- Carol Castro -
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VIAGEM
Naquele mesmo
dia à noite, o doutor Eurípedes foi visitar a sua noiva e falar sobre sua
viagem ao Rio de Janeiro, provavelmente no dia seguinte. Ele queria saber da
possibilidade de Nara ir com também nessa viagem. Era uma ida mais que um
passeio. Não havia oportunidade de se conhecer lugares aprazíveis, salvo quando
terminasse o encontro com seu irmão Jonas e a esposa do mesmo, senhora Claudia
Rizzo. Pelo que Eurípedes estava ciente, a esposa do seu irmão estava em estado
de coma. Podia ser um coma induzido provocado por barbitúricos. Ou não. Isso
ele apenas poderia conferir ao chegar ao hospital e articular com os médicos.
Nara ficou calada, pois, afinal, ela
estava a cuidar do seu filho ainda pequeno. Era um dilema. Seguir avante a
deixar seu filho ou deixa-lo apenas com a avó da criança. A moça coçou a
cabeça, fez uma cara de quem não gostaria de sair de casa e, ao mesmo tempo,
conhecer o famoso Rio de Janeiro. Por menos que Nara fizesse, não tinha
dúvidas: ela estava a conhecer o Rio. As praias, Copacabana, Leblon, Flamengo,
Avenida Atlântica e tudo mais. Um calafrio lhe varreu o copo e Nara se virou e
perguntou à sua mãe:
Nara;
--- Eu vou? A
senhora fica com o Netinho? – indagou a moça com um sorriso amarelo.
Ceci;
--- Por mim,
você já estava lá. E quem vai mais? – indagou a mulher.
Nara:
--- Dona
Clotilde. Ela e Eurípedes. ... E eu! – sorriu a moça a saltitar.
Ceci:
--- Perguntou
e teu pai? – observou a mulher.
Nara:
--- Ah! Ele
não se importa! – tranquilizou a moça.
Sisenando:
--- Por mim
pode ir. Agora: eu tenho um negócio para falar com o rapaz. – relatou o mestre.
Eurípedes:
--- Comigo?
Vamos lá. Pois diga. – falou o rapaz a sorrir.
Sisenando:
--- Não é
muita coisa. Mas eu lendo esse livro vim, a saber, ter o Universo 100 bilhões
de galáxias. E cada uma, se for iguais a nossa Via Láctea tem um bilhão de
estrelas. Pense na monstruosidade disso tudo. - gargalhou o mestre
Eurípedes:
--- A difícil
vastidão do Universo é difícil de compreender. – falou o rapaz a pensar no
assunto.
Sisenando:
--- A questão
é: se nós viajássemos pelo espaço e se encontrássemos viajantes de pontos
longínquos do Cosmo seriam basicamente como nós? Ou eles seriam
fundamentalmente diferentes? Ou seriam tão estranhos, incomuns, diferentes de
tudo que jamais sonhamos ou tememos que pudessem existir? Acontece que: em
nossa Terra existem as proteínas. E
essas são os elementos essenciais à vida. Nesse ponto, a vida se
originou de uma reação química. E essas reações não ocorrem só na Terra. Metano,
amônia, hidrogênio e água são abundantes em outros corpos cósmicos pelo
Universo à fora. – relatou o grande mestre.
Eurípedes
ficou curioso com o relato do impressionante livro.
Eurípedes:
--- A vida é
provavelmente abundante no Universo. – fez questão em dizer o médico.
Sisenando:
--- A água é
excelente para armazenar todas essas substâncias. Na Terra, onde houver água
alguma forma de vida vai existir. Existe vida em profundidades oceânicas tão
grandes que a luz do Sol nem a alcança, disse o escritor nesse seu livro. E diz
algo mais: a vida na Terra precisa de carbono. E todas as formas de vida que se
conhece consistem em grande parte de moléculas de carbono. É incrível, isso,
não é meu rapaz?. – falou extasiado o mestre.
Eurípedes:
--- Sem
dúvida. Sem dúvida. – falou por sua vez o rapaz pensando mais além: na viagem.
No dia
seguinte Eurípedes faria a tal viagem. E já estava acertada a viagem com a sua
mãe Clotilde e, de vez, a sua noiva, Nara. Para o jovem médico era um passeio
longo e temeroso. Ele não sabia muito bem do que havia ocorrido com seu irmão.
Apenas vagas notícias da irmã de Claudia Rizzo e nada mais. Dessa forma, mesmo
ouvindo as notícias do grande mestre, o jovem médico não podia deixar de
refletir com maior atenção no dia seguinte. O seu pai Amaro já estava obediente
e teria que fazer os exames de sangue e urina naquele dia de manhã logo cedo.
Para tal, Eurípedes solicitou a ajuda da irmã Rócia. A moça estava ciente de
tal forma. Restava apenas alguém avisar a José Tomaz. E nesse ponto, Eurípedes
mantinha dúvidas de como seria o aviso.
Eurípedes:
--- “Como eu
posso avisar a Tomaz?” – pensava o jovem enquanto o mestre falava.
E Nara chegou
até a sala de visita para perguntar algo. Ele ouviu e não respondeu ao certo.
Apenas ouviu o argumento da noiva ficando com o seu pensar bastante longe, como
se estivesse nas nuvens. A noite estava morna e sombria. Alguém passou muito
rápido a chamar por alguém. Eurípedes apenas ouviu a pessoa. Não se importou. Em
certo instante o médico meditou sobre um caso bastante particular: a licença.
Ele havia solicitado licença por quinze dias. A direção do Hospital aceitou o
pedido. Seus pacientes seriam encaminhados para outro especialista.
Paciente:
--- “Como
viajou? Mas eu paguei adiantado”. - reclamaria a mulher em nome da filha amada.
Dois:
--- “Viajou?
Pra onde? E vai voltar?” – seria a pergunta de outro.
Na manhã
seguinte o rapaz já estava no aeroporto acompanhado de sua mão e da noiva.
Passagem de urgência foi como Eurípedes informou. Três. O vento frio e a presença de chuva o deixava
inquieto. Pela quinta ou oitava vez, Eurípedes consultou o seu relógio de
pulso.
Eurípedes:
--- O avião
está atrasado. – refletiu o rapaz.
Nara:
--- A chuva! –
falou Nara olhando para o Céu.
Clotilde:
--- Como está
meu menino? – perguntava Clotilde relembrando Jonas.
Um jovem
passava abraçado à sua namorada falando asneiras. Dona Clotilde procurou um
assento para se acomodar à esquerda da sala espera e por lá ficou. Na sala de
espera tinham dois compartimentos. Um deles ficava os guichês de venda de
passagem. Em outro local, tinha um bar que servia de tudo um pouco: cerveja
pastel, bolos, refrescos, vinhos, uísques, rum, e várias outras bebidas. Uma
entrada dava acesso ao andar superior onde se podia enxergar o campo de pouso e
de saída de aviões militares ou não como um todo. Quem ficasse à cima do prédio
de dois andares podia ver bem melhor os mecânicos de vôo, soldados da Aeronáutica
e mesmo o pessoal da limpeza. Na frente do aeroporto tinha o estacionamento de
veículos onde desembarcavam passageiros ou não. Naquela hora de espera encostou um carro. No
veículo vinha um homem de pouca estatura, sua mulher ligeiramente forte, e duas
filhas de menor idade. As filhas do casal aparentavam terem treze – a mais nova
– e quinze anos de idade – a mais velha. Notava-se bem ter o homem pouca
paciência pelo modo como se comportava. O motorista do carro retirou a bagagem
da família e pôs dentro do salão do aeroporto. O homem não se continha com sua irritação.
Mais para um lado, onde estava à sorveteria os garotos de outra família
aproveitavam para tomar sorvete. Os homens conversavam coisas vãs. Alguns
aproveitavam para tomar café quente e com leite. Um menino chegou a ser
repreendido por sua mãe:
Mae:
--- Ponha isso
no lixo! Ora que mania! – falou alterada a mulher se adiantando no espaço do
saguão do aeroporto.
Menino:
--- Chicletes!
– e sorriu o garoto com sua graça espontânea.
Nara se
acercou do seu noivo no primeiro andar do prédio. De cima se podia ver toda a
amplidão do campo de pouso. Dois aviões militares se preparavam para alçar vôo
na pista de decolagem. Um aparelho de cargas estava pousado ao lado direito de
quem vislumbrasse o campo. Uma chuva fina começou a cair fazendo com que todos
os passageiros saíssem do local para melhor se proteger. Uma voz de mulher
informava por um rádio de comunicação estar o vôo daquela manhã com ligeiro
atraso.
Homem:
--- Agora deu!
– reclamou um passageiro batendo com o punho na parede do aeroporto.
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