- Sandy -
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VISITA
Um dia depois
de se submeter aos exames laboratoriais e de ir à loja de artigos de animais, o
velho Amaro Borba recebeu a visita em sua casa do vaqueiro José Tomaz a quem
chamou com a devida pressa à sua residência. Após conversas de miolos de
quartinha, o velho foi ao que interessava de fato. Houve atropelos com o
vaqueiro renegando certas coisas. Mesmo assim, Amaro Borba fez ver boas formas
a relatar serem bem mais alvissareiras, pois o vaqueiro teria melhores ganhos
e, para todos os efeitos, o homem havia de compor uma sociedade até certo ponto.
A conversa se prolongou por muito tempo com o velho a falar de preços e
fornecedores de ração e negócios mais complicados. Formas de pagamento, estoques
e promoções, artigos de primeira linha. O embutido nos valores. Os tempos de
crises. A fartura. Preços em elevação ou não. Saber dos atravessadores quanto
faturavam. Enfim: a vida de um senhor de negócios.
Amaro:
--- O senhor
só aprende fazendo. É bobagem eu explicar como se faz. – relatou o comerciante.
Nessa ocasião
José Tomaz coçou a cabeça como quem não entendia patavinas do negócio. Porém
confessou com certeza ser preciso ele adivinhar para poder ter a certeza de
fazer a qualquer custo.
Tomaz:
--- Mas tem
um, porém: a minha família onde fica? – indagou José Tomaz.
Amaro:
--- Isso se
ajeita. Tem casa no Alecrim. Custa barato. Nesse caso eu até assumo o
compromisso de se pagar sem tirar do seu ordenado. – falou o velho a olhar por
baixo.
Tomaz;
--- Mas a
mulher tem arrimo. – relatou o vaqueiro.
Amaro.
--- Mas não é
problema. Se a sua família vier, quem for arrimo também vem. – frisou o velho.
Uma vez mais o
vaqueiro coçou a cabeça. E levou tempo a pensar. Tomaz olhava para o chão e
observava a rua. Os moleques a tirar mangas dos pés. A anarquia a fazer,
negócio não visto no campo. Uma mulher a vender brilhantina em uma maca na
cabeça. Um idoso quase a cair de tão torto que era. Dois homens, pai e filho, a
mangar do tempo. Eram eles dois loucos de correr pedras. Um homem com o seu
tabuleiro de doce de geleia. Era então todo o mundo a girar. O sol esquentava a
cada minuto com o vaqueiro a indagar:
Tomaz:
--- Isso vai
dar certo, seu Amaro? – quis saber o vaqueiro.
Amaro:
--- Homem! Se
não der certo você volta. Topa? – perguntou o patrão.
Novamente a
cabeça do vaqueiro esquentou. Ele olhou para o chão e levantou de vez:
Tomaz:
--- Vamos ver.
Eu topo a empreitada! – falou por fim o vaqueiro.
Amaro:
--- Isso
rapaz. Assim é que eu gosto de ver. Pôs se prepare que nós vamos mais tarde para
eu lhe ensinar tudo o que tem a fazer. – sorriu entusiasmado o velho.
E assim
aconteceu. Após o almoço, onde Tomaz ingeriu os alimentos com a cara fastiosa
por notar o cozido de uma forma diferente com bastante tempero e muito sal para
o seu paladar, ele afinal se mostrou sem bastante apetite enquanto o velho
Amaro nada comeu por estar aos cuidados de recomendação médica para manter
distancia de toda gordura e assados foram os dois para a loja. Nesse meio tempo
o velho reclamava bastante não poder comer o que gostava apenas por causa do
seu filho, o doutor Eurípedes, médico da família.
Amaro:
--- Um bosta
daqueles quer saber mais do que eu! – era a reclamação de velho Amaro.
Tomaz:
--- E ele está
de viagem? – perguntou o vaqueiro.
Amaro:
--- Foi para os
lados do Rio (de Janeiro) visitar o irmão. – respondeu o velho mal humorado.
Tomaz:
--- É longe
pra “daná”. - reclamou o vaqueiro
cismando a distância.
Amaro:
--- Um tanto.
Um tanto. – disse o velho fazendo esforço para dispensar um flato.
Quando eles
estavam no escritório da “Casa da Fazenda”, uma loja de produtos para animais
grandes e pequeno, e velho conferia o estoque do que faltava de imediato,
explicando ao vaqueiro José Tomaz com bastante atenção, não percebeu esse um
senhor a entrar na casa e buscar um saco de farelo. Alenka Calheiros atendeu
com presteza o visitante. Logo em instantes o homem forte, alto, pele rosada e
cabelos ruivos, deixou a casa. No exato momento em que o homem saía o velho, a
olhar por cima dos óculos perguntou a Tomaz:
Amaro;
--- Sabe quem
é esse? – indagou o velho em surdina.
Tomaz olhou
depressa e viu apenas o homem a entrar no seu carro. E respondeu:
Tomaz:
--- Não! Quem?
Governador? – indagou surpreso o vaqueiro.
E o velho
Amaro respondeu:
Amaro:
--- Não! Ele é
um fugitivo da Guerra! Um general do Exercito de Hitler. Quando a Guerra
acabou, os maiores fugiram. Cada qual para o seu destino. A maioria veio para a
América do Sul. Esse veio parar aqui no Rio Grande. Tem documentos
falsificados. Certa vez a moça perguntou por seu nome e ele disso ser
“Humberto”. Mas o nome dele é outro: “Karl Hélder”. Ele mudou de nome e
documento. Agora é chamado de Humberto Paulo. Nome bem diferente por sinal.
Isso para ninguém desconfiar que ele seja alemão. Mais parece com um inglês.
Tudo isso com autorização do Governo do Brasil. Ele era General se bem me
informo. Serviu na Batalha da Normandia, França. Ele comandava o Alto Comando
do Exército. Homem rico. Tem fazendas de gado. Tem os fardamentos militares. E
a Cruz de Ferro. Alta patente que pode ter um General. A bandeira nazista
desfraldada em um quarto de sua mansão. Ouro. Muito ouro extraído dos Judeus.
Quando vem a Capital é trajando roupas simples, quase molambo. Ninguém dá nada
por ele. Sabe de várias línguas, até o português acanhado. E quem o conhece diz
também que o chefe deles, Adolf Hitler está homiziado na Argentina. – relatou
de modo angustiado o velho fazendeiro.
Tomaz:
--- Mas quem
disse ao senhor? – indagou cismado.
Amaro;
--- Todo mundo
sabe. Um corno desse! – e cuspiu no balde de lixo.
Tomaz:
--- Parece que
o senhor não gosta do homem. – articulou o vaqueiro
Amaro;
--- E quem
gosta de um bosta desses? Ele só presta para o “inferno”. – disse aborrecido o
velho.
Tomaz:
--- Mas o
senhor o conhece? – indagou preocupado.
Amaro:
--- Nem quero!
Nem quero! Só me interessa o dinheiro dele. – falou o cuspiu novamente.
Tomaz:
--- A gente
recebia instrução para matar seja lá quem fosse suspeito de nazista. – fez ver
o vaqueiro.
Amaro:
--- O senhor
serviu ao Exército? – indagou de modo estranho.
Tomaz;
--- No
Grupamento de Caicó. Eu era um simples soldado. Ainda assim passei quatro anos
na farda. – comentou o vaqueiro.
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