no tanque. E parece que voltaria com mais água. Foi nesse instante que ele me pegou pelo braço e me forçou entrar na boleia do caminhão. Eu fiquei lá acocorada para ninguém me avistar. Foi ele quem mandou. E nós saímos pelo mundo à fora. Não sei em qual lugar. Depois é que eu soube. Tal de Macaíba. Ele carregou a água. E nós voltamos. Já era quase noite. Ele parou o carro e quis forçar. Eu me pus fora e sai a correr. Ele parece que notou. Não tinha ninguém. Era mato. Muito mato. Não sei onde foi. Sei que era somente mato. O traste saiu e me deixou no mato. Depois, o traste parou o caminhão e mandou que eu entrasse. E foi assim que se deu. Quando eu estava em casa, peguei de uma espingarda e fiz fogo. Nem atinava onde podia pegar. Então é essa a história. Ele saiu vivo lá de casa. Morreu horas depois. Mas me parece que um médico disse ser por outra coisa. Não sei bem. Eu só sei que no dia seguinte meu pai Amaro foi comigo para visitar o maltratado e soube ter ele já morrido. E é só. – confessou a meninota.
E houve outras questões entre os dois “namorados”. De tudo o advogado procurou saber para a certeza de não errar na hora da defesa. E o doutor Nestor dos Santos conferiu com a sua secretária Tâmara Peluso todas as anotações a verificar se estavam corretas ou se faltava algo a se saber. Estando tudo pronto, então o advogado dispensou a sua constituinte alertando ter ela de ficar por demais calada, pois apenas o Advogado teria a vez de falar em seu nome perante o Delegado de Polícia.  Após esse discorrer, o doutor Nestor dos Santos concordou em tomar um cálice de licor enquanto a sua secretária aceitou apenas um copo com água. E foi levada conversa a fora sobre a situação do Hospital com ele querendo saber de haver algo de problema capaz de se ajustar as contas. Porém Eurípedes de nada sabia uma vez ter sua labuta apenas com as necessidades de parto.
Nesse meio tempo, Rócia e Nara se aproximaram de Tâmara e começaram a conversar com bastante animação. A visita não tirava o olhar do piano e foi a vez de Nara falar ser um novo piano, pois os três amigos estavam a fazer um acerto de se apresentar no mês de agosto no Teatro Carlos Gomes. Isso despertou a curiosidade de Tâmara, pois, de imediato foi a conversa mais amena.
Tâmara:
--- Eu admiro imensamente os concertos. Eu tenho amigos concertistas. Alguns estudam na Escola de Música. Eu não tenho jeito de enfrentar tais estudos. – sorriu a moça.
Rócia:
--- Eu termino este ano o curso de música na Escola. E talvez eu fique lecionando aos novos. – falou a irmã de Eurípedes.
Tâmara:
--- Jura? Então você conhece alguns alunos estudantes! – sorriu a moça.
Rócia:
--- Com certeza. Quais os amigos? – indagou a esperta estudante.
Tâmara:
--- Você conhece Fred? Um rapaz de boa estatura? – indagou a moça com exatidão.
Nara:
--- Fred é um dos tais. Ele fará concerto conosco. Fred? Imagine! – sorriu como que.
Rócia:
--- Fred termina este ano. Você o conhece? – perguntou alarmada.
Tâmara gargalhou antes de falar.
Tâmara:
--- É o meu noivo. – respondeu a moça.
Rócia/Nara.
--- Noivo? Que sujeito maroto! – e gargalharam as jovens.

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