- Nanda Costa -
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TEMPOS
Com o passar
das horas a calma voltou a reinar da casa de Nara. Nesse tempo, o velho mestre
Sisenando estava no interior da residência onde aproveitando o tempo foi ler o
novo livro recebido: DEUSES. Estava ele tão entretido que nada no mundo o faria
despertar a sua atenção pois até mesmo o seu neto já havia tomado o seu braço
e, mesmo assim, ele o acolheu sem dar por noção. Para Sisenando apenas a
leitura o interessava. Na sala da frente os quatro amigos estavam a recitar os
acordes das notas musicais. Ao piano estava Eurípedes e ao violão ficou mesmo o
Fred. A moça Rócia tocava o seu violino e Nara procurava entre as revistas da
estante algumas letras de composições musicais. Foi nesse ponto que alguém
bateu à porta da moradia de Nara. A moça tomou um leve susto pelo inesperado.
Nara foi ver quem era. O carteiro não era. Mas um rapaz fardado de policial.
Ela se chocou e quis perguntar:
Nara:
--- Pronto! O
que deseja? – falou a moça.
O rapaz chegou
até a porta e retirou do bolso um documento e se pôs a entregar alertando:
Policial:
--- O delegado
mandou entregar essa intimação a senhora Margarida Lima. Ela está em casa? –
perguntou o policial.
A moça nem
sabia o que falar. Sim ou não. Tão de imediato, o médico Euripedes se levantou
do banco do piano e foi até a porta da casa tomando a intimação das mãos de
Nara. Ele observou o conteúdo do documento e disse a policial:
Eurípedes:
--- Está
entregue. A moça Margarida foi à rua. Deve voltar mais tarde. Está entregue.
Para quando. ....Ah...Segunda feira. Obrigado! – falou o médico sem nada poder
falar a sua noiva.
O policial foi
embora e Nara nesse momento de estranha lucidez reclamou:
Nara:
--- Estúpido!
Nem deixou que eu falasse! Estúpido! –e deu meia volta saindo até o interior da
casa.
Eurípedes foi
atrás de sua noiva e de imediato indagou:
Eurípedes:
--- E o que
você teria dito? Heim? Num caso desses tem que se omitir. Você sabe omitir? –
indagou o noivo.
Nara:
--- Sei mais
do que você! – altercou a moça e caiu em prantos.
Eurípedes:
--- Imagine
essa moça? Só sabe chorar! Temos que agir rápido! É o mesmo que se extrair uma
criança. O tempo urge! Não se tem tempo! Ora!. Margarida! Onde está? – falou
com voz ativa o médico.
Margarida:
--- Aqui! Que
foi? – indagou surpresa a moça.
Eurípedes:
--- Intimação.
Não saia de casa pra canto algum. Fique trancada. Segunda feira você vai com
advogado para saber do que se trata! Está ouvindo? – perguntou o rapaz.
Margarida:
--- Ora que
besteira! Não fui eu mesmo quem atirou naquele traste! – falou abusada a moça.
Eurípedes:
--- Calada!
Não fale nada! O advogado é quem fala sinhá moleca! Afinal você de menor idade!
E nem pode nem abrir a boca! Está entendo? – falou ativo o médico.
Margarida deu
meia volta e saiu para a cozinha dizendo ainda:
Margarida:
--- Eu? Que me
importa! Pois eu falo! Aquele traste merecia o que deu! – falou zangada.
Eurípedes
ficou desatinado e, por um momento, não pode entender o que lhe disse Margarida
totalmente abusada. Dona Ceci indagou por mais uma vez o fato da moça não poder
falar como queria:
Euripedes:
--- Ela não
sabe o que fala. É uma questão delicada. Margarida é menor de idade. Um homem
tentou fazer sexo com ela. Sendo isso o que ela falou. E aí Margarida disparou
uma arma contra o homem. Ele não morreu na hora. Mas veio a óbito instante mais
tarde. Talvez por complicação do ferimento. Eu não sei bem o caso. Mas foi
assim que Margarida falou. É tudo muito complexo. Eu vou agora que chamar um
advogado conhecido para cuidar do caso. E já é quase meio dia. E não posso
esperar. Com licença. – disse o médico resumindo toda a história.
Nara:
--- Você
volta? – indagou a moça.
Eurípedes:
--- Não sei.
Não sei. Ainda tenho o hospital. Talvez peça licença. Talvez. Mas eu volto logo
mais à noite. Tenha certeza. Dê-me um beijo. – falou o rapaz com a cara bem
preocupada.
Logo em
seguida Eurípedes juntou as peças trazidas e arrastou todos os demais para ir
com ele, uma vez ter de ir deixa-los nas suas casas antes de seguir a procura
de um advogado. Isso foi feito. Na casa de Nara ficou o seu pai a temer.
Sisenando:
--- O caso é
brabo. – comentou o homem cheio de dúvidas.
No domingo
ainda cedo Eurípedes chegou à residência de Natal, vindo em seu automóvel junto
com sua irmã Rócia e, logo atrás, vinha o carro do advogado Nestor dos Santos,
o qual se dizia ser competente em casos criminológicos. Ele era esguio, belo e
todo pronto como se fosse a uma viagem. Ao saltarem dos seus automóveis
Eurípedes voltou a afirmar se a moça ainda de menor idade. O advogado entendeu
e nada respondeu. A missão era a de conhecer a verdadeira história contada pela
referida moça, e nada mais. As três
pessoas adentraram a sala da residência e o advogado ficou de pé. Ao notar essa
falha rotineira, Eurípedes buscou de repente o auxilio de dizer:
Eurípedes:
--- Sente-se,
por favor. Eu esqueci. – sorriu amargo.
Rócia penetrou
de casa adentro para cumprimentar os demais. O velho senhor Sisenando já vinha
pelo corredor da residência e ainda perguntou apontando com o dedo:
Sisenando:
--- É o
advogado? – quis saber.
Eurípedes.
--- Sim. É ele
mesmo. Tenho que ver a jovem Margarida. – falou um pouco preocupado.
Sisenando:
--- Posso ir
para a sala? – indagou meio sentido.
Eurípedes:
--- Eu acho
que sim. Mas na hora que a menina for dizer o fato é melhor deixa-los a sós. Eu
poderei ficar como acompanhante. – balbuciou o médico.
Sisenando:
--- Bem. Se
for assim, eu vou lá fora apenas o cumprimentar e depois eu volto. – disse o
maçom.
Eurípedes:
--- Sim. Sim.
Sim. É o melhor. – resolveu dizer o médico.
Nara segurou a
moça pelo braço e caminhou até a sala de visitas. Ela também não sabia se era
certo ficar ou não. E perguntou em surdina ao noivo.
Nara:
--- Fico? –
indagou a moça ao noivo.
Eurípedes:
--- Não sei.
Eu acho que deve ficar. – falou em murmúrio o médico.
Margarida.
--- Ora vocês
são uns néscios. Eu vou sozinha. – falou embrutecida.
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